Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Herdeiros da Reforma (5): Glória somente a Deus - Ef 1:3-14

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 31 de outubro de 2010
Pr. Plínio Fernandes
Amados irmãos, por favor, abram suas Bíblias em Efésios capítulo 1. Hoje, com base neste belo hino da Bíblia sagrada, vamos focalizar nossa atenção no último, desta série de cinco princípios que temos estudado, da Reforma Protestante.
A cada domingo deste mês temos estudado um deles:
No primeiro domingo estudamos a afirmação teológica que chamamos “Somente as Escrituras”. Destacamos a nossa crença em que a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, e que nela encontramos toda a vontade de Deus revelada a nós, para que possamos conhecê-lo na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo, e nele encontrar a salvação de nossas almas. Quando dizemos “Somente as Escrituras”, estamos afirmando a nossa fé na Bíblia como Palavra de Deus, e que todas as nossas crenças devem ser baseadas somente nela.
Depois, no segundo domingo, estudamos a doutrina bíblica de que Jesus Cristo é o Filho de Deus, criador de todo o universo, e que por amor a nós deixou sua glória no céu, se fez homem e habitou entre nós, morreu pelos nossos pecados e depois subiu novamente ao céu, onde está intercedendo por nós junto ao Pai. Jesus é um salvador perfeito que realiza em nosso favor uma obra de perfeita salvação. Então, segundo as Escrituras, ele, e somente ele é quem nos salva. Não precisamos qualquer outro salvador além de Cristo: Cristo, e “Somente Cristo”.
E nos dois domingos anteriores meditamos noutras duas grandes verdades reveladas na Bíblia: as verdades de que somos salvos pela graça de Deus por meio da fé, isto é, por meio da confiança no que ele nos diz. Não compramos nossa salvação, nem com dinheiro, nem com boas obras, nem com cerimônias religiosas, nem com a observação de leis; mas somos salvos somente porque Deus nos ama, e em seu amor enviou Jesus para nos salvar. Tudo o que precisamos fazer para desfrutar das alegrias da salvação é crer em Jesus, e até mesmo esta fé é um dom de Deus a nós.
Todos estes princípios, irmãos, nos levam a esta conclusão: Deus, e somente Deus, é o autor da nossa salvação. Ele é quem recebe todo o crédito. Pois a nossa salvação não é o resultado do trabalho de Deus mais o nosso trabalho, ou o trabalho de mais ninguém.  Daí emerge o último de nossos princípios: se, para todas as coisas, na criação, no governo, na preservação de todo o universo, se em tudo nós dependemos de Deus, e mais especialmente, na nossa salvação, se tudo provém de Deus, então, por tudo, inclusive por causa da nossa salvação, nós devemos dar glória a Deus, e somente a Deus.
Com base em nosso texto de hoje, nós vamos considerar esta doutrina. Neste texto, como já dissemos, a doutrina assume a forma de um hino de louvor a Deus por causa de todas as bênçãos espirituais que ele nos concede em Jesus Cristo. Então leiamos, do v. 3 ao 14.
3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, 4 assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor 5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6 para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, 7 no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, 8 que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, 9 desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, 10 de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra; 11 nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, 12 a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; 13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.
Neste texto o apóstolo Paulo nos convida a bendizer ao nosso Deus, porque, por meio de Jesus Cristo, que está assentado nos lugares celestiais, à direita de seu Pai, temos sido abençoados com toda a sorte de bênçãos espirituais.
Ele menciona especificamente cinco bênçãos neste texto
Primeira: a bênção da eleição – v. 4 – fomos escolhidos por Deus desde antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de Deus
Segunda: a bênção da predestinação – v. 5 – fomos predestinados para sermos filhos de Deus por meio de Cristo
Terceira: a bênção da redenção – v. 7 – através do sangue de Jesus fomos perdoados e libertados de nossos pecados
Quarta: a bênção da revelação – vs. 8-10 – fomos iluminados por Deus para que entendêssemos que Jesus Cristo é o Senhor de todo o universo
E quinta: a bênção do selo com o Espírito Santo – vs. 13 e 14 – o Espírito Santo habitando em nós é a garantia de que pertencemos a Deus e que no dia em que Cristo voltar para buscar sua igreja nós estaremos para sempre com ele
Por todas estas coisas, Paulo começa dizendo: “Bendito seja Deus”. A respeito da nossa salvação, eu quero destacar três razões para nós darmos glória somente a Deus:
Esta é a maravilha revelada em palavras como elegeu, predestinou, em amor
vs. 4, 5
“Assim como nos elegeu nele, isto é, em Cristo, antes da fundação do mundo... e em amor nos predestinou para ele...”
O que é eleição? De um modo simples, “escolha”
Por exemplo: “Hoje, através da eleição, o povo brasileiro escolheu o seu novo Presidente da República”
Mas há uma diferença entre a escolha que o povo brasileiro fez e a que nosso Pai fez
É que o povo brasileiro escolheu seu presidente com base naquilo que acredita haver de bom no seu homem eleito.
Ao contrário disto, a Bíblia diz que Deus nos escolheu, antes da criação do mundo, não com base naquilo que faríamos de bom, mas com base no amor de Deus.
Em amor nos predestinou para ele
Em amor Deus traçou nossos dias de tal maneira que viríamos a ele
Outra maneira de sabermos que a nossa salvação é a vontade de Deus está no v. 11
“Predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas segundo a sua vontade”
Deus não faz nada contrariado, e ele amou você porque assim desejou.
Apenas para recordar, pois temos já enfatizado estas verdades em nossos dois últimos estudos.
2ª Tm 1:9
Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos
2ª Ts 2:13
Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade
Sl 139:16
Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda
Então, você, que é crente em Jesus preste atenção nisto: Deus ama você, Deus quis e escolheu você, Deus predestinou você para ser filho dele, para ser santo diante dele, a salvação eterna.
A tua salvação é a vontade de Deus.
Consideremos mais uma vez esta frase:
“Predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade...” – v. 11
Primeiro, o apóstolo Paulo já nos disse que, lá “na eternidade passada”, Deus nos amou e decidiu que iria nos salvar de nossos pecados e da condenação eterna. Depois, ele disse que Deus, com base no seu desejo, nos predestinou, isto é, determinou o nosso destino. Agora, ele nos diz que quando Deus deseja algo, ele não fica apenas desejando: ele faz tudo de acordo com o conselho, isto é, de acordo com a determinação de sua vontade.
Veja: Deus, de fato, é Deus. Isto significa que ele domina sobre tudo e sobre todos. Que ele governa toda a sua criação. Eu gostaria de recordar com você dois textos do Antigo Testamento, que nos falam da grandeza e do poder do nosso Deus neste sentido:
Is 46:9-10
9 Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim;10 que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade...
O Senhor nos diz que ele anuncia as coisas que irão acontecer, mas não apenas porque ele vê o futuro. Ele anuncia as coisas que irão acontecer porque ele mesmo é quem decide o que irá acontecer: o meu conselho (o que eu determinei) permanecerá em pé, farei toda a minha vontade.
Jó 42:1-2
1 Então, respondeu Jó ao SENHOR:2 Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.
Desta maneira, filho de Deus em Jesus, o Senhor Deus não apenas desejou a sua salvação, mas também a realizou. Primeiro, ele enviou Jesus para salvar você. Depois, por meio do Espírito Santo e da pregação do Evangelho, ele levou você a crer em Jesus e ser salvo. E depois, como garantia que você seja seguro até o fim dos tempos, ele selou você com o Espírito Santo.
vs. 13 e 14
13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.
Ser selado significa ser marcado com o sinal de que pertencemos ao Senhor. O Espírito habitando em nós é a garantia de que somos dele. Agora note: o próprio fato de crer é a garantia desta habitação do Espírito
1ª Co 12:3
Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo.
Naturalmente que este dizer “Senhor Jesus” é aquele que é fruto de um reconhecimento no coração de Jesus como Senhor, e não apenas como uma fórmula de religião exterior. Pois este Espírito habitando em nós produz uma vida nova, na qual se manifesta o poder para testemunhar, o direito de frutificar, o de ser guiado por Deus, pois todos os que são guiados pelo Espírito são filhos de Deus. E neste habitar do Espírito temos mais uma manifestação do agir de Deus em nossa salvação
Algum tempo atrás, uma pessoa me falou com ressentimento: “Vocês, crentes, acham que vão para o céu. Quem vocês pensam que são? São melhores que os outros?”
E respondi: “Sim, nós temos a certeza de que vamos para o céu; mas não achamos que somos melhores que qualquer pessoa. Se vamos para o céu é por causa da misericórdia de Deus; misericórdia que ele oferece a todas as pessoas por meio de Jesus. Todo o que crer no Senhor Jesus será salvo”.
No cap. 2, ao descrever a graça de Deus em nos salvar, Paulo diz que então não temos motivo algum para nos orgulharmos de ser salvos, como se fossemos para o céu porque merecemos.
Ef 2:8-9
8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie
Se existe alguma coisa que é motivo de glória para nós não é o fato de que merecemos a nossa salvação. Não fizemos nada para merecer, mas somente a graça de Deus nos alcançou. Ou como diz a Palavra em outro lugar: “Longe de mim esteja gloriar-me, a não ser na cruz”[1].
Por outro lado, em três momentos deste hino Paulo nos diz que tudo quanto o Senhor faz para a nossa salvação trás glória ao nome de Deus.
v. 6
Para o louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no amado...
v. 12
A fim de sermos para o louvor de sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo...
v. 14
... o qual é o penhor da nossa herança, até o resgate de sua propriedade, em louvor da sua glória
De que maneira a nossa salvação trás glória para o nome de Deus? Vamos mencionar três:
Primeira, quando uma pessoa é salva, há louvor a Deus no céu da parte dos seres celestiais; há júbilo diante de Deus por um pecador que é salvo. A grandiosa sabedoria de Deus é manifesta diante dos anjos.
Segunda, quando uma pessoa é salva, ela adora a Deus de todo o seu ser, com gratidão, alegria, com amor e temor, com um desejo santificado de viver uma vida nova, que adorne o evangelho e enalteça o nome de Deus diante de todas as pessoas à sua volta. Ela se prostra diante de Deus, e o reverencia, e cultua, e ama.
Terceira, ela proclama o evangelho de Jesus, ela anuncia com alegria aquilo que Deus fez por nós, enviando seu amado Filho para a nossa salvação.
O evangelho torna conhecido o fato de que a salvação vem dele, é por meio dele, e nos conduz a ale, de modo que toda a glória seja dada a ele. E então, o crente diz: “Glória somente a ele”. Você, que é salvo, tem todos estes sentimentos no coração, e nem pensa em atribuir a salvação a si mesmo.
Estas doutrinas que os irmãos receberam durante estes domingos com tanta naturalidade, embora sejam as doutrinas do Cristianismo histórico, isto é, aquelas que foram os fundamentos para a Cristandade de geração em geração, infelizmente têm sido novamente esquecidas, e muitas vezes até mesmo negadas por muitas igrejas nos dias de hoje.
Alguns pregadores da mídia até mesmo dizem que algumas delas são diabólicas. Por isto, alguns grupos de evangélicos têm reagido a isto, e trabalhado arduamente para que a genuína mensagem protestante permaneça, apesar dos ventos contrários.
Em 1996, um grupo chamado “Aliança de Evangélicos Confessionais” se reuniu em Cambridge, nos Estados Unidos, e elaborou um documento no qual foram reafirmados os cinco somente da Reforma Protestante. Este documento foi chamado “A declaração de Cambridge”. A respeito do nosso assunto de hoje eles escreveram, nós concordamos de mente e coração,e queremos encerrar nosso estudo com as palavras deles.
SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus[2]
Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão:
Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido.
Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nós.
Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades.
Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.
Tese 5: Soli Deo Gloria
Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.
Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.




[1] Gl 6:14
[2] A Declaração de Cambridge sobre os “Cinco solas da Reforma pode ser encontrada em http://www.monergismo.com/textos/cinco_solas/cinco_solas_reforma_erosao.htm

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Nosso maior amor - Mt 10:34-39


Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 24 de fevereiro de 2013
Pr. Plínio Fernandes
                Meus irmãos, vamos ler Mateus 10:34-39
34 Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.35 Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra.36 Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.37 Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim;38 e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim.39 Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.
Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. As palavras de Jesus aqui, a princípio podem nos parecer chocantes. Pois o nosso Salvador, a quem adoramos, com toda a justiça é chamado o Príncipe da Paz[1]. Assim é que, justificados pela fé, nós temos paz com Deus mediante o sangue de Jesus que foi derramado em nosso lugar, por causa dos nossos pecados[2]. E também em nossos corações, porque o castigo que nos trás a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados[3]. Da mesma forma que mediante o precioso sangue de Jesus temos paz uns com os outros, pois neles fomos feitos uma nova humanidade, uma nova grande família de filhos de Deus[4]. Portanto, não é sem motivo que a mensagem de salvação que temos em Jesus é chamada “evangelho, boa notícia”, pois nos trás noticias de paz[5].
Mas no texto que temos diante de nossos olhos, a fim de mostrar o tipo de compromisso que ele espera de nós, o Senhor Jesus usa estas palavras fortes: Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada; conflitos, inimizades; até mesmo dentro de casa, na própria família.
Hendricksen nos diz que aqui o Senhor está se utilizando de um recurso judaico chamado “mashal”, uma espécie de parábola, na qual são usadas afirmações paradoxais [6], contraditórias, a fim de impressionar nossa mente com a importância do que está sendo ensinado.
Se nós voltarmos ao início deste capítulo, veremos que nele o Senhor está nos ensinando como devemos testemunhar a seu respeito num mundo carregado de incredulidade. Os seus discípulos, ele ensina, são como “ovelhas no meio de lobos” (v.16). Muitas vezes serão mal entendidos, mal recebidos e mal tratados, muitas vezes até mesmo dentro da própria família, por causa do nome de Jesus. Mas ainda assim, seja em casa, seja lá fora, devem continuar na fé, testemunhando com sabedoria, sinceridade, gentileza, sem medo, confiando no poder e assistência do Espírito Santo. Pois há uma grande e eterna recompensa para aqueles que perseveram neste testemunho, que não se envergonham do seu santo nome diante dos homens: ele será honrado por Jesus diante do seu Pai que está nos céus (vs. 16-33).
E aqui, quando está quase concluindo este discurso, ele nos conta o grande segredo desta perseverança: para perseverar, e assim ser achado digno de Cristo, é necessário que se ame a Jesus acima de tudo e de todos, até mesmo acima da própria família; e até acima de si mesmo.
Assim, irmãos, para o fortalecimento dos nossos corações na Palavra de Jesus, vamos fazer três considerações:
1. O que Jesus não está desejando de nós
Jesus não está desejando que não amemos nossa família. Precisamos destacar isto, para que não nos enganemos em relação ao sentido do que ele diz nos vs. 34-36, e não pensemos, como algumas pessoas, que a Bíblia nos apresenta contradições.
O mandamento de Deus nas Escrituras é no sentido de que amemos nossa família e cuidemos dela. Aqui, ao dizer o que aconteceria por causa dele, o Senhor cita uma passagem de Miquéias, onde o profeta fala de uma situação que certamente Jesus reprovava. Aliás, para que entendamos melhor, vamos ler este versículo em Miquéias e observar o contexto em que estas palavras foram ditas ali:
Mq 7:5-7
5 Não creiais no amigo, nem confieis no companheiro. Guarda a porta de tua boca àquela que reclina sobre o teu peito. 6 Porque o filho despreza o pai, a filha se levanta contra a mãe, a nora, contra a sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa.7 Eu, porém, olharei para o SENHOR e esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá.
Nós podemos facilmente perceber que o profeta está se queixando da corrupção moral que prevalecia em seus dias: amigos infiéis; esposas em quem não se podia confiar, filhos que não honravam os pais, conflitos familiares; os mandamentos do Senhor estavam sendo quebrados. Então, diante do mal que prevalecia, Miquéias voltava os olhos para o Senhor, esperando que dele viesse a salvação e a resposta às suas orações.
Naturalmente que esta situação de Israel, moralmente degenerada, nunca seria aprovada por Jesus. Além disto, em Mateus cap. 15 o Senhor Jesus se queixa contra os fariseus de eles quebravam o mandamento de Deus com relação aos filhos e pais.
Mt 15:4-9
4 Porque Deus ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte.5 Mas vós dizeis: Se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: É oferta ao Senhor aquilo que poderias aproveitar de mim;6 esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe. E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição.7 Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo:8 Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.9 E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
Veja: honrar pai e mãe é mandamento de Deus, palavra de Deus, diz o Senhor. Não é uma coisa superada. É vontade de Deus para todos os crentes. Não podemos nos utilizar de sutilezas, tradições inventadas por homens (nem que sejam teólogos) para invalidar qualquer dos mandamentos de Deus.
Desta maneira, os apóstolos de Jesus, seguindo os princípios do Mestre, nos ensinam que os maridos devem amar e cuidar de suas esposas, e as esposas dos maridos[7]. Os filhos para com os pais, e os pais para com os filhos[8]. E Paulo acrescenta, num contexto familiar, que Deus nos tem chamado à paz[9]. Assim, filhos, amem seus pais. Pais, amem seus filhos. Que seus corações sejam convertidos uns aos outros, pois esta é a vontade de Deus, conforme o Evangelho[10].
No entanto, inevitavelmente, porque nem todas as pessoas aceitam Jesus e sua mensagem, os conflitos surgirão numa esfera ou noutra de nossos relacionamentos, e às vezes isto poderá acontecer dentro da própria casa. E quando isto acontece, os inimigos de um crente em Jesus poderão ser seus próprios pais, ou irmãos, ou filhos. Em suma, as pessoas a quem mais amamos.
Penso que vocês já devem ter presenciado muitas situações como esta. Quem sabe até experimentando em sua própria carne a tristeza de ter uma pessoa a quem você ama, que se volta contra você por causa de sua fé.
Estou pensando num adolescente com quem tive a alegria de orar em Jundiaí, onde trabalhei algum tempo, quando ele entendeu o Evangelho e quis entregar sua vida a Jesus. Nós estávamos na sala de sua casa. Enquanto orávamos, eu coloquei minha mão sobre o seu ombro, e quando terminamos de orar o pai dele estava na porta da sala, observando. Depois que fui embora, o pai, que pertencia a uma seita esotérica, disse que ele tirasse aquela camisa e colocasse prá lavar. Que ele nem pensasse em estudar a Bíblia. Que ele nem pensasse em ir à igreja. Na semana seguinte eu não pude entrar naquela casa, pois fui proibido, e fiquei sabendo que aquele pai fizera a mesma coisa alguns anos antes, com a esposa, proibindo-a terminantemente de ser cristã.
Mas quando isto acontece, quando por causa do Senhor o conflito se estabelece, e precisamos escolher, Jesus nos ensina: temos que decidir em ficar com ele.
Então vejamos...
2. O que Jesus está desejando
Ele espera que nós o amemos acima de todos os nossos amores.
O v. 37 nos diz que mais do que à nossa própria família. O vs. 38 e o 39, mais do que a nós mesmos.
37 Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim.38 e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim.39 Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.
Os discípulos de Jesus conheciam muito bem o significado literal de alguém “tomar a sua cruz’. Milhares de pessoas foram cruelmente mortas pelos romanos desta maneira terrível. Quando uma pessoa era condenada à execução, o modo era este: o condenado, levando nos ombros a sua própria cruz até o lugar da execução.
Cruz significa morrer para nós mesmos. Para a nossa própria vontade, para os nossos próprios projetos, com o propósito de fazer a vontade de Deus. Significa morrer para os pecados que amamos, morrer para o mundanismo, morrer para as tentações. Morrer para os vícios, a fim de viver para Jesus.
Quando o nosso relacionamento com qualquer pessoa estiver sendo um impedimento, um embaraço em nosso relacionamento com Jesus, a nossa escolha deve ser Jesus. E isto se estende até mesmo em relação às pessoas que mais amamos.
Me faz lembrar de muitas vezes em que jovens crentes me dizem ter rompido com certos namoros, embora amassem a pessoa com quem namoravam, mas que perceberam que não era a vontade de Deus conforme ensinada na Bíblia. Me faz lembrar de muitas vezes que jovens me disseram ter parado de frequentar certos lugares, certos modos de diversão, porque amam o Senhor Jesus, e perceberam que a vontade dele não estava naquelas coisas.
Me faz pensar, por exemplo, em certa senhora que conheci. Quem me contou foi o marido dela. Ele me contou como se converteu. É que a esposa dele havia se convertido primeiro, e quando isto aconteceu, ela começou a frequentar a igreja, e ele ficou furioso. Então ele deu um ultimato: ou ela parava de frequentar a igreja ou podia se preparar para a separação.  A resposta foi imediata: “Então pode preparar as malas. Porque eu vou pro céu. E se você não quiser servir a Deus comigo, eu já sei com quem vou ficar.” Ele me contou que ela falou com tanta firmeza que ele se converteu também.
E também me faz pensar no duro sofrimento que muitos filhos de Deus tiveram que passar por amor ao Evangelho. Quero citar o sempre presente John Bunyan, que foi preso por pregar o Evangelho, e muitas vezes acenavam com a possibilidade de ser solto, se tão somente prometesse que não pregaria mais. Veja o que ele escreveu em certa ocasião:
“A separação de minha esposa e meus pobres filhos esteve presente mais de uma vez, comigo nesta cela, como ganchos de ferro que me arrancassem a carne e os ossos; e não possivelmente porque aprecie muito essas misericórdias de Deus, mas sim porque pensava que tivesse tido que refletir, antes, nas muitas dificuldades, misérias e carências que minha família inteira teria que suportar no caso que eu lhes faltasse, especialmente minha pobre filha cega, que está mais perto do meu coração que todo o resto. Quando pensava na miséria da minha pobre ceguinha, meu coração parecia que ia romper-se em pedaços. Entretanto, recuperando o controle de meus pensamentos, penso que não poderia ter agido de outro modo, e que se hoje pudesse voltar a decidir, arriscaria tudo de novo, em nome de Deus, embora abandoná-los me despedaçasse. Bem via que nessa situação era eu um homem que estava derrubando a casa sobre a cabeça de sua esposa e filhos; e no entanto, pensava, isso, precisamente, era o que estou obrigado a fazer” [11].
Como foi difícil a vida deste crente. Mas ele não cedeu. Sua família também não quis que ele cedesse, antes preferiu sofrer com a pobreza ainda maior, por causa do seu chefe na prisão. E Jesus não quis que ele cedesse.
E sabem? Como disse Jesus: Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, porém, perde a sua vida por causa dele, achá-la-á. Foi perdendo a sua liberdade que Bunyan encontrou a liberdade. Foi perdendo a vida que ele a encontrou. Quem seria Bunyan se tivesse cedido às pressões do mundo para que se calasse?
Mas agora há pelo menos dois resultados: Bunyan tem um nome glorioso no céu e na igreja. E nós temos os escritos maravilhosos de um homem que permaneceu firme. Se ele tivesse negado sua fé, seria apenas um nome esquecido, que não teria nada a nos dizer hoje. Mas pela fé, mesmo depois de morto ainda fala[12].
Como é que alguém consegue amar a Jesus tanto assim? Mais do que a si mesmo? Mais do que às pessoas que mais ama? Aliás, como é que Jesus pode exigir, e ainda consegue isto de nós?
Então vejamos...
3. A razão pela qual devemos corresponder a este desejo
Aqui no capítulo 10 existem vários motivos que podemos mencionar: ele é o nosso Mestre e Senhor (vs. 24, 25), ele é o enviado de Deus Pai (v. 40), ele é o nosso Salvador e Rei (vs. 5-8).
Mas quero destacar apenas uma razão, que está razão implícita no v. 38, quando ele fala sobre tomar a sua cruz e segui-lo. Ainda que de forma muito velada, Jesus diz que em sua vida havia uma cruz.
Em certo sentido, Jesus já estava carregando a sua cruz. Desde o momento em que ele deixou o trono de sua glória celestial e encarnou-se entre nós, pobre e humilde. Passou uma vida de privações, pois não tinha onde reclinar a cabeça. Passou por humilhações diante dos sábios e entendidos dos dias de sua carne. E todas as dores comuns a nós. Viveu uma vida de servo dos homens. E sofreu tentações fortíssimas. Mas foi obediente ao Pai apesar de todo o sofrimento.
Assim que, quando foi condenado, quando teve seus olhos vendados e recebia pancadas na cabeça, quando foi despido e açoitado, quando recebeu aquela coroa de espinhos que o fizeram sangrar, quando levou a sua cruz de madeira, quando foi pregado nela, quando suas vestes foram distribuídas entre os soldados, quando seus olhos santos viram o sofrimento de sua mãe, quando seu corpo foi traspassado por aquela lança, Jesus estava fazendo aquilo que fizera desde o momento em que desceu do céu: estava levando a sua cruz, dando a sua vida por amor a nós.
Jesus negou-se a si mesmo. O Filho de Deus me amou, e a si mesmo se Deus por mim. Então eu creio nele. Eu confio nele, eu vivo para ele [13].
Quando nós compreendemos, do fundo do nosso ser, como é grande o amor que Jesus tem por nós, nosso coração não consegue ter outra atitude. Quando nós consideramos que ali na cruz, o Senhor Jesus tomou sobre si o castigo de todos os nossos milhares e milhares de pecados, que ele foi castigado pelo nosso pecado, pelo nosso orgulho, pelo nosso egoísmo, por toda a nossa maldade, para nos dar vida, nós o amamos, porque ele nos amou primeiro[14].
Vejamos 2ª Co 5:14, 15
14 Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 15 E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.
Será que o amor de Cristo o torna digno do nosso amor? Mas esta é uma pergunta correta? Ao contrário, o que deveríamos perguntar não é: o que nos tornaria dignos do amor de Cristo? No entanto, fomos preciosos aos olhos do Senhor, dignos de honra[15]; ele nos amou primeiro, quando ainda éramos inimigos de Deus em nosso entendimento, e nos livrou da ira vindoura[16].
O amor de Cristo nos constrange, de tal maneira que agora morremos para nós mesmos, a fim de vivermos para ele. É este amor que faz um John Bunyan, um apóstolo Paulo, um apóstolo Pedro, uma virgem Maria. É este amor que faz um discípulo de Jesus.
Conclusão e aplicação
Irmãos, amemos nossas famílias. Amemo-nos uns aos outros, com todo o nosso coração. Nossas famílias, nossa igreja, nossos irmãos espalhados pelo mundo, nas muitas denominações eclesiásticas, são doces misericórdias do Senhor sobre nossas vidas, que nos alegram ao coração. Amemos nossa própria vida abençoada. Amemos ao mundo, a humanidade criada por Deus.
Mas em primeiro lugar, acima de tudo, acima de todos, amemos a Jesus. Foi Jesus quem se entregou na cruz, pelos nossos pecados.
Se houver em nossa vida algo – pecado, desejos, propósitos, que se colocam entre nós e Jesus, tomemos a cruz, morramos para estas coisas todas, coloquemos ao Senhor em primeiro lugar. Se houver alguém – esposa ou esposo, pais ou filhos, irmãos ou amigos, que desejam se colocar entre nós e o Senhor, Jesus em primeiro lugar. Se necessário, enfrentemos a espada, o conflito, os dissabores, mas saibamos que Nosso Senhor e Mestre, nosso Rei-pastor, nosso Deus e Salvador é digno do nosso amor.



[1] Is 9:6
[2] Rm 5:1
[3] Is 53:5
[4] Ef 2:13-19
[5] Is 52:7
[6] William Hendricksem, Mateo, pág. 357.
[7] Ef 5:22-33; 1ª Pe 3:1-7
[8] Ef 6:1-4
[9] 1ª Co 7:15
[10] Lc 1:17
[11] William Barclay, Comentário ao Novo Testamento, Mateus, pág. 425.
[12] Hb 11:4
[13] Gl 2:20
[14] 1ª Jo 4:19
[15] Is 43:4
[16] Rm 5:8-11

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Deus se fez homem - Mt 1:18-25

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 12 de março de 2012
Pr. Plínio Fernandes
Queridos irmãos, vamos ler Mateus 1:18-25
18 Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo. 19 Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente. 20 Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles. 22 Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: 23 Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco). 24 Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher. 25 Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus.
José, o pai legal de Jesus, ainda que fosse um dos descendentes diretos do grande rei Davi, e talvez tivesse o direito natural de habitar num palácio, era apenas um humilde carpinteiro que residia na humilde cidade de Nazaré, na Galiléia, a humilde região norte de Israel.
E como a maioria dos homens, ele amava uma mulher e queria casar-se com ela. Ela se chamava Maria, e também era da descendência de Davi. Eles estavam noivos. Eu imagino que formavam um casal muito bonito. Pois ambos eram pessoas profundamente piedosas; amavam ao Senhor, viviam honestamente, seguiam os seus mandamentos.
Mas um dia uma coisa extraordinária aconteceu; algo que nunca antes, nem depois, se repetiu em toda a história da humanidade. A jovem Maria estava sozinha, e um mensageiro de Deus, o anjo Gabriel, lhe apareceu.
Naturalmente que ela ficou muito espantada. Mas o anjo lhe disse: “Maria, não tenha medo. Eu vim porque você tem sido alcançada pela graça de Deus. Vim lhe dizer que você ficará grávida, e dará à luz a um filho a quem chamará ‘Jesus’. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e Deus lhe dará o trono do rei Davi, seu pai; um reino que não terá fim...”
E a jovem perguntou ao anjo: “Mas como será isto? Eu nunca tive relações com homem algum...”. E Gabriel respondeu explicando que, assim como Deus a escolhera, Deus também realizaria um milagre: o poder do Espírito Santo viria sobre ela, e por este poder seria gerado dentro dela um novo ser humano, mas sem a participação de um homem.
Embora seja algo para além de nossa imaginação, para nós, os que cremos, assim como Maria, no Deus que é revelado na Bíblia, não é difícil acreditar que as coisas aconteceram assim. Porque se você acredita que em seis dias, do nada, apenas pelo poder de sua Palavra e de seu Espírito, Deus criou o universo inteiro[1], então sabe que nada é impossível para ele. Para Deus, “a coisa mais simples” é fecundar, pelo mesmo poder de sua Palavra e de seu Espírito, um óvulo no interior de uma mulher.
E foi isto o que o anjo disse a Maria que aconteceria: ela ficaria grávida pelo poder do Espírito Santo. Uma prova do poder de Deus, Maria poderia ver em sua prima Izabel, que já era idosa, e estéril, mas que em sua velhice havia ficado grávida também, e já estava no sexto mês. Então Maria se submeteu à vontade de Deus. Em seguida, ela foi para a região montanhosa de Efraim, para visitar sua prima Izabel; e ali ficou cerca de três meses, e então voltou para Nazaré.[2]
Eu tenho a impressão de que foi nestes dias, depois da visita a Izabel, que José ficou sabendo da gravidez de Maria. O que será que ele sentiu? Como será que ele soube? Será quem foi ela quem contou para ele? Será que ela disse como aconteceu? Se foi ela, parece que José teve uma dificuldade para acreditar, pois foi necessário que um anjo viesse a ele também.
Ou será que ele soube através de outras pessoas? De qualquer forma José, pelo que podia entender, havia sido traído. Por um lado, ele amava Maria, por outro, como poderia se casar com uma mulher que, segundo ele estava entendendo, não o amava? Então começou a pensar em deixá-la secretamente. Será que, com isto, ele entendesse que as pessoas não poriam a culpa em Maria, mas nele, pois pensariam que ele havia tido relações com a noiva e depois não quisera dar continuidade ao casamento. O propósito claro de José é que ele não queria difamar a Maria.
Eu tenho muita admiração por estes dois filhos de Deus!  Mas, enquanto José pensava nestas coisas, um anjo do Senhor lhe foi enviado.  E da mesma forma que fizera à moça, transmitiu ao homem palavras de paz:
“José, filho de Davi, não tenha medo de se casar com Maria; porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e você lhe porá o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”.
Mateus acrescenta que todas estas coisas eram o cumprimento de uma antiga profecia que dizia: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)”.
Assim como Maria, José obedeceu à Palavra de Deus através do anjo. Eles se casaram, e não tiveram relações enquanto ela não deu à luz ao seu primogênito, Jesus. Depois disto, os Evangelhos nos dizem que Jesus teve irmãs e irmãos [3].
Eu quero destacar a Palavra de Deus, dada por Isaías e endossada por Mateus, no versículo 23:
A virgem conceberá e dará a luz a um filho, e este filho será chamado Emanuel, que quer dizer, Deus conosco”.
Estas palavras nos foram dadas pelo Espírito Santo para que conheçamos a Jesus, e conhecendo tenhamos vida.
1. Mateus nos diz que Jesus é Deus
Ele será chamado Emanuel, que quer dizer, “Deus conosco”.
1.1 – Jesus é divino
Eu não pretendo neste momento fazer um estudo completo a respeito da divindade de Jesus Cristo. Já temos estudado este assunto em outras ocasiões. E Deus permitindo, também o faremos em muitas outras. Por ora eu desejo enfatizar as implicações dessa divindade.
Mas algumas pessoas têm real dificuldade com esta doutrina, pois não vemos, nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, a afirmação explicita de que Jesus é Deus. Esta afirmação é feita de modo mais claro no Evangelho de João.
Então argumentam: “Os três primeiros Evangelhos não nos dizem que Jesus é Deus. Falam apenas que Jesus era Filho de Deus e como tal, um representante de Deus; e neste sentido, na pessoa de Jesus, Deus estava entre nós. Na realidade, quando Mateus está dizendo que Jesus é Deus conosco, não está falando que ele é divino; apenas que na pessoa de Jesus, o Senhor Deus estava visitando o mundo em sua misericórdia, tal como já fizera antes, através de reis e profetas piedosos”.
É verdade que estes três primeiros Evangelhos, que comumente chamamos Sinóticos, não nos dizem que Jesus é Deus de forma explícita. Mas de forma implícita sim. Pretendo ser o mais breve possível:
Mt 4:8-11
8 Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. 9 e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. 10 Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto. 11 Com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram.
O diabo estava tentando nosso Senhor, para que o adorasse. De acordo com a resposta de Jesus a Satanás no v. 10, somente Deus deve ser adorado. Se fizermos isto a qualquer outro ser que não seja Deus, é pecado.
Por isto é que no livro de Atos, Paulo e Barnabé não se deixam adorar:
At 14:14-15
14 Porém, ouvindo isto, os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgando as suas vestes, saltaram para o meio da multidão, clamando: 15 Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles...
E também é por isto que no Apocalipse de João um anjo de Deus se recusa a ser adorado:
Ap 19:9-10
9 Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus.  10 Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia.
Ap 22:8-9
8 Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo.  9 Então, ele me disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus”.
Eu acho “estranhamente engraçado” o comportamento de João. Ele, que conhecia a Jesus. Que escreveu o Evangelho. Que no começo do Apocalipse recebe uma revelação extraordinária da glória de Jesus. Agora, por duas vezes, ele se prostra aos pés de um anjo, para adorá-lo. Isto nos revela muito sobre a natureza humana. Como somos capazes de adorar a quem não devemos, ou ao que não devemos, quando ficamos maravilhados diante de algo ou alguém.
Mas “graças a Deus” que João fez isto. Graças a Deus porque ele foi humilde o suficiente para registrar as duas vezes no livro. E graças a Deus pela resposta do anjo, que é bem diferente do desejo de Satanás: “Não faça isto, eu sou testemunha de Jesus, conservo teu e de todos os teus irmãos. Adora a Deus”. Agora voltemos ao Evangelho de Mateus
Mt 8:1-3
1 Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram.  2 E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. 3 E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra.
Acho que não preciso comentar que a atitude de Jesus diante deste leproso que o adorou foi diferente da atitude de Paulo e Barnabé, e diferente do anjo no Apocalipse. Jesus aceitou a adoração daquele homem. Por isto também faz sentido o comportamento dos Magos no capítulo 2, quando encontram o menino Jesus.
Mt 2:11
Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra.
Existem várias outras evidências da divindade de Jesus neste Evangelho, que destacaremos em ocasião oportuna.
1.2 – Mas pensemos nas implicações de divindade de Cristo
1.2.1 – Se Jesus é Deus, significa que ele está em toda a parte, quer dizer, ele é onipresente.
Vejamos, por exemplo, Mt 28:20
E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.
Estou deliberadamente deixando de lado o v. 18, onde Jesus nos diz que tem toda a autoridade no céu e na terra; e também o v. 19, onde ele coloca o seu nome em pé de igualdade com o nome do Pai e do Espírito Santo. Quero destacar apenas esta promessa: “Eis que estou convosco todos os dias...”. Além de afirmar a sua existência perpétua, diz que, onde quer que os crentes estejam, ele está junto. Para estar em bilhões de lugares ao mesmo tempo, precisa ser onipresente.
1.2.2 – Se Jesus é Deus, significa que ele sabe todas as coisas, isto é, ele é onisciente
Mt 9:1-4
1 Entrando Jesus num barco, passou para o outro lado e foi para a sua própria cidade.  2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados. 3 Mas alguns escribas diziam consigo: Este blasfema. 4 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal no vosso coração?
Jesus, além de estar em todos os lugares, tem a capacidade de saber todas as coisas. Até o que vai no mais profundo do nosso ser. Conhece nossas mentes e os nossos corações. Conhece as nossas motivações. Conhece os nossos desejos, as nossas necessidades. Os nossos pecados. E de cada ser humano.
1.2.3 – Se Jesus é Deus, significa que ele é todo poderoso
Mt 8:23-27
23 Então, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram.  24 E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia.  25 Mas os discípulos vieram acordá-lo, clamando: Senhor, salva-nos! Perecemos! 26 Perguntou-lhes, então, Jesus: Por que sois tímidos, homens de pequena fé? E, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar; e fez-se grande bonança. 27 E maravilharam-se os homens, dizendo: Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?
Vejam quanta paz Jesus tinha no coração. Estava dormindo. Quem é este? Foi assim, na tempestade, que os discípulos aprenderam que Jesus é aquele que caminha no meio da tormenta [4], que cavalga sobre as nuvens [5], cuja voz é poderosa, que preside as tempestades [6].
2. Mateus nos diz que Deus se fez homem
Deus, que está entre nós, foi concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre de uma mulher. Na linguagem de João, Deus se fez carne. Carne e ossos.
Eu não sei descrever, eu nem mesmo entendo a grandeza desta maravilha. Olhe para o capítulo 2 aqui de Mateus. E nele, você vê o Deus todo poderoso, onisciente, onipresente, na forma de um bebezinho recém-nascido. Precisando ser amamentado. Ter as fraudas trocadas. Receber banho, perfume, usar roupas.
Prossiga nos Evangelhos. Você o vê crescendo. Indo às sinagogas e ao templo. Ele gosta da vida: suas parábolas falam de homens trabalhando, de festas, de danças. Ele gosta de crianças, é benigno com as mulheres, trata a todos com compaixão. Ele presta atenção nas flores, nas estações do ano. Se convidado, ele vai a festas de casamento, e cuida para que a festa não se acabe antes da hora.
Mas, mais uma vez, preciso ser breve; então quero destacar, umas poucas implicações da humanidade de Cristo:
2.1 – Se Deus se fez homem, isto significou ser tentado, como todos os homens
Mt 4:1-3
1 A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.  2 E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome.  3 Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães”.
Nós temos aqui o registro das tentações de Jesus, antes de iniciar seu ministério, antes mesmo de ele começar a chamar seus discípulos. Ele estava no deserto, jejuando e orando. Fez isto por quarenta dias. Então teve fome, e o diabo se aproximou para tentá-lo.
Embora esta tenha sido uma crise muito importante, pela qual ele precisava passar como nosso Salvador, não foi a última. Pelo que conheço, a última tentação de Cristo foi no Getsêmani, onde ele estava se sentido muito amedrontado com o fato de que no dia seguinte passaria por todo aquele sofrimento na cruz.
Mt 26:36-42
36 Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar; 37 e, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. 38 Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo. 39 Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres. 40 E, voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? 41 Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. 42 Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade.
Note no v. 37, os sentimentos de Jesus: começou a entristecer-se e angustiar-se. No 38: “A minha alma está profundamente triste, a ponto de morrer”. Note o pedido ao Pai: “Pai, se possível, passa de mim este cálice, mas faça-se a tua vontade, e não a minha”. De outro modo: “Pai, se tiver outro jeito, sem que seja necessário eu ir para a cruz... mas seja feita a tua vontade”.
Agora, se esta foi a última tentação de Cristo, sabemos que naquele intervalo de três anos entre o início e o fim de seu ministério, Jesus sofreu outras tentações.
Lc 22:28
Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações
Não sabemos dizer quais exatamente foram as ocasiões, mas o escritor aos Hebreus nos diz que ele foi tentado e todas as coisas, à nossa semelhança.
2.2 – Se Deus se fez homem, isto significou sofrer, como todos os homens
Já vimos que ele se entristeceu, se angustiou. Os textos paralelos a Mateus são igualmente fortes
Mc 14:33
E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia.
Lc 22:44
E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra
Deus entre nós. Deus feito homem. O Deus-Homem sendo tentado. O Deus homem sofrendo tristeza. O Deus-Homem angustiado. Apavorado. Amedrontado. A ponto de seu suor se tornar como em gotas de sangue.
2.3 – Isto porque se Deus se fez homem, isto também significou assumir limitações, como todos os homens.
Jesus precisava comer, se não, ficava com fome. Precisava descansar, precisava dormir. Na cruz, queixou-se de que estava com sede, assim como pedira água à mulher samaritana. Seu corpo humano podia morrer.
Se Deus se fez homem, isto significou identificar-se totalmente conosco. Assim ele foi tentado como nós. Sofreu como nós. Tornou-se carne e ossos como nós. E morreu.
E sabe o que é ainda mais maravilhoso? É que depois de ter passado por tudo o que passou, de ter alcançado a nossa salvação, depois que ressuscitou, subiu ao céu e foi restaurado à glória que tinha antes, Jesus continuou e continuará para sempre um ser humano, com carne e ossos. Eu tenho a impressão de que mesmo que nunca houvesse pecado, o plano de Deus era se fazer homem e habitar entre nós.
Mas houve pecado e consequências. Agora, Deus necessitava se encarnar em semelhança de homem pecador? O todo poderoso precisava passar medo? Não. O criador de todos os alimentos carecia passar fome? Não. O doador da vida, e vida em abundancia, a fonte de toda a bem-aventurança e felicidade, tinha que sofrer? Não. O criador dos anjos precisava ser tentado por um deles? É claro que não. Então porque ele fez isto?
Porque “Deus é amor” [7]. E “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” [8].
Isto nos conduz ao último ponto...
3. Mateus nos diz que Deus, que se fez homem, é o nosso Salvador
“Ele salvará o seu povo dos pecados deles”.
E nisto nós vemos dois fatos:
Primeiro: que o propósito de Jesus era nos salvar dos nossos pecados. Com isto eu quero dizer que os milagres que Jesus realizou não eram a sua grande razão de estar no mundo. Os milagres eram fruto de sua compaixão diante das misérias humanas, mas acima de tudo foram realizados para que as pessoas pudessem entender melhor que ele era o Filho de Deus. Depois foram registrados nas Escrituras para que nós crêssemos também. Veja o testemunho de João:
Jo 20:30-31
30 Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro.  31 Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
João nos diz que estes milagres que foram registrados aqui nos levam a crer em Jesus, e crendo tenhamos vida. O grande propósito de Jesus em vir ao mundo foi este: nos dar salvação. Com ele nos diz em Lucas, “... o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido”.[9]
O segundo fato é este: é que para os nossos pecados, o único escape é a salvação. Não existe outra maneira. Para tratar com o pecado, não adianta eu me empenhar em “melhorar de comportamento”, pois a minha natureza humana é incapaz de salva-se a si mesma.  Pois, o que é salvação? É tirar de uma situação de destruição. É tirar de uma situação de morte.  Jesus veio para nos salvar dos nossos pecados
Rm 6:23
Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Jesus Cristo, nosso Senhor.
3.1 – Jesus nos salva da condenação dos nossos pecados
Rm 8:1
Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
É uma salvação contínua, pois continuamos sendo pecadores:
Rm 8:33-34
33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. 34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós”.
3.2 – Jesus nos salva do domínio do pecado
Rm 8:2
Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
Porque quando não conhecemos a Cristo, a única lei que podemos ver em nós mesmos é a lei do pecado que conduz à morte. O pecado tem domínio sobre nossos pensamentos. Só nos dedicamos a cultivar as coisas da natureza humana inclinada por si só ao pecado. Mas quando nos vemos livres da lei do pecado, livres da condenação que ela nos trazia, então nos vemos livres para Deus, para fazer sua vontade. E ainda que muitas vezes tenhamos que chorar e sofrer em nossa luta contra o pecado, somos ensinados pela graça de Deus de modo que vamos amadurecendo e aprendendo a ter vitória; vitória que nos é dada pelo poder do Espírito de Jesus Cristo habitando em nós.
3.3 – Jesus nos salvará do “mundo de pecado”
Rm 8:23
E não somente ela (a criação) , mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
Paulo fala da redenção do nosso corpo. Acontecerá no dia em que Jesus voltar. O dia que aguardamos com ansiedade. Pois daí em diante, nunca mais seremos tentados. E nunca mais pecaremos, eternamente. Nossa salvação estará completa.
Conclusão
Não é à toa que este livro é chamado “Evangelho”. É um livro que nos trás boas notícias. Pois nos fala de Deus, o nosso criador, o nosso provedor, que nos trouxe à existência e que nos sustenta. Pois fala que o nosso criador nos amou, e veio viver entre nós, como um de nós.
Assim ele amou a vida como nós amamos, mas com a diferença de que nunca se deixou dominar pelas circunstâncias, boas ou más. Nunca amou as coisas do mundo de tal maneira que elas o afastassem do Pai celestial. Amou as pessoas como nós amamos, mas com diferença de que seu amor é inesgotável. Assim como nós, ele também sofreu. Fisicamente, emocionalmente, psicologicamente, espiritualmente. E assim como nós, foi tentado em todas as áreas de sua vida. Em suas emoções, em seus pensamentos, em suas necessidades físicas e materiais. Foi tentado em sua confiança no Pai. Mas não cedeu às tentações, pois seu amor pelo Pai era perfeito.
Por fim, Jesus se identificou conosco de tal maneira que assumiu sobre si o castigo dos nossos pecados, e em nosso lugar morreu na cruz, para que nós tenhamos a vida eterna, a salvação de nossas almas.
Aplicação
Você crê nesta boa notícia?
Se você crê, eis aqui alguns frutos desta crença:
1. Não deixe de receber a Jesus como seu Deus, como Senhor de tua vida.
Pois se Jesus veio prá salvar, se ele morreu na cruz para isto, é porque você é pecador e precisa salvação. Jesus não daria sua vida, não derramaria seu sangue precioso, à toa. É por causa de nossa necessidade. Então não recuse a Jesus, se não, você continuará perdido em seus pecados. Se ainda não o fez, aceite a Jesus, entregue sua vida a ele hoje mesmo. Não tenha medo, e não tenha vergonha de seguir a Jesus.
2. Você deve adorar a Jesus. Como os magos, como o leproso, como muitos outros relatados na Bíblia.
Adore a Jesus como seu Deus, e somente a ele.
Não adore a anjos, não adore a santos, não adore a homem algum, pois “ao Senhor adorarás, e só a ele servirás”.
3. Conte com a companhia de Jesus em todo o tempo
Pois ontem, hoje ele é o mesmo, e o será para sempre. Nunca te deixará. Nunca te desamparará.[10] Ele está com você, conhece você, por dentro e por fora. Conhece suas lutas, seus limites, suas tentações, seus pecados, suas necessidades. Conhece e compreende, porque “sentiu na pele” tudo o que você passa. Então ele é um misericordioso sumo-sacerdote, compassivo, que intercede por você, que te ajuda nas horas difíceis [11].
Creia no seu perdão. Creia na sua consolação. Pois “quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.  Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós.  Quem nos separará do amor de Cristo?” [12]. Creia no amor de Jesus. Saiba que o perfeito amor lança fora todo o medo. Então viva sem medo, pois aquele que é amor perfeito está com você [13].
4. Fale de Cristo
Primeiro, porque a boca fala do que está cheio o coração. Mas também, porque as pessoas que não conhecem a Cristo precisam conhecer. Ele, e somente ele, é quem pode salvar a todo pecador.  E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como alguém invocará aquele em quem não crer? E como crerá se não houver quem fale? [14]. Então fale de Jesus, pois quando você sair por estas portas (do templo), você estará saindo para o campo missionário.





[1] Cf. Gn 1
[2] Cf. Lc 1:24-56
[3] Mt 13:55, 56// Mc 6:3
[4] Na 1:3
[5] Sl 68:4
[6] Sl 29
[7] 1ª Jo 4:8
[8] Jo 3:16
[9] Lc 19:10
[10] Hb 13:5
[11] Hb 4:15
[12] Rm 8:33-35
[13] 1ª Jo 4:18
[14] Rm 10:13, 14
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