Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

domingo, 27 de setembro de 2015

A razão da nossa fé - 1ª Pe 1:9-12

IPC em Pda. de Taipas
Domingo, 27 de setembro de 2015
Pr. Plínio Fernandes
Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, 11 investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam.  12 A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar.
Nós, os crentes em Jesus, fazemos afirmações claras e ousadas a respeito do Deus a quem adoramos, e a respeito de nós mesmos.
Dizemos que Deus, o Criador de todo o universo, é um ser espiritual, único e eterno que subiste em três pessoas, a quem invocamos como Deus Pai, Deus Filho (referindo-se a Jesus Cristo) e Deus Espírito Santo.
Dizemos que Deus, o Filho, por amor a nós veio do céu a este mundo, quando assumiu a forma e a natureza humana e nasceu do ventre de uma virgem chamada Maria.
Dizemos que este Jesus a quem adoramos morreu na cruz pelos nossos pecados, depois disto ressuscitou, subiu ao céu, e de lá, no tempo determinado pelo Pai, voltará para nos buscar.
Dizemos que somos amados de Deus, escolhidos desde a eternidade, perdoados, salvos, e que vamos morar no céu.
Esta é a nossa fé e esperança. Este é o Deus a quem amamos.
Mas porque acreditamos assim? Será que a nossa fé, crente em coisas tão grandiosas, tem razão de ser? Porque amamos a Jesus e o adoramos?
Muitas pessoas pensam que nossa fé é coisa de gente ingênua, para não dizer ignorante, e até irracional.
No entanto, quando nos detemos para pensar, somos levados a responder que, longe de ser irracional, a nossa esperança em Jesus está muito bem fundamentada.
Nos dois estudos anteriores nós vimos como, nos vs. 3-9, o apóstolo Pedro louva o nome do Senhor por todo o seu amor ao nos dar Jesus, para a nossa salvação.
Agora, nos vs. 10-12 ele diz que esta salvação não foi realizada assim, “de repente”, conforme a oportunidade se apresentou, não aconteceu conforme o acaso das circunstâncias históricas imprevisíveis, mas de acordo com um plano pré-estabelecido por Deus, e que fora anunciado havia muito tempo, antes de Jesus nascer; de tal modo que agora, o que havia acontecido, já havia sido previsto nas Escrituras proféticas.
O que Pedro faz então é estabelecer uma continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento, dizendo que o Novo Testamento é o cumprimento do Antigo, e o Antigo, a previsão do Novo, e tudo isto realizado pelo Espírito de Cristo.
Uma coisa tão linda, grandiosa, que demonstra a sabedoria e o poder de Deus, que até os anjos desejam ver acontecendo, na medida em que ela se realiza [1].
A nossa esperança, portanto, está fundamentada em Cristo.
E é sobre Jesus Cristo, o nosso Salvador, a razão da nossa fé e amor, que eu desejo meditar com vocês neste estudo de hoje.
1. Cristo planejou a nossa salvação desde a Antiguidade
      No v. 10 de nosso texto, Pedro diz que a graça de Deus para a salvação das nossas almas já havia sido anunciada pelos profetas. Há três observações que desejo fazer aqui:
Primeira: quando Pedro se refere aos profetas, de quem ele está falando? De certo modo, a resposta é óbvia, mas para maior clareza, vamos ler também 2ª Pe 1:20, 21
Sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; 21 porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.
Pedro, ao falar sobre os profetas, tem em mente os autores das Escrituras; aqui, especificamente, o nosso Antigo Testamento. Homens que falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.
Segunda: ainda que, tudo quanto eles profetizaram, não tenha sido resultado de sua própria sabedoria, mas o fizeram movidos pelo Espírito Santo, isto não quer dizer que os profetas se tornaram agentes passivos, como robôs, ou médiuns, mas empregaram todas as suas forças intelectuais, na verdade, todos os seus esforços para perguntar, investigar, compreender, as coisas que o Espírito de Cristo, que estava neles, revelava a respeito dele mesmo e da nossa salvação. E compreenderam que falavam a respeito do futuro.
Terceira: é que, uma vez que estavam sendo conduzidos pelo Espírito de Cristo, falavam de coisas que não podiam prever naturalmente, mas que lhes foram reveladas muito antes de acontecer.
Irmãos, a Bíblia sagrada é um livro extraordinário, por muitas razões.
Ela é uma coletânea de livros, escritos por cerca de quarenta autores, ao longo de mil e quinhentos anos, em países a Europa, da Ásia e da África, em circunstâncias históricas e culturais das mais variadas.
Alguns livros são históricos, outros “de sabedoria”, outros são predominantemente poéticos, outros proféticos e até apocalípticos.
Mas existe uma unidade orgânica entre eles, como que formando um só corpo, e eles tem um tema central: todos, de uma forma ou de outra, apontam para Jesus.
É maravilhoso constatar que, mesmo vivendo muito tempo antes de Jesus vir ao mundo, os escritores do Antigo Testamento falaram que isto aconteceria.
Escreveram a respeito dos sofrimentos pelos quais ele passaria, isto é, a sua luta contra o mal, a sua morte na cruz, e sobre as glórias que se seguiriam a estes sofrimentos, quer dizer, a sua ressurreição, a sua volta para o céu e a nossa eterna salvação.
Por exemplo, vamos ler 1ª Pe 2:22-25.
O qual (Cristo) não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; 23 pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, 24 carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados.  25 Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma
Aqui o apóstolo está citando o profeta Isaías, cap. 53:5-9. Então vamos ler Isaías.
Is 53:7-12 - Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.  8 Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido.  9 Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca.  10 Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos.  11 Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si.  12 Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu.
Se você olhar para o contexto, verá que desde o cap. 52:13 até o cap. 53:12, o profeta está falando sobre “o sofrimento do Servo do Senhor”. Este Servo, embora justo, seria maltratado, humilhado, desprezado e rejeitado pelos homens. E isto porque Deus o faria sofrer e morrer de modo que em seus sofrimentos estaria levando sobre si o castigo que era nosso, o castigo que nos traz a paz e cura as feridas de nossas almas.
Mas este servo, que morreria e seria sepultado como um pecador qualquer, não permaneceria morto, porque veria o resultado do penoso trabalho de sua alma e ficaria satisfeito. Intercederia por nós e seria atendido.
Irmãos, quem mais, em toda a história da humanidade, poderia ser este Servo sofredor, a não ser Jesus Cristo?
E como Isaías poderia falar dos sofrimentos de Cristo e das glórias que se seguiriam, uns setecentos e cinquenta anos antes de acontecer? É que o Espírito Santo de Cristo estava nele.
Mas não apenas aqui ele fala de Jesus Cristo, pois em todo o seu livro há muitas outras profecias; e não somente Isaías, mas quase que em cada página das Escrituras, desde Moisés até Malaquias.
Veja o testemunho do próprio Senhor Jesus Cristo, falando aos discípulos depois de sua ressureição.
Lc 24:27

     E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.

Lc 24:44-47
A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.  45 Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; 46 e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia 47 e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém.
Todas estas coisas nos levam a algumas conclusões:
1. As profecias demonstram que as Escrituras foram inspiradas pelo Espírito Santo.
2. Também demonstram que a nossa salvação através da morte e ressurreição de Jesus foi algo planejada por Deus muito tempo antes de acontecer.
Na verdade, desde antes do início da criação. No cap. 1:19, 20 está escrito que o sangue de Cristo derramado na cruz já estava nos planos de Deus antes da fundação do mundo.
3. Elas também nos mostram que o Filho de Deus já existia e se manifestava bem antes de ele se fazer um ser humano e habitar entre nós.
 2. Jesus cumpriu aquilo que ele mesmo prometera desde a Antiguidade
Nos textos de Lucas que lemos há pouco, vimos que, conforme Jesus argumentou ao consolar os seus tristes discípulos, tudo o que aconteceu com ele já estava previsto pelas Escrituras.
Agora eu desejo acrescentar que, em todas estas coisas, Jesus não foi uma figura passiva, apenas permitindo que tudo assim acontecesse.
Não! Ele seguiu um curso deliberado de ação, que culminaria com crucificação em Jerusalém, sua morte e ressurreição.
Os quatro evangelhos dão testemunho disto. Mas vamos ler apenas algumas palavras do Senhor em Lucas.
Lc 9:22
Dizendo (Jesus): É necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e, no terceiro dia, ressuscite.
Lc 9:44
Fixai nos vossos ouvidos as seguintes palavras: o Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens.
Lc 9:51
E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém
São muito claros o propósito e direção tomados por Jesus, no sentido de fazer cumprir as Escrituras em sua vida.
Ele tinha a firme convicção de que estava no mundo enviando pelo Pai, em cumprimento de tudo o que os profetas disseram a seu respeito, e viveu e morreu de acordo com esta convicção.
Ele deliberadamente permitiu-se prender, ser julgado, condenado e morto. Voluntariamente entregou-se à morte, na certeza de que o seu Pai celestial não o abandonaria, mas o traria de volta à vida.
Ouçamos suas últimas palavras na cruz:
Lc 23:46

        Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou.

E agora leiamos o relato de sua ressurreição.
Lc 24:1-8
Mas, no primeiro dia da semana, alta madrugada, foram elas ao túmulo, levando os aromas que haviam preparado.  2 E encontraram a pedra removida do sepulcro; 3 mas, ao entrarem, não acharam o corpo do Senhor Jesus.  4 Aconteceu que, perplexas a esse respeito, apareceram-lhes dois varões com vestes resplandecentes.  5 Estando elas possuídas de temor, baixando os olhos para o chão, eles lhes falaram: Por que buscais entre os mortos ao que vive?  6 Ele não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como vos preveniu, estando ainda na Galileia, 7 quando disse: Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos de pecadores, e seja crucificado, e ressuscite no terceiro dia.  8 Então, se lembraram das suas palavras.
Através dos séculos, os que leem os evangelhos ficam extasiados diante da beleza do plano de Deus para a nossa salvação em Jesus: o plano anunciado pelos profetas e seguido fielmente pelo Senhor, na plena certeza de que tudo se cumpriria.
E ficam maravilhados com o seu cumprimento. Pensemos nestas coisas:
1. Suponhamos por um momento que Jesus realmente acreditasse ser o Filho de Deus que morreria e ao terceiro dia ressuscitaria, e de acordo com esta convicção ele se entregasse à cruz. Mas que, depois de morto, não ressuscitasse.
Então chegaríamos à conclusão de que ele era apenas um pobre fanático religioso, um homem com sérios problemas mentais.
2. Ou suponhamos que ele dissesse que daria sua vida por nós, mas não acreditasse realmente nisto. Suponhamos que ele quisesse apenas conseguir fama, popularidade, seguidores, mas que realmente não tivesse a intenção de fazer o que dizia.
Então ele seria um mentiroso pior do que o diabo, e na hora de sua prisão iria procurar um meio de escapar.
3. Mas Jesus não somente dizia, não somente acreditava; ele de fato morreu e ressuscitou.
E com isto ele provou ser realmente o Filho de Deus, o nosso Salvador.
Foi algo tão maravilhoso que até os seus discípulos custaram a acreditar.
De modo, meus irmãos, que a nossa esperança está alicerçada sobre um firme fundamento: Jesus cumpriu em sua vida e morte tudo o que as Escrituras proféticas predisseram.
 3. O Espírito de Cristo se manifestou a nós através da pregação de sua Palavra
No v. 12, Pedro nos diz que os que anunciam a Palavra do Evangelho, fazem-no pelo Espírito Santo enviado do céu. Espírito que no v. 11 ele chama de Espírito de Cristo.
Com isto ele dá a entender que o Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, é a expressão exata do Ser de Cristo, assim como Cristo é a expressão exata do Pai.
A mesma verdade nos é apresentada noutros lugares da Bíblia.
Por exemplo, em Romanos 8:9.
Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.  
O Espírito Santo que conduziu os profetas antigos, do Cristo que cumpriu o que os profetas predisseram, agora também se manifesta na pregação do Evangelho.
Antes de subir ao céu, o Senhor Jesus já havia prometido também:
Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas... até os confins da terra [2].
E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação do século [3].
Se ele assim prometeu, é evidente que sua presença não se restringiu àquela primeira geração de pregadores; o mesmo Espírito que conduziu a “inspiração da Palavra profética” continua agora falando através da mesma Palavra, na pregação.
Um passo adiante: este mesmo Espírito é também quem ilumina o entendimento dos que ouvem, para que entendam a Palavra profética.
Eu desejo agora me valer do apóstolo Paulo. Por favor, abra sua Bíblia em 1ª Coríntios 2:14:
Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
Em nossa natureza carnal, obscurecida pelo pecado, jamais conseguiríamos crer nas Escrituras.
Como vimos anteriormente, a nossa esperança em Cristo está alicerçada sobre o sólido fundamento da Palavra e da pessoa de Cristo e sua obra.
Portanto, crer em Jesus deveria se apenas uma questão de raciocínio. Na verdade, esta semana eu ouvi um conhecido filósofo católico dizendo que, diante das evidências, deixar de crer em Cristo “é burrice” [4].  
Ainda assim, existem pessoas inteligentíssimas, e pessoas cultas, que simplesmente não conseguem crer.
Porque isto acontece? A Bíblia diz que a dificuldade não é apenas intelectual. Em última análise, o problema é espiritual.
Por causa do pecado, o entendimento humano se tornou obscurecido, o coração se tornou orgulhoso e endurecido. A dificuldade está exposta aqui neste versículo: para o homem natural, isto é, como ele é agora em sua natureza, as coisas de Deus parecem loucura. Ele não consegue entender, por exemplo, qual é a relação que existe entre a morte de Cristo, na cruz, há dois mil anos, com a purificação dos nossos pecados agora. Enfim, ele não aceita as coisas do Espírito de Deus.
Até que algo grandioso acontece: em sua misericórdia, o Senhor se manifesta e vem ao encontro dos seus amados. O mesmo Deus que no princípio disse: – “Haja luz”, e houve luz, ele mesmo faz resplandecer a sua luz no coração do que está em trevas, através do Evangelho [5]. O mesmo Espírito que no princípio pairava sobra as águas de um mundo caótico, agora vem trazendo nova vida ao pecador.
E assim se cumpre a Palavra aqui do v. 12:
Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente.
Neste momento, vale lembrar a feliz exposição deste ensino, conforme a nossa Confissão de Fé:
As muitas excelências incomparáveis e completa perfeição (da Escritura Sagrada), são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações [6].
Assim, meus irmãos, este é o terceiro fundamento de nossa fé: o Espírito de Cristo se manifestando a nós, na Palavra de Deus, e através da Palavra de Deus, trazendo luz ao nosso coração e entendimento.

Conclusão

Em nossa conclusão, eu desejo ler com vocês o que Pedro nos diz no cap. 3, vs. 15 e 16 de sua 1ª carta.
Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, 16 fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo.
Se Deus nos conceder, voltaremos a este texto no futuro. Por ora vamos enfatizar: aqui ele nos orienta no sentido de que, tendo a Jesus como nosso Senhor, com uma atitude de mansidão e temor, com boa consciência, devemos estar preparados para responder sobre a razão de nossa esperança em Jesus, quando formos questionados pelos “de fora”. Devemos responder, explicando em que fatos a nossa fé está alicerçada.
E aqui, no texto de hoje, vimos que a nossa fé está edificada sobre um fundamento sólido: é Jesus Cristo.
Pois o Espírito de Cristo preparou o caminho da nossa fé, quando através dos profetas do Antigo Testamento, anunciou as coisas que iriam acontecer.
Depois, o Senhor Jesus Cristo veio ao mundo, e cumpriu tudo quanto outrora havia sido profetizado.
E agora, através da Palavra pregada ele se revelou aos nossos corações.
A razão da nossa fé é Jesus.

Aplicação

Vamos pensar nalgumas aplicações para nossa vida.
1ª - Admire a sabedoria do plano de Deus, concebido desde a eternidade, para a nossa salvação.
Plano anunciado e levado adiante. Plano do qual fazemos parte, e no qual fomos alcançados pela graça eterna.
Como diz a Escritura, “oh, profundidade da riqueza, como da sabedoria, como do conhecimento de Deus...” [7]
Louve a Deus por causa disto. De glória a ele. Seja dele. Confie a ele sua vida eterna.
2ª - Creia nas Escrituras.
Admire, leia, conheça, medite nas Escrituras. Elas são a Palavra do Espírito Santo falando a nós. Se alguém disser para você que “a ciência já têm demonstrado que a Bíblia não diz a verdade”, não se deixe abalar, não se sinta diminuído (também não se enfureça, não responda com ira), mas procure saber o porquê de alguém falar assim; medite, peça iluminação a Deus, peça sabedoria. Pois o Espírito do Senhor habita na vida do crente em Jesus, e lhe guia.
3ª - Creia no poder do Espírito Santo agindo em sua vida, e fale de Jesus com amor, fé e esperança.
Não se envergonhe de ser crente - sua fé é sinal da graça de Deus em sua vida. Então seja uma testemunha de Jesus em sua maneira de viver e de falar, na esperança de ser um instrumento para que outros venham a crer também.
4ª - E se você não crê ainda?
Depois de todas as coisas que temos dito, você não crê, é sinal de que você ainda precisa ser iluminado pelo Espírito. Então busque a Deus, com humildade, com vontade, pois ele é misericordioso para todo aquele que o buscar com sinceridade de coração.




[1] Veja também Ef 3:10
[2] At 1:8
[3] Mt 28:20
[4] Olavo de Carvalho, em https://www.youtube.com/watch?v=bR7gNLOcYdY, acessado em 25/09/2015 às 8:45H.
        [5] Gn 1:3; 2ª Co 4:6
        [6] Extraído de Confissão de Fé de Westminster, I:VI
        [7] Rm 11:33

domingo, 20 de setembro de 2015

Alegria indescritível - 1ª Pe 1:3-9

IPC em Pda. de Taipas
Domingo, 20 de setembro de 2015
Pr. Plínio Fernandes
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, 4 para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros 5 que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo.  6 Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, 7 para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; 8 a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, 9 obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.
Nesta última semana, houve momentos em que você se sentiu contrariado e entristecido?
Houve algum momento, ou alguma circunstância que te fez sofrer, na qual a sua fé e amor foram testados?
Aconteceu alguma coisa que tentou você a sentir-se abatido, ou ansioso, ou preocupado e irritado?
Em nossa última meditação, na semana passada, vimos que o apóstolo Pedro nos ensina como lidar com as contrariedades que experimentamos nesta vida; contrariedades que nos fazem sofrer, às quais a Bíblia chama de “provações”.
As provações podem ser vistas sob dois aspectos: por um lado, são ocasiões em que Satanás tenta nos enfraquecer espiritualmente, levando-nos a alguma forma de pecado.
Por outro lado, são oportunidades, ocasiões em que Deus, nosso Pai, está agindo através das circunstâncias, a fim de nos fortalecer a fé, a fim de que sejamos espiritualmente vigorosos, perseverantes.
A nossa fé, diz o apóstolo Pedro, é um bem precioso que temos; é mais preciosa do que todo o ouro mais puro que houver no mundo, pois é através da nossa fé em Jesus que alcançamos a salvação das nossas almas.
Então, ele diz duas coisas aqui: uma delas é que as provações não são eternas; elas duram apenas o tempo necessário; outra coisa, é que as provações são necessárias – nós precisamos crescer espiritualmente, e as provações são um meio através do qual somos levados a crescer.
No decorrer de sua carta, Pedro menciona algumas coisas que provam a nossa fé:
Quando sentimos as paixões da nossa natureza querendo nos levar ao pecado – as paixões, ele diz, fazem guerra contra a nossa alma. Elas são nossas inimigas, e nos fazem sofrer.
Também sofremos quando estamos casados com uma pessoa que não tem a mesma fé que temos em Jesus e se opõe a isto.
Também sofremos quando as pessoas do mundo não entendem a nossa fé, não entendem o nosso modo de vida, e então falam contra nós, falam contra a nossa crença e de uma forma ou de outra nos perseguem.
Também sofremos quando servimos, isto é, quando trabalhamos para pessoas ímpias, desonestas, que se aproveitam de nossa boa consciência e nos oprimem.
Todas estas coisas, diz Pedro, são ataques de Satanás, que anda em derredor, bramando como um leão, procurando a quem devorar.
Mas também, em todas estas coisas, nos abençoará o Senhor, fortalecendo-nos, firmando-nos, fundamentando-nos, aperfeiçoando-nos.
Então mesmo as coisas que nos contrariam, se vistas deste ponto de vista, são, em última instância, motivos para que sejamos felizes; pois apontam para o fato de que habita em nós esta preciosa fé em Jesus, através da qual caminhamos com Deus neste mundo e pela qual alcançaremos a vida eterna no céu.
– “Nisto”, ele diz, “nesta salvação, você se regozijam com alegria indizível”.
Em nossa meditação de hoje, amados, eu desejo voltar a este texto maravilhoso, e considerar com vocês, não mais as tristezas, mas as razões da nossa felicidade em meio às provações.
Na verdade, a razão é uma só: a razão da nossa felicidade é Jesus, o nosso Salvador.
Leiamos novamente os vs. 7-9
para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; 8 a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, 9 obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.
Jesus é a razão, o motivo, a fonte da nossa alegria indizível e cheia de glória, da nossa felicidade indescritível e plena da luz do céu.
1. Nele está a nossa fé, a nossa confiança
No v. 7 ele faz um doce elogio à nossa fé, dizendo que ela é mais preciosa, tem mais valor do que o ouro mais puro.
E no v. 8 ele destaca algo sobre esta fé: é que ela não se baseia no fato de termos visto Jesus quando ele estava na terra realizando os seus milagres.
Ele, Pedro, foi uma pessoa muito abençoada, assim como os demais apóstolos, por ter visto pessoalmente o Senhor Jesus.
E em particular, foi uma das pessoas mais próximas ao Senhor, que viu coisas muito exclusivas, as quais a maioria da humanidade nunca teria o privilégio.
Na sua segunda carta ele cita uma destas ocasiões, um destes eventos que ele próprio jamais poderia imaginar.
Vamos ler 2ª Pe 1:16-18
Aqui ele está falando sobre a vinda de Jesus, que se aproxima, e a nossa entrada para o seu reino eterno.
Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, 17 pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.  18 Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo.  
Veja o que Pedro diz no v. 16: o evangelho que ele pregava não era uma fábula, uma história criativamente inventada para promover mentalidade religiosa ou atitudes espirituais nas pessoas.
Ele pregava coisas das quais era uma testemunha ocular: ele viu a Jesus, ouviu seus ensinamentos, contemplou suas obras.
E menciona o monte da transfiguração. O que aconteceu ali é contado por Mateus, Marcos e Lucas.
E os evangelhos nos dizem que certa ocasião Jesus subiu a um monte, para orar.
Enquanto orava, a aparência de Jesus se tornou gloriosa; as suas vestes resplandeceram como a luz do sol, e apareceram Moisés e Elias, os dois maiores profetas do Antigo Testamento, e conversavam com Jesus.
Pedro ficou tão aterrado que não sabia o que dizer.
E ouviu-se uma voz do céu, falando a respeito de Jesus: – “Este é o meu Filho amado, a ele ouvi”.
E Pedro diz: – “Esta voz nós a ouvimos”.
Mas às pessoas a quem Pedro escreve, ele diz: – “Vocês não veem Jesus agora, mas creem...”.
Querido irmão, é a você que eu me dirijo especialmente: você crê? Você tem fé em Jesus? Você confia nele?
Então ele tem algo especial que dizer a seu respeito.
Jo 20:29
Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.
O Senhor está falando com os onze, e se dirige especialmente a Tomé, que não havia acreditado quando os outros disseram que Jesus havia ressuscitado.
Então Jesus apareceu entre eles, os saudou, e logo disse a Tomé: – “Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente”. E Respondeu-lhe Tomé: – “Senhor meu e Deus meu!”
Disse-lhe Jesus: – “Porque me viste, creste? Bem-aventurados, abençoados, felizes, os que não viram, e creram”.
Somos felizes porque, mesmo não tendo visto o Senhor com os olhos do corpo, nós o contemplamos, com os olhos do coração, quando o Evangelho foi pregado a nós, e com os olhos da alma nós o contemplamos morrendo na cruz em nosso lugar.
Somos felizes, porque a nossa fé está em Jesus, o nosso Salvador vivo, que depois de ter feito na cruz a purificação dos nossos pecados, ressuscitou, subiu ao céu e está à mão direita de Deus.
O nosso Deus e Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que virá do céu outra vez, a fim de nos buscar para o seu reino eterno.
O nosso Deus e Salvador que está entre nós por meio do Espírito Santo, pois ele diz que onde estão dois ou três reunidos em seu nome, ele está no meio deles.
O nosso Deus e Salvador, Cristo, que habita em nossos corações.
Que atende as nossas orações, que é a nossa força, a nossa proteção.
Somos felizes porque em Jesus está a nossa fé. A nossa confiança.
E temos experimentado em nossas almas que o nosso Deus é real. Não é uma lenda bem contada, não é um mito.
Também exultamos com alegria indescritível e cheia de glória por que...
2. Em Jesus está a nossa esperança
Aconteceu durante a guerra da Coréia quando 500 ministros foram capturados e imediatamente fuzila­dos e duas mil igrejas destruídas.
Os comunistas eram cruéis para com os pastores. A família de certo ministro foi capturada em Inchon, Coréia, e os líderes comunistas submeteram-nos ao que chamavam de "Tribunal do Povo". Os acusadores diziam: – Este homem é culpado de cometer este tipo de pecado e por esse pecado deve ser castigado.
A única resposta que recebiam era um coro unâni­me de vozes, dizendo:
– Sim, sim!
Desta vez cavaram um grande buraco, colocaram o pastor, sua esposa e vários de seus filhos dentro dele. Então o líder falou:
– Todos estes anos o senhor tem desviado as pessoas com a superstição da Bíblia. Se desejar agora retratar-se perante o povo aqui reunido e arrepender--se de sua má conduta, então o senhor, sua esposa e seus filhos serão libertados. Mas se persistir em suas superstições, toda a sua família vai ser enterrada viva. Tome sua decisão!
Todos os seus filhos começaram a chorar, dizendo:
– Papai, papai, pense em nós!
Imagine a situação desse homem. Se você estivesse em seu lugar, o que teria feito? Sou pai de três filhos e chegaria quase a preferir ser lançado ao fogo do inferno a ver meus filhos serem mortos.
Este pai estava profundamente abalado. Levantou a mão, dizendo:
– Sim, sim, fá-lo-ei. Vou denunciar ... minha ... Mas antes de poder terminar a frase a esposa tocou-lhe o lado dizendo:
– Diga NÃO!
E dirigindo-se aos filhos, essa valente mulher disse:
– Calem-se, filhos. Esta noite vamos jantar com o Rei dos reis e Senhor dos senhores!
Então começou a cantar o hino “No celeste porvir". Seus filhos e marido a acompanharam no cântico enquanto os comunistas começaram a enterrá-los. Logo as crianças estavam enterradas, mas até que a terra lhes chegasse ao pescoço continuaram a cantar e o povo a olhar... [1]
O que faz uma pessoa ser assim tão corajosa, mesmo diante da morte?
Nos vs. 3 e 4, Pedro nos diz que, por causa da ressurreição de Jesus, nós fomos regenerados por Deus para uma viva esperança que está nos reservada no céu.
No v. 21 deste mesmo capítulo ele torna a estas palavras:
(Jesus)... que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus.
O que é esperança? Quando usamos este substantivo, e o verbo relacionado a ele, estamos falando de algo que ainda não aconteceu. E pode haver duas denotações diferentes.
Por exemplo, quando alguém diz: –“Espero que um dia ele volte”, está expressando o desejo que de em algum tempo alguém que se foi esteja aqui novamente. Mas é apenas uma expressão de um desejo muito grande; não envolve certeza.
Agora, uma oração diferente: –“Estou esperando um bebê”. Nela, a mulher que a profere está dizendo que ficou grávida, e com base neste fato está apenas aguardando a hora em que o bebê nascerá. Aqui, “esperar” significa não somente desejar, aguardar que algo bom aconteça, mas aguardar com certeza.
E nesta esperança a mulher (e o marido) fazem todos os preparativos necessários para a chegada do bebê.
É neste segundo sentido, de aguardar com certeza, e consequentemente, com paciência, e fazendo preparativos, que temos uma esperança em Cristo, reservada no céu para nós.
É a esperança de que, seja em nossa ida, seja em sua volta, nós nos encontraremos com Jesus, face a face, e então seremos transformados, seremos semelhantes a ele, puros em nossos pensamentos, em nossos sentimentos; nossas almas brilharão como a luz do sol.
É a esperança de que também nos encontraremos com todos os redimidos, todo o povo de Deus, gente de toda tribo, língua, povo e nação, comprada com o sangue de Jesus, gente com quem nos identificamos.
E lá já não seremos peregrinos e forasteiros, estaremos em nossa pátria, onde todos “falam a mesma língua, têm os mesmos costumes, os mesmos prazeres”.
É a esperança de que lá já não haverá morte, nem crimes, nem violência alguma, nem dor, nem enfermidade, nem lágrima.
É esta esperança que nos dá paciência nas tribulações, pois ela nos diz que nelas nossa fé não está sendo somente testada, mas fortalecida e aprovada.
É esta esperança que nos faz perseverantes. Às vezes, diante das tribulações, o nosso coração sucumbe e fraqueja por um tempo, mas a esperança reacende a chama da fé.
Quantas vezes nós fraquejamos, tantas são as vezes que levantamos com fé renovada, pois a esperança não morre dentro de nós.
É esta esperança que nos faz corajosos.
Somos felizes porque a nossa fé está em Jesus. Somos felizes porque temos esperança em Jesus. E também somos felizes por que...
3. Em Jesus está o nosso amor
v. 8 – “A quem não havendo visto, amais...”
Eu sei de um rapaz que certo dia conheceu uma jovem que se tornou especial para ele.
No começo eram apenas conhecidos, e depois se tornaram amigos.
Mas conforme os dias foram passando, eles começaram a sentir algo mais um pelo outro: gostavam de conversar um com o outro, tinham os mesmos interesses, e quando discordavam, as discordâncias não atrapalhavam a amizade. Quando se separavam, um ficava pensando no outro, e só de pensar um no outro, os seus corações ficavam cheios de alegria.
Eu conheço um casal que teve um bebê. Antes deste bebê nascer, eles se prepararam para a vinda dele: berço, roupinhas, utensílios para a alimentação, para o banho; além, é claro, de se prepararem emocional e intelectualmente, lendo a respeito a tudo o mais.
Então o bebê nasceu: aquela “coisinha miúda”, carente, dependente, que no começo só faz dormir, mamar, sujar as fraldas, tirar o sono dos pais e dar trabalho. Mas irmãos, que felicidade este casal tem, só de olhar para ele, de pensar no bebezinho.
Eu conheço um homem cujo pai faleceu, e sua mãe é idosa. Este homem se deleita em sua mãe. Ele gosta dela e sempre está pensando em como ela está, o que ela precisa, se ela está feliz. E quando ele sabe que ela está bem, não tem alegria maior para ele do que esta. Ele está mesmo disposto a sacrifícios, desconforto, porque seu desejo é vê-la bem. Se ela está feliz, ele também.
Eu conheço um homem que tem um amigo. Um dia eles brigaram. Eles se desentenderam a respeito de um assunto, uma promessa não cumprida, e os ânimos foram se acirrando de tal maneira que ficaram bravos e voltaram as costas um para o outro.
Mas algum tempo depois, se encontraram "por acaso", e nisto começaram a conversar, e se reconciliaram. Quando cada um seguiu o seu caminho, estavam transbordantes de alegria.
Você entende o que eu estou falando, não é?
A capacidade de amar é um destes dons maravilhosos com os quais fomos habilitados, pois Deus nos criou à sua imagem e semelhança, e Deus é amor.
Além disto, quando cremos no Evangelho, conforme a Escritura nos ensina, o Espírito Santo, que é Espírito de amor, veio habitar em nossos corações, e o amor de Deus foi derramado com ele, dentro de nós.
E você sabe disto:
Quem ama é paciente e bondoso. Quem ama não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas. Quem ama não fica alegre quando alguém faz uma coisa errada, mas se alegra quando alguém faz o que é certo. Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência. O amor é eterno [2].
Quem ama nunca fecha o coração para o seu irmão; quem ama anima, fortalece, repreende, corrige, quem ama ajuda.
Nestas coisas todas, aquele que ama sente uma alegria enorme. Quem ama é feliz. Pois quem ama está vivendo de acordo com a natureza criada por Deus.
E se amar nos faz felizes, amar a Deus nos faz eternamente felizes. Quem ama tem o seu prazer na lei do Senhor, e nesta lei medita de dia e de noite.
Quem ama o Senhor se deleita em ver sua graça e sua glória em todas as coisas, sejam daqui, sejam eternas.
Aquele que ama a Deus consegue ver a sua mão cuidando e dirigindo as coisas da natureza e o curso da história de cada vida.
Aquele que ama a Deus se deleita na igreja, na família, nos irmãos e amigos, e se deleita até na solidão.
Aquele que ama a Deus se deleita em tudo, pois nele nos movemos e existimos.
Tenho afirmado duas fontes deste amor que habita em nós: a nossa natureza humana, que feita à imagem de Deus, nos capacita a amar; amor que se torna aperfeiçoado pelo Espírito de Deus derramado em nosso coração quando cremos no evangelho.
Quero acrescentar mais uma: o nosso conhecimento do amor que Deus tem por nós.
No v. 3 aqui do cap. 1, a Escritura nos diz que fomos regenerados pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos.
Jesus ressuscitou, e se ressuscitou, antes havia morrido. Que coisa espantosa: o Filho de Deus, aquele que é eterno, morto.
Pedro, que esteve no “monte da transfiguração”, não viu somente o esplendor glorioso de Jesus.
Também o viu em sua humilhação, na horrenda morte de cruz. E entendeu o porquê de tanto sofrimento.
Este mesmo Jesus, na noite anterior ao dia de sua morte, ao instituir a santa ceia, depois de haver agradecido ao Pai, deu aos discípulos o pão e o vinho, dizendo: – “Comei dele todos, bebei dele todos, porque isto é o meu corpo e o meu sangue dado por muitos”.
Por isto é que nesta carta Pedro também escreve sobre o sentido da cruz:
1ª Pe 2:22-25
Jesus não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; 23 pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, 24 carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados.  25 Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma.
Jesus nunca agrediu qualquer pessoa, nunca se aproveitou de ninguém, nunca foi grosseiro ou egoísta, nunca pecou.
Mas morreu na cruz, porque ali estava levando sobre si os nossos pecados, a fim de que os pecados não mais nos escravizassem.
Morreu para ser o cuidador das nossas almas.
Ele nos amou com amor eterno, ele nos desejou, e se tornou o nosso pastor.
Nós o amamos porque ele nos amou primeiro. E somos felizes com ele. Vivemos com ele, andamos com ele, em nosso coração. Falamos com ele, ouvimos a sua voz.
E por fim, nos veremos o nosso amado face a face. Então a alegria será completa.
Conclusão e aplicação
Porque somos felizes?
Porque nossa confiança está em Jesus. Porque nossa esperança está em Jesus. Porque nosso amor está em Jesus.
Não deixe que as guerras que as paixões fazem contra a nossa alma, os ataques de Satanás, as tribulações que este mundo trazem a nós, tirem a sua alegria e felicidade.
Porque você, crente em Jesus, tem conhecido aquele que nos amou primeiro, que nos escolheu, e que pela sua muita misericórdia nos regenerou para a vida eterna.
Temos conhecido a Deus, nosso Pai. Temos conhecido a Jesus, nosso redentor. Temos conhecido o Espírito Santo, nosso Santificador.
E ele é a nossa fonte de felicidade.



[1] Testemunho dado por Paul Young Choo, em A quarta dimensão (Ed. Vida, 1981), cap. 4. Não concordo com a “doutrina” esposada por Choo. Mas cito o fato acontecido durante a guerra da Coréia, por ver nele um exemplo maravilhoso do que a esperança em Cristo opera no coração dos crentes.
[2] 1ª Co 13:4-8 – Nova Tradução na Linguagem de Hoje

domingo, 6 de setembro de 2015

Pedro, aos eleitos de Deus, graça e paz - 1ª Pe 1:1, 2

IPC em Pda. de Taipas
Domingo, 6 de setembro de 2015
Pr. Plínio Fernandes
Meus irmãos, vamos ler 1ª Pe 1:1, 2
Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia,  2 eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas.
Intr.
Alguns anos atrás, um amigo meu estava horrivelmente enfermo, internado num hospital aqui em São Paulo.
Seu corpo estava muito mirrado, quase que “pele e ossos”; ora ele perdia a memória, ora sofria alucinações.
Várias ocasiões eu passava o dia com ele, no hospital. Num destes dias ele ficou em jejum, porque por volta das três da tarde deveria ser submetido a dois ou três exames médicos. Então passamos o tempo conversando e aguardando.
Mas como por volta das cinco horas ninguém ainda fora ao quarto para os exames, eu desci para verificar com as pessoas responsáveis.
Fui informado de que o horário já havia passado, e não havia ninguém que pudesse ser enviado para o procedimento.
Então eu disse: – “Mas como? Ele passou o dia inteiro em jejum, e agora vocês não farão os exames?”
E o rapaz que me atendia respondeu: – “Olha, o caso dele é muito grave; e já não há muito que fazer...”
Eu fiquei muito bravo. Primeiro, pela falta de consideração para com meu amigo. Não é porque um enfermo está em estado terminal que você pode abandoná-lo e deixa-lo sofrendo, sem ao menos alguns cuidados paliativos.
Além disto, eu tinha a certeza de que Deus atenderia às muitas orações que eram feitas por ele, e o tratamento médico traria a cura.
Então eu perguntei: – “Por favor, onde fica a direção do hospital?”
E o rapaz respondeu: – “Aguarde um instante”.
E voltou com a resposta: – “Já estamos subindo para os exames”.
Os exames foram realizados; o tratamento continuou, melhorou, e o meu amigo foi curado. Hoje ele goza de muita saúde.
Você naturalmente percebeu o porquê de eu ter insistido com aquele rapaz que me atendeu. É que no meu coração havia esperança de que meu amigo sarasse; e no coração do rapaz não havia.
A esperança faz toda a diferença em nossas atitudes, faz toda a diferença em nossas palavras, faz toda a diferença em nosso comportamento diário.
A esperança, assim como a fé e o amor, são aquelas virtudes espirituais que determinam todo o nosso modo de pensar e de agir em nossos relacionamentos familiares, no trabalho, nos estudos, com os amigos, na igreja, e acima de tudo, em nosso relacionamento com Deus.
É a esperança que nos move, que nos impulsiona, que nos leva adiante.
Se você não tem esperança, você desiste, você fica deprimido, você não faz nada.
Mas se tem esperança, segue adiante confiantemente, persevera diante dos problemas, continua em frente com forças redobradas, até alcançar seus objetivos.
E sob este aspecto, esta pequena carta de Pedro é uma rica mensagem, um poderoso instrumento através da qual o Espírito Santo fala ao nosso coração, cumprindo o propósito divino de nos dar esperança.
Depois da saudação dos vs. 1 e 2, Pedro segue louvando a Deus e dizendo que pela sua muita misericórdia ele nos regenerou para uma viva esperança, uma herança incorruptível, imarcescível, que está reservada nos céus para nós.
E então em toda esta carta Pedro nos ensina a nutrir esta esperança, e a viver por meio dela com discernimento, alegria, coragem, santidade, confiança no futuro, sabendo que tudo quanto fazemos agora trará frutos, não somente nesta vida de agora, mas frutos eternos.
Esperança é uma virtude que precisamos nutrir como filhos renascidos de Deus.
Por isto eu pretendo passar algum tempo com vocês, aos pés de nosso Senhor Jesus, a fim de que ouçamos o que o seu Santo Espírito tem a nos dizer nesta pequena carta.
Como introdução nós vamos nos deter nos dois primeiros versículos.
1. Eles nos dizem que o autor da carta é Pedro, apóstolo de Jesus Cristo
Quando o querido apóstolo escreveu esta carta, já havia pouco mais de trinta anos que ele tivera o prazer de conhecer o Mestre Jesus pessoalmente, através de seu irmão, André [1].
E algum tempo depois eles dois, que eram pescadores, juntamente com seus sócios Tiago e João, foram chamados por Jesus para serem seus discípulos.
– “Doravante”, disse Jesus a Pedro, “serás pescador de homens”.
Então ele e seus companheiros deixaram as redes, os barcos e tudo na praia, e passaram a seguir ao Senhor [2].
Por aproximadamente três anos eles viajaram juntos, comiam juntos, conversavam muito, participavam da adoração nas sinagogas e no templo, dormiam, e aprendiam não somente o que Jesus pensava, como ele ensinava, como ele orava, mas também como ele se relacionava com as mais variadas classes de pessoas, como ele fazia as coisas.
E acima de tudo, foram aos poucos conhecendo quem era realmente Jesus.
Pedro foi com certeza o discípulo que compreendeu antes de todos os outros, a mais grandiosa revelação a respeito do Senhor. Certa ocasião Jesus perguntou: – “Que dizem os homens a meu respeito?”
Os discípulos responderam: – “Uns dizem que é João Batista, que ressuscitou, outros que é Elias, ou algum outro profeta...”
“E vocês, o que pensam?”
Então Pedro respondeu: – “O Senhor é o Messias (o Cristo, o Rei Salvador prometido); o Senhor é o Filho do Deus vivo”.
Ao que Jesus disse: – “Você é um homem abençoado, Pedro. Pois isto que você acabou de dizer não foi carne e sangue que te revelou, mas meu Pai que está nos céus” [3].
Pedro era um homem sensível, amoroso e dedicado, mas não era perfeito.
Muitas vezes falava demais, e quem fala demais acaba falando o que não deve.
Às vezes era presunçoso, às vezes medroso, medroso a ponto de se tornar dissimulado, às vezes precipitado.
Pedro não era perfeito, mas era sensível, amoroso e dedicado.
Quando em certa ocasião, milhares de pessoas deixaram de seguir a Jesus, o Senhor perguntou aos doze: – “Quanto a vocês, querem me abandonar também?”
E foi Pedro quem respondeu: – “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” [4].
Jesus amava demais este homem.
E ele, que sabe todas as coisas, sabia também que, na noite em que seria preso e depois crucificado, Pedro fugiria assustado e negaria ser um discípulo.
Então Jesus orou por ele, a fim de que Pedro não desfalecesse por causa de seu próprio fracasso.
E depois que ressuscitou conversou pessoalmente com ele. Só havia uma coisa que Jesus queria saber:
“Pedro, tu me amas?”
Ao que Pedro respondeu: – “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo...”
Então o Senhor lhe pediu: – “Apascenta as minhas ovelhas...”
E acrescentou: – “Agora, enquanto você é jovem, você pode ir por onde desejar; mas quando envelhecer, você estenderá a mão, será preso e levado para onde não quer”.
Isto porque na velhice Pedro seria condenado à morte de cruz, assim como o foi Jesus [5]. A tradição da igreja diz que ele não se considerou digno de morrer como Jesus, e foi crucificado de cabeça para baixo.
E assim Pedro dedicou-se a esta missão: durante já há mais de trinta anos, tem sido um pastor das ovelhas de Jesus, ajuntando as que estavam fora do aprisco [6], edificando, alimentando e protegendo as que já estavam dentro [7].
Bem mais experiente, bem menos impetuoso, cheio de mansidão, firmeza e ternura, começa esta carta apresentando-se como apóstolo, um dos doze escolhidos e enviados por Jesus para estabelecer sua igreja.
Quando chega ao cap. 5, dirigindo-se aos presbíteros, isto é, pastores, relembra o fato de que também é um pastor das ovelhas de Jesus [8].
2. Agora consideremos as ovelhas para quem ele escreve.
Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia...
Nós não sabemos como foi estabelecida a ligação histórica entre as regiões aqui mencionadas (que ficavam onde atualmente é a Turquia), com o apóstolo Pedro.
Sabemos que no dia da Festa dos Pentecostes, quando o Espírito Santo foi derramado sobre a nova igreja, e Pedro pregou seu primeiro sermão sobre Jesus, havia em Jerusalém pessoas oriundas de regiões aqui mencionadas, ouvindo as palavras do apóstolo [9].
É possível que tenha havido conversões entre estas pessoas, pois naquele dia quase três mil vieram à fé; sendo assim, muitos retornaram depois às suas terras, dando origem a algumas das igrejas da região.
De qualquer forma, ele escreve para várias igrejas bem estabelecidas, o que indica certo tempo de existência.
Agora, ele usa duas expressões preciosas para um judeu piedoso, referindo-se a estas pessoas: eleitos, e dispersão.
2.1. A palavra eleito descreve o fato de que, entre a totalidade da humanidade decaída e corrompida pelo pecado, o Senhor Deus escolheu para si um povo a quem desejou, e uma vez escolhido, ele o chamou para perto de si.
No v. 2, ele desenvolve um pouco mais este conceito bíblico afirmando que:
Estas ovelhas de Jesus são pessoas eleitas de acordo com a presciência de Deus Pai.
E mais uma vez, as palavras são escolhidas cuidadosamente, revelando conhecimento bíblico e profundidade.
Pois a palavra presciência trás consigo um pano de fundo vétero-testamentário, no qual a palavra conhecer implica num relacionamento de amor entre Deus e o seu povo [10].
Pré-conhecer significa muito mais do que conhecer antes: significa amar antes, e isto,  como diria Paulo, “escolher em amor desde antes da criação do mundo” [11], desde a eternidade.
Estas ovelhas de Jesus são também pessoas eleitas para a santificação do Espírito, isto é, para serem separadas pelo Espírito Santo, a fim de viverem para Deus.
E são também eleitas para a obediência a Jesus, e assim serem aspergidas pelo sangue de Jesus.
Tudo o que Pedro está dizendo aqui tem como base aquilo que no Antigo Testamento Deus falou a Israel, quando fez dele, entre todos os povos da terra, o seu povo peculiar.
Vejamos
Dt 7:6-8 Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra.  7 Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos,  8 mas porque o SENHOR vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito.
Êx 19:5, 6 – Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha;  6 vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.
Êx 24:7, 8 - E (Moisés) tomou o livro da aliança e o leu ao povo; e eles disseram: Tudo o que falou o SENHOR faremos e obedeceremos.  8 Então, tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o SENHOR fez convosco a respeito de todas estas palavras.
E agora Pedro, falando como apóstolo, isto é, como representante direto e autorizado de Jesus, usa esta revelação do Antigo Testamento e aplicando-a ao povo da nova aliança.
Vejamos 1ª Pe 2:9, 10
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;  10 vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.
Vocês, que antes não eram povo de Deus, porque não eram do povo judeu, agora são. Vocês que não eram nação santa, agora são. Agora são povo de propriedade exclusiva de Deus.
2.2. A segunda expressão que Pedro usa para se descrever suas ovelhas é que são forasteiros da dispersão.
Uma expressão que os judeus fora de Israel usavam para descrever o fato de que eles, povo de Deus, não estavam morando em sua própria terra, mas espalhados pelo mundo, e aguardando o dia em que poderiam voltar para casa.
Pedro também toma esta expressão e a aplica à igreja de Jesus.
Várias vezes nesta carta ele lembra este fato.
Primeiro, lembrando que a herança do crente em Jesus está nos céus.
Cap. 1:4 – para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros.
Depois, mencionando que agora em terra estrangeira:
Cap. 1:17 – Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação...
Cap. 2:11 – Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma...
Gente escolhida de Deus, santificada pelo Espírito, que obedeceu ao Evangelho de Jesus e foi purificada pelo seu sangue derramado na cruz.
Gente que está neste mundo, mas peregrinando como um forasteiro. Gente cuja herança está no céu, que aqui está só de passagem.
O fato de que as ovelhas de Jesus estão numa pátria que não é a delas, que estão apenas de passagem, por um lado faz com que surja em seus corações um anseio, um desejo de chegar ao lar.
Você sabe que, enquanto você não se sente em casa, tudo é provisório, nada é permanente.
Além disto, você está vivendo num lugar em que os costumes são diferentes, os valores. Embora você possa amar os habitantes desta terra estrangeira, você nem sempre se sente à vontade com seus costumes. Na realidade, muitas vezes odeia. E muitas vezes também é odiado pelos que têm costumes diferentes dos seus.
Ao mesmo tempo, nem tudo é negativo: há certo conforto nas coisas que o Senhor tem providenciado para você aqui: a igreja, a sua família, a ordem social, o trabalho. Nem tudo é anseio pelo futuro.
Então, como viver neste tempo passageiro, e se preparar para o que há de vir?
Será possível viver bem, enquanto não chega o que é permanente?
E se for possível, como não nos acomodarmos com o tempo presente a ponto de esquecer o que há de vir?
A mensagem do pastor Pedro é que, ainda que nossa estadia aqui seja breve, provisória e implique em aflições, podemos fazer destas aflições um fonte de bênção, pois nosso Deus não tem controle somente sobre o mundo vindouro. Ele é Senhor também aqui e agora, e é soberano sobre cada momento de nossas vidas.
Por outro lado, nem tudo o que experimentamos aqui são aflições. Temos família, existe ordem social, temos a igreja, e em cada uma destas esferas sociais podemos gozar da bênção, da orientação e da presença de Deus.
De modo que nossa vida aqui também é uma vida de felicidade.
Por isto eu creio que um bom resumo de tudo aquilo que Pedro escreve nesta carta a fim de nos fortalecer a esperança, a fé e o amor, pode ser resumido nestas duas palavras que se encontram no fim de sua saudação:
3. Graça e paz vos sejam multiplicadas
Do ponto de vista formal, Pedro saúda os seus leitores seguindo o costume numa carta daqueles dias.
Primeiro ele se identifica, depois as pessoas a quem está escrevendo, e por fim expressa um desejo graça e paz sobre suas vidas.
Graça era a saudação entre os gregos, e paz, entre os judeus.
Mas  irmãos, nós temos a convicção que Pedro, assim como os demais escritores bíblicos, vai além das meras formalidades humanas, e expressa a verdade de seu coração.
A verdade que é, uma vez sendo ele um apóstolo, a expressão do desejo daquele que o enviou, Jesus.
O que á graça? No contexto bíblico significa a boa disposição que há no coração de Deus de nos conceder toda a sorte de bênçãos, tão somente por causa do grande amor que ele tem por nós.
Por causa de sua graça ele nos deu Jesus como Salvador de nossas almas.
Pela graça somos justificados mediante a fé em Jesus e aceitos em sua presença.
Pela graça somos herdeiros da vida eterna.
Por sua graça ele nos concede dons espirituais.
Por sua graça nossas orações são ouvidas, e nesta graça devemos crescer.
Podemos resumir esta verdade nas palavras de João: – “E todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça sobre graça” [12]. Tudo em nossa vida é graça de Deus agindo em nosso favor.
E paz é o fruto desta graça.
Pois justificados mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo [13].
Ora, o desejo deste pastor é este: que a graça e a paz sejam multiplicadas sobre os eleitos de Deus que se encontram dispersos pelo mundo.
Depois, a partir do v. 3, ele passa a ensinar uma vida na qual esta paz e graça se multiplicam.
Graça e paz diante de Deus.
Graça e paz diante do mundo, mesmo que ele seja hostil.
Graça e paz na família e na igreja.
Graça e paz em meio às tribulações.
Graça e paz em toda a nossa caminhada para o lar.

Conclusão e aplicação

Esta carta foi escrita por Pedro, apóstolo de Jesus encarregado por ele mesmo, de pastorear as ovelhas de seu Senhor.
Ele cumpriu fielmente sua missão, através de seus ensinos pessoais, e também através destas duas cartas preciosas que estão aqui em nossa Bíblia.
O desejo dele para as ovelhas de Jesus é que através de seus ensinos elas experimentem ainda mais da graça e da paz do Senhor Jesus.
Você é um eleito de Deus, santificado pelo Espírito Santo, que obedeceu ao Evangelho e assim foi purificado pela aspersão do sangue de Jesus?
Você quer experimentar em sua vida a multiplicação da graça e da paz que vem de Deus?
Quer nutrir sua esperança da vida eterna, e viver neste mundo como quem vai morar no céu?
Quer viver aqui e agora em comunhão com Deus, fazendo sua vontade, como raça eleita, gente de propriedade exclusiva de Deus, anunciando suas virtudes?
Então esta carta é para você.
Leia o que o Espírito Santo diz nesta carta. Medite nela. Peça a Deus a graça de entendê-la, de viver por seus ensinamentos preciosos.
E fique na expectativa, pois certamente o Senhor atenderá sua oração.


[1] Jo 1:40, 41
[2] Lc 5:1-11
[3] Mt 16:13-17
[4] Jo 6:66-69
[5] Jo 21:15-19
[6] At 2:14-41; 3:1-26, etc.
[7] At 10 e 11
[8] 1ª Pe 5:1-4. A palavra presbítero (ancião), é usada no Novo Testamento como um termo técnico e intercambiável com as palavras bispo, epíscopo e pastor-mestre,  referindo-se aos líderes espirituais em cada igreja, encarregados de pastorear o rebanho de Deus pelo ministério da Palavra (At 20:17, 28; Ef 4:11; 1ª Tm 3:1-7, etc.)
[9] At 2:1-41
[10] Veja uma breve discussão sobre isto em Ênio R. Mueller, 1ª Pedro, Introdução e Comentário (São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão, 1988), págs. 70 e 71, n. 17.
[11] Ef 1:4
[12] Jo 1:16
[13] Rm 5:1
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