Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Coração e doutrina - Rm 6:17, 18

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo,26 de fevereiro de 2010
Pr. Plínio Fernandes
Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E uma vez libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.
Neste versículo a Palavra de Deus nos estimula ao louvor do Senhor em gratidão por nossa salvação.
Graças a Deus, a salvação que nos foi dada em Cristo nos libertou da antiga escravidão ao pecado:
Aqui, alguém que antes tinha seu coração dominado pelo ódio, pela amargura, pelo rancor, pela inimizade, teve sua alma transformada e renovada para uma vida de amor para com o próximo.
Ali, alguém que outrora era dominado pelo vício foi libertado: este não é mais escravo do alcoolismo; aquele não é mais escravo do tabagismo; próximo a ele, outro que já não é mais escravo de drogas alucinógenas; outro, que foi libertado de suas taras, de suas práticas sexuais contrárias à natureza.
Bem perto dele outro foi transportado de uma vida desonesta e egoísta, para um caminho de justiça. Outro foi liberto da avareza, do amor para com os bens materiais, da arrogância e da soberba. Outro, da feitiçaria, da idolatria.
E também graças a Deus, a salvação em Jesus também nos leva a obedecer de coração à forma de doutrina apresentada no Evangelho.
Existem várias verdades espirituais subentendidas neste louvor ao Senhor
Uma delas é que se somos salvos, libertos do mal e transformados em filhos obedientes do Evangelho, isto é graças a Deus, quer dizer, pelo bondoso agir do Espírito de Deus em nossa alma, regenerando-nos, fazendo de nós pessoas novas, santificando-nos, transformando o nosso ser interior.
Também nos deparamos com a verdade de que a nossa transformação espiritual tem como base a doutrina do Evangelho, isto é, a salvação de Deus nos alcança através daquilo que nos é ensinado na Palavra de Deus.
Pois, como disse Jesus, “se alguém quiser fazer a vontade de Deus, conhecerá a respeito da doutrina...”[1].
O que Deus está nos ensinando aqui é que o nosso viver com ele não é baseado em sentimentos subjetivos, apenas internos, como: – Eu sinto Deus falando no meu coração...
A vontade de Deus está revelada na forma de doutrina, ensinamentos que nos são dados nas Escrituras.
Na Bíblia, Deus está falando conosco, quer nós sintamos ou não.
Mas, em terceiro lugar, o Espírito Santo também está nos dizendo que esta salvação que nos alcança pela graça de Deus, e através da doutrina, ela tinge também o nosso coração.
Não é verdade que alcança nosso ser interior no que diz respeito ao intelecto e ali permanece inerte.
É verdade que atinge também os nossos sentimentos, toca em nossa vontade.
A doutrina de Deus mexe com o nosso espírito de tal modo que nossa obediência ao Evangelho é uma obediência de coração.
– Viestes a obedecer de coração...
Vamos ilustrar:
Suponhamos que estejamos em dias de alguma data comemorativa: dia dos namorados, dia das mães, dia dos pais, dia do seu aniversário ou qualquer outra data.
Então alguém lhe dá um presente alusivo à data; mas esse alguém lhe diz algo mais ou menos assim:
– Olha, eu tenho que ser sincero; eu não estava realmente com vontade de comprar alguma coisa prá você, mas você sabe, por causa do nosso relacionamento social (de filho, ou namorado, ou marido), por causa de nosso relacionamento social eu tinha a obrigação. Então está aqui o seu presente.
Você gostaria de ganhar um presente assim, neste espírito? Você gosta quando alguém lhe faz alguma coisa, mas não o faz de coração?
Assim também a doutrina evangélica nos ensina que a obediência que Deus quer de nós, e que ele mesmo nos concede através de sua Palavra, é uma obediência de coração, que surge do conhecimento que temos de sua vontade, mas que também é de nossa vontade.
Como é a obediência de coração? Eu gostaria de apresentar três características dessa obediência
1. É uma obediência “fruto da compreensão”
É consequência de conhecimento da Palavra de Deus. Um conhecimento espiritual, um discernimento espiritual.
Pois como escreveu o apóstolo Paulo, o homem espiritual tem a capacidade de entender as coisas da Palavra de Deus[2].
As verdades da Bíblia fazem sentido para ele. E para ele, faz sentido obedecer ao que o Evangelho diz.
1.1 – Primeiro, ele entende que tudo quanto o Senhor Deus deseja quanto à maneira de vivermos está revelado em sua Palavra
Dt 29:29 - As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.
Moisés nos fala de coisas reveladas, e de coisas que Deus não revelou. As coisas reveladas são para nós e para nossos filhos, de geração em geração. Estão reveladas nesta lei, para que nós e nossos filhos andemos de acordo com elas.
E existem coisas que Deus não nos revelou: quanto a elas, não precisamos nos preocupar em conhecer.
Tudo quanto precisamos saber está nas Escrituras; elas são suficientes para nós. Não precisamos de novas revelações. Não andamos atrás de horóscopos, tarôs ou qualquer outro tipo de adivinhação, pois temos as Escrituras. Não consultamos os espíritos dos mortos, nem qualquer outro espírito, pois temos as Escrituras.
1.2 – Segundo, ele entende que ao obedecer à Palavra de Deus, com isto ele está honrando ao Senhor, está glorificando o nome de Deus.
Como está escrito: ele está adornando a doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo em sua maneira de viver[3]. As pessoas de fora observam e a vida de um crente é bonita diante dos seus olhos.
1.3 – E em terceiro lugar, faz sentido obedecer porque tudo quanto Deus ordenou é resultado de seu caráter santo, justo, amoroso, bondoso
Em outras palavras, tudo quanto a Bíblia nos ensina é para o nosso bem estar e para o nosso bem viver.
Dt 10:12, 13 - Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, 13 para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?
Por exemplo, nos dez mandamentos o Senhor nos diz assim:
– Guarda o dia de sábado (descanso) para o santificar. Seis dias trabalharás e farás nele toda a sua obra. Mas o sétimo dia é o dia santificado ao Senhor teu Deus... não trabalharás...
Qual o propósito de Deus a nos dar este mandamento? Veja a resposta de Jesus:
Mc 2:27 – O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.
O sábado nos foi dado para o cultivo de nossa vida espiritual, para o nosso descanso físico e mental, para o nosso bem. Outro exemplo:
1ª Co 9:9-11 – Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? 10 Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida. 11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?
Mais um exemplo: – Honra teu pai e tua mãe para que te vá bem...
Todos eles nos mostram que cada doutrina da Bíblia, cada mandamento, cada orientação, é expressão da bondade de Deus para conosco, de sua preocupação com nosso bem estar
Então a obediência é de coração, porque não é uma obediência cega, ignorante, tola. É fruto de compreender estas coisas
2. É uma obediência por fé 
É uma obediência confiante, é uma obediência crente. Ainda que, muitas vezes não compreendamos completamente todas as coisas que estão reveladas, ainda assim a compreensão do caráter de Deus, e a confiança nele nos leva à obediência.
O crente sabe, de coração, que “Deus não é homem para mentir”[4]. O crente sabe que a obediência trás bênçãos[5]. Então mesmo que às vezes algo lhe seja custoso, ele obedece de coração crendo na fidelidade das promessas da Palavra de Deus. Vamos ver alguns exemplos?
Hb 11:7 – Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé.
Pelo que posso subentender do texto de Gênesis, na antiguidade ainda não havia chovido. O Senhor fazia subir uma neblina da terra com o qual ela era constantemente regada[6].
Uma espessa camada de nuvens circundava toda a atmosfera da terra. Talvez porque antes os raios solares penetravam em nossa atmosfera com muito menor intensidade é que, segundo a Bíblia, o tempo médio da vida humana era muito maior do que depois do dilúvio[7].
O ser humano, portanto, nunca havia visto chuva[8]. Mas Deus revelou sua Palavra a Noé, que era um homem crente. E lhe disse:
Noé, prepare uma arca de acordo com as medidas que eu vou lhe dar. Esta arca será para a sua salvação, e de tua família, e para a salvação de toda a espécie de animais. Porque eu vou abrir as fontes de água no céu, e trarei um juízo de grande dilúvio sobre a terra.
Noé, divinamente ensinado sobre acontecimentos que não se viam, obedeceu, construiu a arca, e foi salvo, juntamente com sua família.
O apóstolo Pedro comenta que assim como Noé foi salvo através da arca, por sua fé obediente, nós também somos salvos pela fé na cruz de Jesus Cristo.
Outro exemplo:
Hb 11:8 – Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia.
Abraão foi chamado por Deus para abandonar sua terra, sua parentela idólatra e seguir por caminhos que não conhecia, para um lugar que Deus lhe daria. Mas Abraão conhecia a Deus, conhecia o caráter de Deus, e pela fé obedeceu.
Hb 11:17-19 – Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, 18 a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; 19 porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou.
Ele recorda aquela memorável passagem de Gn 22. O Senhor coloca a fé de Abraão à prova, e Abraão, porque confiava na Palavra de Deus, obedeceu.
Então, a obediência que é de coração, é uma obediência que surge da fé, que é fruto de se confiar em Deus.
3. Obedecer de coração é obedecer por amor
Não é uma obediência por obrigação: é uma obediência de fé, de confiança em Deus. E também não é uma obediência por medo: é uma obediência por amor. É fruto de reconhecimento, de gratidão, de afeição para com Deus.
O crente reconhece que cada doutrina, cada mandamento, cada Palavra, são coisas dadas por Deus em seu amor para com seus filhos.O crente reconhece no Evangelho, Evangelho da Salvação pela fé na cruz de Jesus Cristo, o amor de Deus para com ele.
Não há nada em que o crente não veja o amor de Deus. E sabe que nem nesta vida nem na outra, nem as coisas do presente nem do futuro. Nem seres humanos, nem anjos, nada e ninguém pode separá-lo do amor de Deus revelado em Cristo, que está em Cristo[9].
Sabe que toda a Escritura é para seu consolo, para sua fé, para sua esperança[10]. Então ele obedece de coração. Ele obedece por amor. Ele obedece com alegria, com prazer. Ele ama a Deus com prazer.
Ele ama o seu próximo com um coração alegre. Ele cultua a Deus com seus irmãos com satisfação. Ele sobe à casa do Senhor por que gosta. Ele canta com fervor. Ele ora confiante. Ele presta atenção à pregação porque ama a lei do Senhor. Ele contribui com alegria. Exerce seus dons para a glória de Deus e o bem da igreja.
No mundo, ele testemunha com uma glória santa. Ele se gloria na cruz de Jesus Cristo. Ele não se envergonha do Evangelho, da Bíblia, não se envergonha de ser crente.
Pois, como diz a Escritura, a fé atua pelo amor[11].
Conclusão
Obediência de coração. A obediência evangélica é assim.
Ela não é resultado de um terrível sentimento de obrigação. É resultado de se compreender que a Palavra de Deus é boa. É a Palavra de um Deus de amor, santo, bom, que “se preocupa” com o nosso bem.
Também não é a obediência do medo, do pavor de ser castigado, do horror de ir para o inferno.
É a obediência confiante, da fé na verdade da Palavra de Deus. É a obediência amorosa, alegre, prazerosa, que se deleita nos caminhos do Senhor.
Aplicação
Amado de Deus, você é obediente?
Porque aquele que não é obediente a Deus é escravo do pecado; e o salário do pecado é a morte[12]. Aquele que vive no pecado está separado de Deus e não herdará o reino de Deus[13].
Aquele que não faz a vontade de Deus está fazendo a vontade do diabo.
Então, se você é desobediente, precisa se arrepender, precisa crer na Palavra de Deus e obedecer ao Evangelho de Jesus[14].
Se você é obediente: você obedece a Deus de coração, ou por medo, ou obrigação?
Você obedece porque conhece a vontade de Deus revelada na Palavra, ou só obedece quando “surgem revelações em sonhos ou coisas parecidas”?
Você obedece a Deus ou ao horóscopo?
A Deus ou aos espíritos?
Você obedece porque crê na Palavra de Deus ou porque sua mãe manda?
Você obedece à Bíblia porque tem fé e amor a Deus ou porque isso lhe faz ficar bem diante das pessoas, quem sabe sua esposa, ou pais, ou amigos da igreja?
Porque se não for de coração, então não é obediência: é um simulacro, uma simulação, uma encenação.
Como podemos obedecer de verdade? Conhecer, meditar, estudar, compreender a Palavra de Deus. Crer na Palavra de Deus, amar a Palavra de Deus.


[1] Jo 7:17
[2] 2ª Co 2:9-16
[3] Tt 2:10
[4] Nm 23:19
[5] Ef 6:2
[6] Gn 2:6
[7] Gn 5 e 6
[8] Hb 11:7
[9] Rm 8:26-39
[10] Rm 15:4
[11] Gl 5:6
[12] Rm 6:23
[13] Gl 5:19-21
[14] Mc 1:15

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Ajude o seu pastor a cuidar de você - Hb 13:17

Domingo, 19 de abril de 2017
Pr. Plínio Fernandes
Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.

Quando o Senhor Jesus, o nosso Deus e Salvador, se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade[1], dia após dia trabalhou para buscar e salvar os homens perdidos em seus pecados[2].
Jesus veio do céu para conduzir-nos ao céu, a morada eterna de seu Pai, e tudo quanto ensinou e fez foi com este propósito[3].
Por isto, ele mesmo, assim como toda a Bíblia faz uma analogia muito bonita: Jesus se apresenta nas Escrituras como sendo o pastor de nossas almas, e se refere a nós, os que o seguimos, como suas ovelhas[4].
Mas Jesus não permaneceu aqui fisicamente. Depois que deu sua vida na cruz em nosso lugar, pelos nossos pecados, e ressuscitou para nos dar vida, ele voltou para a casa do Pai, prometendo que no devido tempo voltará para nos buscar[5].
Esta é a bendita esperança e desejo de todos os crentes: o dia da volta de Jesus[6].
Mas ao voltar para o céu Jesus não nos deixou abandonados. Ele enviou o seu Espírito que veio habitar em nosso coração[7], e por meio deste Espírito também providenciou muitos instrumentos para o cuidado de nossas almas.
Por meio do Espírito ele nos dá a sua Palavra nas Escrituras, e ilumina nossas mentes a fim de que as entendamos[8].
Por meio do Espírito ele nos selou para o dia da redenção[9].
Por meio o Espírito ele nos batizou na comunhão da igreja, a nossa família na fé, a fim de que cuidemos uns dos outros[10].
Por meio do Espírito ele concedeu a cada um de nós, crentes, dons espirituais através dos quais nós servimos uns aos outros e nos edificamos mutuamente no reino de Deus[11].
E é neste contexto que Jesus, o Supremo Pastor de nossas almas, também chamou e concedeu dons a certos homens para que sejam pastores de suas ovelhas[12].
Antes de subir ao céu, numa conversa com o apóstolo Pedro, três vezes o Senhor lhe perguntou: – Pedro, tu me amas?
E diante da resposta afirmativa de Pedro, o Senhor lhe ordenou: – Apascenta as minhas ovelhas[13].
Da mesma maneira, este mesmo chamado tem se repetido em toda a história da igreja, até que o Senhor volte.
Por meio do seu Espírito, o Senhor tem constituído pastores para que cuidem do seu rebanho em cada lugar que a Igreja do Senhor se reúne: homens que velam pelas almas dos seus irmãos, que as alimentam e edificam com a doutrina da Palavra de Cristo, que intercedem por eles, que buscam imitar a Jesus, ser um exemplo de vida para que seus irmãos aprendam com eles a serem discípulos do Senhor.
Por isto, irmãos, em nosso estudo anterior sobre este texto, nós estivemos destacando a missão dos pastores, ou guias, os líderes espirituais que Deus tem colocado em sua igreja[14].

Agora, os irmãos percebem, ainda que a partir deste texto nós aprendamos muito a respeito dos deveres dos pastores, estas palavras não são dirigidas primariamente a eles, mas às ovelhas, isto é, aos seus irmãos em Cristo, sobre cujas almas o Pastor Supremo tem encarregado de velar.
São uma instrução, ou antes, uma exortação no sentido de que as ovelhas se submetam à liderança espiritual de seus pastores[15].
Assim sendo, em nosso estudo de hoje iremos considerar a missão das ovelhas em relação aos seus pastores.
1. A missão das ovelhas
De acordo com o Espírito Santo, existem duas maneiras de as ovelhas experimentarem o cuidado pastoral.
Melhor dizendo, existem basicamente dois modos, ou dois estados de alma nos quais os pastores podem cumprir sua missão: ou alegres, ou tristes.
Na Bíblia nós podemos observar que muitas vezes os pastores exerceram seu ministério com tristeza.
Por exemplo, Paulo, que escreveu aos coríntios em meio a lágrimas, e tinha receio de que se fosse ir ter com eles, choraria ainda mais, pois muitos entre eles não haviam de fato se arrependido de seus pecados[16].
Jeremias, que às vezes sentia que seu coração iria explodir de tanta tristeza, pois Israel não se converteu ao Senhor [17].
Jesus, que chorava por causa dos pecados de Jerusalém [18].
Nestes e em muitos outros exemplos, vemos que, seja com alegria ou tristeza, de uma forma ou de outra, o pastor tem consciência de sua missão.
Mas sabe o que acontece quando ele não cumpre a sua missão com alegria?
Isto não é proveitoso para as vossas almas
Por outro lado, veja o que acontece quando alguém pastoreia com alegria:
Ne 8:10
Disse-lhes mais: ide, comei carnes gordas, tomai bebidas doces e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do SENHOR é a vossa força.
Um pastor que pastoreia com alegria sente-se renovado em sua alma. Ele se sente forte no Senhor.
Ele trabalha com prazer. Ele faz o melhor que pode. Ele cresce espiritualmente, e neste crescimento a igreja é beneficiada.
Isto é proveitoso para a igreja.
Assim sendo, de um lado, a missão do pastor é cuidar das almas das ovelhas.
Por outro lado, a missão da igreja é cuidar da alma do pastor: fazê-lo forte, entusiasmado.
Relacionamento pastoral, podemos dizer, é um relacionamento de aliança.
2. Como abençoar seu pastor
O Espírito Santo diz: – Obedecei, sede submissos.
Como já dissemos em nosso estudo anterior, ser submisso significa “reconhecer a autoridade, consagrar-se”, significa “coloca-se sob a missão” do pastor. De outra maneira: quando você ajuda o pastor em sua missão, você está ajudando sua própria alma, pois a missão dele é velar por sua alma.
Deixem que o pastor cuide da alma de vocês.
– Se vocês deixarem que eles lhes pastoreiem, eles farão isso felizes.
Considerando que o pastor pode apascentar, ou com tristeza, ou com alegria, vamos considerar as duas.
Por causa da brevidade do nosso tempo, não vou me deter muito em exemplos cotidianos, mas nos texto bíblicos.
De modo geral, podemos dizer que o que entristece o pastor é o pecado. Mas quero citar alguns mais especificamente, que me parece estar entre os mais frequentes pecados das igrejas de modo geral.
2.1 - Coisas que não deixam os pastores felizes – atitudes erradas.
a) Por exemplo, incredulidade, que é associada à falta de boa vontade – há dois textos que eu quero citar em relação a isto. Primeiramente vejamos Jesus, que é o Supremo e Perfeito pastor.
Lc 13:34, 35
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes!  35 Eis que a vossa casa vos ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!
Irmãos, Jesus, o perfeito pastor, desejou reunir os habitantes de Jerusalém, mas eles não quiseram. Viriam dias de aflição e castigo, porque não reconheceram quando Deus lhes visitou em Cristo.
Mc 5:5, 6[19]
Não pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.  6 Admirou-se da incredulidade deles. Contudo, percorria as aldeias circunvizinhas, a ensinar.
Eu acho isto uma coisa espantosa, meus irmãos. Jesus é o Senhor dos céus e da terra. Nada pode resistir ao seu poder. Mesmo como ser humano, não lhe faltava qualquer dom espiritual que possamos imaginar.
Mas o Evangelho diz que ali, na sua terra, isto é, na cidadezinha de Nazaré, ele “não pode” realizar muitos milagres, porque a incredulidade das pessoas, a falta de fé, impediu que elas fossem abençoadas por ele.
Agora, se Jesus, o Supremo e Perfeito Pastor “não pode” fazer muita coisa em Nazaré, e embora quisesse, não ajuntou os pintinhos debaixo de suas asas, o que poderá fazer um pastor infinitamente menor do que ele, ou como diria, um “vaso de barro” [20], que somos nós?
Portanto, se você quer ajudar o seu pastor, seja crente na Palavra de Deus, seja uma pessoa que ora, que obedece.
b) Murmurações, ou “reclamações”.
Agora eu quero citar outro grande pastor: Moisés.
Vamos ler duas ou três referências
Nm 12:1-3
Falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cuxita que tomara; pois tinha tomado a mulher cuxita.  2 E disseram: Porventura, tem falado o SENHOR somente por Moisés? Não tem falado também por nós? O SENHOR o ouviu.  3 Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra.
Este texto nos conta sobre os primeiros dias da igreja no deserto, como diria Estevão [21].  Miriã, que era profetiza, e Arão, que além de profeta seria sumo-sacerdote, reclamaram a respeito de Moisés, pois ele havia se casado com uma mulher que não era hebreia.  
Mas Moisés não disse nada, pois ele era o homem mais manso que havia sobre a face da terra. E Deus mesmo tratou com o pecado de Arão e Miriã. Ela ficou leprosa, e a igreja parada no deserto. Pois murmuração atrasa a vida da igreja.
Mas o tempo passou, e os israelitas sempre murmuravam. Vamos ler o que aconteceu tempos mais tarde, diante de uma das muitas murmurações de Israel.
Nm 20:8-12
Se você ler os vs. anteriores, verá que os israelitas estavam murmurando mais uma vez, agora porque não havia água.
Como se Deus não fosse suprir, mais uma vez, as necessidades de Israel, como sempre havia feito.
Então o que vamos ler aqui é a resposta de Deus e a atitude de Moisés.
Toma o bordão, ajunta o povo, tu e Arão, teu irmão, e, diante dele, falai à rocha, e dará a sua água; assim lhe tirareis água da rocha e dareis a beber à congregação e aos seus animais.  9 Então, Moisés tomou o bordão de diante do SENHOR, como lhe tinha ordenado.  10 Moisés e Arão reuniram o povo diante da rocha, e Moisés lhe disse: Ouvi, agora, rebeldes: porventura, faremos sair água desta rocha para vós outros?  11 Moisés levantou a mão e feriu a rocha duas vezes com o seu bordão, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais.  12 Mas o SENHOR disse a Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso, não fareis entrar este povo na terra que lhe dei.
Você entendeu o que aconteceu? Moisés era o homem mais manso da terra, mas nem ele conseguiu suportar tanta reclamação.
Então, num momento que ele deveria, em obediência à Palavra de Deus, falar à rocha para que dela saísse água, ele a feriu, porque ficou irado.
Mas conforme diz o apóstolo Paulo, a rocha que os seguia era Cristo [22]. Por isto a ofensa a Deus foi tão grave. E por isto Deus disse a Moisés: – Você não entrará na terra prometida.
Mais tarde Moisés pediu que Deus reconsiderasse, mas o Senhor respondeu: – Basta! Não vamos mais falar sobre isto[23].
Assim que o pecado de Israel levou Moisés ao pecado, e ele não pode entrar em Canaã.
Amados, como eu disse, a reclamação, a falta de gratidão, a insatisfação é um dos pecados que mais frequentemente vejo nos dias de hoje, dos crentes em relação aos seus pastores.
– Há, eu estou tão necessitado, estou precisando de uma visita, mas o pastor não vem na minha casa.
Reclama para os outros, mas já experimentou pedir?  Jesus muitas vezes ia ao encontro das pessoas, mas muitas vezes era procurado.
– Não quero dar trabalho para o pastor.
Sim, mas Deus quer dar; então colabore; é melhor você dar trabalho agora, enquanto é pouco, do que depois.
– O pastor não tem nada a ver com meus problemas.
Tem sim. Ele foi colocado por Deus para ministrar a Palavra, para orar por você e com você.
– Eu tenho vergonha.
Não tenha vergonha de um irmão, que ama você, e que é tão humano quanto você.
– Eu não vou me submeter a um ser humano, só a Deus.
Amado, quem foi que colocou esses seres humanos como autoridade em sua vida?
Assim, ajude o seu pastor a cuidar de você, sem reclamar, mas submetendo-se com alegria.
c) A lista de 2ª Co 12.
2ª Co 12:20, 21
Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na forma em que vos quero, e que também vós me acheis diferente do que esperáveis, e que haja entre vós contendas, invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, orgulho e tumultos.  21 Receio que, indo outra vez, o meu Deus me humilhe no meio de vós, e eu venha a chorar por muitos que, outrora, pecaram e não se arrependeram da impureza, prostituição e lascívia que cometeram.
2. Coisas que deixam os pastores felizes
a) Apreciação, respeito, amor e consideração

1ª Ts 5:12,13
Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam;  13 e que os tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em paz uns com os outros.
Tratar com gentileza, simpatia, reconhecimento da importância de seu trabalho, não somente como irmão em Cristo, mas como irmão cujo serviço é de máxima importância na igreja, e em especial em sua vida.

b) Intercessão


2ª Ts 3:1-2
Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vós;  2 e para que sejamos livres dos homens perversos e maus; porque a fé não é de todos.
Ore pelo seu pastor, pois ele é uma pessoa tão necessitada da graça de Deus quanto você. Ore por ele em suas fraquezas, em suas limitações e necessidades.
Ore por sua família. Ore pela sua igreja.
Ore para que ele seja sábio, ousado, moderado, forte, santo, amoroso, generoso.
Ore por sua saúde. Ore para que ele seja livre do mal.
Eu não tenho como descrever a importância da intercessão, mas posso dizer que são as intercessões dos meus irmãos, amorosas, respeitosas, que me abençoam mais do que qualquer outra coisa. Quem ama ora; quem ora ama; quem ora e ama respeita, contribui, obedece.
E quem faz todas estas coisas é abençoado por Deus

c) Remuneração condigna

1ª Tm 5:17,18
Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino.  18 Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário
Em nosso estudo anterior, vimos como a Bíblia diz que o pastor não deve ser apegado ao dinheiro, nem deve trabalhar por amor ao dinheiro, mas de boa vontade.
Por outro lado, os pastores precisam de recursos econômicos para viver dignamente; de modo que sustentem suas famílias, ajudem os necessitados, possam crescer intelectualmente, possam ter recursos para o seu ministério, participando de estudos, conferencias, adquirindo livros, e tantas outras coisas.
Tudo isto é muito bom, só que custa dinheiro. Se a igreja não reconhece isto então o pastor se vê em apuros, e não consegue desempenhar bem o seu ministério.
Então, irmãos, reconheçam a importância da vida do pastor, sejam fiéis nos dízimos, e sejam fiéis no prover dos honorários pastorais.
d) Sirva com seus dons
Você deve se lembrar daquela parábola contadas por Jesus, sobre os talentos que o senhor repartiu entre os seus servos e saiu para viajar, esperando que cada um deles empregasse bem os talentos que lhes foram repartidos.
Ela se refere ao fato de que nós somos servos de Deus, e de que há um dia em que cada um de nós deverá estar em sua presença, também para prestar contas da maneira como vivemos, como usamos nosso tempo, como empregamos nossos recursos, como cuidamos do nosso próximo, e tudo o mais, pois de acordo com a Bíblia, nada do que somos, nem a nossa própria vida, pertence a nós. Tudo é do Senhor, pelo Senhor e para o Senhor.
Isto inclui os nossos dons espirituais, isto é, as capacidades que o Senhor nos concede como seus filhos, a fim de que sirvamos na edificação da igreja.
E isto está diretamente relacionado com o ministério pastoral.
Ef 4:11-13
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres,  12 com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo,  13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.
Veja, o propósito de Deus é que o ministério pastoral te conduza a servir a Deus, edificando a igreja. Assim, também desta maneira você estará sendo preparado para o dia da volta de Cristo.
Então servindo à igreja do Senhor com seus dons, com seus recursos, com seu tempo, com seu amor, você também está ajudando o pastor a cumprir sua missão de conduzir você pelos caminhos do Senhor.
Conclusão e aplicação
Eu desejo concluir, amados, com uma promessa do Senhor Jesus. São Palavras que ele está dirigindo aos seus discípulos, como ministros da Palavra de Deus.
Mt 10:40, 41
Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou.  41 Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá o galardão de justo.
Qual é o propósito de Deus para mim como pastor: que eu cuide da alma de vocês
Eu não sou o dono de vocês.
Eu não sou o Senhor de vocês.
O nosso Supremo Pastor, meu e de vocês, é Jesus.
Mas Jesus me deu uma missão: vigiar pela vida espiritual de vocês.
Vigiar ensinando.
Vigiar orando.
Vigiar defendendo contra falsas doutrinas.
Vigiar servindo em amor.
Qual é o propósito de Deus para vocês como minhas ovelhas? Que vocês me ajudem a cuidar de suas almas.
Uma igreja que procede assim tem um pastor feliz, e um pastor feliz trabalha bem.
Deus é glorificado, a igreja é abençoada e o pastor também.


[1] Jo 1:14
[2] Lc 19:10
[3] Jo 14:1-3
[4] Jo 10:1-30
[5] At 1:1-11
[6] 2ª Tm 4:8
[7] Jo 14:17, 18
[8] 2ª Tm 3:16
[9] Ef 1:13, 14
[10] 1ª Co 12:13
[11] 1ª Co 12-14; Rm 12:1-8; 1ª Pe 4:10,11
[12] Ef 4:11, 12
[13] Jo 21:15-23
[15] Hb 13:22
[16] 2ª Co 2:4; 12:21; 11:29
[17] Jr 20:14-18; 17:16; 4:19
[18] Lc 19:41-44
[19] Cf. também Mt 13:58
[20] 2ª Co 4:7
[21] At 7:38
[22] 1ª Co 10:4
[23] Dt 3:25, 36
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