Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

domingo, 31 de março de 2013

Pra que o fardo seja leve - Mt 12:1-14

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 31 de março de 2013
Pr. Plínio Fernandes
Meus irmãos, vamos ler Mateus 12:1-14
1 Por aquele tempo, em dia de sábado, passou Jesus pelas searas. Ora, estando os seus discípulos com fome, entraram a colher espigas e a comer.2 Os fariseus, porém, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de sábado.3 Mas Jesus lhes disse: Não lestes o que fez Davi quando ele e seus companheiros tiveram fome?4 Como entrou na Casa de Deus, e comeram os pães da proposição, os quais não lhes era lícito comer, nem a ele nem aos que com ele estavam, mas exclusivamente aos sacerdotes?5 Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos digo:6 aqui está quem é maior que o templo.7 Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes.8 Porque o Filho do Homem é senhor do sábado.
9 Tendo Jesus partido dali, entrou na sinagoga deles.10 Achava-se ali um homem que tinha uma das mãos ressequida; e eles, então, com o intuito de acusá-lo, perguntaram a Jesus: É lícito curar no sábado?11 Ao que lhes respondeu: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço, tirando-a dali?12 Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem.13 Então, disse ao homem: Estende a mão. Estendeu-a, e ela ficou sã como a outra.14 Retirando-se, porém, os fariseus, conspiravam contra ele, sobre como lhe tirariam a vida.
Nos últimos vs. do cap. 11, lemos o Senhor Jesus fazendo um convite maravilhoso a todos os que se sentem cansados e sobrecarregados para que venham a ele, a fim de que encontrem descanso para suas almas. Jesus, nosso manso e humilde Salvador, promete a todos os que o seguem que encontrarão alívio para seus corações aflitos. Promete que seu fardo é leve, que seu jugo é suave, que não impõe sobre nós cargas difíceis de serem levadas.
E aqui, nos versículos 1-14 deste capítulo temos dois acontecimentos que ilustram como Jesus cumpre a sua palavra, como de fato o seu fardo é leve. Mateus nos conta que eles estavam passando por uma plantação, num dia de sábado. Enquanto caminhavam, os discípulos de Jesus tiveram fome, e como era o costume em Israel, eles passaram a colher algumas espigas (provavelmente de trigo, ou de cevada) e se alimentavam delas.
Os fariseus estavam sempre prestando muita atenção ao que Jesus falava e fazia; não com o propósito de aprender a ser como ele – isto eles não queriam; a mansidão e humildade de Jesus não lhes despertava admiração – , mas de encontrar algum motivo para acusá-lo. E quando viram o que os discípulos estavam fazendo naquele dia, encontraram o que desejavam.
É que de acordo como os fariseus, para que as pessoas guardassem o mandamento de santificar o dia do descanso (que sempre é transliterado sábado), havia trinta e nove coisas que eles não podiam fazer, e entre elas, pelo menos três que os discípulos estavam violando: eles estavam colhendo, esfregando as espigas com as mãos[1] e assim, preparando a sua refeição. De acordo com os fariseus, tudo isto significava trabalho, o que a lei do Antigo Testamento proibia.
Trinta e nove pequenos detalhes a respeito do sábado que, segundo os fariseus, deveriam ser rigorosamente observados para não cair no desagrado de Deus. Conforme já dissemos em outras ocasiões, para os fariseus havia um total de 613 mandamentos que deveriam ser guardados, sendo 248 positivos e 365 negativos. Se você os guardasse seria uma pessoa “perfeita”.
Mas no entendimento de Jesus, quando Deus ordenou o descanso do sétimo dia, não estava pensando nestes acréscimos todos colocados pelos intérpretes da lei. Não é à toa que em Mateus 23:4 Jesus censura os fariseus por colocarem fardos pesados sobre as pessoas, que nem mesmo eles estavam dispostos a carregar. E estes fardos farisaicos, Jesus não carregava, e também não permitiria que fossem colocados sobre os seus discípulos. Assim, quando os fariseus se aproximam para colocar culpas em seus discípulos, ele cumpre o que dissera, e não permitiu que impusessem sobre eles coisas que Deus não desejava.
Como foi que Jesus lidou com aqueles fariseus? O que nós devemos aprender de Jesus, para que não sejamos escravizados a legalismos farisaicos? Há três princípios sobre os quais devemos nos firmar, que eu desejo destacar.
1º. Precisamos nos firmar na autoridade de Jesus
No v. 8 Jesus nos diz algo de suprema importância: “Porque o Filho do Homem é senhor do sábado.”
Embora esta expressão, “Filho do homem” seja usada comumente para designar “um homem, um ser humano”, com base na profecia de Daniel[2] ela assume uma conotação escatológica, messiânica, nos lábios de Jesus. Por exemplo, em Lucas 19:10, ele se apresenta a nós como o Filho do homem que veio buscar e salvar o que estava perdido. Em João 6:27, ele é o Filho do homem que nos dá o pão da vida eterna. Em Mateus 24 e 25, ele é o Filho do Homem que virá com seus anjos, em majestade, entre as nuvens, em poder e glória, no dia do juízo. Em Mateus 16:13-16, o Filho do Homem é o Messias, o rei eterno, o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Por isto, aqui ele nos diz que o Filho do Homem é o Senhor do sábado, isto é, o que tem autoridade sobre o sábado. Ele é a pessoa que determina e sabe como o sábado deve ser vivenciado. Ele é a pessoa que determina e sabe como toda a lei dada por Deus deve ser guardada.
Isto quer dizer, meus irmãos, que além de Jesus, nenhuma outra pessoa tem autoridade, ou direito de estabelecer para nós as normas pelas quais devemos conduzir nossa vida particular, de serviço a Deus ou em qualquer outro sentido.
Ora, assim como no farisaísmo, em todas as religiões existem pessoas que, a partir dos seus próprios pensamentos, de suas devoções e de suas experiências, chegam à conclusão de que certas práticas é que são agradáveis a Deus, e que para se agradar a Deus estas práticas devem ser seguidas à risca.
Por exemplo, leiamos Cl 2:16-23:
16 Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, 17 porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo. 18 Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal,19 e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus. 20 Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: 21 não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, 22 segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. 23 Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.
Ao que parece, na igreja de Colossos havia algumas pessoas que se julgavam mais espirituais que a maioria. Estas pessoas espirituais tinham uma aparência de maior humildade. Tinham visões, contato com anjos até. Eram pessoas tão santas que se abstinham de muitas coisas lícitas, e diziam aos crentes: “não toqueis nisto, não toqueis naquilo, não comais isto, não comais aquilo outro.”Coisas que aparentemente tornam uma pessoa mais espiritual, religiosa, mais decente e ordeira, mas que não ajudam em nada na luta contra o pecado. Coisas que tornam os praticantes orgulhosos de si mesmos, maldizentes em relação aos irmãos, enfatuados, inchados de orgulho.
Ora, pessoas deste tipo têm a tendência de falar com autoridade, determinação, e costumam impressionar aos demais. Pessoas assim gostam de determinar como você deve viver. Como os fariseus.
Mas Jesus não deixou que os fariseus se impusessem sobre os seus discípulos. E Paulo não deixou que os espirituais de Colossos se impusessem sobre os crentes em Jesus. Para que não nos tornemos servos do farisaísmo, precisamos nos firmar na autoridade de Jesus.
2º. Precisamos nos firmar na autoridade das Escrituras
Veja, no v. 2, os fariseus dizem a Jesus: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de sábado. Isto porque de acordo com as tradições dos fariseus, havia aquelas trinta e nove ações que não podiam ser realizadas no dia de repouso.
Não penso, meus irmãos, que o comportamento dos fariseus quanto a isto fosse deliberadamente mau. Ao contrário, creio que suas intenções eram boas. Eles tinham o propósito de evitar o pecado contra Deus. Creio que cada grupo cristão precisa estudar as Escrituras, sistematizar suas doutrinas, aplicá-las à sua vida contemporânea. Mas ao mesmo tempo, cada grupo religioso, lutando contra a tendência humana de ir além das Escrituras, precisa fazer estas coisas com muito temor, para não acrescentar qualquer coisa fora da intenção de Deus.
Ora, os fariseus, como é a inclinação natural humana, tinham uma dificuldade enorme com isto, e então, em sua busca de aplicar os mandamentos das Escrituras à sua própria vida e do povo em geral, acabavam acrescentando, ainda que sem esta intenção, leis à Palavra de Deus, e com isto, na prática, davam às suas próprias conclusões uma autoridade maior do que às Escrituras. Se alguém deixasse de fazer alguma coisa conforme compreendida pelos fariseus, na maneira deles entender, estava transgredindo a própria lei do Senhor. E assim, nos lugar da Palavra de Deus, colocaram suas próprias tradições.
Mas não era assim que Jesus entendia. Podemos dizer que para ele, o “Juiz Supremo pelo qual todas as coisas da religião deveriam ser determinadas não poderia ser outro a não ser o Espírito Santo falando por meio das Escrituras”.[3]
Então, quando os fariseus acusam os discípulos de fazer o que não era lícito em dia de sábado, o Senhor não usa argumentos tirados da lógica humana; simplesmente recorre às Escrituras.
Nos vs. 3-7 ele cita quatro passagens do Antigo Testamento, perguntando: “Mas vocês não leram?...”, como quem diz: “Vocês se julgam tão sábios, tão doutores, tão conhecedores dos preceitos de Deus..., e não conhecem nada...”
Primeiramente, nos vs. 3 e 4, ele cita um acontecimento da vida de Davi e seus homens, no tempo em que ele, embora já ungido por Deus, ainda não era rei de Israel, e vivia fugindo da perseguição de Saul.
Esta história está registrada em 1º Sm 21. Davi foi até o sacerdote Aimeleque e lhe pediu alimento. E não havia outra coisa, a não ser os pães sagrados, que de acordo com a lei somente os sacerdotes poderiam comer. Mas diante daquela situação o sacerdote deu aqueles pães a Davi.
Jesus aprova o que aconteceu ali. De acordo com ele, o alimentar uma pessoa faminta era mais importante do que ficar se preocupando com o cerimonialismo religioso.
Em segundo lugar, no v. 5, o Senhor, numa referência a Números 28,[4] cita a própria lei, e mostra que de acordo com ela, os sacerdotes que trabalhavam no templo violavam o sábado, e nem por isto eram tidos como culpados.
E em terceiro lugar, no v. 7, pela segunda vez aqui em Mateus Jesus recorre ao profeta Oséias, onde Deus diz que o que ele deseja de nós não são sacrifícios e holocaustos, mas que sejamos gente misericordiosa.
“Se vocês conhecessem o significado da Palavra de Deus, onde ela diz: ‘misericórdia quero, e não holocaustos’, não teriam condenado a inocentes.”
Então nós temos aqui um mais princípio, uma doutrina de Cristo, da qual não podemos esquecer, se desejamos viver livre de fardos impostos pelos homens: sobre nós, o que deve ter autoridade suprema não são as interpretações dos antigos escritores, não são as elucidações particulares de alguma pessoa piedosa, não são as tradições das igrejas. Sobre nós, o que tem autoridade suprema é o Espírito Santo falando por meio das Escrituras.
Mas vejamos o terceiro princípio sobre o qual devemos nos firmar:...
3º. Nas Escrituras, devemos procurar entender qual é o propósito de Deus
Jesus conhecia as Escrituras como um ser humano que amava a lei do Senhor, que meditava nela, mas também como o Filho de Deus, o autor das Escrituras. Aquele que sabia de maneira perfeita o propósito de Deus ao nos dar a sua lei. Um propósito que os fariseus bem poderiam conhecer se realmente buscassem a vontade de Deus, pois a própria Escritura o revela.
Por exemplo, leiamos Dt 10:12, 13
12 Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma,13 para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?
Conforme estes dois versículos, todos os mandamentos de Deus têm um duplo propósito: o primeiro é que demos ao nosso Deus a glória que lhe é devida: que o amemos, que o temamos, que andemos com ele; e o segundo, inseparável do primeiro, é o nosso bem.
Nada do que Deus ordena tem a finalidade de nos prejudicar. Nada nos é dado por “capricho” de Deus, sem o grande propósito de nos abençoar.
Bem, ainda que não haja uma referência direta a este texto nas palavras de Jesus no episódio do sábado, o princípio aqui estabelecido aparece claramente.
Vamos ler Mc 2:27, 28
27 E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado;28 de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado.
A intenção de Deus a nos dar o sábado é a mesma que teve ao nos dar toda a sua lei: que tenhamos este dia para a glória do Senhor e que nele sejamos abençoados; nós precisamos entender que Deus é honrado à medida em que praticamos o que é bom, em que promovemos o bem estar do ser humano, criado à imagem de Deus e para a glória de Deus.
Este é um assunto tão importante que vale a pena citar também o apóstolo Paulo, demonstrando que ele seguia esta maneira de pensar. Para entender melhor como ele o faz em 1ª Co 9:9, 10, nós vamos ler o contexto imediato, desde o v. 6:
1ª Co 9:6-11
6 Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?7 Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? 8 Porventura, falo isto como homem ou não o diz também a lei?9 Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa?10 Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida.11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?
Paulo está ensinando que os pregadores do evangelho têm o direito de viver à custa do seu trabalho como pregadores. E para isto, entre outras coisas, cita a lei de Moisés em Deuteronômio 25:4, onde Deus diz que enquanto o boi estivesse pisando os grãos, a boca dele não deveria estar presa. Pois assim o boi poderia comer enquanto trabalhava.
Então Paulo interpreta o texto dizendo que Deus não estava pensando somente nos bois quando deu este mandamento, e usa isto como uma ilustração de que aqueles que pregam o evangelho devem viver do evangelho. Isto é, Paulo pensava em toda a lei do Senhor como dada para o bem dos homens.
Em consonância com isto, Mathew Henry, um famoso pastor puritano, escreveu: “O descanso do dia de repouso foi ordenado para o bem do homem. Não se deve entender nenhuma lei de tal forma que contradiga a sua própria finalidade.” [5]
Claro, irmãos, que esta é uma verdade da graça de Deus que pode ser distorcida pela mente carnal. O coração daquele que não teme ao Senhor, pode usar isto como um pretexto para se desviar da lei do Senhor, dizendo que está buscando um bem maior, quando na realidade quer apenas seguir o engano do pecado. Até mesmo quando Paulo ensinava que a graça de Deus é maior que os nossos pecados, algumas pessoas diziam que ele estava ensinado que podemos praticar o mal para que recebamos o bem.[6]
Mas o homem que ama ao Senhor não pensará assim; ao contrário, ele entenderá que quando o Senhor nos dá a sua lei é para o nosso bem, e que na obediência ela está este bem e a glória do Senhor.
Os fariseus não conseguiam entender nada disto. Também não conseguiam entender que, o deixar pessoas passando fome só porque é sábado não honra a Deus. Não conseguiam entender que colocar os cerimonialismos acima do amor e a misericórdia não honra a Deus. Então entendiam que cada lei dada pelo Senhor deveria ser explicada minuciosamente, desdobrada em muitos detalhes, e obedecida cegamente, mesmo que isto implicasse danos para as pessoas, como por exemplo, ficar sem comer num dia de sábado, se a comida não tivesse sido preparada antes.
Da mesma maneira eles pensavam em relação aos enfermos. Nos vs. 9-14 lemos esta outra história contada por Mateus, mostrando como Jesus não impunha fardos pesados sobre as pessoas.
Era sábado, e Jesus estava numa sinagoga. Ali havia um homem com uma das mãos enferma. Ora, de acordo com os fariseus, curar uma pessoa num dia de sábado era trabalho, e seria pecado, a não ser que a pessoa estivesse morrendo. E este homem não estava morrendo. Logo, seria pecado Jesus curá-lo. Se Jesus quisesse curá-lo, que o fizesse no dia seguinte.
Sabem, meus irmãos, há muitas coisas que são ilícitas aos olhos de pessoas legalistas, impuras e duras de coração, mas que não são ilícitas aos olhos de Deus.[7]
Jesus entende que o sábado foi dado para o nosso bem. E que então, se você faz qualquer coisa que promova o bem, não está pecando, ao contrário, está obedecendo a lei do Senhor, que é perfeita, e que, longe de ser dada para o mal, restaura a alma. Até mesmo quando nos condena por nossos reais pecados, ela restaura nossa alma, pois neste condenar, nos convence do pecado, nos mostra o Cordeiro de Deus, nos conduz a Jesus e nos torna sábios para a salvação. Mesmo que com isto escandalize aos fariseus. Mesmo que contrarie. Mesmo que provoque críticas.
Sendo assim, mesmo deixando aqueles homens profundamente irritados, Jesus curou a mão daquele enfermo. E aqui nós vemos quão destrutivo é o legalista: a pretexto de fazer o que diz a lei, os fariseus saíram dali e foram fazer uma reunião para decidir como matariam “aquele rebelde”. Na visão legalista, curar um homem no sábado é pecado. Tramar contra a vida de alguém que promove o reino de Deus, a cura e a salvação dos outros não é.
Não é assim que age o fariseu? A pretexto de colocar Deus e sua Palavra em primeiro lugar, é capaz de, com a difamação, a acusação, destruir a vida, vale dizer, o ministério, a carreira, a boa fama e outras coisas, daqueles que não se preocupam com as minúcias cerimoniais religiosas. São capazes de condenar inocentes só porque não se adaptam às normas religiosas que eles “cismam” de dizer que têm base bíblica, quando na verdade são apenas resultado de tradições humanas.
Conclusão
Assim, nós temos três princípios estabelecidos por Jesus, nos quais devemos nos firmar, para que o nosso fardo, tanto individual, como eclesiasticamente, seja leve:
O primeiro, é que a suprema autoridade da nossa vida é Jesus.
Não são as opiniões dos homens, não são as tradições denominacionais, e com isto eu quero dizer que inclusive os pastores, por mais piedosos que sejam, não têm o direito de impor aquilo que Jesus não impõe, sob a pena de se tornarem fariseus. É Jesus a nossa autoridade.
O segundo, é o Espírito de Deus falando nas Escrituras.
O Espírito de Cristo. Pois toda a argumentação de Jesus se baseia no fato de que para ele as Escrituras são a Palavra de Deus, e toda a nossa maneira de entender a vontade de Deus deve ser baseada nelas.
O terceiro, é que devemos procurar nas Escrituras a intenção de Deus ao nos dar seus mandamentos.
E cada Escritura foi dada para a honra de Deus e o nosso bem. Não devemos impor nada ao que Deus nos deu, pois isto pode nos conduzir a uma obediência cega, não a Deus, mas a homens; pode nos levar a carregar fardos que Deus não deseja que levemos.
Aplicações
Vejamos algumas implicações destes princípios para nossa vida:
1º. Eles devem nos alegrar e nos libertar.
E nesta alegria e liberdade, viver para a glória de Deus. O propósito de Deus ao nos criar, e também ao nos redimir, ao nos dar sua Palavra, é que nos alegremos nele e o glorifiquemos em toda a nossa maneira de viver.
Existem vários tipos de fardo que podem nos impedir de viver para a glória de Deus: o fardo dos nossos pecados, o fardo das preocupações, o fardo da religiosidade carnal. Não conseguimos viver para a glória de Deus debaixo de qualquer um deles, mas a verdade liberta. Jesus nos liberta de todos os fardos, de todos os pesos, de todas as acusações de Satanás.
Em 2ª Coríntios 3, Paulo explica que, quando nos convertemos a Jesus, somos libertados de uma visão farisaica das Escrituras. E por esta liberdade que ele nos dá, encontramos o caminho do crescimento espiritual.
2ª Co 3:15-18
15 Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.16 Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.17 Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.
2º. Esta alegria e liberdade deve nos aproximar cada vez mais das Escrituras.
Uma vez que estamos convertidos ao Senhor, não temos sobre nós um véu quando lemos a lei do Senhor. Ela não é para nós um instrumento de escravidão, mas sim um meio para o qual somos conduzidos a Cristo. A lei do Senhor recebe um maravilhoso adjetivo na carta de Tiago:
Vejamos Tg 1:25-27
25 Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar. 26 Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. 27 A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.
Eu quis ler até o v. 27, pois mais uma vez temos o princípio que rege toda a maneira pela qual devemos olhar para os mandamentos de Deus: eles visam promover o nosso bem; e aqui Tiago aponta para o fato de que a lei do Senhor nos leva a ser pessoas que não falam o que é mal, e que também buscam o bem dos necessitados.
Agora, esta lei para a qual devemos atentar, ele chama no v. 25 de “lei da liberdade”. Ela é a lei do Senhor, que é perfeita e restaura a alma.
Eu preciso enfatizar: neste contexto, quando falamos lei do Senhor, estamos nos referindo ao Antigo Testamento em sua totalidade, e não daquela maneira seletiva, farisaica, legalista, que pensava nas Escrituras como um conjunto de deveres que se cumpridos, tornavam o homem salvo. Mas a lei que dá mandamentos, promessas graciosas, e que também nos apresenta Jesus, para que sejamos salvos. Ela é a lei da liberdade, a lei da nossa salvação.
3º. Nesta alegria e liberdade que nos aproxima das Escrituras, aprender o sentimento que há em Cristo Jesus, de tal maneira que, por um lado, não sejamos escravizados ao farisaísmo que vem de fora, nem, por outro lado, ao farisaísmo que vem de dentro.
Pois a inclinação natural do nosso coração, especialmente de você for um instrutor da Palavra de Deus, é a de começar a criar pequenas leis.
Tg 2:12, 13
12 Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.13 Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo.
Existe alguma diferença de propósito da lei, entre aquilo que Jesus e Tiago ensinam? O propósito de lei é a misericórdia, que triunfa sobre o juízo. Se você é tão “justo” que não sabe exercer misericórdia, não entendeu a justiça de Deus; pois ela é uma justiça inseparável da graça, do amor, da misericórdia.
Se você é tão legalista que, para aceitar as pessoas, elas têm que andar de acordo com os seus preceitos particulares, ou as tradições da sua denominação, vá e aprenda o que significa “misericórdia quero, e não sacrifícios.” Você ainda não aprendeu o que Deus quer.



[1] Lc 6:1
[2] Dn 7:13, 14
[3] Paráfrase de Confissão de Fé de Westminster, I:X, Das Sagradas Escrituras
[4] Nm 28:9, 10
[5] Comentário de Mateus 12:1-8, em Exposition of the Old and New Testaments.
[6] Rm 3:8
[7] Tt 1:15

sexta-feira, 29 de março de 2013

Nosso impacto sobre o mundo - Mt 5:11-16

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 06 de maio de 2012
Pr. Plínio Fernandes
Queridos irmãos, vamos ler Mateus 5:11-16
11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. 12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. 13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. 16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.
Quem, entre os discípulos de Jesus, era uma pessoa economicamente poderosa? Quem deles era uma pessoa politicamente influente? Algum deles era um nobre? Algum deles era um rabino, um sábio, ou pelo menos uma pessoa letrada?
No entanto, mais uma vez, na vida daqueles homens humildes, sem poder, sem riquezas, e poucos, o Senhor afirma e demonstra que as coisas dos céus, a maneira de pensar de Deus é bem diferente, e muito mais eficaz, do que todo o acúmulo de poder, sabedoria e riquezas humanas. Deus escolhe as coisas fracas, as coisas humildes, as coisas pequenas, para nelas e por meio delas manifestar a sua graça.
Depois de descrever o caráter, a alma, o ser interior daqueles que se arrependeram e agora o seguem, retratando seus discípulos como pessoas quebrantadas, humildes, sedentas por viver conforme a vontade de Deus, sinceras, misericordiosas, pacificadoras, Jesus olha para eles e diz que, por causa de sua maneira de ser, suas vidas provocavam e provocariam um impacto profundo sobre o mundo em que viviam.
No vs. 11 e 12 ele amplia a última bem-aventurança, afirmando que a vida justa que elas caracterizavam, e que incomodariam o mundo de fora, eram fruto do relacionamento com ele, “por minha causa”, diz o Senhor. Depois, nos vs. 13 e 14, ele afirma que os seus discípulos eram sal da terra e luz que iluminaria o mundo, e que por causa disto também causariam impacto sobre os de fora.
Assim vemos que, tanto de um modo negativo, como de um modo positivo, o simples fato de alguém ser um seguidor de Jesus gera impacto, produz profundas impressões na vida dos que “são de fora” do círculo da fé. É sobre isto que vamos meditar hoje – porque os discípulos de Jesus causam impacto?
1. Por causa de sua identificação com o Senhor
E por identificação quero dizer compromisso, assimilação de pensamento, que induz à semelhança. Vale repetir que esta nona bem aventurança é um desenvolvimento da oitava, o clímax daquela série que se inicia no v. 3. Nos vs. 3 a 10 Jesus descreve as qualidades interiores daqueles que o seguem, e termina dizendo que por viverem uma vida justa muitas vezes encontrarão perseguição e oposição.
Agora, no v. 11, Jesus diz que tudo isto é por causa dele:
v. 11
“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós”.
Primeiro, Jesus nos diz aqui que a pessoa dele invariavelmente provoca uma reação no mundo. Como veremos daqui a pouco, esta reação muitas vezes é positiva: diante das obras de Jesus muitas pessoas se voltam para Deus, e glorificam ao Pai que está nos céus.
O grande desejo e alegria do coração de Jesus é que isto aconteça: ele não veio para condenar o mundo, mas para salvar. Mas ainda assim, muitas vezes a reação que as pessoas têm diante dele é negativa: em vez de receber a Jesus, e amá-lo, as pessoas se tornam inimigas dele. Não querem sua Palavra, não aceitam sua doutrina, porque amam o pecado e à mentira.
Segundo, quando alguém se declara um crente em Jesus, aqueles que rejeitam a Jesus passam a rejeitá-lo também.
Jo 15:18-23
18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim.  19 Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia.  20 Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. 21 Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. 22 Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. 23 Quem me odeia, odeia também a meu Pai.
Vejam, irmãos, não somos pessoas chamadas para odiar o mundo, e mundo aqui no sentido de humanidade. Somos pessoas chamadas a, à semelhança de Deus, amar a humanidade. Mas não devemos cultivar o desejo ou a ilusão de sermos amados e aceitos pelo mundo também.
De modo geral Jesus, ainda que ame, ainda que ofereça salvação, ainda que mostre o bom caminho, é rejeitado. E da mesma forma o crente em Jesus.
Duas semanas atrás eu conheci uma irmã que me contou o que aconteceu com ela por causa de sua conversão a Jesus. Ela era de uma seita religiosa que nega a divindade de Jesus Cristo, os “Testemunhas de Jeová”. Mas um dia começou a estudar a Bíblia, e quanto mais estudava, mais ficava convicta de que aquilo que ouvira desde a infância estava errado. E passou a crer em Jesus como seu Deus. Seus parentes todos são daquela seita, e como resultado desta conversão eles cortaram o relacionamento com ela. Seus pais e demais parentes não falam com ela.
Ora Jesus disse que este tipo de coisas poderia acontecer.
Mt 10:34-39
34 Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. 35 Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. 36 Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.
Foi o que aconteceu com esta querida irmã, e é o que tem acontecido com muitos irmãos através de toda a história, inclusive atualmente em muitos países, não só no Oriente, mas também na Europa, na África e nas Américas.
Mas Jesus diz que, mesmo sendo perseguidos, caluniados, mesmo que zombados, devemos ser firmes em nosso compromisso com ele, mais até do que com os nossos familiares, se eles forem pessoas que se opõe a ele:
Mt 10:37-38
37 Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; 38 e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim.
 Mas no v. 39 ele promete uma recompensa para aqueles que pagam o preço de sofrer por acreditar nele.
39 Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.
Voltemos a Mt 5:11, 12
11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.
Assim, nós vemos que, por causa de nosso compromisso com o Senhor, de segui-lo e buscar ser como ele, o impacto pode ser negativo. Não devemos alimentar a ilusão de que se amarmos seremos amados de volta. Mas devemos amar, e se assim fizermos, seremos amados no céu. Estaremos seguindo aquela longa linhagem de gente de Deus, os profetas, que hoje estão no reino de Deus, e assim como eles teremos uma recompensa eterna.
2. Também causamos impacto no mundo porque somos “o sal da terra”
v. 13
Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens”.
O que significa esta comparação? Nós facilmente reconhecemos as propriedades do sal: ele preserva e dá sabor. A implicação é que o mundo, por si só, espiritualmente, está se deteriorando, que sem Jesus ele não tem graça. Mas os crentes, por sua qualidade essencial, preservam e dão sabor à terra.
De que modo isto acontece? Num texto paralelo a este, Jesus se refere ao sal como uma atitude interna que o discípulo deve ter:
Mc 9:50
“Tende sal em vós mesmos e (vivei em - BJ) paz uns com os outros”.
Aqui Jesus nos deixa claro que ter sal em nós mesmos é ter aquela disposição interior que nos leva a conviver em paz com as outras pessoas. Ter sal em nós mesmos, portanto, significa ter o desejo de buscar o bem das pessoas, de ver o seu progresso, a sua felicidade, a sua alegria; uma disposição benigna, afetuosa, amorosa.
Naturalmente que esta disposição se manifestará através em nossas ações, mas, antes disto, se manifestará na maneira como nos dirigimos às outras pessoas.
Cl 4:6
“a vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes responder a cada um” - agradável (gostosa) e sábia (edificante, que faça o bem), isto é, nossa maneira de conversar com as outras pessoas deve ser o resultado daquela disposição interior de amar, abençoar, proporcionar o bem.
Então veja, se você tem esta disposição interna, benéfica, generosa, você pode abençoar, influenciar, afetar de maneira positiva, a vida de muitas pessoas à sua volta, mesmo que isto por vezes signifique se opor fortemente ao que elas desejem fazer. Em Jesus mesmo nós podemos ver isto claramente ilustrado:
Leiamos João 8:3-11
3 Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, 4 disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. 5 E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? 6 Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. 7 Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. 8 E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9 Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. 10 Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? 11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.
“Aquele entre vós que não tiver cometido pecado, seja o primeiro a atirar-lhe pedra”. Que palavras bem temperadas!!! Com sua atitude de paz, o Salvador  impediu que uma grande injustiça fosse cometida.
Nem sempre as pessoas se converterão a Deus, mas podemos com nossas palavras, influenciar para o que é bom. Sal é o jovem que no meio ambiente acadêmico e hostil ao evangelho sabe explicar a causa de sua fé. Sal são os pais, os avôs que orientam seus filhos e netos. Sal são os amigos que aconselham.
Só há um cuidado a tomar, diz o Senhor: o de não nos tornarmos insípidos. O que é isto? O cloreto de sódio, por si mesmo, é um elemento muito estável, mas se ele tiver mistura de outros elementos como o cobre, o manganês, ele perde o seu sabor. [1]
Em Mt 12:34 Jesus nos diz que a boca fala do que o nosso coração está cheio. Quer dizer: se o nosso coração estiver cheio de impurezas, nossos lábios irão manifestar a impureza do nosso coração – se o que houver em nosso coração é raiva, inimizade, desamor, nossas palavras refletirão nosso interior. Mas se houver amor, graça, bênção, também refletirão isto.
Por isto Jesus diz: “tende sal em vós mesmos”. Cuidem do coração, cuidem que o bem esteja dentro dele, cultivem o que é puro, benéfico.
A terceira razão pela qual os crentes em Jesus causam impacto sobre o mundo é que...
3. Eles são “a luz do mundo”
v. 14
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte...”.
Mais uma vez, a implicação é que o mundo, por si só, aos olhos de Deus, está em trevas. No v. 16 ele diz o que significa brilhar
“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”.
O crente brilha através de suas boas obras. Veja: em nossos dias, muitas pessoas pensam em boas obras como aquelas que nós chamaríamos de “obras de caridade”. Os crentes devem praticar obras de caridade. Em Mateus 6, no sermão do monte, Jesus fala sobre o cristão dando esmolas, ajudando ao seu próximo. Mas ali ele nos diz que quando ajudarmos alguém neste sentido, não devemos contar para os outros, nem fazer com a intenção de que outras pessoas estejam nos observando. Devemos fazer tão somente aos olhos do nosso Pai que está nos céus.
Em contraste, aqui em Mateus 5:16 Jesus diz que as nossas boas obras devem brilhar diante dos homens para que Deus seja glorificado através delas. Para que entendamos melhor que trevas são estas vamos ler João 3. Desejo ler primeiro os vs. 14-18. Neles Jesus nos diz a grande motivação pela qual ele veio vindo ao mundo, tanto da sua parte como da parte de Deus Pai.
Jo 3:14-18
14 E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, 15 para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. 16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.  17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. 18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
Deus enviou seu Filho por amor, para trazer salvação, e não julgamento. Jesus foi levantado na cruz para a nossa salvação. Tudo o que precisamos fazer é crer em Jesus. Por outro lado, se alguém se recusar a crer em Jesus, em si mesmo já está julgado.
Agora, nos vs. 19 a 21, Jesus nos diz que julgamento é este:
19 O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.  20 Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras. 21 Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.
Quem não se aproxima de Jesus vai permanecer nas trevas, e longe de Deus. Neste contexto ele explica o que são obras das trevas e obras da luz. Obras das trevas são aquelas espiritualmente reprováveis, condenáveis, aquelas que o Espírito de Deus condena. Obras da luz são aquelas nas quais Deus tem prazer.
Estes dias eu tomei conhecimento de que uma irmã foi despedida de seu emprego, porque seu superior usa daquele expediente chamado “caixa 2”, o que ela naturalmente não pratica. Aquele homem, o superior desta irmã, está fazendo coisas reprováveis, e não quer que elas sejam reprovadas. Então quer ficar longe da luz.
Boas obras então, são a expressão daquilo que o crente é por dentro. E aquilo que o crente é por dentro, que se manifesta em seu comportamento, muitas vezes trará a reprovação do mundo, mas muitas vezes trará o reconhecimento de que tais pessoas que as praticam pertencem realmente a Deus.
Conclusão
Sal da terra, luz do mundo. Os discípulos de Jesus, por si só, por causa daquilo que eles são, causam impacto, causam impressões profundas que influenciam, ora de modo positivo, ora de modo negativo, no mundo em que vivem.
Alguns odeiam os crentes. Outros glorificam a Deus por causa das vidas deles. Paulo disse isto de outra maneira, usando outra metáfora, dizendo que somos o bom perfume de Cristo, tanto nos que se salvam como nos que se perdem. Para uns somos aroma de vida, e para outros, de morte. [2]
Mas o que importa é estarmos comprometidos com Jesus, e em nosso interior cultivar os valores de caráter que ele tem. A manifestação disto no mundo é a consequência natural. Se nós tão somente somos pessoas comprometidas com Jesus, o céu nos aguarda e este mundo é abençoado.
Aplicação
Tenhamos uma visão correta de nossa identidade:
Estamos no mundo, mas não somos do mundo. A nossa pátria está nos céus, de onde aguardamos ao Senhor Jesus. Então não tenhamos ilusões quanto ao mundo. O mundo passa com suas concupiscências, mas o que é de Deus permanece para sempre. Então valorizemos o que é do céu: o amor de Deus, o amor pelas coisas de Deus: a justiça, a fé, a esperança, o amor pelas almas que precisam de Jesus. Amor que é fruto de nosso amor a Jesus. Amor que se manifesta no que falamos e no que fazemos.




[1] Veja  John Stott, Contracultura Cristã, comentando este texto.
[2] 2ª Co 2:15

quarta-feira, 27 de março de 2013

Homens que conhecem a Deus não se dobram diante do mundo - Dn 3

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 02 de outubro de 2011
Pr. Plínio Fernandes
Meus irmãos, vamos ler Daniel cap. 3
1 O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha sessenta côvados de altura e seis de largura; levantou-a no campo de Dura, na província da Babilônia. 2 Então, o rei Nabucodonosor mandou ajuntar os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os juízes, os tesoureiros, os magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das províncias, para que viessem à consagração da imagem que o rei Nabucodonosor tinha levantado. 3 Então, se ajuntaram os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os juízes, os tesoureiros, os magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das províncias, para a consagração da imagem que o rei Nabucodonosor tinha levantado; e estavam em pé diante da imagem que Nabucodonosor tinha levantado.
4 Nisto, o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas: 5 no momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou. 6 Qualquer que se não prostrar e não a adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente. 7 Portanto, quando todos os povos ouviram o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério e de toda sorte de música, se prostraram os povos, nações e homens de todas as línguas e adoraram a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor tinha levantado.
 8 Ora, no mesmo instante, se chegaram alguns homens caldeus e acusaram os judeus; 9 disseram ao rei Nabucodonosor: Ó rei, vive eternamente! 10 Tu, ó rei, baixaste um decreto pelo qual todo homem que ouvisse o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música se prostraria e adoraria a imagem de ouro; 11 e qualquer que não se prostrasse e não adorasse seria lançado na fornalha de fogo ardente. 12 Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província da Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti, a teus deuses não servem, nem adoram a imagem de ouro que levantaste.
13 Então, Nabucodonosor, irado e furioso, mandou chamar Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. E trouxeram a estes homens perante o rei. 14 Falou Nabucodonosor e lhes disse: É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vós não servis a meus deuses, nem adorais a imagem de ouro que levantei? 15 Agora, pois, estai dispostos e, quando ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrai-vos e adorai a imagem que fiz; porém, se não a adorardes, sereis, no mesmo instante, lançados na fornalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?
16 Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego ao rei: Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. 17 Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. 18 Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste.
19 Então, Nabucodonosor se encheu de fúria e, transtornado o aspecto do seu rosto contra Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, ordenou que se acendesse a fornalha sete vezes mais do que se costumava. 20 Ordenou aos homens mais poderosos que estavam no seu exército que atassem a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego e os lançassem na fornalha de fogo ardente. 21 Então, estes homens foram atados com os seus mantos, suas túnicas e chapéus e suas outras roupas e foram lançados na fornalha sobremaneira acesa. 22 Porque a palavra do rei era urgente e a fornalha estava sobremaneira acesa, as chamas do fogo mataram os homens que lançaram de cima para dentro a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego.
23 Estes três homens, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, caíram atados dentro da fornalha sobremaneira acesa. 24 Então, o rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa, e disse aos seus conselheiros: Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? Responderam ao rei: É verdade, ó rei. 25 Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses. 26 Então, se chegou Nabucodonosor à porta da fornalha sobremaneira acesa, falou e disse: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde! Então, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram do meio do fogo. 27 Ajuntaram-se os sátrapas, os prefeitos, os governadores e conselheiros do rei e viram que o fogo não teve poder algum sobre os corpos destes homens; nem foram chamuscados os cabelos da sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de fogo passara sobre eles.
28 Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos, que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu corpo, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus. 29 Portanto, faço um decreto pelo qual todo povo, nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas em monturo; porque não há outro deus que possa livrar como este. 30 Então, o rei fez prosperar a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na província da Babilônia.
Em nosso estudo anterior[1], vimos que o rei Nabucodonosor havia sonhado com uma grande estátua, feita de metais. A cabeça desta estátua era de ouro puro, os braços e o peito eram de prata, o ventre e os quadris eram de bronze, e as pernas de ferro. Os pés eram de ferro entremeado de argila.
Enquanto Nabucodonosor olhava, surgiu uma rocha, não cortada por mãos humanas, que foi lançada contra os pés da estátua e a destruiu completamente. Todas as partes da estátua foram feitas em pó que o vento levou. E a rocha, ao contrário, foi crescendo, e crescendo cada vez mais, a ponto de se tornar uma imensa montanha que cobriu a terra inteira.
Daniel interpretou o sonho do rei: segundo Deus revelou, a cabeça de ouro representava Nabucodonosor e seu reino. Depois surgiria outro reino, inferior ao seu, representado pelo peito e braços de prata. Vimos que foi o reino medo-persa. Em seguida, representado pelo ventre e quadris de cobre, um terceiro reino, que foi o período grego. Um quarto reino viria em seguida, simbolizado pelas pernas e pés de ferro, entremeados de barro: seria o império romano. Por fim, disse Daniel, a rocha que homens não haviam preparado seria um reino suscitado por Deus, que destruiria todos os reinos anteriores, aliás, todos os reinos deste mundo, e ocuparia toda a terra. Seria um reino eterno.
E vimos que, tal como Daniel predisse, assim aconteceu: nos dias de césar Augusto, para que se cumprisse a Palavra do Senhor, nasceu o rei dos reis. O reino de Deus não veio segundo as maneiras humanas, com golpes militares, com força bélica. Mas veio humilde, através da vida obediente de Jesus, no poder do Espírito Santo, obediente até à sua morte na cruz pelos nossos pecados. É um reino que se instala no interior de todo a aquele que crê em Jesus, e que pela fé o recebe, em seu coração, como seu Senhor e Salvador; mas desde então, é uma reino que tem crescido, e que nunca será destruído. É um reino eterno.
Diante do que o profeta falou, Nabucodonosor se prostrou e disse que o Deus de Daniel era o maior de todos os deuses. Mas parece que ele não entendeu a mensagem em sua totalidade. O sonho dizia que Nabucodonosor era a cabeça de ouro, pois Deus lhe havia dado o reino. Mas também dizia que o seu reino seria suplantado por todos os outros. Dizia que Nabucodonosor não era eterno, mas que eterno somente o reino de Deus. Parece que Nabucodonosor só ficou com a imagem da cabeça de ouro na mente, e isto lhe “subiu à cabeça”.
Então, o cap. 3 nos conta que algum tempo depois, não sabemos quanto, ele resolveu fazer uma estátua de ouro. Por meio desta estátua, construída para ser adorada, ele reivindicaria autoridade total sobre todos os povos de seu vasto reino. Seria uma estátua imensa, com 27 metros de altura e 2,70 de largura, quase tão grande quanto o Colosso de Rodes.[2] Seria colocada no campo de Dura, uma planície entre os montes[3], distante cerca de 10 quilômetros da cidade.[4] Seu fulgor brilhando ao sol seria visto de longe.
Ele planejou como seria o dia da consagração da imagem: ali estariam pessoas de todos os lugares de seu grande reino: os sátrapas (esta palavra significa “protetores”), os prefeitos, os governadores, os magistrados, os juízes. Todas estas pessoas eram autoridades das várias nações conquistadas.[5] E além delas, é claro, o povo comum. Uma grande orquestra, composta de instrumentos musicais de várias nações também: instrumentos gregos, persas e judeus.[6] Assim, seria um ajuntamento representativo de todo o reino em volta daquela imagem colocada no vale.
Interessante que a Bíblia não diz ser ela a imagem de um deus – talvez representasse o próprio Nabucodonosor – mas foi erigida com o propósito de ser adorada. A insistência do rei era no sentido de que a imagem e os seus deuses babilônicos deviam ser adorados.
Muito bem: Nabucodonosor a fez construir, colocou-a no campo de Dura, reuniu as autoridades, a grande orquestra, e a multidão. Era uma solenidade oficial. De repente, fez-se silêncio, e um arauto do rei fez soar a sua potente voz, de modo que todos pudessem ouvi-lo claramente:
- “Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas: no momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou” (vs. 4 e 5).
Note as palavras: todos devem se prostrar e adorar a imagem que o rei Nabucodonosor levantou. Esta frase, “a imagem que o rei Nabucodonosor levantou” é repetida mais sete vezes até o v. 18. O que toda esta iniciativa do rei deixa claro é que ele pretendia ser reconhecido como a autoridade suprema na vida de todas as línguas, povos e raças por ele conquistadas.
A estátua que ele fez devia ser adorada, e também os seus deuses. Obedecer ao rei nesta ordem implicava reconhecer a sua autoridade soberana. E se alguém não se curvasse e adorasse, isto é, e se alguém não reconhecesse a Nabucodonosor como rei supremo, e não adorasse aos seus deuses? No v. 6 o arauto responde – Qualquer que se não prostrar e não a adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente”.
Jeremias 29:22 nos revela que era conhecido o fato de que Nabucodonosor costumava assar no fogo as pessoas que se opunham a ele. Fora dos textos bíblicos, uma carta babilônica do séc. 19 A. C., e um documento palaciano assírio, do séc. 12 A. C., nos mostram que na Babilônia o lançar uma pessoa na fornalha era um meio de execução conhecido,[7] assim como mais tarde a cova dos leões entre os medo-persas, e a crucificação entre os romanos. Estas “fornalhas de fogo ardente” eram grandes fornos para a fabricação de tijolos. As altas temperaturas garantiam a qualidade dos tijolos, muitos dos quais perduram até hoje.
Elas tinham uma abertura do lado, por onde as pessoas entravam para colocar os tijolos e o carvão para queimar. E no alto havia também uma grande abertura para a circulação do ar, o que garantia uma temperatura elevada. Calcula-se que chegavam a 900 ºC. Pelo texto bíblico entendemos que, se alguém fosse condenado à fornalha ardente, seria lançado ali pela abertura de cima, e os outros ficavam observando pela abertura do lado.
Acontece que durante a cerimônia de consagração e adoração da imagem, três conhecidos nossos, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, os companheiros de Daniel, servos do Deus altíssimo, adoradores do Senhor, não se curvaram. No mesmo instante e eles foram delatados ao rei, como gente rebelde e desobediente.
Depois que o Nabucodonosor insistiu com eles para que adorassem a imagem, e não conseguindo demovê-los, ficou enfurecido. Tanto que o seu rosto se transformou. Ele ordenou que a fornalha fosse superaquecida, e que sem demora aqueles insubordinados fossem lançados ali. E se aqueles três eram desobedientes, os demais que estavam ali não eram.
Imediatamente amarraram os servos de Deus e os lançaram no forno. O fogo estava tão alto que queimou os que foram lançar os três lá dentro. Enquanto isto, Nabucodonosor e as demais autoridades ficaram a observar pela abertura lateral, para ver a morte deles. Mas qual não foi a surpresa! Eles não haviam lançado três homens, amarrados? No entanto agora eles viam quatro homens, livres, e passeando entre as chamas! E o quarto, disse o rei, não é um homem comum. É semelhante a um filho dos deuses. Isto porque Nabucodonosor não tinha discernimento; ele não poderia mesmo reconhecer o Filho de Deus.
Então ele chama os três: - “Sadraque, Mesaque, Abede-Nego, servos do Deus altíssimo, saiam daí, venham para fora”.
Os três saíram, e todos ficaram admirados: nenhuma queimadura, nenhum sinal de fogo, nem nas roupas deles, nem ao menos cheiro de fumaça. Nabucodonosor? Adorava fazer decretos, e fez mais um, ordenando que todos respeitassem o Deus deles três, e os fez prosperar.  
Eu gostaria de fazer uma aplicação devocional a um pequeno detalhe: eram quatro homens lá dentro. Saíram três. Jesus ficou lá, no fogo. Porque será? Acho que, entre outras coisas, ele quis dizer prá nós que toda a vez que um crente é lançado na fornalha, ele não estará sozinho, porque Jesus já está lá dentro esperando por ele. Pois através dos séculos, irmãos, e é assim até hoje, e será assim até que Jesus venha em seu reino, os filhos de Deus serão perseguidos, caluniados, maltratados, afligidos por amor ao nome de Jesus.
Até a volta do Filho de Deus os filhos do reino serão provados neste mundo. Mas ele disse: “Nunca te deixarei, jamais te abandonarei... Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o SENHOR, teu Deus, teu Salvador; e tu és meu...” [8]
O povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo[9]. Se esforçará e fará proezas.[10]
Já temos visto que no cap.1, a proeza deles foi a santificação. No cap. 2, a proeza foi o uso dos seus dons. E agora no capítulo 3, os homens que conheciam a Deus não se curvaram diante dos ídolos.
1º - Eles não se curvaram diante da coação social
Digo “coação social” porque havia todo um contexto social e político que estavam vivendo naquela hora, e que pretendia forçá-los a fazer algo que sua consciência não permitia. Estes três homens judeus faziam parte das autoridades do reino de Nabucodonosor, e como tais, de um lado, tinham posição muito importante diante do povo, inclusive diante de todo o povo judeu que havia sido deportado para lá. Além de ser uma posição de destaque, era de grande responsabilidade. Era também o trabalho deles, o seu modo de ganhar a vida. Por outro lado, tinham também uma grande responsabilidade diante do rei, não somente como bons administradores, mas também em sujeição a ele. Se as próprias autoridades não obedecem ao rei, quem mais obedeceria?
Então, naquele dia, estão todos reunidos: o rei, os muitos governadores do império (a Bíblia não diz onde Daniel estava, mas, uma vez que ele era o responsável pela província da Babilônia, é de se crer que ele havia ficado na capital, a cuidar dos negócios do rei), e numerosa multidão. O momento é solene, pois trata-se de uma cerimônia que tem por fim reafirmar a unidade do reino através de um reconhecimento comum da autoridade do rei e seus deuses. O arauto do rei diz que todos, sem exceção, devem se prostrar e adorar a imagem do rei e os seus deuses. A estátua brilha reluzente ao sol. As multidões em volta. As autoridades aos lados, ou talvez atrás de Nabucodonosor. Então as trombetas, as cítaras, os instrumentos de percussão e todos os outros são tocados, dando ao momento uma solenidade ainda maior. E todos se curvam.
Agora vejam que, para aquelas autoridades todas, e também para a imensa multidão, adorar uma imagem a mais ou uma imagem a menos não fazia diferença alguma. Eles eram politeístas. Além disto, Nabucodonosor havia conquistado todas aquelas nações. Isto implicava que os deuses dele eram mais fortes. Inclusive para muitos judeus deportados, pois o grande pecado deles, que levou para o cativeiro foi justamente o pecado da adoração de ídolos. Então era uma coisa com a qual eles estavam acostumados. E naturalmente, esperava-se que todos se curvassem.
Mas para estes três judeus as coisas não eram assim. E a atitude deles foi tão radical que não dava nem para disfarçar. Não havia meio de não serem notados. Quando todos se curvam, ou se prostram e adoram, três permanecem em pé, eretos e firmes em sua posição.
Creio que, numa escala bem menor, a maioria de nós já esteve em situação parecida, seja na escola, seja entre amigos, seja no trabalho, ou até entre familiares. Eu me lembro de certa ocasião, eu estava no terceiro ano primário (fundamental), e uma freira católica foi fazer uma visita à classe em que eu estudava. Então, depois de dizer que estava ali para nos abençoar, ela convidou aos alunos para que a acompanhassem numa prece à virgem Maria. Nós tínhamos que começar fazendo o sinal da cruz.
Quando percebeu que eu não fiz, ela perguntou: - “Porque você não está fazendo também”? É claro que não havia maldade nenhuma nela. Aquela querida freira não quis me constranger. Por outro lado, eu também não queria ser mal educado com ela. Mas também não podia fazer uma coisa que, embora eu ainda não fosse convertido, entendia ser errado: rezar à virgem Maria. Mas o fato é que naquela época o número de protestantes era bem menor que hoje; eu era o único na minha classe; todos então ficaram sabendo que eu não estava fazendo o mesmo que a maioria. E quando você não faz o que a maioria faz, as pessoas estranham.
Aliás, amados, as pessoas do mundo estranham muitas coisas que o crente pensa e faz. Mas a atitude que os três amigos tiveram foi a mesma que mais tarde Pedro incentivou a que tenham todos os crentes.
1ª Pe 4:1-5
1 Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado,2 para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus.3 Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias. 4 Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão, 5 os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos.
Pedro está aqui nos exortando à santidade, e diz que diante desta opção pela santidade muitas pessoas do mundo vão achar estranho. Que no tempo em que os crentes viviam no pecado estavam fazendo a vontade dos que não conhecem a Deus: sensualidades, brincadeiras censuráveis, festas inconvenientes, idolatrias odiosas e coisas parecidas. E quando os crentes não fazem isto, diz o apóstolo, os que são do mundo acham estranho. E falam mal, difamam. Mas há uma coisa que eles não levam em consideração. Vejam o versículo 5 – Eles vão ter que prestar contas diante de Deus.
Alguns anos atrás eu conheci uma senhora que me falou de sua dificuldade para entregar a vida a Jesus. Ela me disse que, devido à carreira profissional de seu marido, ele precisava constantemente participar de certas festas nas quais não era conveniente um crente estar presente. E ele precisava que ela participasse daquelas festas. Então ela tinha a consciência de sua responsabilidade como esposa, mas tinha também consciência da responsabilidade como crente. Eu disse que iria orar por ela, mas que ela precisava decidir, porque diante de Deus o que estava em pauta era a alma dela, e não a mera carreira do marido. Não demorou muito tempo, e ela se converteu a Jesus. E o fato de ela se ausentar das festas mundanas não prejudicou em nada a vida do marido, ao contrário do que o diabo queria que ela pensasse.
Como veremos daqui a pouco, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sabiam que tinham um Deus a quem dar satisfações, e não era a pressão dos homens que iria demovê-los de sua posição. Por isto eles se armaram deste pensamento, conforme Pedro exorta no v. 1: - “Se for preciso sofrer, nós sofreremos, mas deixaremos o pecado.”
Isto nos leva um passo adiante na história.
2º - Eles também não se curvaram diante da pressão do rei
Assim que perceberam que os três servos de Deus não haviam se curvado, os servos do diabo foram delatá-los a Nabucodonosor. O rei ficou muito bravo. Bravo? A Bíblia diz que ele ficou irado e furioso. O seu rosto se transtornou. Já viu quando uma pessoa fica brava e o rosto muda? Isto é pouco diante de Nabucodonosor. Mandou chamá-los.
- “É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vocês não servem aos meus deuses, nem adoram a imagem de ouro que eu levantei?”
- “Agora, então, se preparem, e quando ouvirem o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrem-se e adorem a imagem que eu fiz; no entanto, se não fizerem o que eu estou mandando, na mesma hora serão lançados na fornalha.”
- “E quem é o deus que poderá livrar vocês das minhas mãos?"
Irmãos, vamos imaginar só um pouco, de modo um tanto fraco, a situação deles, como se nós estivéssemos ali. Diante de nós o rei, irado e furioso. As autoridades olhando prá nós. Todos nos encarando, com um olhar de reprovação. Bem perto, ao alcance dos nossos olhos, a fornalha. Dá até para sentir o calor do fogo. Dá até pra ouvir o crepitar das brasas de carvão. Basta o rei ordenar e seremos jogados nela. Você já queimou um dedo? Já queimou um braço? Imagine queimar o rosto, o peito, as pernas, o corpo inteiro. E os três sabiam que muito provavelmente seriam jogados ali dentro e morreriam queimados.
Por que digo isto? Será que eles duvidavam do poder de Deus? Vejamos a resposta deles (vs. 16-18):
vs. 16, 17
- “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei.”
Eles não duvidavam do poder de Deus. Conheciam ao Senhor o suficiente para saber que ele tinha mais poder que Nabucodonosor e poderia livrá-los, não só da fornalha, mas do rei também. Conheciam a Palavra de Deus, as histórias sagradas. Por exemplo: sabiam de Senaqueribe, o poderoso rei da Assíria, que certa vez desafiara o rei Ezequias com palavras semelhantes: - “Que deus poderá vos livrar das minhas mãos?”, e sabiam que o Senhor feriu a Senaqueribe, livrando assim ao reino de Judá.[11]
Mas o que eles não sabiam era quais os propósitos de Deus. Pois, irmãos, o Senhor nosso Deus muitas vezes, podemos dizer na maioria das vezes, tem propósitos que não revela a nós.E da mesma forma eles conheciam histórias de servos fiéis que haviam perecido nas mãos de seus inimigos, mas que foram fiéis até à morte. Homens como os muitos profetas que foram mortos pela rainha Jezabel,[12] homens como Jeremias, que foram encarcerados, que passaram pela prova de escárnios e açoites, homens como Isaías, que segundo tradições judaicas e cristãs, foi serrado ao meio nos dias do perverso rei Manassés.[13] Sabiam de homens que, por sua fé, foram mortos ao fio de espada. Então não tinham uma teologia mal estudada, que dizia que, se tivessem fé suficiente, nada lhes aconteceria. Por isto as palavras do v. 18:
- “Se não (se o nosso Deus não quiser nos livrar), fique sabendo, ó rei, que ainda assim não serviremos aos teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste”.
Então, Nabucodonosor, de novo, se encheu de fúria e, transtornado o aspecto do seu rosto contra eles, ordenou que se esquentasse a fornalha sete vezes mais do que se costumava. Mandou aos homens mais fortes, que estavam no seu exército, (pois os três eram muito perigosos), que os amarrassem e os lançassem na fornalha. Os judeus foram então atados com os seus mantos palacianos, suas túnicas e chapéus e suas outras roupas e foram lançados na fornalha que estava mais quente que o normal. Já viram aquelas cenas em filmes quando mais carvão é jogado na fogueira para acelerar ainda mais a velocidade de um trem? O rei estava com muita pressa e a fornalha estava tão quente que as chamas do fogo mataram os homens que os lançaram de cima para dentro. E os três homens de Deus, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, caíram atados dentro da fornalha sobremodo acesa. Pois eram gente que preferia perder a própria vida, do que se submeter à vontade dos homens.
Faz pensar em Martinho Lutero, que um dia, diante de um tribunal humano que o ameaçou com a morte na fogueira, caso ele não se retratasse das coisas que escreveu, respondeu às autoridades que não era certo agir contra sua própria consciência, e assim se negou a retratar-se.
Faz pensar, por exemplo, nos muitos crentes coreanos que morreram durante a ocupação comunista, nos anos 50.
Sobre isto, eu vou ler para os irmãos o testemunho dado por Paul Yonggi Cho:
Aconteceu durante a guerra da Coréia quando 500 ministros foram capturados e imediatamente fuzila­dos e duas mil igrejas destruídas. Os comunistas eram cruéis para com os pastores. A família de certo ministro foi capturada em Inchon, Coréia, e os líderes comunistas submeteram-nos ao que chamavam de "Tribunal do Povo". Os acusadores diziam:
— Este homem é culpado de cometer este tipo de pecado e por esse pecado deve ser castigado.
A única resposta que recebiam era um coro unâni­me de vozes, dizendo:
— Sim, sim!
Desta vez cavaram um grande buraco, colocaram o pastor, sua esposa e vários de seus filhos dentro dele. Então o líder falou:
— Todos estes anos o senhor tem desviado as pessoas com a superstição da Bíblia. Se desejar agora retratar-se perante o povo aqui reunido e arrepender-se de sua má conduta, então o senhor, sua esposa e seus filhos serão libertados. Mas se persistir em suas superstições, toda a sua família vai ser enterrada viva. Tome sua decisão!
Todos os seus filhos começaram a chorar, dizendo:
— Papai, papai, pense em nós!
Imagine a situação desse homem. Se você estivesse em seu lugar, o que teria feito? Sou pai de três filhos e chegaria quase a preferir ser lançado ao fogo do inferno a ver meus filhos serem mortos.
Este pai estava profundamente abalado. Levantou a mão, dizendo:
— Sim, sim, fá-lo-ei. Vou denunciar... minha... Mas antes de poder terminar a frase a esposa tocou-lhe o lado dizendo:
— Diga NÃO!
E dirigindo-se aos filhos, essa valente mulher disse:
— Calem-se, filhos. Esta noite vamos jantar com o Rei dos reis e Senhor dos senhores!
Então começou a cantar o hino “No celeste porvir”. Seus filhos e marido a acompanharam no cântico enquanto os comunistas começaram a enterrá-los. Logo as crianças estavam enterradas, mas até que a terra lhes chegasse ao pescoço continuaram a cantar e o povo a olhar. Deus não os livrou, mas quase todos os que viram essa execução tornaram-se crentes. Muitos são membros de minha igreja.[14]
Isto também nos faz pensar em Estevão, que preferiu ser apedrejado até à morte, mas deu bom testemunho de sua fé em Jesus. Só que enquanto morria apedrejado, os olhos de sua alma também contemplavam o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Pois seja na fogueira, seja no céu, o Senhor Jesus está sempre a esperar por aqueles que lhe são fiéis.
Conclusão
A principal lição do cap. 3 de Daniel não é o grande milagre realizado, amados. Pois Deus poderia ou não ter realizado o milagre. A grande lição é que, com milagre ou sem milagre, não há Deus maior, não existe soberano maior sobre nossas vidas. Diante de Deus, o homem mais poderoso da terra não é nada, e aqueles que conhecem a Deus podem se manter firmes, pois o povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo. Se esforçará e fará proezas.
Eles não se dobraram diante da pressão social. Não ficaram preocupados com o que as pessoas em volta iriam pensar deles. Não ficaram preocupados com seus empregos. Não ficaram preocupados com seu “status”. Eles poderiam perder muito mais do que isto. Poderiam perder a vida de maneira cruel. Também não ficaram preocupados com a fúria do rei, pois permaneceram na fé, como quem vê aquele que é invisível.[15] Pois eles sabiam em quem haviam crido. Eles conheciam a Deus.
Aplicação
Será que valeu a pena eles crerem em Deus? E quanto aos outros, que foram açoitados, serrados ao meio, que passaram fome, que foram maltratados, enforcados, queimados, “homens dos quais o mundo não era digno”, será que valeu a pena perderem tudo para ganhar as suas almas?
Eu gostaria de fazer duas aplicações gerais, amados:
Primeira: pensemos nos nossos irmãos que sofrem no mundo inteiro, por causa do Evangelho.
Hb 13:3
Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados.
Não me parece, dentro do contexto de Hebreus, que ele esteja nos admoestando a lembrar dos que estão presos por terem praticado o que é mau, mas que nos lembremos daqueles que foram acusados do crime de serem filhos de Deus.
Nos dias de hoje, a igreja é perseguida em muitos lugares do mundo. Não só os países muçulmanos e no que sobrou do comunismo, mas também nos países capitalistas. Mas nestes últimos, de maneira velada, disfarçada de leis democráticas. Através de difamação, calúnias, restrições, propaganda ideológica e coisas semelhantes. Lembremo-nos dos nossos irmãos. E sejamos gente de intercessão.
Segunda: comparado com os sofrimentos que nossos irmãos passam, o nosso sofrimento é pouco.
Mas muitas vezes é suficiente para que fraquejemos. Então sejamos fiéis no pouco. Porque somente podem ser fiéis no muito aqueles que são fiéis no pouco. Estes três homens não conseguiriam ter resistido no momento difícil, se não tivessem sido fiéis alguns anos antes, quando era apenas uma questão de alimentação. Se tivessem fraquejado naquilo, dificilmente teriam forças agora.
Então, mesmo que seja em pequenas coisas – uma cerveja com os amigos, uma festa de caráter duvidoso, uma piada maliciosa, uma insinuação, um negócio desonesto, ou uma ordem direta do patrão. Se nos depararmos com alguma coisa que ponha em perigo a nossa consciência ou o nosso testemunho diante do mundo, sejamos fiéis.
Se caso percebermos que nalguma coisa temos sido infiéis, confessemos àquele que é fiel e justo para nos perdoar e purificar, renovemos nossa atitude, esqueçamos as coisas que ficam para trás e prossigamos para o nosso alvo de conhecer ao Senhor cada vez melhor.
Honrar a Deus. Adorar somente a Deus. Servir somente a Deus. Vale a pena.




[1] Sermão 34 de 2011 - Dn 02 19-49 - O Sonho de Nabucodonosor
[2] O Colosso de Rodes media 70 côvados (31,50m) contra os 60 desta estátua. J. G. Baldwin, Daniel, Introdução e Comentário, Série Cultura Bíblica (São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão, 1983, pág. 106)
[3] Stuart Olyott, Ouse ser firme (São José dos Campos, Fiel, 1996), pág. 39.
[5] Baldwin, pág. 108.
[6] Olyott, pág. 40.
[7] K. A. Kitchen, in Novo Dicionário da Bíblia (São Paulo, Vida Nova, 1988), vol. I, pág. 636.
[8] Hb 13:5; Is 43:1-3.
[9] Dn 11:32b, ARA.
[10] Ibid. ARC.
[11] Is 36, 37.
[12] 1º Rs 19:10.
[13] Justino, o mártir, e Orígenes, bem como o apócrifo A Ascensão de Isaías, cf. Donald Guthrie, Série Cultura Bíblica, Hebreus, Introdução e Comentário (São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão, 1984), pág. 230.
[14] Paul Yonggi Cho, A quarta dimensão (Miami, Ed. Vida, 1983), cap. 4. Não concordo com a doutrina esposada por P. Y. Choo. No entanto, considerando o relato de muitos crentes em situações semelhantes, e também que o referido escritor é pastor de uma grande igreja cristã, creio na veracidade de seu testemunho.

[15] Como Moisés; Hb 11:27.
▲Topo