Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Herdeiros da Reforma (5): Glória somente a Deus - Ef 1:3-14

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 31 de outubro de 2010
Pr. Plínio Fernandes
Amados irmãos, por favor, abram suas Bíblias em Efésios capítulo 1. Hoje, com base neste belo hino da Bíblia sagrada, vamos focalizar nossa atenção no último, desta série de cinco princípios que temos estudado, da Reforma Protestante.
A cada domingo deste mês temos estudado um deles:
No primeiro domingo estudamos a afirmação teológica que chamamos “Somente as Escrituras”. Destacamos a nossa crença em que a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, e que nela encontramos toda a vontade de Deus revelada a nós, para que possamos conhecê-lo na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo, e nele encontrar a salvação de nossas almas. Quando dizemos “Somente as Escrituras”, estamos afirmando a nossa fé na Bíblia como Palavra de Deus, e que todas as nossas crenças devem ser baseadas somente nela.
Depois, no segundo domingo, estudamos a doutrina bíblica de que Jesus Cristo é o Filho de Deus, criador de todo o universo, e que por amor a nós deixou sua glória no céu, se fez homem e habitou entre nós, morreu pelos nossos pecados e depois subiu novamente ao céu, onde está intercedendo por nós junto ao Pai. Jesus é um salvador perfeito que realiza em nosso favor uma obra de perfeita salvação. Então, segundo as Escrituras, ele, e somente ele é quem nos salva. Não precisamos qualquer outro salvador além de Cristo: Cristo, e “Somente Cristo”.
E nos dois domingos anteriores meditamos noutras duas grandes verdades reveladas na Bíblia: as verdades de que somos salvos pela graça de Deus por meio da fé, isto é, por meio da confiança no que ele nos diz. Não compramos nossa salvação, nem com dinheiro, nem com boas obras, nem com cerimônias religiosas, nem com a observação de leis; mas somos salvos somente porque Deus nos ama, e em seu amor enviou Jesus para nos salvar. Tudo o que precisamos fazer para desfrutar das alegrias da salvação é crer em Jesus, e até mesmo esta fé é um dom de Deus a nós.
Todos estes princípios, irmãos, nos levam a esta conclusão: Deus, e somente Deus, é o autor da nossa salvação. Ele é quem recebe todo o crédito. Pois a nossa salvação não é o resultado do trabalho de Deus mais o nosso trabalho, ou o trabalho de mais ninguém.  Daí emerge o último de nossos princípios: se, para todas as coisas, na criação, no governo, na preservação de todo o universo, se em tudo nós dependemos de Deus, e mais especialmente, na nossa salvação, se tudo provém de Deus, então, por tudo, inclusive por causa da nossa salvação, nós devemos dar glória a Deus, e somente a Deus.
Com base em nosso texto de hoje, nós vamos considerar esta doutrina. Neste texto, como já dissemos, a doutrina assume a forma de um hino de louvor a Deus por causa de todas as bênçãos espirituais que ele nos concede em Jesus Cristo. Então leiamos, do v. 3 ao 14.
3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, 4 assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor 5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6 para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, 7 no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, 8 que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, 9 desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, 10 de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra; 11 nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, 12 a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; 13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.
Neste texto o apóstolo Paulo nos convida a bendizer ao nosso Deus, porque, por meio de Jesus Cristo, que está assentado nos lugares celestiais, à direita de seu Pai, temos sido abençoados com toda a sorte de bênçãos espirituais.
Ele menciona especificamente cinco bênçãos neste texto
Primeira: a bênção da eleição – v. 4 – fomos escolhidos por Deus desde antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de Deus
Segunda: a bênção da predestinação – v. 5 – fomos predestinados para sermos filhos de Deus por meio de Cristo
Terceira: a bênção da redenção – v. 7 – através do sangue de Jesus fomos perdoados e libertados de nossos pecados
Quarta: a bênção da revelação – vs. 8-10 – fomos iluminados por Deus para que entendêssemos que Jesus Cristo é o Senhor de todo o universo
E quinta: a bênção do selo com o Espírito Santo – vs. 13 e 14 – o Espírito Santo habitando em nós é a garantia de que pertencemos a Deus e que no dia em que Cristo voltar para buscar sua igreja nós estaremos para sempre com ele
Por todas estas coisas, Paulo começa dizendo: “Bendito seja Deus”. A respeito da nossa salvação, eu quero destacar três razões para nós darmos glória somente a Deus:
Esta é a maravilha revelada em palavras como elegeu, predestinou, em amor
vs. 4, 5
“Assim como nos elegeu nele, isto é, em Cristo, antes da fundação do mundo... e em amor nos predestinou para ele...”
O que é eleição? De um modo simples, “escolha”
Por exemplo: “Hoje, através da eleição, o povo brasileiro escolheu o seu novo Presidente da República”
Mas há uma diferença entre a escolha que o povo brasileiro fez e a que nosso Pai fez
É que o povo brasileiro escolheu seu presidente com base naquilo que acredita haver de bom no seu homem eleito.
Ao contrário disto, a Bíblia diz que Deus nos escolheu, antes da criação do mundo, não com base naquilo que faríamos de bom, mas com base no amor de Deus.
Em amor nos predestinou para ele
Em amor Deus traçou nossos dias de tal maneira que viríamos a ele
Outra maneira de sabermos que a nossa salvação é a vontade de Deus está no v. 11
“Predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas segundo a sua vontade”
Deus não faz nada contrariado, e ele amou você porque assim desejou.
Apenas para recordar, pois temos já enfatizado estas verdades em nossos dois últimos estudos.
2ª Tm 1:9
Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos
2ª Ts 2:13
Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade
Sl 139:16
Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda
Então, você, que é crente em Jesus preste atenção nisto: Deus ama você, Deus quis e escolheu você, Deus predestinou você para ser filho dele, para ser santo diante dele, a salvação eterna.
A tua salvação é a vontade de Deus.
Consideremos mais uma vez esta frase:
“Predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade...” – v. 11
Primeiro, o apóstolo Paulo já nos disse que, lá “na eternidade passada”, Deus nos amou e decidiu que iria nos salvar de nossos pecados e da condenação eterna. Depois, ele disse que Deus, com base no seu desejo, nos predestinou, isto é, determinou o nosso destino. Agora, ele nos diz que quando Deus deseja algo, ele não fica apenas desejando: ele faz tudo de acordo com o conselho, isto é, de acordo com a determinação de sua vontade.
Veja: Deus, de fato, é Deus. Isto significa que ele domina sobre tudo e sobre todos. Que ele governa toda a sua criação. Eu gostaria de recordar com você dois textos do Antigo Testamento, que nos falam da grandeza e do poder do nosso Deus neste sentido:
Is 46:9-10
9 Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim;10 que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade...
O Senhor nos diz que ele anuncia as coisas que irão acontecer, mas não apenas porque ele vê o futuro. Ele anuncia as coisas que irão acontecer porque ele mesmo é quem decide o que irá acontecer: o meu conselho (o que eu determinei) permanecerá em pé, farei toda a minha vontade.
Jó 42:1-2
1 Então, respondeu Jó ao SENHOR:2 Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.
Desta maneira, filho de Deus em Jesus, o Senhor Deus não apenas desejou a sua salvação, mas também a realizou. Primeiro, ele enviou Jesus para salvar você. Depois, por meio do Espírito Santo e da pregação do Evangelho, ele levou você a crer em Jesus e ser salvo. E depois, como garantia que você seja seguro até o fim dos tempos, ele selou você com o Espírito Santo.
vs. 13 e 14
13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.
Ser selado significa ser marcado com o sinal de que pertencemos ao Senhor. O Espírito habitando em nós é a garantia de que somos dele. Agora note: o próprio fato de crer é a garantia desta habitação do Espírito
1ª Co 12:3
Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo.
Naturalmente que este dizer “Senhor Jesus” é aquele que é fruto de um reconhecimento no coração de Jesus como Senhor, e não apenas como uma fórmula de religião exterior. Pois este Espírito habitando em nós produz uma vida nova, na qual se manifesta o poder para testemunhar, o direito de frutificar, o de ser guiado por Deus, pois todos os que são guiados pelo Espírito são filhos de Deus. E neste habitar do Espírito temos mais uma manifestação do agir de Deus em nossa salvação
Algum tempo atrás, uma pessoa me falou com ressentimento: “Vocês, crentes, acham que vão para o céu. Quem vocês pensam que são? São melhores que os outros?”
E respondi: “Sim, nós temos a certeza de que vamos para o céu; mas não achamos que somos melhores que qualquer pessoa. Se vamos para o céu é por causa da misericórdia de Deus; misericórdia que ele oferece a todas as pessoas por meio de Jesus. Todo o que crer no Senhor Jesus será salvo”.
No cap. 2, ao descrever a graça de Deus em nos salvar, Paulo diz que então não temos motivo algum para nos orgulharmos de ser salvos, como se fossemos para o céu porque merecemos.
Ef 2:8-9
8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie
Se existe alguma coisa que é motivo de glória para nós não é o fato de que merecemos a nossa salvação. Não fizemos nada para merecer, mas somente a graça de Deus nos alcançou. Ou como diz a Palavra em outro lugar: “Longe de mim esteja gloriar-me, a não ser na cruz”[1].
Por outro lado, em três momentos deste hino Paulo nos diz que tudo quanto o Senhor faz para a nossa salvação trás glória ao nome de Deus.
v. 6
Para o louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no amado...
v. 12
A fim de sermos para o louvor de sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo...
v. 14
... o qual é o penhor da nossa herança, até o resgate de sua propriedade, em louvor da sua glória
De que maneira a nossa salvação trás glória para o nome de Deus? Vamos mencionar três:
Primeira, quando uma pessoa é salva, há louvor a Deus no céu da parte dos seres celestiais; há júbilo diante de Deus por um pecador que é salvo. A grandiosa sabedoria de Deus é manifesta diante dos anjos.
Segunda, quando uma pessoa é salva, ela adora a Deus de todo o seu ser, com gratidão, alegria, com amor e temor, com um desejo santificado de viver uma vida nova, que adorne o evangelho e enalteça o nome de Deus diante de todas as pessoas à sua volta. Ela se prostra diante de Deus, e o reverencia, e cultua, e ama.
Terceira, ela proclama o evangelho de Jesus, ela anuncia com alegria aquilo que Deus fez por nós, enviando seu amado Filho para a nossa salvação.
O evangelho torna conhecido o fato de que a salvação vem dele, é por meio dele, e nos conduz a ale, de modo que toda a glória seja dada a ele. E então, o crente diz: “Glória somente a ele”. Você, que é salvo, tem todos estes sentimentos no coração, e nem pensa em atribuir a salvação a si mesmo.
Estas doutrinas que os irmãos receberam durante estes domingos com tanta naturalidade, embora sejam as doutrinas do Cristianismo histórico, isto é, aquelas que foram os fundamentos para a Cristandade de geração em geração, infelizmente têm sido novamente esquecidas, e muitas vezes até mesmo negadas por muitas igrejas nos dias de hoje.
Alguns pregadores da mídia até mesmo dizem que algumas delas são diabólicas. Por isto, alguns grupos de evangélicos têm reagido a isto, e trabalhado arduamente para que a genuína mensagem protestante permaneça, apesar dos ventos contrários.
Em 1996, um grupo chamado “Aliança de Evangélicos Confessionais” se reuniu em Cambridge, nos Estados Unidos, e elaborou um documento no qual foram reafirmados os cinco somente da Reforma Protestante. Este documento foi chamado “A declaração de Cambridge”. A respeito do nosso assunto de hoje eles escreveram, nós concordamos de mente e coração,e queremos encerrar nosso estudo com as palavras deles.
SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus[2]
Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão:
Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido.
Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nós.
Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades.
Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.
Tese 5: Soli Deo Gloria
Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.
Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.




[1] Gl 6:14
[2] A Declaração de Cambridge sobre os “Cinco solas da Reforma pode ser encontrada em http://www.monergismo.com/textos/cinco_solas/cinco_solas_reforma_erosao.htm

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