Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Quando Jesus olha do céu: o coração do nosso Pastor - Mt 9:35-38


IEP, domingo, 27 de janeiro de 2013.
Pr. Plínio Fernandes
O nosso Salvador, o Senhor Jesus é um pastor de almas inigualável. Neste texto, Mateus nos conta como é o coração do nosso Pastor:
1.    É um coração que se compadece com o sofrimento humano
2.    É um coração que acredita na oração
3.    É um coração que acredita no nosso ministério
Isto nos anima a confiar nele, amar aos que sofrem, a orar e a trabalhar pelo reino de Deus.
Amados irmãos, vamos ler Mateus 9:35-38.
35 E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades.36 Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor.37 E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos.38 Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.
Mateus nos conta que Jesus era um trabalhador incansável nos campos do Senhor. Ele percorria todas as cidades e povoados da Galiléia, pregando o evangelho do reino de Deus, curando as enfermidades e libertando os oprimidos do Diabo.
E agora estava chegando o momento de uma nova etapa no ministério dele e dos seus discípulos. Pois logo em seguida, no capítulo 10, este Evangelho nos diz que o Senhor chamou doze entre eles, e os enviou a fazerem as mesmas coisas que ele: pregar e manifestar a chegada do reino de Deus em Israel.
Mas antes de enviar os doze, nós lemos sobre o que se passava no coração de Jesus: ele estava pensando em todas aquelas pessoas que moravam nas aldeias e povoações – e que certamente não eram somente israelitas “puros”, mas também samaritanos, romanos, e pessoas vindas de tantos lugares do mundo, do vasto império romano. Jesus pensava em tanta gente escravizada a muitos pecados; pensava nos enfermos, nos oprimidos do diabo. Pensava no cansaço de alma destas pessoas, nas suas aflições, e o seu coração se enternecia diante do sofrimento humano.
Então ele disse: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.
Jesus, que é o mesmo ontem, hoje, e o será para sempre, continua contemplando as multidões. Eu quero meditar com vocês sobre algo do nosso coração do Senhor, que o Espírito Santo nos revela aqui.
v. 36 - Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor.
O bom pastor se compadecia destas multidões, pois eram pessoas espiritualmente carentes, cansadas, aflitas, e não havia quem cuidasse delas.
Esta nossa palavra “compaixão” é de origem latina, e significa “padecer com”, “sofrer junto”; ter compaixão é a virtude de estar ao lado daquele que sofre. Esta palavra transmite bem o que Mateus está nos falando sobre Jesus. Aliás, transmite bem o testemunho que toda a Bíblia nos dá sobre o coração de Deus em relação a nós. Apenas como um exemplo, leiamos o Salmo 56:8
“Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?”
Deus recolhe as nossas lágrimas. Ele as tem escritas no seu livro. Isto é, os nossos sofrimentos não passam despercebidos aos olhos do Senhor. Ele é alguém que compreende e sente os males, as dores que a nossa alma suporta diante das nossas necessidades, em todo o sentido, seja espiritual ou não. As nossas dores emocionais. Os nossos pecados, as situações que nos afligem. Ele vê quando nossa alma está se sentindo cansada, aflita, vazia, e cuida de nós, nos pastoreia e nos apascenta.
E não vê somente as nossas aflições, mas de cada ser humano, pois os olhos do Senhor estão em todo o lugar, contemplando todos os homens. Ele contempla as pessoas andando nas ruas, absortas em seus pensamentos. Nos ônibus, trens e automóveis, cansadas, preocupadas, tristes. Contempla as pessoas amarguradas de alma, os corações cheios de ira, as inimizades. Contempla as pessoas nos leitos de enfermidade, seja em casa ou hospitais. Contempla as vítimas da maldade humana e de Satanás – as vítimas de crimes, as vítimas de abuso de toda sorte. Contempla as multidões que seguem falsos deuses, falsos evangelhos. Contempla os drogados, os alcoólatras, os que vivem em pecados sexuais. Contempla as pessoas buscando diversões desenfreadamente, buscando bens materiais constantemente, como se as coisas deste mundo pudessem preencher o vazio do coração humano, e não percebem que este é um vazio que só Deus pode preencher. Contempla centenas de milhares de pessoas que amaram o mundo, se desviaram do Evangelho, e que agora vivem sem a paz que o Evangelho dá. Ele contempla as pessoas perdidas, sem ele neste mundo, e se compadece, pois são como ovelhas que não têm pastor.
E anela ser o pastor de cada uma delas. Pois veja o convite que ele faz no cap. 11:28
Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.
Este é o desejo de Jesus, o anseio do seu coração.
Veja: Jesus contempla as multidões. Ele vê que precisam de pastores que cuidem delas. Não que Jesus se iludisse pensando que todas as pessoas queriam ser pastoreadas. Mas compreende que a realidade última de cada coração humano, reconheça ele ou não, queira ele ou não, é uma profunda necessidade de receber a Deus e à sua Palavra.
Então ensina aos discípulos: Rogai ao Senhor da seara que envie trabalhadores...
Há duas ou três coisas que eu gostaria de observar:
Primeira: “Jesus é o homem que veio do céu”: ele sabe, mais que qualquer pessoa, “como as coisas do céu funcionam”. Então, se você quer saber como é que a vontade de Deus pode se realizar na terra, precisa ouvir o que Jesus está dizendo.
Segunda: Jesus está dizendo que o meio de obtermos os favores do céu é através da oração.
Esta palavra, “rogar”, significa “suplicar, pedir com um forte desejo no coração”. Ela me diz que Jesus não pensava na oração como um “poder mágico”, mas como uma troca de afetos entre os filhos de Deus e o Pai celestial, como a súplica de um filho que se reconhece como amado do Pai, e que por isto confia nele. Ele já havia falado disto em Mateus 6, quando nos ensinou que se pedirmos, o Pai dará tudo o que necessitamos, que o Pai nos recompensará se entrarmos em nosso quarto, fecharmos a porta e falarmos com ele (Mt 6:6). E de novo em Mateus 7, onde diz que, se batermos na porta do céu, se buscarmos, isto é, se orarmos com insistência, Deus, como um Pai que dá o que é bom aos filhos, nos dará também muitas coisas boas (Mt 7:7-11).
Agora novamente ele ensina: “Peçam a Deus, supliquem a Deus”, como que dizendo, “pois esta é a maneira como estas multidões sem pastor poderão ser alcançadas”.
Terceira: ele mesmo era um homem de oração.
Depois de ensinar estas coisas, no capítulo 10 aqui de Mateus nós o vemos chamando especificamente a doze dos seus discípulos, que no v. 2 já são designados como “apóstolos”. Ele os envia então às ovelhas perdidas da casa de Israel (10:6), a fim de anunciar a elas o reino de Deus. Agora, em Lucas 6, nós lemos sobre o que Jesus havia feito antes de escolher, entre os discípulos, aqueles que seriam os apóstolos. Vejamos Lc 6:12, 13
12 Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus.  13 E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos
Você sabe que muitas vezes os Evangelhos nos apresentam Jesus orando: orando na solidão, orando diante dos discípulos, orando de dia, orando de noite, orando em casa, orando no deserto, orando no jardim, orando nas tentações, orando nas alegrias.
Orando, orando, orando; e esta é uma destas ocasiões. Ele irá enviar trabalhadores, e então passa uma noite orando ao Pai.
Então veja: diante da grande demanda da necessidade humana, a primeira coisa que Jesus nos diz é que precisamos orar.
E aqui, como em tudo sobre Jesus, meus irmãos, nós podemos notar mais uma coisa extraordinária em sua maneira de pensar. Há duas observações que desejo fazer:
A primeira: é que Israel estava vivendo, como em muitas outras ocasiões no passado, um momento muito triste de sua história. É entristecedor pensar no fato de que Israel tinha tudo para ser a nação mais feliz da terra naqueles dias (e talvez o fosse, o que é mais entristecedor ainda).
Israel havia recebido a Palavra de Deus por meio dos profetas. Era a nação eleita, o povo de propriedade exclusiva de Deus, dentre as quais havia uma tribo em especial, escolhida do Senhor para ministrar a eles a Palavra; Palavra de Aliança; Aliança de vida e paz.
Servir ao povo do Senhor com esta Palavra era a grande responsabilidade e privilégio dos levitas, dos sacerdotes, e dos doutores da lei. Israel tinha milhares de sacerdotes do Altíssimo, herdeiros de uma linhagem antiga e respeitada, escolhida do Senhor para o ministério. Tinha milhares de doutores da lei, tidos como ministros da Palavra que deveriam guiar o povo do Senhor.
Mas estes homens não tinham coração de pastor. Não se importavam com o bem estar das almas. Muitos dentre eles, os saduceus, eram claramente incrédulos quanto a certas doutrinas bíblicas, como a crença em anjos, a crença na ressurreição, na existência de espírito (At 23:8). Muitos daqueles escribas, doutores da lei, eram legalistas, sem misericórdia para com os pecadores e o povo de modo geral. Muitos eram pessoas que amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus (Jo 12:43).
Israel, na verdade, tinha muitos doutores em teologia, mas não tinha pastores. Porque, sabem o que é um pastor? A melhor definição de “pastor” que temos está em Hebreus 13:17
Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.
Este versículo está cheio de verdades tremendas, para as quais devemos atentar em nossa busca de fazer a vontade do Pai. Mas eu quero destacar apenas o propósito daquele que é chamado por Deus para ser um pastor: ele vela pelas almas, como quem há de prestar contas ao Senhor da seara.
Ele não está preocupado, primeiramente, com estruturas, instituições, aparências e legalismos. Ele não está preocupado com o seu “próprio pedigree”, se ele é herdeiro de uma sucessão apostólica que chegue a João Calvino, Lutero ou qualquer outro, mas, sem desprezar o valor de sua herança histórica, entende que o mais importante é o chamado de Deus para cuidar das almas.
Com isto, meus irmãos, não estou dizendo que a igreja não precisa doutores, pois precisa (Ef 4:11), mas precisa de doutores que tenham o mesmo coração de pastor que há em Jesus.
E aqui está o de notável no pensamento de Jesus, que desejo destacar: ainda que o ministério pastoral dos que se entendiam como escolhidos de Deus em Israel estivesse passando por dias de grande fracasso, ainda que eles não fossem, de fato, pastores, o Senhor Jesus ensina aos seus discípulos: Rogai ao Senhor da seara que envie trabalhadores. Deveriam pedir a Deus homens que fizessem a tarefa.
Porque pedir a Deus que mande homens? Porque, usando uma conhecida frase, “homens são o método de Deus”. Homens que sejam fruto de oração. Que sejam fruto do chamado de Deus. Homens que amem as pessoas, que velem pelas almas.
E Deus não abandonara, como não abandonará, esta maneira que estabeleceu para agir no mundo: através de homens cujo coração, ouvindo a voz do Espírito Santo, pertença a ele, que se coloque à sua disposição. Não é o que vemos em toda a história bíblica? E não é o que vemos em toda a história posterior da Igreja? E também não é o que vemos estabelecido como doutrina e preceito para nós?
Por exemplo, vamos ler Efésios 4:11:
E ele mesmo [Jesus] concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres...
Deus não envia anjos celestes, mas anjos humanos para cuidar de suas ovelhas... Então, irmão, peça ao Senhor.
Segundo, e isto é um princípio do reino: aqueles que oram assim, que oram com insistência, fé e amor, que pedem que o Senhor mande trabalhadores, devem eles mesmos estar dispostos a trabalhar para Deus. Porque, viram o que Jesus fez logo depois de ensiná-los a pedir? Ele os envia.
E isto não me parece que isto seja “uma pegadinha de Deus”, mas sim o resultado natural de uma disposição que surge no coração daquele que ora, pois o coração dele está sintonizado com o coração de Deus. Aquele que ora por certo bem, naturalmente será inclinado a buscar aquele bem. Aquele que ora pela conversão das pessoas, será inclinado a buscá-las. Aquele que ora pelo bem-estar da igreja, pela sua paz e pelo seu crescimento, será inclinado a buscá-los.
Com isto, irmãos, não quero dizer que todos vocês, ao orar, devem se sentir chamados para ser pastores, ou evangelistas, ou missionários, ou pregadores em qualquer sentido; mas que ao orar, e esta é a vontade de Jesus, que se coloquem nas mãos de Deus para serem usados conforme ele quiser. Embora muito necessário, nem todos são chamados para pregar. Mas cada um de nós tem pelo menos um dom espiritual.
Prossigamos aqui em Efésios 4, agora do v. 12 ao 16:
12 com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo 13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo,14 para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.15 Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,16 de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.
Então veja: de acordo com a sequência aqui apresentada, o propósito de Deus é que, tendo recebido a Palavra por meio dos que têm o dom de ministrá-la, cada pessoa da igreja, igreja, que ele diz, é corpo de Cristo, na qual cada pessoa é um membro, cada pessoa desempenhe o seu serviço, a fim de que os filhos de Deus sejam edificados no caráter, na doutrina, no aumento do rebanho de pessoas pastoreadas por Jesus.
Todo aquele que ora por obreiros, ele mesmo se transforma, ou antes, é por Deus transformado num obreiro de Deus. Que coisa tremenda, o sermos chamados “cooperadores de Deus” (1ª Co 3:9), gente que trabalha com ele. Não é muito bonita a maneira como Deus faz as coisas? Não é muito bonito o coração de nosso Pastor Jesus?
Concluindo...
Neste momento, meus irmãos, nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo, está no seu trono no céu, assentado à direita de nosso Deus e Pai (Hb 1:1-3). A partir de seu trono, ele tem toda a autoridade, no universo inteiro (Mt 28:18-20).
Ali está ele governando soberanamente sobre os céus e a terra, e de um modo que podemos chamar “muito especial”, governando sobre a sua igreja, e sobre cada um de nós, os crentes, em particular.
Ali ele está desfrutando de toda a glória que tinha com o Pai desde antes da criação do mundo (Jo 17:5). Em todo o tempo ele recebe a adoração dos seres celestiais, e dos espíritos dos justos aperfeiçoados, e também recebe a nossa adoração (Hb 12:22, 23).
Do trono dos céus ele envia os seus anjos, ministros seus em favor daqueles que hão de herdar a salvação (Hb 1:4). Estando à direita da Majestade de Deus nas Alturas, uma das coisas que ele faz é interceder em nosso favor continuamente (Rm 8:34; Hb 7:25).
Ele nos defende contra as acusações de Satanás (1ª Jo 2:1), ele roga ao Pai que nos dê mais do seu Espírito (Jo:14:16), ele nos protege em suas mãos e nas mãos do Pai (Jo 10:28). E assim ele fará sempre, até a consumação da história da salvação.
Por causa de todas estas coisas, nós sabemos que nossa vida está em boas mãos. Que nossa alma está segura. Que a boa obra começada em nós há de ser aperfeiçoada (Fp 1:6). Jesus é o nosso Rei e Sacerdote, é o nosso Senhor e Salvador.
Mas irmãos, no presente momento, enquanto Jesus não volta, enquanto o reino de Deus ainda não veio em toda a sua plenitude, enquanto ainda estamos gemendo neste corpo, aguardando a nossa redenção, e não somente nós, mas a criação inteira (Rm 8:17:23), esse nosso Rei e Sacerdote, não está com o coração descansado de seus sofrimentos. Conforme Paulo nos diz na carta aos Colossenses, ainda restam aflições de Cristo em favor do seu corpo, que é a Igreja (Cl 1:24).
1. Quando olha do céu, Jesus, que é o mesmo ontem, hoje e o será para sempre, e vê as multidões aflitas e exaustas, continua tendo o mesmo coração.
Ele se alegra com as nossas alegrias (Hb 2:11-13), mas ainda se aflige com os nossos sofrimentos, se compadece com as nossas fraquezas e pecados (Hb 4:15), e também das muitas pessoas deste mundo, que sofrem como ovelhas que não têm pastor.
Primeiro, isto quer dizer que você, se ainda não tem a Jesus como seu pastor, poder tornar-se uma ovelhinha dele agora. Porque ele quer ser o seu pastor.
Você está cansado e oprimido? Venha a Jesus. Você está cansado com os teus próprios pecados? Venha a Jesus. A sua alma está vazia? Venha a Jesus. Creia nele. Receba a Jesus como o seu Salvador. E ele será o seu pastor a partir de então.
Segundo: crente em Jesus, você tem um pastor para a sua alma:
Deixe-o cuidar de você. Confie nele pra tudo. Confie nele em tudo. Entregue a ele cada preocupação, cada sofrimento, cada dor, cada necessidade, cada aflição. E descanse nas águas tranquilas.
Terceiro: você quer aprender com Jesus?
Se ele é o teu pastor, descanse, saiba que nada te faltará, e volte os seus olhos para o mundo. Mas, lembra-se de quando Jesus não era o teu pastor? Lembra-se de como era carregar o fardo dos seus pecados? Sem paz no coração?
Olhe para o mundo: olhe para as pessoas à sua volta, com os olhos de Jesus. Olhe para os aflitos, para os sem Deus neste mundo, olhe para os que estão caminhando a passos largos para o inferno. E tenha compaixão.
2. Jesus também continua a confiar no poder da oração, isto é, no poder da comunhão com Deus. Ele mesmo continua a interceder por nós, continuamente
Faça como ele ensinou. Ore. Rogue; suplique com insistência.
Ore que Deus levante muitos obreiros. Muitos homens e mulheres, jovens e velhos, e crianças, gente que ele chame, que ele capacite, que ele use. Ore por mim, ore por nossos presbíteros, pois são pastores comigo. Ore pelo poder do Espírito Santo em nossa vida. Ore pela igreja, pelas igrejas, pela nossa igreja. Ore pelo derramar do espírito Santo sobre nós. Peça ao Pai. Peça, busque, bata.
3.  E Jesus também continua a crer no ministério dos homens. Homens que o amam, chamados pelo Pai, enviados pelo Espírito.
Ele continua a vocacionar, a conceder dons, e a usar os seus escolhidos. Acredite nisto também. Acredite no ministério daqueles homens que você vê que amam as coisas do céu, que amam a Palavra, que amam as almas, que buscam a salvação de almas. E seja um deles. Use seus dons, use suas oportunidades, use seus recursos, use tudo o que você é e tudo o que você tem, para a salvação de almas, para o progresso do reino de Deus na terra.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Como vencer a amargura - 1º Samuel 30:1-9

3ª IPC de São Paulo
Domingo, 13 de abril de 1997
Pr. Plínio Fernandes
Ef 4:31
Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia.
1º Sm 30:1-9
1 Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens, ao terceiro dia, a Ziclague, já os amalequitas tinham dado com ímpeto contra o Sul e Ziclague e a esta, ferido e queimado; 2 tinham levado cativas as mulheres que lá se achavam, porém a ninguém mataram, nem pequenos nem grandes; tão-somente os levaram consigo e foram seu caminho.3 Davi e os seus homens vieram à cidade, e ei-la queimada, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas eram levados cativos.4 Então, Davi e o povo que se achava com ele ergueram a voz e choraram, até não terem mais forças para chorar.5 Também as duas mulheres de Davi foram levadas cativas: Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a viúva de Nabal, o carmelita.6 Davi muito se angustiou, pois o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por causa de seus filhos e de suas filhas; porém Davi se reanimou no SENHOR, seu Deus.7 Disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui a estola sacerdotal. E Abiatar a trouxe a Davi.8 Então, consultou Davi ao SENHOR, dizendo: Perseguirei eu o bando? Alcançá-lo-ei? Respondeu-lhe o SENHOR: Persegue-o, porque, de fato, o alcançarás e tudo libertarás.9 Partiu, pois, Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se achavam, e chegaram ao ribeiro de Besor, onde os retardatários ficaram.
Nos capítulos 4 a 6 da carta aos Efésios, o Espírito Santo está ensinado que, os que confiamos em Jesus e o seguimos, temos diante de nós a proposta de uma vida simplesmente maravilhosa, na qual, acompanhando o Senhor em nossa vida diária, aprendemos a desenvolver um caráter semelhante ao dele.
Somos encorajados a ser imitadores de Deus como filhos amados, e andar em amor, como Cristo também andou. Ele nos anima a ser benignos, compassivos, fiéis, perdoadores, misericordiosos, graciosos no falar. E entre as atitudes de coração que ele nos exorta a cultivar está esta, no v. 31: longe de vós toda a amargura.
Jesus não foi um homem amargurado, antes, de alma doce e gentil; como filhos de Deus, queremos ser como ele. Eu desejo associar o mandamento que Deus nos dá em Efésios ao episódio da vida de Davi narrado no texto de 1º Samuel 30:1-9.
Aconteceu nos dias em que Davi ainda não era rei: ele e seu “exército” (um grupo de seiscentos homens) habitavam numa cidade chamada “Ziclague”. Haviam saído para uma expedição, e quando voltaram, a cidade fora saqueada, e os habitantes, os familiares de Davi e seus homens, haviam sido sequestrados.
Todos eles ficaram muito angustiados, e choraram tanto que já não tinham mais forças prá chorar. Os homens de Davi foram de tal forma tomados de amargura, que falavam em apedrejá-lo. Mas Davi venceu a angústia.
Temos aqui um valioso ensino sobre como cumprir o mandamento do Senhor, que nos diz: “Longe de vós toda a amargura” (ARA); “Toda a amargura seja tirada de vós” (ARC).
Como ter vitória sobre a amargura.
Primeiramente consideremos...
1. O que é amargura
Amargura é o substantivo relacionado ao adjetivo “amargo”: algo em que falta doçura, que tem sabor desagradavelmente forte, azedo. Por exemplo, se nós pensamos em alguma coisa de sabor amargo: jiló, água  tônica, fel.
Amargura denota um estado de alma; uma disposição de espírito que retrata falta de doçura na alma; disposição interior que denota tristeza, angústia, azedume, sentimento prolongado de tristeza.
1.1 - Algumas pessoas passam por momentos de amargura.
Por exemplo, é o caso de Davi e seus homens em nosso texto
vs. 4, 6 - Então, Davi e o povo que se achava com ele ergueram a voz e choraram, até não terem mais forças para chorar... Davi muito se angustiou, pois o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura..., cada um por causa de seus filhos e de suas filhas
Também é o caso de Asafe, como ele confessa no Salmo 73:21, 22
Quando o coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença.
E de Ana, que chorou e com amargura de alma orou ao Senhor – 1º Sm 1:10, 11
Levantou-se Ana, e, com amargura de alma, orou ao SENHOR, e chorou abundantemente.
Mas em todos estes casos, a amargura foi algo que passou, que ficou para trás.
1.2 - Outras pessoas vivem em amargura permanente.
Isto aconteceu durante muito tempo, por exemplo, com Noemi – personagem muito importante na história de Israel: nora de Rute, avó paterna do Rei Davi.
Seu nome, Noemi, significa “Agradável”. Mas Noemi foi submetida a muitas provações. Sua família, fugindo de um período de fome em Israel, fora residir na terra de Moabe. E ali seus dois filhos se casaram. Durante algum tempo, a tranquilidade parecia ser permanente naquela família.
Mas Elimeleque, marido de Noemi, veio a falecer. Depois também vieram a falecer seus dois filhos, ficando as três viúvas desamparadas. Diante de tantas provações, ao voltar com sua nora, Rute, para a terra de Israel, Noemi já não mais que a chamassem assim. Preferiu que fosse chamada Mara significa “Amarga”.
Leiamos Rt 1:20, 21
19 Então, ambas [Rute e Noemi] se foram, até que chegaram a Belém; sucedeu que, ao chegarem ali, toda a cidade se comoveu por causa delas, e as mulheres diziam: Não é esta Noemi? 20 Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso. 21 Ditosa eu parti, porém o SENHOR me fez voltar pobre; por que, pois, me chamareis Noemi, visto que o SENHOR se manifestou contra mim e o Todo-Poderoso me tem afligido?
O caso de Noemi nos leva à segunda consideração...
2. Quais são as causas  (ou qual é a causa) da amargura?
O que torna uma pessoa amargurada de coração é o sofrimento, ou melhor, o não saber lidar com o sofrimento.
2.1 – Sofrimento que pode ser causado pelas circunstâncias
Como vemos no caso de Davi e seus homens, em nosso texto, e também no caso de Noemi
Sofrimento que pode ser causado pela perda de bens materiais, de dinheiro, pela perda do emprego, da saúde, e muitas outras circunstâncias
2.2 – Sofrimento que também pode ser causado quando outras pessoas nos atingem:
A infidelidade  de um amigo, a inimizade de alguém, ou quando não nos sentimos amados.
Agora vejamos...
3. As consequências da amargura
3.1 - Sentimento de abandono
Leia novamente Rt 1:21 e 23.
Noemi, como um pessoa que cria na soberania de Deus, parece ter ficado magoada contra ele, e ao contrário de Jó, que continuou a louvar ao Senhor, independente das circunstâncias, não teve disposição para adorar.
3.2 - Autocomiseração – Noemi, que já não queria ser chamada Noemi, mas Mara, demonstra pena de si mesma, sentindo-se vítima, dominada pelo desânimo, pelo choro, pela depressão.
3.3 – Outra consequência que pode ser observada na pessoa amargurada é a hostilidade, a ira
No texto que temos lido em 1º Sm 30:6, vemos que os homens de Davi, que o amavam e seguiam, diante da grande sofrimento pelo qual estavam passando, começaram a culpar seu líder, e falavam em apedrejá-lo.
Em Cl 3:19, Deus trás uma exortação aos maridos, no trato com suas esposas:
Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amargura.
Porque será que o Senhor dirige esta exortação especialmente aos maridos? Me parece que é por causa de nossa inclinação evasiva desde o primeiro pecado. Quando o Senhor, ali no jardim do Éden perguntou ao nosso primeiro pai, Adão, porque ele havia transgredido sua Palavra, o homem respondeu: “a mulher que tu me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gn 3:12).
E quantas vezes não tenho ouvido outros homens dizerem coisas semelhantes, queixando-se de que se sentem fracassados, porque suas esposas não ajudam, e coisas parecidas. E se tornam hostis e rudes para com elas.
Pessoas amarguradas podem se tornar terrivelmente destrutivas. Na sua frustração, atacam os outros. São agressivas  mesmo quando você quer ajudá-las. Você não pode brincar com elas, porque se magoam – se você rir pra ela, pensará que esta rindo dela.
Você não pode repreendê-las. Não pode ser carinhoso, cuidadoso com outros – elas ficam tristes com você, dizendo que você só se preocupa com os outros. São supersensíveis; não esquecem; ficam guardando mágoas. São pessoas difíceis de lidar, negativas. Inclinadas a ver os problemas, não as soluções, o mal e não o bem.
3.4 – Também contagiam outras pessoas
Veja Hb 12:15
Nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados
Veja na história de Israel: quantas pessoas não foram contagiadas e incitadas ao pecado quando gente amargurada e rebelde se pôs a falar de suas mágoas? Não foi assim na revolta de Coré, Datã e Abirão, contra Moisés e Arão? E levaram muitos israelitas ao mesmo pecado (Nm 16).  Da mesma forma as muitas vezes em que os israelitas se queixaram de seus líderes, a ponto de dizer que preferiam ter ficado no Egito. Era uma coisa contagiosa, que conduzia a outros pecados e derrota da igreja do deserto.
Por isto o Senhor nos admoesta a que não nos deixemos possuir de um espírito assim. Pessoas amarguradas fazem com que outras pessoas se desanimem. Colocam uns contra os outros. Colocam-se contra os outros, e colocam os outros contra si mesmas.
3.5  – Outra consequência é a derrota espiritual
Em Rm 12:21, o Senhor nos diz:
Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.
A amargura é um mal, primeiro porque é pecado contra Deus. Segundo, porque causa mal às pessoas que se relacionam com o amargurado. Terceiro, porque é derrota espiritual, emocional, social, na vida daquele que é por ela dominado. Por isto precisamos vencê-la.
Então também vejamos...
4. Como vencer a amargura
Voltemos a 1º Sm 30:6-8, e vejamos o exemplo de Davi.
6 Davi muito se angustiou, pois o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por causa de seus filhos e de suas filhas; porém Davi se reanimou no SENHOR, seu Deus. 7 Disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui a estola sacerdotal. E Abiatar a trouxe a Davi. 8 Então, consultou Davi ao SENHOR, dizendo: Perseguirei eu o bando? Alcançá-lo-ei? Respondeu-lhe o SENHOR: Persegue-o, porque, de fato, o alcançarás e tudo libertarás.
No meio de sua dor, Davi não se deixou vencer pela mágoa.
Ele teve fé, confiou no Senhor. Sabia que Deus tinha uma orientação sobre o que ele deveria fazer. Sabia que “ao homem que teme ao Senhor, ele o instruirá no caminho que deve escolher" (Sl 25:12).
Ele buscou a palavra de Deus – ele não tinha a Bíblia, tal como a temos agora, mas consultou ao Senhor de acordo com a revelação de Deus naquele momento da história – e o Senhor lhe deu a Palavra de vitória.
Agora temos a Bíblia, Palavra de Deus escrita, completa e toda ela ao nosso alcance. A Bíblia, e tudo o que nela se contém é uma Palavra de vitória a todos os que confiam no Senhor. Se você é crente em Jesus, você é um eleito de Deus (Ef 1:3,4). Nada pode separar você do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm 8:39). Todas as coisas que acontecem cooperam para o seu bem (Rm 8:28,18). Nada pode derrotar você (2ª Co 4:7-10) Davi cria nestas coisas, cria na Palavra da verdade, foi à luta (obedeceu), e Deus lhe deu vitória.
Vamos concluir, querido.
O Espírito de Deus nos ordena: “Seja tirada de vós toda a amargura”.
A amargura é destrutiva, é um mal, um pecado, que entristece o Espírito Santo, nos trás derrota espiritual e faz mal às pessoas. Vencê-la é um mandamento e uma necessidade. Vencê-la trás glória a Deus e alegria para nossa alma.
Mas também é uma promessa, pois se o Senhor nos ordena vencê-la, então junto ao mandamento nos concede a graça necessária para que o cumpramos. Ele coloca o poder do seu Espírito à nossa disposição
Talvez exista amargura em seu coração. Talvez um ressentimento que não sai do seu pensamento. Uma atitude que azeda sua alma, separa você de Deus, de outras pessoas, e o deixa cheio de conflitos internos. Você pode vencer a amargura agora.
1. Se você ainda não é crente em Jesus Cristo, isto é, se você ainda não entregou-se a Jesus, precisa antes fazer isto
Pois sem ele nós nada podemos fazer (Jo 15:5). Mas em Ap 3:20 há uma promessa bendita a qualquer pessoa que o ouvir e nele crer:
Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.
Note a condição individual, e que se estende a todos: Se alguém, isto é, qualquer pessoa que ouvir, que abrir a porta da alma, do coração, para mim, para a minha Palavra, eu entrarei, terei comunhão com ele e ele comigo.
Se você convidar a Jesus para fazer morada em sua vida, ele virá, e entrará. Então você poderá contar com o poder do Espírito do Senhor Jesus .
2. Se você é crente em Jesus Cristo, lembre-se de que você tem o Espírito Santo habitando em seu coração – o amor de Deus é derramado em seu coração, pelo Espírito Santo que lhe foi dado (Rm 5:5).
Deus te manda orar? Ore. Deus te manda amar? Ame. Deus te manda perdoar? Perdoe. Precisa se reconciliar com alguém? Reconcilie-se. Deus te manda ser humilde? Seja Humilde. Deus te manda esquecer? Esqueça.
Quem sabe, no seu coração você não esteja magoado é com o Senhor. Então confesse seu pecado ao Senhor. Reconcilie-se com Deus. Falo com embaixador do Senhor. Reconcilie-se com o teu Pai celestial.
Faça isso hoje. Não deixe para vencer amanhã. Não deixe o diabo ficar mais nem mais um minuto com a vitória. Abandone seu pecado agora. O que o Senhor ordenar, faça, e ele irá abençoar. 
                         
                              Baixe em EPUB          Baixe em PDF           Baixe em MOBI

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Mateus - O Senhor nos deu este Evangelho


Mateus 28: 18-20
Igreja Evangélica Presbiteriana,
Domingo, 4 de março de 2012
Pr. Plínio Fernandes
Meus amados, vamos ler Mateus 28:18-20
18 Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. 19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; 20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.
Certo dia, há muito tempo atrás, numa cidadezinha da Galiléia chamada Cafarnaum, um homem comum, cobrador de impostos chamado Mateus, novamente levantou-se pela manhã e saiu para mais um dia de trabalho.
Assim como para a maior parte do povo judeu, a vida de Mateus não era fácil. Porque mesmo quando um povo é governado pelos seus compatriotas, na maior parte das vezes a injustiça social é muito grande.
Mas os judeus daqueles dias eram dominados pelos romanos. Eles não podiam se dirigir pelas suas próprias leis internas. Todos os servidores públicos trabalhavam para os romanos. Os impostos eram altíssimos, e a vasta maioria da população era muito pobre.
E então o povo, de modo geral, se sentia oprimido, triste e insatisfeito, e orava ansiosamente para que, a exemplo do que havia acontecido na antiga história de Moisés, a providência divina lhes enviasse um salvador. Aliás, eles não somente oravam, mas muitas vezes havia levantes populares, buscando, através da luta armada, a libertação de Israel. Levantes populares que foram todos sufocados pelas forças militares romanas.
Eles oravam porque eram um povo extremamente religioso. Entendiam-se como uma nação que veio à existência por causa da aliança que Deus fizera com o seu grande patriarca Abraão, havia mais de dois mil e quinhentos anos. Um povo que, segundo as promessas de Deus, se multiplicou, recebeu a Palavra do Senhor por meio dos profetas, e deveria ser uma luz com a mensagem de Deus para todas as nações.
Mas, se de um lado, politicamente falando eles estavam oprimidos sob o domínio dos romanos, por outro lado a vida religiosa não era diferente; pois a fé judaica estava amarrada a um emaranhado de invenções, tradições e leis humanas, e dividida em vários grupos sectários que, mesmo tendo as Escrituras na mão, haviam se distanciado dos ensinamentos delas, e não andavam conforme os desejos de Deus.
Então havia as facções dos fariseus e dos saduceus, e dentro destes grupos, os escribas e os sacerdotes. Sem falar dos zelotes, que eram religiosos guerrilheiros; e dos essênios, uma seita com tendências místicas, que vivia separada da sociedade em geral. E havia uma coisa em comum entre todos estes grupos: é que poucas pessoas eram realmente piedosas, tementes a Deus, que seguiam as Escrituras. A vasta maioria não era assim.
A população, de modo geral, tinha respeito pelos líderes religiosos, mas sentia-se oprimida também por eles, pois eram autoritários, desamorosos, condenadores. Do ponto de vista de muitos destes líderes, para os que caíam em pecados grosseiros, como adultério e prostituição, não havia perdão.
Aliás não havia perdão para muitas “modalidades de pecado”, incluindo aí muitos tipos de profissão, entre elas a dos cobradores de impostos, como era o caso de Mateus. Pois, segundo eles, como Deus poderia perdoar alguém que trabalhava para os inimigos do seu povo escolhido? E naturalmente, sendo um cobrador de impostos, Mateus também era desprezado por muitas pessoas do povo em geral.
Mas o que aconteceu naquele dia mudou completamente a vida de Mateus. Ele estava na coletoria, fazendo o seu trabalho, quando Jesus passou por ali. Jesus era um Mestre religioso, mas não como os outros. E não sei o que Mateus conhecia de Jesus antes daquele dia, mas sei que quando Jesus passou por ele, olhou bem nos olhos e disse: “Segue-me”. E Mateus simplesmente levantou-se imediatamente, e passou a ser um discípulo de Jesus.[1]
Daí em diante começou a ouvir ensinamentos do Senhor, completamente diferentes de tudo quanto escutara antes. E não somente ele, mas multidões de pessoas, a ouvir os ensinamentos de Jesus, exclamavam: “Que doutrina extraordinária”. Pois chamava a todos, indistintamente, ao arrependimento; falava sobre salvação para todo tipo de pessoas. Os piores pecadores se aproximavam dele e tinham seus pecados perdoados. Suas vidas eram restauradas.
Mateus, assim como os demais discípulos, viu Jesus pregar a mensagem do reino de Deus, viu Jesus libertar pessoas oprimidas pelo diabo, viu Jesus curar enfermos, ressuscitar mortos, ouviu Jesus dizer que ele era o Cristo, o Messias prometido pelos profetas. Ouvir Jesus dizer que morreria pelos pecadores, mas que depois de três dias ressuscitaria. Mateus não somente ouviu Jesus falar isto, mas viu Jesus ser preso, crucificado e morto. Também viu Jesus ressuscitado. E assim como mais de quinhentas pessoas, viu Jesus subir ao céu diante dos seus olhos, prometendo que um dia voltará para nos buscar. Por fim, assim como os demais apóstolos, Mateus ouviu as palavras de Jesus, no sentido de que, quando viesse sobre eles o poder do Espírito Santo, eles deveriam ir por todo o mundo pregando o evangelho da salvação, até que ele volte, para que todos quantos ouvirem tenham a oportunidade de conhecer o caminho do reino de Deus.
Assim, Mateus, juntamente com os demais apóstolos, depois da partida de Jesus, no dia do Pentecoste, recebendo o Espírito Santo prometido, dedicou-se a pregar o Evangelho. E muitos anos mais tarde, inspirado pelo mesmo Espírito, colocou os ensinos de Jesus por escrito, de maneira que eles pudessem ser transmitidos de geração em geração.
É desta forma que, através de quase dois mil anos, pela vontade de Jesus, o Evangelho de Mateus chegou até nós: é o testemunho de um homem que encontrou Jesus, ou para falar de um modo mais preciso, foi encontrado por ele, que teve sua vida transformada, que viu muitas vidas serem transformadas, que foi ensinado pessoalmente pelo Senhor, que o viu morrer, ressuscitar, subir ao céu, e que anos depois selou o testemunho de sua fé dando sua própria vida [2]. Hoje nós vamos começar nossos estudos neste Evangelho.
Primeiramente vamos considerar...
1. O que é Evangelho
A palavra evangelho é de origem grega, e significa “boa notícia”. Dentro do contexto bíblico ela é usada para designar a boa notícia do amor de Deus por nós, que o motivou a enviar Jesus para ser o nosso Salvador. No Antigo Testamento há uma passagem muito bonita, que mais tarde o apóstolo Paulo cita na carta aos Romanos[3], anunciando o Evangelho da Salvação em Jesus:
Is 52:7
Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!
Esta palavra, “boas-novas”, no texto grego, é “evangelho”. O profeta nos diz que “evangelho” é notícia boa, notícia de paz, notícia que fala do reino de Deus, que fala de salvação. Assim, uma palavra que podemos dizer, era “comum” na língua grega, tornou-se um termo próprio da religião cristã, para designar a notícia do amor de Deus por nós e da vida eterna.
Os evangelistas, quero dizer, os homens que escreveram os Evangelhos que temos na Bíblia, usam esta palavra para resumir tudo quanto Jesus ensinou. Por exemplo:
Mt 4:23
Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho [isto é, a boa notícia] do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo
Mt 24:14
E será pregado este evangelho [boa notícia] [4] do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim
Mt 28:18-20
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.  19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;  20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”
Esta foi a grande missão que Jesus aos seus apóstolos, depois de sua ressurreição, a sua última ordem antes de subir ao céu. Aqui nós vemos que o ensino dele deve ser transmitido de geração em geração, para pessoas de todas as nações, a fim de que elas também se tornem discípulos do Senhor.
Note três coisas importantes nesta tarefa de fazer discípulos: Primeira: que os discípulos sejam batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. As implicações deste mandamento do Senhor nós iremos considerar em ocasião oportuna. Segunda: que os discípulos devem ser ensinados, não somente sobre o batismo, mas também sobre tudo quanto Jesus ordenou. Isto quer dizer, meus irmãos, que aprender dele é tarefa para nossa vida inteira. Terceira: à medida em que o ensino de Jesus está sendo transmitido, aqueles que o ensinam podem contar com a assistência dele. A promessa é esta: “eis e que estou convosco todos os dias, até à consumação do século...”
Agora vejamos o texto paralelo, em Marcos:
Mc 16:15-16
E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.  16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”.
A palavra que ele usa para o ensino de Jesus é Evangelho. À luz do que temos dito até agora, será que para uma pessoa ser salva ela precisa conhecer cada palavra que Jesus ensinou, e obedecer cada mandamento inquestionavelmente? Não. Não é isto o que Jesus nos diz.
Quando Jesus ensinou a respeito do reino, quando deu mandamentos, o que ele estava fazendo era colocar diante de nós, aquilo que Deus deseja, e consequentemente os alvos que devemos ter como seus seguidores. Por isto devemos aprender, nos esforçarmos por viver de acordo com isto, e também ensinar para outras pessoas. Para isto podemos contar com a ajuda do Espírito Santo.
Mas a nossa salvação não nos é dada como consequência de nossas obras. Se assim fosse, nenhum de nós seria salvo. Pois, por mais que ansiemos e busquemos, não chegaremos a uma maturidade tão grande que nos tornaremos impecáveis. A salvação, nos ensina Jesus, é pela fé. “Quem crer e for batizado será salvo. Quem porém não crer, será condenado”. Note que Jesus não disse: “quem não for batizado será condenado”. Ele disse: “quem não crer será condenado”. A condição então é que creiamos em Jesus.
Nós não temos, agora, como ver tudo quanto Jesus ensinou (para aprender um pouco mais é que vamos passar alguns domingos meditando sobre o Evangelho de Mateus), mas eu quero apenas assinalar o que ele diz sobre o perdão dos nossos pecados para a salvação. Este ensino foi dado, entre outras ocasiões, na noite em que Jesus foi traído por Judas, a noite em que ele instituiu a santa ceia:
Mt 26:26-28
Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo.  27 A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos;  28 porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados
Evidente que o pão e o cálice de vinho não eram, literalmente corpo e sangue de Jesus, mas os simbolizavam. Jesus diz que o sangue dele, que seria derramado na cruz, na manhã seguinte, era o sangue da nova aliança de Deus conosco, para a remissão, isto é, para o perdão dos nossos pecados. Mais tarde, o apóstolo Paulo escreveu que esta é a essência de todo o evangelho de Jesus: Se você crer que Jesus morreu pelos seus pecados, você será salvo.
1ª Co 15:1-4
Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais;  2 por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão.  3 Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,  4 e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras
Evangelho, pois, é a boa notícia do amor de Deus por nós; amor que se manifestou em enviar Jesus, o seu Único Filho, ao mundo, para nos ensinar sobre o reino de Deus, para nos dar fé, para morrer pelos nossos pecados; a fim de salvar a todo aquele que nele crer.
Mas os irmãos notaram que estamos falando do Evangelho “no singular”, como sendo a totalidade da mensagem de salvação que nos foi trazida em Jesus Cristo. Então, porque também falamos dos “Evangelhos”, no plural? Porque Evangelho de Mateus, Evangelho de Marcos, Evangelho de Lucas e Evangelho de João? E porque Paulo fala de seu ensino sobre Jesus como sendo “o meu Evangelho”?[5]
Porque quatro evangelhos, se a mensagem é uma só?
2. Porque quatro evangelhos em nossas Bíblias
Quero apresentar duas razões básicas pelas quais temos estes “quatro evangelhos” em nossas Bíblias.
2.1 – A primeira delas é o desenvolvimento histórico natural da Igreja Cristã.
Depois que Jesus subiu ao céu, em cumprimento de sua missão, os discípulos começaram então a pregar o Evangelho, primeiramente em Jerusalém, depois por toda a Judéia, na Samaria e assim por diante, até chegar à capital do império, a cidade de Roma. Na carta de Paulo aos Colossenses, parece que ele dá a entender que o Evangelho foi pregado em praticamente todo o império romano [6]. E assim, o número de cristãos foi se multiplicando.
Com o passar do tempo, como é natural, começou-se a sentir a necessidade de transmitir por escrito os ensinamentos de Jesus, tanto para os que já eram discípulos quanto para a divulgação da fé entre os que ainda não haviam ouvido o Evangelho. Assim, em vários lugares, as obras e os ensinamentos de Jesus começaram a ser escritos.
Existem vários registros históricos que nos falam da maneira como os quatro Evangelhos surgiram. Ainda que não o mais antigo, um dos mais completos foi escrito por aquele que é considerado o primeiro historiador da igreja, Eusébio de Cesaréia.
Entre outras coisas ele escreveu que Mateus, tendo “pregado aos hebreus, quando estava a ponto de ir para outros, entregou por escrito seu Evangelho, em sua língua materna, fornecendo assim por meio da escritura o que faltava de sua presença entre aqueles de quem se afastava...[7]
A respeito de Marcos, Eusébio também nos conta que ele era companheiro do apóstolo Pedro em suas viagens missionárias. E que quando estavam em Roma, não satisfeitos em ouvir muitas vezes as história de Jesus que Pedro contava, os romanos insistiram com Marcos, a fim de que ele as escrevesse. Foi assim que, após a partida de Pedro, surgiu o Evangelho de Marcos.[8]
Da mesma forma que Marcos recebeu seu Evangelho dos ensinamentos de Pedro, Lucas, além de ter ouvido Paulo muitas vezes, fez uma acurada pesquisa, tanto em livros, como entre os que foram testemunhas oculares da história de Jesus, e com base no testemunho deles escreveu tanto o seu “Evangelho de Lucas” como a sequência dele, o “Atos dos Apóstolos”.
Tanto no Evangelho como em Atos, Lucas inicia seus livros dirigindo-se a um homem chamado Teófilo (um nome grego que significa “que ama a Deus”), explicando que os escreveu a fim de que Teófilo pudesse ter plena certeza das coisas que ouvira sobre Jesus.[9]
Assim temos o Evangelho de Mateus, que foi escrito para os hebreus, o Evangelho de Marcos, que foi escrito para os romanos, o Evangelho de Lucas, que foi escrito para um grego, chamado Teófilo.
E por último, Eusébio nos diz que João escreveu seu Evangelho na Ásia, em Eféso, no fim de sua vida, para suprir relatos que faltavam nos três primeiros[10].
Desta maneira, nós temos quatro relatos do Evangelho em nossas Bíblias por causa dos desenvolvimentos históricos pelos quais a Igreja de Cristo passou em seus primeiros anos.
2.2 – A segunda razão básica para termos quatro Evangelhos é, digamos assim,  doutrinária
Com isto quero dizer que, por trás dos acontecimentos históricos, estava a boa mão de Deus, usando homens com personalidades e culturas diferentes, estilos diferentes, que tinham “auditórios” com necessidades diferentes, inspirando estes homens para que cada um nos desse sua contribuição particular, a fim de que tenhamos um conhecimento maior de Jesus. Embora concorde com as narrativas dos demais, cada um deles ressalta um aspecto importante de Jesus; de sua pessoa e de suas obras.
Por isto, desde há muito tempo, foi observado que Mateus, sem deixar de falar sobre outros aspectos de nosso Salvador, nos apresenta Jesus proeminentemente como o Messias, o rei prometido através dos profetas.[11]
A ênfase de Mateus está em Jesus como o rei ungido, enviado por Deus para manifestar seu reino entre os homens. Em Mateus, Cristo é apresentado como o Filho de Davi, o Rei dos judeus, e tudo em suas narrativas gira em torno dessa verdade. O Evangelho é o Evangelho do Reino dos céus. Isso explica porque Mateus começa com a apresentação da genealogia real de Cristo, e porque no segundo capítulo registra a história da viagem dos sábios do Oriente, que chegaram a Jerusalém perguntando “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?”.
Em Marcos, temos a figura de Cristo como o Servo de Javé, aquele que, embora fosse rei, se humilhou e “assumiu a forma de servo”. Tudo no Evangelho de Marcos contribui com esse tema central. Não há genealogia em Marcos, por que Jesus é apresentado já no começo do seu ministério público trabalhando: curando, pregando, ensinando. Uma das palavras mais usadas em Marcos para descrever o serviço de Jesus é “logo”. Aparece trinta e uma (31) vezes. “Logo Jesus foi ensinar... logo Jesus expulsou o demônio... logo curou...”.
Os quatro Evangelhos narram o milagre da multiplicação dos pães; mas Marcos é o único a nos contar que antes disto Jesus havia se retirado com os discípulos para descansar um pouco, e não puderam, porque tiveram que atender às multidões. Marcos quer nos mostrar que Jesus era um homem de ação, que não parava de servir.
Em Lucas, Jesus é apresentado como o Filho do Homem. Se a genealogia de Jesus em Mateus remonta até Abraão, mostrando assim que ele é o prometido de Deus por meio de quem todas as famílias da terra seriam abençoadas, no Evangelho de Lucas remonta até Adão, o primeiro homem.  Jesus, como o Homem perfeito que é, mais do que nos outros Evangelhos, é visto orando. Se em Mateus Jesus é chamado muitas vezes “Filho de Davi”, em Lucas é mais vezes chamado “Filho do Homem”.
E no quarto Evangelho, talvez aquele que nos seja o mais familiar, Jesus, acima de tudo, nos é apresentado como o “Filho de Deus”. Por isto desde o começo, João sobe, além das genealogias terrenas, para a eternidade, e desde os primeiros versículos nos ensina que Jesus, antes de se encarnar, ou melhor, antes que existisse o universo, já estava face a face com Deus.
Assim que, embora todos sejam concordes entre si, cada um deles enfatiza um aspecto diferente e complementar de Jesus: Jesus Cristo é o Filho de Davi, Filho de Abraão, o Rei prometido, mas também é o Servo de Javé, o Salvador. Ele é o Filho de Adão, o Filho do Homem, e também é o Filho Eterno de Deus.
Que admirável provisão de nosso Pai celestial. Ele nos deu estes quatro Evangelhos, a fim de alimentarmos nossas mentes, nossos corações, nossas almas, com todas as coisas maravilhosas que nos são reveladas sobre Jesus.
Então consideremos...
3. O Evangelho de Mateus
O Evangelho de Mateus inicia trazendo a genealogia de Jesus desde Abraão, o patriarca da nação judaica. Embora para muitas pessoas nos dias de hoje esta pareça uma apresentação desnecessária, não era assim que pensavam os judeus.
Mas não é importante somente do ponto de vista da cultura judaica, ou das culturas antigas de modo geral. É sumamente importante do ponto de vista teológico. Veja: quando Mateus inicia seu Evangelho relatando quem foram os ancestrais do Senhor, ele está começando a nos apresentar um ponto muito importante que irá desenvolver em todo o seu livro: é que Jesus é o Cristo, aquela pessoa prometida por Deus no Antigo Testamento, a quem os judeus tanto aguardavam.
No v. 1 ele diz: “Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”.
E depois, dos vs. 2 a 17 ele segue desde Abraão até José, marido de Maria, o pai adotivo de Jesus. Naturalmente que só o fato de ser descendente de Davi e de Abraão não fazia de alguém o prometido de Deus, por isto a história segue até o cap. 4 nos apresentando uma série de acontecimentos que nos dão a certeza infalível. Mas por outro lado, ninguém poderia ser o Cristo se não fosse desta linhagem genealógica.
Porque é importante frisar isto? Eu gostaria de responder apenas dizendo que esta era a aliança de Deus com o patriarca Abraão e depois com o rei Davi.
3.1 – A aliança de Deus com Abraão
Gn 12:1-7
1 Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;  2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!  3 Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.  4 Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o SENHOR, e Ló foi com ele. Tinha Abrão setenta e cinco anos quando saiu de Harã. 
5 Levou Abrão consigo a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as pessoas que lhes acresceram em Harã. Partiram para a terra de Canaã; e lá chegaram.  6 Atravessou Abrão a terra até Siquém, até ao carvalho de Moré. Nesse tempo os cananeus habitavam essa terra.  7 Apareceu o SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra. Ali edificou Abrão um altar ao SENHOR, que lhe aparecera.
Este é o primeiro instante, no livro de Gênesis, que Deus faz a promessa a Abraão (que ainda era chamado Abrão), no sentido de que através de sua descendência, literalmente, através da semente dele, todas as famílias do mundo seriam abençoadas. No decorrer do tempo, os termos e as promessas de Deus a Abraão foram se desenvolvendo, e apontando cada vez mais para aquele que viria para ser uma bênção para o mundo inteiro. Todas as famílias da terra tem o sentido de “todos os clãs”, isto é, todos os povos.
É fundamentado nesta história que Paulo argumenta que todos nós, que somos crentes em Jesus, fomos alcançados pelas bênçãos da promessa.
Vejamos o que ele escreveu sobre a semente de Abraão em Gálatas 3:13-16:
13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro),  14 para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.  15 Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa. 16 Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo.
Não podemos nos deter agora neste texto extraordinário. Quero apenas frisar dois fatos: Primeiro: no v. 16, Paulo nos diz que a promessa foi feita a Abraão e sua semente, e não suas sementes. Falava de um só, que era o Cristo. Segundo: nos vs. 13 e 14 Paulo nos diz que por meio da fé em Cristo a bênção prometida a Abraão chegou até nós, os gentios, isto é, os não judeus. Pois Cristo nos resgatou da maldição que a lei de Deus impunha sobre nós pelo fato de sermos pecadores, isto é, Cristo nos resgatou da morte eterna; e também nos concedeu o Espírito Santo prometido, de tal modo que pelo seu poder e direção em nossa vida, podemos viver em comunhão com Deus. Desta forma é que todas os povos da terra são abençoados.  
Então, ao começar seu Evangelho falando de Jesus como descendente de Abraão, Mateus está mostrando que ele é o cumprimento da promessa. Da mesma forma, era necessário que o Cristo fosse, não somente descendente de Abraão, mas também do rei Davi.
3.2 – A promessa do Senhor à casa de Davi
A primeira vez que lemos sobre isto na Bíblia é em 2º Samuel 7, mas devido ao nosso curto espaço de tempo, vamos ao ponto de forma mais breve, a um texto do profeta Isaías:
Is 9:6-7
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;  7 para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto
Este é um dos vários lugares do Antigo Testamento, em que os profetas nos ensinam que o Salvador seria um descendente de Davi. Desta forma, ao começar seu Evangelho com a genealogia de Jesus até Abraão, Mateus está nos dizendo o seguinte: “A pessoa de quem vou falar nesta história, o homem que eu conheci, que mudou a minha vida, que mudou a vida de muita gente, o homem que nos ensinou sobre Deus, sobre o seu reino e sua vontade, o homem que deseja alcançar pessoas do mudo inteiro com a boa notícia do amor de Deus, é o homem a respeito de quem, desde a Antiguidade, Javé, nosso Deus, prometeu a nosso pai Abraão, e ao nosso rei Davi, o seu ungido”.
Jesus é o Cristo. Jesus é o nosso rei. Jesus é a bênção prometida para todos os povos.
Concluindo...
Cada livro da Bíblia, nascido no coração de Deus, tem a sua razão de ser. Cada livro da Bíblia é como uma joia, uma pedra preciosa das abundantes riquezas do amor de Deus para conosco, revelado em Jesus Cristo. Agora nós estamos diante do Evangelho de Mateus, e vamos passar um tempo estudando seus ensinos inesgotáveis. Para quem estudar Mateus é importante?
Primeiramente, para aqueles que estão seguindo a Cristo.
Pois como já dissemos, o Evangelho da nossa salvação nos diz que somos salvos pela fé naquele que nos amou, e que em seu amor deu sua vida por nós, ali na cruz. Por isto nós não somente cremos nele para a nossa salvação. Nós o amamos, confiamos nele, e desejamos seguir seus ensinamentos. Então, quanto mais conhecermos o que Jesus nos diz, melhor.
Em segundo lugar, conhecer Mateus é importante para aqueles que desejam falar de Cristo, o que quer dizer “todos os que seguem a Cristo”. Então é uma sequencia natural. Quanto mais nos alimentamos dos ensinos de Jesus, mais desejamos e teremos o que falar, pois como ele mesmo diz, “a boca fala do que está cheio o coração” [12].
Em terceiro lugar, conhecer Mateus é importante para aqueles que desejam a salvação em Cristo, para aqueles que desejam seguir o Evangelho. Aliás, se você ainda não tem certeza da sua salvação, você já está ouvindo o que Mateus ensina.
Lembre-se da promessa de Jesus. Ele diz que onde quer que o Evangelho esteja sendo pregado, ele está conosco. Jesus está aqui. E ele convida você a segui-lo. Ele quer ser seu Mestre, ser o seu Salvador, quer ser o pastor da sua alma. E se diante do que a Bíblia diz, você reconhece ser pecador, se você crê em Jesus, se você confia no amor que ele tem por você, se você quer seguir a Jesus, o tempo de começar é hoje. Volte-se para Jesus, entregue seus caminhos a ele. Entregue seu coração, sua vida, todo o seu ser. Peça que ele perdoe seus pecados. Peça que ele seja seu Salvador. Siga a Jesus de agora em diante. Se você começar a seguir agora, Jesus estará com você todos os dias, para todo o sempre.


[1] Mt 9:9
[2] Veja John MacArthur, Doze Homens Comuns (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2004), pág. 152
[3] Rm 10:15
[4] Colchetes meus
[5] Rm 2:16; 16:25; 2ª Tm 2:8
[6] Cl 1:23
[7] Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica (São Paulo, Novo Século, 2002), XIV:6 e 7.
[8] Ibidem, XV:1; cf. também Irineu (c. 125-140 a 200D.C.), in Walter A. Ewell e Robert W. Yarbroug, Descobrindo o Novo Testamento, (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2002), pág. 82.
[9] Lc 1:1-4; At 1:1, 2
[10] Eusébio, op.cit., XIV:7
[11] Veja, por exemplo A.W. Pink, Porque Quatro Evangelhos (Monergismo.com), Henrietta C. Mears, Estudo Panorâmico da Bíblia (E.U.A., Ed. Vida, 1997, 9ª impressão), págs.305-369
[12] Mt 12:34
▲Topo