Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

domingo, 26 de março de 2017

O homem que não queria servir a Deus - Êx 4:14

Domingo, 19 de outubro de 1997
3ª Igreja Presbiteriana Conservadora de São Paulo
Pr. Plínio Fernandes
Então, se acendeu a ira do SENHOR contra Moisés, e disse: Não é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele fala fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se alegrará em seu coração.
Existe uma grande razão pela qual tem sentido o estarmos aqui nesta manhã cultuando a Deus: é que o Senhor, depois de haver criado o universo, não o entregou ao acaso, não o abandonou à sua própria sorte.
Ao contrário, em tudo o que acontece, Deus está presente, exercendo seu domínio, dirigindo o curso da história.
E dentro de sua direção do curso dos acontecimentos, Deus decidiu algo maravilhoso aos nossos olhos: deliberou chamar os homens para servi-lo, trabalhar para ele, para agir de acordo com sua vontade no curso da história.
Como disse o apóstolo Paulo, “nós somos cooperadores de Deus”, trabalhamos com ele e para ele. Ele age em nós e através de nós.
Por isso estamos aqui: porque sentimos o chamado de Deus em nosso coração: para servir, trabalhar para ele, fazer sua vontade.
Deus sempre realiza sua obra com homens e através de homens: quando queria preparar o caminho para a vinda de Jesus, começou chamando Abraão; quando quis manifestar seu reino sobre Israel, escolheu e chamou Davi, quando quis falar a Nabucodonosor, rei de Babilônia, usou seu servo Daniel, quando quis que o evangelho fosse pregado no mundo inteiro, enviou os apóstolos, quando quis libertar seu povo israelita da escravidão no Egito, escolheu e chamou a Moisés.
E no decorrer da história bíblica, muitos homens, ao se sentirem chamados por Deus para servi-lo, responderam alegremente e com disposição de coração.
Isaías disse: – Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim.
Jeremias obedeceu prontamente. E Abraão. E Pedro, e Mateus, e Paulo, e Tiago e João.
Mas também houve quem desobedecesse, como Saul, como Demas, e quem tentasse desobedecer, como Jonas.
O texto que lemos, vimos que a ira de Deus se acendeu contra Moisés, e isto aconteceu porque Moisés estava tentando desobedecer a Deus.
A história do chamado de Deus a Moisés registrada aqui em Êxodo, do cap. 3:1 até 4:17.
O povo hebreu estava no Egito, escravizado ao faraó, o governante do Egito. Então aquele povo oprimido clamou a Deus, e Deus, em resposta às orações, escolheu a Moisés para agir em seu nome. Moisés seria o instrumento de Deus para a libertação de Israel.
Mas Moisés não queria ir. Não queria se envolver. Queria que Deus mandasse outra pessoa, e começou a levantar uma série de objeções, a colocar uma série de empecilhos, para não obedecer. Então o Senhor Deus ficou irado com ele.
Tal como Moisés, muitas pessoas, ao serem chamadas por Deus para servi-lo, começam a colocar uma série de objeções, uma série de desculpas para não realizar a vontade de Deus.
Nós vamos considerar as objeções que Moisés levantou. Que desculpas Moisés estava usando para não ir?
1. Primeira objeção: – Senhor, eu não sou ninguém.
Êx 3:11 – Então, disse Moisés a Deus: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?
Não foi sem motivo que Moisés sentia-se assim.
No passado, ele já tentara ser um instrumento de Deus na libertação de Israel.
No cap. 2:11-15 aqui de Êxodo, podemos ler o que acontecera cerca de quarenta anos antes. E ficamos sabendo que Moisés já era “um homem” feito, um adulto.
Graças à providência de Deus, morava num dos palácios do Egito, sendo chamado “filho da filha de faraó”. Havia sido treinado em toda a cultura egípcia. Mas tinha consciência de que, antes de tudo, era um hebreu, um israelita.
Então um dia, saindo do palácio, foi visitar seus irmãos, e viu quanto o trabalho escravo deles era penoso. E uma coisa o deixou terrivelmente revoltado: um egípcio estava espancando um hebreu. E cheio de ira, ele matou ao egípcio.
Por quê? Em Atos 7:25, Estevão nos conta que “Moisés cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus os queria salvar por intermédio dele; eles, porém, não compreenderam”. 
Moisés desejava, e cria firmemente estar fazendo a obra de Deus.
Mas o texto de Êxodo prossegue dizendo que Moisés, depois de matar o egípcio, saiu no dia seguinte, e eis que dois hebreus estavam brigando.
Então ele disse ao culpado: – Por que espancas o teu próximo?
E este respondeu: – Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós? Pensas matar-me, como mataste o egípcio?
Moisés ficou com medo, e pensou: – Com certeza o descobriram.
Quando o faraó foi informado desse caso, procurou faraó matar a Moisés; porém Moisés fugiu da presença de faraó, para uma terra chamada Midiã.
 Moisés fracassara completamente. Não soubera agir. Não soubera buscar a orientação de Deus. Não soubera esperar, e embora quisesse ser um instrumento de Deus, agira segundo sua própria sabedoria, e não a de Deus, e fracassara.
Então fugiu para longe, arranjou um emprego, uma esposa, e caiu no esquecimento.
Agora, quarenta anos depois, Deus o chama. Mas Moisés pergunta: – Quem sou eu, para ir a faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?
Irmãos, muitas vezes nos sentimos como Moisés naquele dia.
Temos a certeza de que Deus está nos dirigindo sua palavra, que está nos chamando para servi-lo, para sermos instrumentos úteis de sua vontade, para realizar sua obra, mas por uma razão ou outra não temos a certeza de que Deus irá de fato nos usar, e sentimo-nos impedidos de dizer “sim” à palavra do Senhor.
Talvez alguém já tenha, no passado, tentado realizar a obra do Senhor, mas por alguma razão fracassou, não foi bem sucedido em realizar aquilo que, no coração cria ser a vontade de Deus.
Talvez, no passado já tenha tentado, mas sentiu-se rejeitado – isto já aconteceu comigo – e é terrível, nos dá vontade de desistir, de nunca mais tentar, de nunca mais fazer nada.
Sem amarguras, sem ressentimentos, mas também sem vontade de trabalhar.
Mas vejam qual a resposta de Deus.
Êx 3:12 – Deus lhe respondeu: eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte.
O que Deus fez foi dizer a Moisés que não pensasse em si mesmo, mas que voltasse os seus olhos para o Senhor. Não pensar em seus fracassos, não pensar que estaria sozinho.
É claro que se Moisés fosse novamente por suas próprias forças, sabedoria, capacidade, fracassaria. Mas Deus iria com ele.
Irmãos, esta é a bendita certeza que podemos ter em nosso coração: por mais que sejamos nada em nós mesmos, por mais que tenhamos fracassado no passado, seja ele recente ou distante, por mais que tenhamos sido rejeitados, Deus estando conosco, pode nos reerguer, usar, fazer de nós instrumentos úteis em suas mãos.
Então Moisés pergunta: – Mas quem é o Senhor? Se eles me perguntarem qual é o seu nome, o que vou dizer a eles?
E o Senhor lhe mostra quem ele é revelando seu nome
Êx 3:14 – Disse Deus a Moisés: eu sou o que sou. Disse mais: assim dirás aos filhos de Israel: eu sou me enviou a vós outros.
EU SOU (que às vezes é “transliterado” Yaweh, às vezes Javé, às vezes Jeová).
Significa “Aquele que era, que é, e que será para sempre” – A Bíblia na Linguagem de Hoje traduz: o Deus eterno
O Novo Testamento nos trás uma revelação ainda mais clara de Deus:
Jo 8:58, 59 - Respondeu-lhes Jesus: em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU. Então, pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e saiu do templo.
Jo 10:30-33 - Eu e o pai somos um. Novamente, pegaram os judeus em pedras para lhe atirar. Disse-lhes Jesus: tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte do pai; por qual delas me apedrejais?  Responderam-lhe os judeus: não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.
Hb 13:8 - Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre.
O Deus que se revelou a Moisés é o mesmo que se revela no Novo Testamento: é nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os atos de salvação através do tempo são realizados por ele.
Assim, quando aqui para Moisés ele se apresenta como o Eterno, Deus se revela como sendo:
O Deus do passado (v.15): o Deus de vossos pais, Abrão, Isa que, Jacó (os patriarcas de quatrocentos anos antes).
O Deus do presente (v. 16): – Tenho vos visitado (estou aqui, vejo o que está acontecendo).
E o Deus do futuro (vs. 17-22): – Já planejei tudo o que vai acontecer: você irá, faraó irá resistir, mas eu os libertarei, eu lhes darei salvação. Está tudo sob o meu controle.
Irmão, se o seu Deus é o eterno, então ele conhece o seu passado, e também conhece o seu futuro (sabe com quem está lidando: suas fraquezas, seus temores), e é um Deus que hoje está presente: e chama você para servi-lo.
– Segunda objeção: Senhor, não acreditarão em mim.
Êx 4:1 - respondeu Moisés: mas eis que não crerão, nem acudirão à minha voz, pois dirão: o Senhor não te apareceu.
– Vão achar que estou mentindo, que estou trabalhando por mim mesmo.
Foi outra maneira de se referir ao passado; Moisés tinha receio de que algo semelhante viesse a se repetir.
Então, vs. 2-9, o Senhor passa a fazer certos sinais, certas demonstrações de poder, a dar a Moisés certas capacidades, que seriam, tanto para os hebreus como para os egípcios, provas de que realmente Deus o enviara.
No primeiro sinal, a vara de Moisés seria transformada numa serpente. No segundo sinal, a mão de Moisés se tornaria leprosa. No terceiro, Deus disse que a água do Nilo, jogada no chão, se transformaria em sangue.
Uma obra singular, grandiosa, miraculosa, estava para acontecer. Todos precisavam saber que Deus mesmo a estava realizando através de Moisés. Por isto Deus lhe Deus aquelas capacidades sobrenaturais.
Amados, embora Moisés neste caso seja uma particularidade, isto é, a Bíblia não ensina que devamos, para servir a Deus, antes de tudo, ficar buscando milagres, ou capacidades extraordinárias, é ensino bíblico que Jesus concede a cada um, de nós, pelo menos um dom espiritual, alguma capacidade espiritual que nos possibilite servir a Deus em sua igreja: alguns são capacitados com o dom do ensino, da pregação, do aconselhamento; outros, com capacidades de serviço, de administração, de socorros, de cuidado. Algumas pessoas têm mais de um dom.
E também é ensino bíblico que a igreja, isto é, o povo de Deus percebe as capacidades que Deus aos indivíduos, reconhece os dons que uma pessoa tem.
É por isto, por exemplo, que a Bíblia ensina que devem ser eleitos presbíteros, pastores, diáconos.
O que é uma eleição na igreja? Não é uma eleição no mesmo sentido do mundo lá fora. Na igreja, é apenas a manifestação de que a igreja reconhece que certas pessoas foram capacitadas e chamadas por Deus para o desempenho de certos ofícios.
Deus disse a Moisés: -- Eles ouvirão; verão que eu estou com você.
3. Terceira objeção: -- Senhor, não tenho capacidade.
Êx 4:10 - Então, disse Moisés ao Senhor: ah! Senhor! Eu nunca fui eloqüente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua.
Não sou eloqüente: não sou capaz de me exprimir com facilidade, não sou capaz de persuadir, de comover as pessoas com minhas palavras.
Sou pesado de língua: não sei falar direito.
A Bíblia na Linguagem de Hoje diz: – Quando começo a falar, sempre me atrapalho.
A Bíblia Viva: – Sou lerdo para falar.
Eu não tenho jeito prá a coisa.
E a resposta de Deus está em 4:11
Respondeu-lhe o Senhor: quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor? 
Moisés, que fez você assim?
Uma coisa linda que podemos ver, tanto na história bíblica, quanto fora dela, é que mesmo uma pessoa cheia de limitações, como Moisés, pode ser usada por Deus, pode servir a Deus. Mesmo que estas limitações sejam sérias.
Talvez você conheça, por exemplo, a história de Joni Eareckson, uma cristã que se tornou tetraplégica em sua juventude, devido a um acidente; mas ela também se tornou conferencista, escritora, pintora – pois compreendeu que sua razão de existir é a gloria de Deus com todo o seu ser. Então suas dificuldades não se tornaram limitações, antes, tornaram-se motivação para honrar a Deus em todas as coisas[1].
Mas há tanta gente que tem o corpo inteiro sadio, braços, pernas, olhos, voz, e que diz: – Não posso, não sou capaz.
Acontece que, diz o Senhor, seja você eloqüente ou não, tenha saúde ou não, eu criei você, para mim, para a minha glória, para me servir, realizar a minha obra, e estou lhe chamando para isto.
Êx 4:12 - Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar.
4. A verdadeira objeção: – Senhor, não quero ir.
Êx 4:13 - Ele, porém, respondeu: ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim.
Aqui então, Moisés estava finalmente confessando o que ia no seu íntimo.
Na Bíblia Viva: – Mande outro em meu lugar.
– Mande outra pessoa.
Resumindo, este era o grande problema com Moisés: ele não queria ir!  
Se ele realmente quisesse servir a Deus, sua fraquezas (e é claro que ele as tinha), não seriam problema; a opinião das outras pessoas não seria problema; sua incapacidade não seria problema.
Mas Moisés não estava disposto; estava satisfeito com sua vidinha, por isso, depois que o Senhor lhe mostrou que estaria com ele, que o capacitaria, que lhe ensinaria, ele respondeu: – Senhor, mande outra pessoa.
Se ele fosse um crente neotestamentário ate poderia ser politicamente correto, fazendo de Jesus do mandamento de Jesus as suas palavras:
– Senhor, a seara é grande, os trabalhadores são poucos, mande obreiros para a sua seara (contanto que não seja eu).
E então, irmãos, Deus ficou muito irado.
v. 14: se acendeu (como um fogo), a ira do Senhor contra Moisés.
A Bíblia não diz que Deus fez alguma coisa para castigar Moisés. Moisés, então, deve ter percebido a ira de Deus pelo tom das palavras, pela entonação da voz.
É como às vezes, um filho está desobedecendo ao pai, dizendo que não fará certa coisa que o pai ordenou, e então o pai diz: – Não, você vai fazer o que eu estou mandando! - e ai o filho obedece.
E foi isto o que Deus fez:
Êx 4:14-16 - Então, se acendeu a ira do Senhor contra Moisés, e disse: não é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele fala fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se alegrará em seu coração. Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a dele e vos ensinarei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo; ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus.
E até nesta ira nós vemos a graça de Deus: ele fala a Moisés de modo amoroso, mas firme, decidido, e Moisés então, sem mais argumentos, passa a obedecer a Deus.
Ele foi, e percebeu que todas as suas desculpas não tinham fundamento.
Êx 4:29-31 - então, se foram Moisés e Arão e ajuntaram todos os anciãos dos filhos de Israel. Arão falou todas as palavras que o Senhor tinha dito a Moisés, e este fez os sinais à vista do povo. E o povo creu; e, tendo ouvido que o Senhor havia visitado os filhos de Israel e lhes vira a aflição, inclinaram-se e o adoraram.          
Foi difícil: lutas vieram, o faraó se opôs, estas mesmas pessoas que agora diziam a Moisés: – Foi Deus que te enviou, mais tarde diriam: – Não foi Deus que te enviou.
Mas Moisés, não desistiu mais, realizou a obra e a vontade de Deus.
Conclusão e aplicação
Todos somos chamados para servir a Deus: numa função ou outra, de acordo com nossos dons, mas acima de acordo com o amor de Deus derramado em nossos corações. Evangelizar, orar, cantar, testemunhar, usar nossos dons; uns são especialmente chamados para a obra de liderança: presbíteros, diáconos, presidentes de sociedade, outros não, mas todos somos servos de Deus.
Nossa tendência natural, carnal, é encontrar argumentos pelos quais Deus deve estar enganado:
– Não sou capaz.
– As pessoas não me aceitariam.
– Não sei fazer
Mas Deus não aceita desculpas. Ele chama os seus escolhidos. E aos escolhidos de Deus, só resta obedecer ao chamado. Obedecer com fé, amor e esperança, pois Deus sempre sabe o que faz.


[1] Eareckson, Joni e Musser, Joe, Joni (Miami, Vida, 1976).

domingo, 19 de março de 2017

O Deus de Elias - 1º Rs 18:30-39

3ª IPC de São Paulo
Domingo, 15 de julho de 2007
Pr. Plínio Fernandes
30 Então, Elias disse a todo o povo: Chegai-vos a mim. E todo o povo se chegou a ele; Elias restaurou o altar do SENHOR, que estava em ruínas.  31 Tomou doze pedras, segundo o número das tribos dos filhos de Jacó, ao qual viera a palavra do SENHOR, dizendo: Israel será o teu nome.  32 Com aquelas pedras edificou o altar em nome do SENHOR; depois, fez um rego em redor do altar tão grande como para semear duas medidas de sementes.  33 Então, armou a lenha, dividiu o novilho em pedaços, pô-lo sobre a lenha  34 e disse: Enchei de água quatro cântaros e derramai-a sobre o holocausto e sobre a lenha. Disse ainda: Fazei-o segunda vez; e o fizeram. Disse mais: Fazei-o terceira vez; e o fizeram terceira vez.  35 De maneira que a água corria ao redor do altar; ele encheu também de água o rego.  36 No devido tempo, para se apresentar a oferta de manjares, aproximou-se o profeta Elias e disse: Ó SENHOR, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, fique, hoje, sabido que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo e que, segundo a tua palavra, fiz todas estas coisas.  37 Responde-me, SENHOR, responde-me, para que este povo saiba que tu, SENHOR, és Deus e que a ti fizeste retroceder o coração deles.  38 Então, caiu fogo do SENHOR, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e a terra, e ainda lambeu a água que estava no rego.  39 O que vendo todo o povo, caiu de rosto em terra e disse: O SENHOR é Deus! O SENHOR é Deus!
1º Reis 18 nos conta uma das histórias mais queridas da Bíblia.
Até o versículo 40 ele nos fala sobre o dia em que o profeta Elias orou e Deus enviou fogo do céu.
E os versículos 41 a 46 nos dizem que, no mesmo dia, depois que os israelitas se converteram ao Senhor, Elias orou novamente, e o Senhor enviou chuva, uma chuva que veio acabar com um longo período de seca e fome que a terra estava experimentando.
A primeira parte nós gostávamos de celebrar em “cultos de consagração de vida” em acampamentos, por meio de representações teatrais: uma fogueira bonita era preparada antes, e quando o “ator/profeta” orava, na escuridão da noite alguém acendia um fogo que descia por meio de um fio até a fogueira.
Tornava-se uma representação muitas vezes emocionante, usada para apelar às pessoas que se consagrassem ao Senhor.
Mas sabe por que nós achamos esta história especialmente emocionante?
É que ela não foi escrita por um teatrólogo, para ser uma representação. Ela foi escrita, antes de tudo, para ser um registro histórico, de um fato real, ocorrido em Israel, por volta de 850 AC.
A nação de Israel caíra na idolatria, na imoralidade, em toda sorte de pecados.
Poucos foram os israelitas que não dobraram seus joelhos diante do falso deus Baal.
Os profetas de Deus estavam sendo mortos.
E entre eles, um dos poucos que escaparam foi Elias, que ficou muito tempo fora do alcance de Acabe, até que Deus ordenou o confronto a respeito do qual lemos neste capítulo.
De acordo com a ordem de Deus, Elias mandou chamar o rei, os profetas de Baal e aos israelitas; que todos estivessem presentes, em certo dia, no Monte Carmelo - um lugar alto, grande, espaçoso.
Quando todos estavam lá, o profeta do Senhor, dirigindo-se ao povo, perguntou:
v. 21 – “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu.”
Os profetas de Baal fracassaram (vs. 25-29).
Então, conforme o texto que lemos, foi a vez de Elias: primeiro, ele restaurou o altar de Deus, que estava em ruínas (v. 30b).
Este altar era um dos muitos que haviam sido edificados em Israel, antes dos tempos do rei Davi, antes que houvesse o templo de Jerusalém.
Agora, em tempos de frieza, idolatria e afastamento dos caminhos do Senhor, aqueles altares haviam sido abandonados, muitos estavam em ruínas e outros haviam sido derribados. Só havia altares dedicados ao falso deus Baal .
Então Elias restaurou o altar do Senhor. Tomou 12 pedras. De acordo com a lei dada por Deus através de Moisés, quando um altar fosse erguido, deveria ser de pedras brutas, num lugar rente ao chão. E estas pedras eram representativas do povo de Deus, eram representativas das 12 tribos de Israel (v.31).
É que Deus, na realidade, não deveria ser apenas cultuado em altares de pedra, feitos por mãos humanas; na verdade a vida de cada israelita deveria ser um culto para a glória de Deus, para o seu louvor, para o seu serviço.
Mas, assim como aquele altar estava em ruínas, a nação israelita também estava espiritualmente arruinada.
Ele colocou sobre o altar o novilho para o holocausto (v. 33). De novo, o gesto de Elias foi cheio de significado. Pois de acordo com a lei de Deus (Lv 1), o holocausto (oferta queimada) era um sacrifício que deveria ser feito para expiação, isto é, para o perdão dos pecados
Quando alguém houvesse cometido algum pecado, deveria confessar isto a Deus e levar ao sacerdote um sacrifício, que poderia ser um novilho, um carneiro, um cabrito, ou mesmo rolinhas ou pombinhas, conforme os recursos da pessoa.
O pecador colocaria sua mão sobre a cabeça do animalzinho inocente, com isto simbolizando que o animalzinho passaria a ser seu representante.
Então, o animal seria morto, esquartejado, seu corpo seria queimado e seu sangue derramado sobre o altar.
Todo este sacrifício sangrento tinha um significado espiritual muito grande.
De acordo com o ensino dos profetas, dos apóstolos e também de Jesus, o sacrifício daqueles animais inocentes era um símbolo do sacrifício que Jesus faria de si mesmo, na cruz, ao assumir sobre si o castigo pelos pecados dos homens, não apenas de Israel, mas do mundo inteiro.
Portanto, ao colocar o novilho dobre o altar, Elias também estava, representativamente, falando de Jesus.
Elias fez conforme a lei de Deus; por isto não bastaram as doze pedras que simbolizavam o povo; a lei de Deus nos diz que não podemos apenas nos oferecer a Deus, por nós mesmos, precisamos de um mediador entre nós e Deus, e este mediador só pode ser Jesus Cristo, através de seu sacrifício por nós.
Elias orou, e Deus atendeu (vs.36-38). Caiu fogo do céu, consumiu o holocausto, e toda a multidão começou a gritar, reconhecendo que só o Senhor é Deus.
Foi uma coisa extraordinária, miraculosa, Deus respondendo à oração daquele homem. Mandando fogo do céu, consumindo o holocausto, aceitando o sacrifício.
Elias era um homem que sabia ouvir a voz de Deus. Sabia entender a vontade do seu Senhor. Era um homem que sabia orar.
Se nos dedicássemos a estudar sobre este homem, sem dúvida que isto seria de grande proveito para nós.
Mas eu gostaria, meus irmãos, nesta hora, de meditar com vocês, não sobre este homem de Deus. Eu gostaria de meditar com vocês sobre o Deus deste homem. Pois esta é a intenção principal da passagem.
vs. 36,37 – No devido tempo, para se apresentar a oferta de manjares, aproximou-se o profeta Elias e disse: Ó SENHOR, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, fique, hoje, sabido que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo e que, segundo a tua palavra, fiz todas estas coisas. Responde-me, SENHOR, responde-me, para que este povo saiba que tu, SENHOR, és Deus e que a ti fizeste retroceder o coração deles.”
O que este texto nos ensina sobre o Deus de Elias?
1. O Deus de Elias é o Deus que governa os corações
Ele governa sobre todo o universo. No v. 38 nós lemos que o Senhor enviou fogo do céu, que consumiu o holocausto, a lenha, o altar, a terra e tudo em volta.
E a partir do v. 41, depois que os israelitas se convertem ao Senhor, lemos também que o Senhor faz chover sobre a terra de Israel, fazendo cessar assim um período de três anos de sequidão.
Ele é Deus, e Deus controla a natureza.
As chuvas, as estações, e até o fogo do céu, seja na forma de estrelas cadentes, seja na forma de raios, ele controla tudo. Ele é o Deus que preside aos dilúvios. Josué orou o sol parou. Ele fez retroceder a sombra que marca as horas no relógio do rei Acaz. Ele é o Deus que governa todas as coisas.
Mas o que desejo destacar especificamente agora é isto: o Senhor controla o coração de cada ser humano.
v. 37 – “O Senhor é Deus, e a ti fizeste retroceder o coração deles.”
O Senhor, em sua graça, estava naquele dia fazendo com que o coração de Israel se convertesse a ele novamente.
Eu penso que esta é uma das doutrinas bíblicas mais difíceis de serem compreendidas.
Pois entendemos, tanto a partir do ensino bíblico, como por nossa própria experiência, que cada um de nós é responsável por nossas decisões, e consequentemente pelo curso de nossa vida.
Mas ao mesmo tempo, o Senhor reivindica para si, nas páginas das Escrituras, o domínio, a autoridade e a ação, no sentido de dirigir, segundo sua própria determinação, o coração de cada um dos seres humanos, desde as classes mais simples de homens, até aos reis.
Sl 33:13-15 – O SENHOR olha dos céus; vê todos os filhos dos homens;  14 do lugar de sua morada, observa todos os moradores da terra,  15 ele, que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras.”
Ele forma: molda, dirige, inclina.
E assim vemos que o Senhor, em sua sabedoria, de acordo com os seus planos e propósitos para cada ser humano, inclina o coração de todos, sem exceção.
De acordo com isto, ele determina que endurecerá o coração dos soberbos.
Como no caso do Faraó egípcio, para que ele não atendesse à voz de Moisés. E também os magos do Egito.
Como também no caso de dos filhos de Eli, aos quais o Senhor determinou matar, por causa de seus grandes pecados.
E no caso dos escribas e fariseus, sobre os quais se cumpriu a Escritura: “endurece-lhes o coração e cega-lhes os olhos, para que vendo não vejam, e ouvindo não ouçam, para não suceder que se convertam e sejam curados”.
O Senhor endurece o coração de quem ele quer.
Mas, se de um lado a Escritura diz que o Senhor age deste modo, endurecendo o coração dos soberbos, por outro lado também nos diz que ele se compadece de seus escolhidos, para que creiam, para que se arrependam de seus pecados, para que se humilhem, para que se voltem para ele.
At 16:14 – “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia.”
O Senhor lhe abriu o coração, e ela foi convertida naquele dia.
Da mesma forma, em sua imensa bondade, no Monte Carmelo, o Senhor estava fazendo Israel se converter a ele.
Os dias de idolatria haviam acabado para aquelas pessoas. Os dias de pecado. Os dias de endurecimento. Os dias de sequidão. Os dias de fazer a vontade do rei Acabe e da rainha Jezabel.
Os profetas de Baal seriam desmascarados, e o povo se voltaria para o Senhor.
2. O Deus de Elias é um Deus fiel à sua Palavra, e atende às orações
Cap. 18:1 – Muito tempo depois, veio a palavra do SENHOR a Elias, no terceiro ano, dizendo: Vai, apresenta-te a Acabe, porque darei chuva sobre a terra.”.
Muito tempo depois, isto é, muito tempo depois dos acontecimentos registrados no cap. 17, onde se diz que Elias havia predito o período da seca.
Elias anunciava seca, e a seca acontecia. Elias anunciava chuva, e a chuva acontecia.
Por quê? Porque o que Elias fazia era somente ouvir, crer e anunciar o que Deus lhe revelava.
Revelação, que em certo sentido não era nova.
Pois na lei dada através de Moisés, especialmente no livro de Deuteronômio, o Senhor já havia declarado que sempre daria chuva em abundância para que a terra de Israel fosse fértil, produtiva.
Mas que se os israelitas abandonassem o Senhor, servindo a outros deuses, então o Senhor fecharia as portas do céu, e viria a sequidão e a fome para que eles se lembrassem de Deus, se arrependessem de seus pecados e se convertessem.
E uma vez convertidos o Senhor enviaria suas bênçãos novamente.
Então fosse através da Palavra registrada nas Escrituras, fosse através de seu andar diário com Deus, Elias era um homem cheio do conhecimento da Palavra de Deus.
E orava segundo as promessas de Deus
A oração é o meio determinado por Deus para que alcancemos suas promessas em nossa vida.
Então a instrução é simples: conheça a Palavra de Deus, para que você não peça mal. Peça o que é bom; peça o que Deus tem prometido.
Filho de Deus, eu não preciso dar no momento uma lista das promessas de Deus para a sua vida.
Porque se você deseja viver em comunhão com Deus, se você deseja de todo o teu coração, então você pode separar tempo, um tempo precioso, você pode ir ao Senhor, estar a sós com ele, pode ir à sua Palavra, e perguntar:
Senhor, quais são os seus desejos para minha vida? Quais são as tuas promessas? Para minha esposa? Para os meus filhos? Para o meu marido? Para o meu trabalho?
Busque a Palavra do Senhor.
E ele falará. Escute o que Deus, o Senhor, disser, pois falará de paz ao seu povo e aos seus santos (Sl 85:8).
E ore segundo as promessas. Veja o exemplo de Daniel. Deus havia feito certas promessas aos judeus que estavam no exílio, através do profeta Jeremias:
Jr 29:11-13 - “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais.  12 Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei.  13 Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração.”
Então, no tempo aproprado, quando estava no exílio, Daniel estava lendo o livro de Jeremias.
Dn 9:2-3 – “No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi, pelos livros, que o número de anos, de que falara o SENHOR ao profeta Jeremias, que haviam de durar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos.  3 Voltei o rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, pano de saco e cinza.”
De acordo com as promessas de Deus, Daniel dedicou-se a orar. Então veja agora o texto de Esdras 1:1-4
“No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do SENHOR, por boca de Jeremias, despertou o SENHOR o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo:  2 Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O SENHOR, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém de Judá.  3 Quem dentre vós é, de todo o seu povo, seja seu Deus com ele, e suba a Jerusalém de Judá e edifique a Casa do SENHOR, Deus de Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém.  4 Todo aquele que restar em alguns lugares em que habita, os homens desse lugar o ajudarão com prata, ouro, bens e gado, afora as dádivas voluntárias para a Casa de Deus, a qual está em Jerusalém.
Agora vejamos também o testemunho de Pedro.
Lc 5:4-6 – “Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar.  5 Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes.  6 Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes.”
E do mesmo modo, quando Elias ora naquele dia, segundo a Palavra de Deus, o Senhor atende.
Conclusão e aplicação
O Deus de Elias é o Deus que governa o coração de cada ser humano. É o Deus que resiste aos soberbos, mas aos humildes concede a sua graça. É o Deus que atende às orações, é o Deus que cumpre a sua Palavra. Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é o teu Deus?
Se ele é o teu Deus, examine o seu coração: de que maneira o seu coração tem sido dirigido por Deus?
Você tem um coração quebrantado, humilde, que reconhece os seus próprios pecados? Ou você é uma pessoa orgulhosa, de coração endurecido?
E, se ao examinar o seu coração, você percebe que o Senhor tem inclinado você de tal modo que você ande nos caminhos dele, agradeça ao Senhor. E seja humilde diante dele e diante das pessoas.
Mas se o teu coração tem andado espiritualmente frio, se você tem se mostrado indiferente para com o falar de Deus.
Então você precisa se humilhar, e clamar misericórdia, pois se o Senhor não for misericordioso com você, então você ficará endurecido, para a sua própria perdição.
Examine a sua vida. Talvez, como aquele altar de Israel, talvez como a nação israelita, você esteja precisando de restauração espiritual. Talvez haja pecado em sua vida. E pecado não tratado arruína a vida de um crente.
Pecados de ressentimento, de amargura contra outras pessoas. Outros não perdoam a si mesmos, não confiam no poder do sangue de Jesus.
Outros são arruinados pelo pecado da mentira. Outros, pela inveja. Outros, por inimizade. Pela falta de reconciliação. Outros, pelo orgulho, pela vaidade.
Outros, pela malícia: são maliciosos em tudo, no que pensam, nas palavras, nos gestos.
Outros, pelo amor ao dinheiro, à posição social, às coisas deste mundo.
Não se consagram a Deus, não consagram a Deus seu tempo, seus bens, seus talentos, não são fiéis nos dízimos , não obedecem a Deus.
Precisam do milagre, gostariam que acontecesse, mas como a vida espiritual está em ruínas, o milagre não acontece.
Mas ninguém precisa ficar assim, arruinado por causa do pecado.
Se este for o seu caso, restaure sua vida na presença de Deus, isto é, coloque sua vida em ordem.
Com a ajuda de Deus, confesse seus pecados. Se for necessário, procure as pessoas com as quais deve se reconciliar. Faça como o filho pródigo.
O Deus de Elias é o teu Deus? Se ele é o teu Deus, faça como Elias; confie no Senhor, confie em sua Palavra. Busque a vontade do Senhor. E você irá orar, e o Senhor irá responder do céu.

terça-feira, 14 de março de 2017

Persevere! - Lc 1:5-25

IPC de Pda. de Taipas
Domingo, 12 de março de 2017
Pr. Plínio Fernandes
1 Nos dias de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote chamado Zacarias, do turno de Abias. Sua mulher era das filhas de Arão e se chamava Isabel.  6 Ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor.  7 E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, sendo eles avançados em dias.  8 Ora, aconteceu que, exercendo ele diante de Deus o sacerdócio na ordem do seu turno, coube-lhe por sorte, 9 segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso; 10 e, durante esse tempo, toda a multidão do povo permanecia da parte de fora, orando.  11 E eis que lhe apareceu um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do incenso.  12 Vendo-o, Zacarias turbou-se, e apoderou-se dele o temor.  13 Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João.  14 Em ti haverá prazer e alegria, e muitos se regozijarão com o seu nascimento.  15 Pois ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno.  16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus.  17 E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado.  18 Então, perguntou Zacarias ao anjo: Como saberei isto? Pois eu sou velho, e minha mulher, avançada em dias.  19 Respondeu-lhe o anjo: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para falar-te e trazer-te estas boas-novas.  20 Todavia, ficarás mudo e não poderás falar até ao dia em que estas coisas venham a realizar-se; porquanto não acreditaste nas minhas palavras, as quais, a seu tempo, se cumprirão.  21 O povo estava esperando a Zacarias e admirava-se de que tanto se demorasse no santuário.  22 Mas, saindo ele, não lhes podia falar; então, entenderam que tivera uma visão no santuário. E expressava-se por acenos e permanecia mudo.  23 Sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para casa.  24 Passados esses dias, Isabel, sua mulher, concebeu e ocultou-se por cinco meses, dizendo: 25 Assim me fez o Senhor, contemplando-me, para anular o meu opróbrio perante os homens.
De acordo com o Senhor Jesus, entre todos os nascidos de mulher, nenhum homem foi maior que João Batista, o profeta que o precedeu, pregando a chegada do reino de Deus [1].
De muitas maneiras João foi um homem muito especial. O texto que lemos nos diz que ele foi “cheio do Espírito Santo” desde o vente materno; que estava destinado a ser um instrumento nas mãos de Deus para levar muitos ao arrependimento e à fé em Jesus; que seria um reconciliador de famílias.
Agora, eu desejo dedicar nossa atenção nas pessoas a quem Deus escolheu para serem os pais de João Batista – Zacarias e Izabel – as pessoas através das quais esta criança nasceria e educada nos caminhos do Senhor. Pois os pais de João Batista não foram pessoas quaisquer.
Zacarias e Izabel, viveram numa nação conhecida por sua alta elaboração das questões religiosas, mas que estavam em dias de grande declínio espiritual.  Os judeus, podemos dizer, eram naqueles dias a representação visível da igreja de Deus; mas estavam em dias de muita frieza.
Havia várias seitas conhecidas nos evangelhos: os fariseus, que eram os mais ortodoxos, zelosos da doutrina e dos bons costumes, os saduceus, que eram mais liberais e concentrados nos rituais, pois a maioria deles era de sacerdotes, os zelotes, que pensavam no reino de Deus mais em sentido político e queriam implantá-lo pela violência, e outros grupos menores que não são mencionados na Bíblia, como os essênios. E a nação, de muitas maneiras em seu dia a dia “negava a sua fé”, pois a lei do Senhor não era praticada. Basta pensarmos que não era incomum a imoralidade, a prostituição, a corrupção; que não era incomum o se ver pessoas endemoniadas, sinais evidentes da ausência do Espírito Santo.
Mas em meio a tudo isto, mesmo no seio da classe sacerdotal e outros lugares, havia gente piedosa, como vemos no caso de Zacarias e Izabel.
Eles eram de família sacerdotal, e moravam não muito longe de Jerusalém, na região montanhosa da tribo de Efraim. Havia milhares de sacerdotes em Israel, e eles eram divididos para, periodicamente irem a Jerusalém a fim de cumprir seu ministério conforme a lei do Antigo Testamento.
O texto nos diz que ambos, Zacarias e Izabel, já eram idosos, e viviam de modo irrepreensível em todos os preceitos e mandamentos do Senhor (v.6).
Veja: Eles não eram pessoas sem pecado; pois no texto mesmo nós vemos que, quando o anjo veio a Zacarias e lhe fez uma promessa da parte de Deus, Zacarias duvidou, e isto foi pecado (vs. 18,19).
Mas, quando Deus diz que eram irrepreensíveis, está descrevendo o modo de vida geral deste devoto casal: eram pessoas das quais você não poderia dizer alguma coisa má; eram pessoas que guardavam os mandamentos de Deus.
Isto quer dizer, entre outras coisas, que amavam a Deus e ao seu semelhante, que trabalhavam honestamente e tratavam o próximo com amor, respeito e justiça; eram pessoas que guardavam o dia do Senhor, e não faziam conforme bem desejavam; eram pessoas que não furtavam de ninguém; isto quer dizer que entre outras coisas não deixavam de entregar seus dízimos, tomando para si o que pertencia a Deus; eram pessoas que honravam pai e mãe, e que também honravam o casamento; eram pessoas que não tomavam o nome do Senhor seu Deus em vão, que não faziam de sua religião uma área banal de suas vidas.
Mas, apesar de toda esta devoção, havia uma sombra, uma tristeza em seus corações: é que eles desejavam muito ter um filho; um sonho que a cada dia se tornava mais improvável de se realizar.
E se para muitas mulheres em nossos dias, numa cultura tão diferente, o não ter filhos é uma tristeza muito grande, imagine para um casal de judeus nos dias antigos.
Pois no começo de todas as coisas, quando o Senhor criou o homem e a mulher, colocou sobre eles a sua bênção, dizendo: – “Sede fecundos... multiplicai-vos” [2]. Mais tarde, quando deu Sua lei ao povo escolhido, também prometeu que se eles guardassem os seus mandamentos não haveria nem homem nem mulher estéril entre eles, nem que abortasse [3]. E o Salmo 113 diz que o Senhor faz com que a mulher estéril seja alegre mãe de filhos [4].
Assim, na mentalidade judaica daqueles dias, o não ter filhos era sintoma de que alguma coisa não ia bem diante de Deus. No versículo 25, Izabel diz que, com o fato de ficar grávida, o Senhor havia tirado a vergonha que ela sentia antes diante das pessoas, pelo fato de não conseguir conceber.
Mas então, o texto segue dizendo que certo dia, coube a Zacarias, estando em Jerusalém, a função de entrar no santuário e queimar o incenso diante de Deus – símbolo das orações dos fiéis, que deveriam ficar orando nos átrios do templo.
Enquanto fazia isto, um anjo do Senhor, um mensageiro do céu lhe apareceu, e disse:
– Zacarias, não temas. A tua oração foi ouvida. Izabel, tua mulher te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João.
– Em ti haverá prazer e alegria, e muitos se regozijarão com o seu nascimento...
E seguiu dizendo qual era o destino daquele filho: seria grande diante de Deus, cheio do Espírito já desde o ventre materno (pois desde o ventre materno os seres humanos já são seres dotados de almas eternas, que podem ter comunhão com Deus); e quando crescesse, seria instrumento para a salvação de muitas pessoas, restaurando famílias e convertendo muita gente ao Senhor.
Eu vejo na promessa do anjo, irmãos, um exemplo daquilo que mais tarde Paulo escreveria a respeito de Deus, que ele “é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós” [5].
Pois Zacarias e Izabel pediam um filho ao Senhor, e ele o deu; mas não deu “um filho qualquer”; deu um “homem de Deus, grande aos olhos de Deus, instrumento nas mãos de Deus”.
Seis meses mais tarde o mesmo anjo Gabriel foi enviado a Maria, e disse que Izabel estava grávida, pois para Deus não há impossíveis em todas as suas promessas[6].
Eu desejo, com o exemplo de Zacarias e Izabel trazer três implicações práticas para cada um de vocês:
1. Haja o que houver, passe o tempo que passar, persevere em viver em todos os preceitos e mandamentos do Senhor
Como eu disse anteriormente, Zacarias e Izabel faziam parte de um grupo diminuto de gente verdadeiramente crente, em tempos que Israel estava em grande declínio espiritual.
Eles também já estavam idosos, e parecia que o grande desejo de suas vidas não se concretizaria.
Mas ainda assim, vivia irrepreensivelmente, nos preceitos e mandamentos do Senhor.
Tenho conhecido pessoas que não tiveram a mesma perseverança que eles.
Certa ocasião eu estava visitando um irmão hospitalizado. E uma das enfermeiras que o atendia me perguntou: – “Você é pastor?”.
E diante de minha afirmativa ela me respondeu: – “Sou desviada”.
Então eu respondi: – “Você deve ter um motivo para isto”.
Com isto eu quis mostrar compreensão e dar a ela oportunidade para me contar de suas dificuldades.
Então ela falou:
– “É que na igreja que eu frequentava os irmãos estavam sempre contando das maravilhas de Deus em suas vidas, das respostas às orações, dos milagres que aconteciam. E na minha vida eu não via estas coisas. Então eu pensei: ‘Deus não me ama, porque ele abençoa aos outros, e não abençoa a mim.’ E desisti”.

Amados, sei que a tentação daquela mulher foi da mesma pela qual muitos passam e desistem.
Há muitos que desistem por invejarem outros que parecem ser mais abençoados.
Há muitos que desistem por causa de uma enfermidade incurável.
Há muitos que desistem, por causa de uma crise financeira que parece não ter fim.
Sei também que a tentação daquela mulher foi da mesma os crentes verdadeiros todos passam, e vocês sabem disto por experiência própria. 
Eu me enterneci diante daquele “grito por socorro”, e procurei encorajar aquela querida mulher que abriu seu coração carente.
Eu a fiz lembrar de que muitos servos de Deus, na Bíblia, precisaram esperar muito tempo para alcançar as promessas. Gente como Abraão, Sara, José, Davi, Daniel, Zacarias e Izabel. E que houve também gente que não alcançou a concretização das promessas nesta vida, pois Deus havia preparado para eles coisas muito superiores; e que ainda assim permaneceram na fé até o fim[7].
Pois amados, a Palavra fiel diz que nada pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus. Nem anjos, nem principados, nem fome, ou nudez, ou perigos, ou mesmo a morte, nada pode nos separar do amor de Deus [8].
E disse a ela: – “Confie no amor de Deus, pois a maior prova de amor que ele tem por nós não é se temos dinheiro, ou vemos milagres, o se tudo vai bem. A maior prova de que Deus nos ama é que ele deu seu Filho a fim de que ele morresse por nós”.
E o mesmo eu digo para você, filho de Deus: não desista de crer no amor de Deus. Não desista de andar nos caminhos do amor de Deus.
O Senhor nos disse que nos últimos dias, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo[9]. Mas ele não disse que o amor de todos esfriará. Ele não disse que o teu amor esfriará.
Então persevere. Não abandone a tua fé.
Guarde os mandamentos do Senhor: honre seu pai e sua mãe. Guarde o dia do Senhor. Entregue os seus dízimos. Ame a Deus e em amar ao seu próximo. Dê pão ao necessitado. Não lance mão de meios escusos para prosperar. Seja fiel à sua família. Seja fiel no seu trabalho.
2. Haja o que houver, passe o tempo que passar, persevere em servir ao Senhor
O ministério de Zacarias não seria, por muitos nos dias de hoje, considerado um “ministério relevante”. Ele não foi pastor de uma grande-mega-super igreja. Ele não foi um homem altamente reconhecido. Era “apenas um”, entre milhares de sacerdotes; não era notado; não era um “líder entre os sacerdotes”.
Seu ministério era muito simples: ensinar a lei do Senhor, e vez por outra, queimar o incenso no altar. Mas era visível aos olhos de Deus.
No Senhor, o trabalho de Zacarias não era vão[10]. Era ao Senhor que ele servia.
O mesmo eu posso dizer da imensa multidão que compõem a maioria dos eleitos do Senhor. Pois cada crente tem pelo menos um dom do Espírito Santo, e em decorrência pelo menos um serviço diante de Deus[11]. Ministérios simples, humildes, invisíveis à maioria dos homens. Mas estamos diante daquele cujos olhos percorrem toda a terra[12], que sonda os corações[13], e que dá a cada um segundo o seu procedimento.
Um dia cada um de nós comparecerá diante do tribunal de Cristo, para receber segundo o bem ou o mal que tivermos feito por meio do corpo[14].
Os servos que não serviram, isto é, que não foram servos, serão lançados nas trevas.
E os que tiverem sido fiéis, ouvirão as doces palavras:
– Bem está, servo bom e fiel. Foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor [15].
3. Haja o que houver, passe o tempo que passar, persevere em orar ao Senhor
Zacarias e Izabel eram idosos. Há quanto tempo seriam casados? Há quanto tempo estariam orando?
Mas fizeram aquilo que fizeram também Moisés, Abraão, Samuel, Daniel, Nemias e tantos outros. Fizeram o que o Senhor Jesus mais tarde ensinaria na parábola da viúva que insistiu com o juiz iníquo até que ele a atendesse[16]. Fizeram também aquilo que mais tarde fariam Paulo, Pedro, Tiago, a igreja de Jerusalém. Oraram sem esmorecer. Oraram até alcançar a promessa, mesmo que às vezes, à semelhança de Abraão, esperavam “contra a esperança” [17].
Irmãos, é necessário que perseveremos em tudo na vida.
É necessário que perseveremos na fé, no serviço, na oração. Pois veja o que diz a carta aos Hebreus:
Hb 10:35-39
Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão.  36 Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa.  37 Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará; 38 todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma.  39 Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.
Conclusão e aplicação
Você quer agradar a Deus? Tenha fé, sem voltar atrás.
Você quer alcançar as promessas? Persevere nesta fé.
Você quer conservar a sua alma? Persevere, pois aquele que perseverar até o fim será salvo.
Persevere nos mandamentos do Senhor.
Persevere em servir ao Senhor.
Persevere em orar ao Senhor.
Então você verá que no Senhor, nada do que fazemos é em vão.


[1] Cf. Lc 7:28
[2] Gn 1:27, 28
[3] Êx 23:26
[4] Sl 113:9.
[5] Ef 3:20
[6] Cf. vs. 36, 37
[7] Veja Hb 11:13-16; 11:24-26; 39, 40
[8] Rm 8:18-39
[9] Mt 24:13
[10] 1ª Cr 15:58
[11] 1ª Co 11:7, 11; 12:18
[12] 2º Cr 16:9
[13] Jr 17:10
[14] 2ª Co 5:10
[15] Mt 25:21-30
[16] Lc 18:1-8
[17] Rm 4:18
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