Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

sexta-feira, 29 de março de 2013

Nosso impacto sobre o mundo - Mt 5:11-16

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 06 de maio de 2012
Pr. Plínio Fernandes
Queridos irmãos, vamos ler Mateus 5:11-16
11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. 12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. 13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. 16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.
Quem, entre os discípulos de Jesus, era uma pessoa economicamente poderosa? Quem deles era uma pessoa politicamente influente? Algum deles era um nobre? Algum deles era um rabino, um sábio, ou pelo menos uma pessoa letrada?
No entanto, mais uma vez, na vida daqueles homens humildes, sem poder, sem riquezas, e poucos, o Senhor afirma e demonstra que as coisas dos céus, a maneira de pensar de Deus é bem diferente, e muito mais eficaz, do que todo o acúmulo de poder, sabedoria e riquezas humanas. Deus escolhe as coisas fracas, as coisas humildes, as coisas pequenas, para nelas e por meio delas manifestar a sua graça.
Depois de descrever o caráter, a alma, o ser interior daqueles que se arrependeram e agora o seguem, retratando seus discípulos como pessoas quebrantadas, humildes, sedentas por viver conforme a vontade de Deus, sinceras, misericordiosas, pacificadoras, Jesus olha para eles e diz que, por causa de sua maneira de ser, suas vidas provocavam e provocariam um impacto profundo sobre o mundo em que viviam.
No vs. 11 e 12 ele amplia a última bem-aventurança, afirmando que a vida justa que elas caracterizavam, e que incomodariam o mundo de fora, eram fruto do relacionamento com ele, “por minha causa”, diz o Senhor. Depois, nos vs. 13 e 14, ele afirma que os seus discípulos eram sal da terra e luz que iluminaria o mundo, e que por causa disto também causariam impacto sobre os de fora.
Assim vemos que, tanto de um modo negativo, como de um modo positivo, o simples fato de alguém ser um seguidor de Jesus gera impacto, produz profundas impressões na vida dos que “são de fora” do círculo da fé. É sobre isto que vamos meditar hoje – porque os discípulos de Jesus causam impacto?
1. Por causa de sua identificação com o Senhor
E por identificação quero dizer compromisso, assimilação de pensamento, que induz à semelhança. Vale repetir que esta nona bem aventurança é um desenvolvimento da oitava, o clímax daquela série que se inicia no v. 3. Nos vs. 3 a 10 Jesus descreve as qualidades interiores daqueles que o seguem, e termina dizendo que por viverem uma vida justa muitas vezes encontrarão perseguição e oposição.
Agora, no v. 11, Jesus diz que tudo isto é por causa dele:
v. 11
“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós”.
Primeiro, Jesus nos diz aqui que a pessoa dele invariavelmente provoca uma reação no mundo. Como veremos daqui a pouco, esta reação muitas vezes é positiva: diante das obras de Jesus muitas pessoas se voltam para Deus, e glorificam ao Pai que está nos céus.
O grande desejo e alegria do coração de Jesus é que isto aconteça: ele não veio para condenar o mundo, mas para salvar. Mas ainda assim, muitas vezes a reação que as pessoas têm diante dele é negativa: em vez de receber a Jesus, e amá-lo, as pessoas se tornam inimigas dele. Não querem sua Palavra, não aceitam sua doutrina, porque amam o pecado e à mentira.
Segundo, quando alguém se declara um crente em Jesus, aqueles que rejeitam a Jesus passam a rejeitá-lo também.
Jo 15:18-23
18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim.  19 Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia.  20 Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. 21 Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. 22 Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. 23 Quem me odeia, odeia também a meu Pai.
Vejam, irmãos, não somos pessoas chamadas para odiar o mundo, e mundo aqui no sentido de humanidade. Somos pessoas chamadas a, à semelhança de Deus, amar a humanidade. Mas não devemos cultivar o desejo ou a ilusão de sermos amados e aceitos pelo mundo também.
De modo geral Jesus, ainda que ame, ainda que ofereça salvação, ainda que mostre o bom caminho, é rejeitado. E da mesma forma o crente em Jesus.
Duas semanas atrás eu conheci uma irmã que me contou o que aconteceu com ela por causa de sua conversão a Jesus. Ela era de uma seita religiosa que nega a divindade de Jesus Cristo, os “Testemunhas de Jeová”. Mas um dia começou a estudar a Bíblia, e quanto mais estudava, mais ficava convicta de que aquilo que ouvira desde a infância estava errado. E passou a crer em Jesus como seu Deus. Seus parentes todos são daquela seita, e como resultado desta conversão eles cortaram o relacionamento com ela. Seus pais e demais parentes não falam com ela.
Ora Jesus disse que este tipo de coisas poderia acontecer.
Mt 10:34-39
34 Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. 35 Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. 36 Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.
Foi o que aconteceu com esta querida irmã, e é o que tem acontecido com muitos irmãos através de toda a história, inclusive atualmente em muitos países, não só no Oriente, mas também na Europa, na África e nas Américas.
Mas Jesus diz que, mesmo sendo perseguidos, caluniados, mesmo que zombados, devemos ser firmes em nosso compromisso com ele, mais até do que com os nossos familiares, se eles forem pessoas que se opõe a ele:
Mt 10:37-38
37 Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; 38 e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim.
 Mas no v. 39 ele promete uma recompensa para aqueles que pagam o preço de sofrer por acreditar nele.
39 Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.
Voltemos a Mt 5:11, 12
11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.
Assim, nós vemos que, por causa de nosso compromisso com o Senhor, de segui-lo e buscar ser como ele, o impacto pode ser negativo. Não devemos alimentar a ilusão de que se amarmos seremos amados de volta. Mas devemos amar, e se assim fizermos, seremos amados no céu. Estaremos seguindo aquela longa linhagem de gente de Deus, os profetas, que hoje estão no reino de Deus, e assim como eles teremos uma recompensa eterna.
2. Também causamos impacto no mundo porque somos “o sal da terra”
v. 13
Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens”.
O que significa esta comparação? Nós facilmente reconhecemos as propriedades do sal: ele preserva e dá sabor. A implicação é que o mundo, por si só, espiritualmente, está se deteriorando, que sem Jesus ele não tem graça. Mas os crentes, por sua qualidade essencial, preservam e dão sabor à terra.
De que modo isto acontece? Num texto paralelo a este, Jesus se refere ao sal como uma atitude interna que o discípulo deve ter:
Mc 9:50
“Tende sal em vós mesmos e (vivei em - BJ) paz uns com os outros”.
Aqui Jesus nos deixa claro que ter sal em nós mesmos é ter aquela disposição interior que nos leva a conviver em paz com as outras pessoas. Ter sal em nós mesmos, portanto, significa ter o desejo de buscar o bem das pessoas, de ver o seu progresso, a sua felicidade, a sua alegria; uma disposição benigna, afetuosa, amorosa.
Naturalmente que esta disposição se manifestará através em nossas ações, mas, antes disto, se manifestará na maneira como nos dirigimos às outras pessoas.
Cl 4:6
“a vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes responder a cada um” - agradável (gostosa) e sábia (edificante, que faça o bem), isto é, nossa maneira de conversar com as outras pessoas deve ser o resultado daquela disposição interior de amar, abençoar, proporcionar o bem.
Então veja, se você tem esta disposição interna, benéfica, generosa, você pode abençoar, influenciar, afetar de maneira positiva, a vida de muitas pessoas à sua volta, mesmo que isto por vezes signifique se opor fortemente ao que elas desejem fazer. Em Jesus mesmo nós podemos ver isto claramente ilustrado:
Leiamos João 8:3-11
3 Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, 4 disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. 5 E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? 6 Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. 7 Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. 8 E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9 Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. 10 Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? 11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.
“Aquele entre vós que não tiver cometido pecado, seja o primeiro a atirar-lhe pedra”. Que palavras bem temperadas!!! Com sua atitude de paz, o Salvador  impediu que uma grande injustiça fosse cometida.
Nem sempre as pessoas se converterão a Deus, mas podemos com nossas palavras, influenciar para o que é bom. Sal é o jovem que no meio ambiente acadêmico e hostil ao evangelho sabe explicar a causa de sua fé. Sal são os pais, os avôs que orientam seus filhos e netos. Sal são os amigos que aconselham.
Só há um cuidado a tomar, diz o Senhor: o de não nos tornarmos insípidos. O que é isto? O cloreto de sódio, por si mesmo, é um elemento muito estável, mas se ele tiver mistura de outros elementos como o cobre, o manganês, ele perde o seu sabor. [1]
Em Mt 12:34 Jesus nos diz que a boca fala do que o nosso coração está cheio. Quer dizer: se o nosso coração estiver cheio de impurezas, nossos lábios irão manifestar a impureza do nosso coração – se o que houver em nosso coração é raiva, inimizade, desamor, nossas palavras refletirão nosso interior. Mas se houver amor, graça, bênção, também refletirão isto.
Por isto Jesus diz: “tende sal em vós mesmos”. Cuidem do coração, cuidem que o bem esteja dentro dele, cultivem o que é puro, benéfico.
A terceira razão pela qual os crentes em Jesus causam impacto sobre o mundo é que...
3. Eles são “a luz do mundo”
v. 14
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte...”.
Mais uma vez, a implicação é que o mundo, por si só, aos olhos de Deus, está em trevas. No v. 16 ele diz o que significa brilhar
“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”.
O crente brilha através de suas boas obras. Veja: em nossos dias, muitas pessoas pensam em boas obras como aquelas que nós chamaríamos de “obras de caridade”. Os crentes devem praticar obras de caridade. Em Mateus 6, no sermão do monte, Jesus fala sobre o cristão dando esmolas, ajudando ao seu próximo. Mas ali ele nos diz que quando ajudarmos alguém neste sentido, não devemos contar para os outros, nem fazer com a intenção de que outras pessoas estejam nos observando. Devemos fazer tão somente aos olhos do nosso Pai que está nos céus.
Em contraste, aqui em Mateus 5:16 Jesus diz que as nossas boas obras devem brilhar diante dos homens para que Deus seja glorificado através delas. Para que entendamos melhor que trevas são estas vamos ler João 3. Desejo ler primeiro os vs. 14-18. Neles Jesus nos diz a grande motivação pela qual ele veio vindo ao mundo, tanto da sua parte como da parte de Deus Pai.
Jo 3:14-18
14 E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, 15 para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. 16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.  17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. 18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
Deus enviou seu Filho por amor, para trazer salvação, e não julgamento. Jesus foi levantado na cruz para a nossa salvação. Tudo o que precisamos fazer é crer em Jesus. Por outro lado, se alguém se recusar a crer em Jesus, em si mesmo já está julgado.
Agora, nos vs. 19 a 21, Jesus nos diz que julgamento é este:
19 O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.  20 Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras. 21 Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.
Quem não se aproxima de Jesus vai permanecer nas trevas, e longe de Deus. Neste contexto ele explica o que são obras das trevas e obras da luz. Obras das trevas são aquelas espiritualmente reprováveis, condenáveis, aquelas que o Espírito de Deus condena. Obras da luz são aquelas nas quais Deus tem prazer.
Estes dias eu tomei conhecimento de que uma irmã foi despedida de seu emprego, porque seu superior usa daquele expediente chamado “caixa 2”, o que ela naturalmente não pratica. Aquele homem, o superior desta irmã, está fazendo coisas reprováveis, e não quer que elas sejam reprovadas. Então quer ficar longe da luz.
Boas obras então, são a expressão daquilo que o crente é por dentro. E aquilo que o crente é por dentro, que se manifesta em seu comportamento, muitas vezes trará a reprovação do mundo, mas muitas vezes trará o reconhecimento de que tais pessoas que as praticam pertencem realmente a Deus.
Conclusão
Sal da terra, luz do mundo. Os discípulos de Jesus, por si só, por causa daquilo que eles são, causam impacto, causam impressões profundas que influenciam, ora de modo positivo, ora de modo negativo, no mundo em que vivem.
Alguns odeiam os crentes. Outros glorificam a Deus por causa das vidas deles. Paulo disse isto de outra maneira, usando outra metáfora, dizendo que somos o bom perfume de Cristo, tanto nos que se salvam como nos que se perdem. Para uns somos aroma de vida, e para outros, de morte. [2]
Mas o que importa é estarmos comprometidos com Jesus, e em nosso interior cultivar os valores de caráter que ele tem. A manifestação disto no mundo é a consequência natural. Se nós tão somente somos pessoas comprometidas com Jesus, o céu nos aguarda e este mundo é abençoado.
Aplicação
Tenhamos uma visão correta de nossa identidade:
Estamos no mundo, mas não somos do mundo. A nossa pátria está nos céus, de onde aguardamos ao Senhor Jesus. Então não tenhamos ilusões quanto ao mundo. O mundo passa com suas concupiscências, mas o que é de Deus permanece para sempre. Então valorizemos o que é do céu: o amor de Deus, o amor pelas coisas de Deus: a justiça, a fé, a esperança, o amor pelas almas que precisam de Jesus. Amor que é fruto de nosso amor a Jesus. Amor que se manifesta no que falamos e no que fazemos.




[1] Veja  John Stott, Contracultura Cristã, comentando este texto.
[2] 2ª Co 2:15

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