Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 02 de outubro de 2011
Pr. Plínio Fernandes
Meus irmãos, vamos ler Daniel cap. 3
1 O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha
sessenta côvados de altura e seis de largura; levantou-a no campo de Dura, na
província da Babilônia. 2 Então, o rei Nabucodonosor mandou ajuntar
os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os juízes, os tesoureiros, os
magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das províncias, para que
viessem à consagração da imagem que o rei Nabucodonosor tinha levantado. 3
Então, se ajuntaram os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os juízes, os
tesoureiros, os magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das
províncias, para a consagração da imagem que o rei Nabucodonosor tinha
levantado; e estavam em pé diante da imagem que Nabucodonosor tinha levantado.
4 Nisto, o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós
outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas: 5 no momento
em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério,
da gaita de foles e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a
imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou. 6 Qualquer que se
não prostrar e não a adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de
fogo ardente. 7 Portanto, quando todos os povos ouviram o som da
trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério e de toda sorte de
música, se prostraram os povos, nações e homens de todas as línguas e adoraram
a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor tinha levantado.
8 Ora, no
mesmo instante, se chegaram alguns homens caldeus e acusaram os judeus; 9
disseram ao rei Nabucodonosor: Ó rei, vive eternamente! 10 Tu, ó
rei, baixaste um decreto pelo qual todo homem que ouvisse o som da trombeta, do
pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de
música se prostraria e adoraria a imagem de ouro; 11 e qualquer que
não se prostrasse e não adorasse seria lançado na fornalha de fogo ardente.
12 Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da
província da Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; estes homens, ó rei,
não fizeram caso de ti, a teus deuses não servem, nem adoram a imagem de ouro
que levantaste.
13 Então, Nabucodonosor, irado e furioso, mandou chamar
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. E trouxeram a estes homens perante o rei.
14 Falou Nabucodonosor e lhes disse: É verdade, ó Sadraque, Mesaque e
Abede-Nego, que vós não servis a meus deuses, nem adorais a imagem de ouro que
levantei? 15 Agora, pois, estai dispostos e, quando ouvirdes o som
da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles,
prostrai-vos e adorai a imagem que fiz; porém, se não a adorardes, sereis, no
mesmo instante, lançados na fornalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos
poderá livrar das minhas mãos?
16 Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego ao rei: Ó
Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. 17 Se
o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de
fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. 18 Se não, fica sabendo, ó rei,
que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que
levantaste.
19 Então, Nabucodonosor se encheu de fúria e, transtornado
o aspecto do seu rosto contra Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, ordenou que se
acendesse a fornalha sete vezes mais do que se costumava. 20 Ordenou
aos homens mais poderosos que estavam no seu exército que atassem a Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego e os lançassem na fornalha de fogo ardente. 21
Então, estes homens foram atados com os seus mantos, suas túnicas e chapéus e
suas outras roupas e foram lançados na fornalha sobremaneira acesa. 22
Porque a palavra do rei era urgente e a fornalha estava sobremaneira acesa, as
chamas do fogo mataram os homens que lançaram de cima para dentro a Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego.
23 Estes três homens, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego,
caíram atados dentro da fornalha sobremaneira acesa. 24 Então, o rei
Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa, e disse aos seus
conselheiros: Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? Responderam
ao rei: É verdade, ó rei. 25 Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo
quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o
aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses. 26 Então, se
chegou Nabucodonosor à porta da fornalha sobremaneira acesa, falou e disse:
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde! Então,
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram do meio do fogo. 27
Ajuntaram-se os sátrapas, os prefeitos, os governadores e conselheiros do rei e
viram que o fogo não teve poder algum sobre os corpos destes homens; nem foram
chamuscados os cabelos da sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro
de fogo passara sobre eles.
28 Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus de
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos,
que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo
entregar o seu corpo, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu
Deus. 29 Portanto, faço um decreto pelo qual todo povo, nação e
língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego
seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas em monturo; porque não há outro
deus que possa livrar como este. 30 Então, o rei fez prosperar a
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na província da Babilônia.
Em nosso estudo anterior[1], vimos
que o rei Nabucodonosor havia sonhado com uma grande estátua, feita de metais. A
cabeça desta estátua era de ouro puro, os braços e o peito eram de prata, o
ventre e os quadris eram de bronze, e as pernas de ferro. Os pés eram de ferro
entremeado de argila.
Enquanto Nabucodonosor olhava, surgiu uma rocha,
não cortada por mãos humanas, que foi lançada contra os pés da estátua e a
destruiu completamente. Todas as partes da estátua foram feitas em pó que o
vento levou. E a rocha, ao contrário, foi crescendo, e crescendo cada vez mais,
a ponto de se tornar uma imensa montanha que cobriu a terra inteira.
Daniel interpretou o sonho do rei: segundo Deus
revelou, a cabeça de ouro representava Nabucodonosor e seu reino. Depois
surgiria outro reino, inferior ao seu, representado pelo peito e braços de
prata. Vimos que foi o reino medo-persa. Em seguida, representado pelo ventre e
quadris de cobre, um terceiro reino, que foi o período grego. Um quarto reino
viria em seguida, simbolizado pelas pernas e pés de ferro, entremeados de
barro: seria o império romano. Por fim, disse Daniel, a rocha que homens não
haviam preparado seria um reino suscitado por Deus, que destruiria todos os
reinos anteriores, aliás, todos os reinos deste mundo, e ocuparia toda a terra.
Seria um reino eterno.
E vimos que, tal como Daniel predisse, assim
aconteceu: nos dias de césar Augusto, para que se cumprisse a Palavra do
Senhor, nasceu o rei dos reis. O reino de Deus não veio segundo as maneiras
humanas, com golpes militares, com força bélica. Mas veio humilde, através da
vida obediente de Jesus, no poder do Espírito Santo, obediente até à sua morte
na cruz pelos nossos pecados. É um reino que se instala no interior de todo a
aquele que crê em Jesus, e que pela fé o recebe, em seu coração, como seu
Senhor e Salvador; mas desde então, é uma reino que tem crescido, e que nunca
será destruído. É um reino eterno.
Diante do que o profeta falou, Nabucodonosor se
prostrou e disse que o Deus de Daniel era o maior de todos os deuses. Mas
parece que ele não entendeu a mensagem em sua totalidade. O sonho dizia que
Nabucodonosor era a cabeça de ouro, pois Deus lhe havia dado o reino. Mas
também dizia que o seu reino seria suplantado por todos os outros. Dizia que
Nabucodonosor não era eterno, mas que eterno somente o reino de Deus. Parece
que Nabucodonosor só ficou com a imagem da cabeça de ouro na mente, e isto lhe
“subiu à cabeça”.
Então, o cap. 3 nos conta que algum tempo depois,
não sabemos quanto, ele resolveu fazer uma estátua de ouro. Por meio desta
estátua, construída para ser adorada, ele reivindicaria autoridade total sobre
todos os povos de seu vasto reino. Seria uma estátua imensa, com 27 metros de
altura e 2,70 de largura, quase tão grande quanto o Colosso de Rodes.[2] Seria
colocada no campo de Dura, uma planície entre os montes[3], distante
cerca de 10 quilômetros da cidade.[4] Seu
fulgor brilhando ao sol seria visto de longe.
Ele planejou como seria o dia da consagração da
imagem: ali estariam pessoas de todos os lugares de seu grande reino: os
sátrapas (esta palavra significa “protetores”), os prefeitos, os governadores,
os magistrados, os juízes. Todas estas pessoas eram autoridades das várias
nações conquistadas.[5] E
além delas, é claro, o povo comum. Uma grande orquestra, composta de
instrumentos musicais de várias nações também: instrumentos gregos, persas e
judeus.[6] Assim,
seria um ajuntamento representativo de todo o reino em volta daquela imagem
colocada no vale.
Interessante que a Bíblia não diz ser ela a imagem
de um deus – talvez representasse o próprio Nabucodonosor – mas foi erigida com
o propósito de ser adorada. A insistência do rei era no sentido de que a imagem
e os seus deuses babilônicos deviam ser adorados.
Muito bem: Nabucodonosor a fez construir,
colocou-a no campo de Dura, reuniu as autoridades, a grande orquestra, e a
multidão. Era uma solenidade oficial. De repente, fez-se silêncio, e um arauto
do rei fez soar a sua potente voz, de modo que todos pudessem ouvi-lo
claramente:
- “Ordena-se a vós outros, ó povos,
nações e homens de todas as línguas: no momento em que ouvirdes o
som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles
e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o
rei Nabucodonosor levantou” (vs. 4 e 5).
Note as palavras: todos devem se prostrar e adorar a
imagem que o rei Nabucodonosor levantou. Esta frase, “a imagem que o rei Nabucodonosor
levantou” é repetida mais sete vezes até o v. 18. O que toda esta iniciativa do
rei deixa claro é que ele pretendia ser reconhecido como a autoridade suprema
na vida de todas as línguas, povos e raças por ele conquistadas.
A estátua que ele fez devia ser adorada, e também os seus
deuses. Obedecer ao rei nesta ordem implicava reconhecer a sua autoridade
soberana. E se alguém não se curvasse e adorasse, isto é, e se alguém não
reconhecesse a Nabucodonosor como rei supremo, e não adorasse aos seus deuses? No
v. 6 o arauto responde – “Qualquer que se não prostrar e não a adorar será, no
mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente”.
Jeremias 29:22 nos revela que era conhecido o fato de que Nabucodonosor
costumava assar no fogo as pessoas que se opunham a ele. Fora dos textos
bíblicos, uma carta babilônica do séc. 19 A. C., e um documento palaciano
assírio, do séc. 12 A. C., nos mostram que na Babilônia o lançar uma pessoa na
fornalha era um meio de execução conhecido,[7]
assim como mais tarde a cova dos leões entre os medo-persas, e a crucificação
entre os romanos. Estas “fornalhas de fogo ardente” eram grandes fornos para a
fabricação de tijolos. As altas temperaturas garantiam a qualidade dos tijolos,
muitos dos quais perduram até hoje.
Elas tinham uma abertura do lado, por onde as pessoas
entravam para colocar os tijolos e o carvão para queimar. E no alto havia
também uma grande abertura para a circulação do ar, o que garantia uma temperatura
elevada. Calcula-se que chegavam a 900 ºC. Pelo texto bíblico entendemos que,
se alguém fosse condenado à fornalha ardente, seria lançado ali pela abertura
de cima, e os outros ficavam observando pela abertura do lado.
Acontece que durante a cerimônia de consagração e adoração
da imagem, três conhecidos nossos, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, os
companheiros de Daniel, servos do Deus altíssimo, adoradores do Senhor, não se
curvaram. No mesmo instante e eles foram delatados ao rei, como gente rebelde e
desobediente.
Depois que o Nabucodonosor insistiu com eles para que
adorassem a imagem, e não conseguindo demovê-los, ficou enfurecido. Tanto que o
seu rosto se transformou. Ele ordenou que a fornalha fosse superaquecida, e que
sem demora aqueles insubordinados fossem lançados ali. E se aqueles três eram
desobedientes, os demais que estavam ali não eram.
Imediatamente amarraram os servos de Deus e os lançaram no
forno. O fogo estava tão alto que queimou os que foram lançar os três lá
dentro. Enquanto isto, Nabucodonosor e as demais autoridades ficaram a observar
pela abertura lateral, para ver a morte deles. Mas qual não foi a surpresa! Eles
não haviam lançado três homens, amarrados? No entanto agora eles viam quatro
homens, livres, e passeando entre as chamas! E o quarto, disse o rei, não é um
homem comum. É semelhante a um filho dos deuses. Isto porque Nabucodonosor não
tinha discernimento; ele não poderia mesmo reconhecer o Filho de Deus.
Então ele chama os três: - “Sadraque, Mesaque, Abede-Nego, servos do Deus altíssimo, saiam daí,
venham para fora”.
Os três saíram, e todos ficaram admirados: nenhuma queimadura,
nenhum sinal de fogo, nem nas roupas deles, nem ao menos cheiro de fumaça. Nabucodonosor?
Adorava fazer decretos, e fez mais um, ordenando que todos respeitassem o Deus
deles três, e os fez prosperar.
Eu gostaria de fazer uma aplicação devocional a um pequeno
detalhe: eram quatro homens lá dentro. Saíram três. Jesus ficou lá, no fogo.
Porque será? Acho que, entre outras coisas, ele quis dizer prá nós que toda a
vez que um crente é lançado na fornalha, ele não estará sozinho, porque Jesus
já está lá dentro esperando por ele. Pois através dos séculos, irmãos, e é
assim até hoje, e será assim até que Jesus venha em seu reino, os filhos de
Deus serão perseguidos, caluniados, maltratados, afligidos por amor ao nome de
Jesus.
Até a volta do Filho de Deus os filhos do reino serão
provados neste mundo. Mas ele disse: “Nunca
te deixarei, jamais te abandonarei... Quando passares pelas
águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando
passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o
SENHOR, teu Deus, teu Salvador; e tu és meu...” [8]
Já temos visto que no cap.1, a proeza deles foi a
santificação. No cap. 2, a proeza foi o uso dos seus dons. E agora no capítulo
3, os homens que conheciam a Deus não se curvaram diante dos ídolos.
1º - Eles não se
curvaram diante da coação social
Digo “coação social” porque havia todo um contexto social
e político que estavam vivendo naquela hora, e que pretendia forçá-los a fazer
algo que sua consciência não permitia. Estes três homens judeus faziam parte
das autoridades do reino de Nabucodonosor, e como tais, de um lado, tinham
posição muito importante diante do povo, inclusive diante de todo o povo judeu
que havia sido deportado para lá. Além de ser uma posição de destaque, era de
grande responsabilidade. Era também o trabalho deles, o seu modo de ganhar a
vida. Por outro lado, tinham também uma grande responsabilidade diante do rei,
não somente como bons administradores, mas também em sujeição a ele. Se as
próprias autoridades não obedecem ao rei, quem mais obedeceria?
Então, naquele dia, estão todos reunidos: o rei, os muitos
governadores do império (a Bíblia não diz onde Daniel estava, mas, uma vez que
ele era o responsável pela província da Babilônia, é de se crer que ele havia
ficado na capital, a cuidar dos negócios do rei), e numerosa multidão. O
momento é solene, pois trata-se de uma cerimônia que tem por fim reafirmar a
unidade do reino através de um reconhecimento comum da autoridade do rei e seus
deuses. O arauto do rei diz que todos, sem exceção, devem se prostrar e adorar
a imagem do rei e os seus deuses. A estátua brilha reluzente ao sol. As
multidões em volta. As autoridades aos lados, ou talvez atrás de Nabucodonosor.
Então as trombetas, as cítaras, os instrumentos de percussão e todos os outros são
tocados, dando ao momento uma solenidade ainda maior. E todos se curvam.
Agora vejam que, para aquelas autoridades todas, e também para
a imensa multidão, adorar uma imagem a mais ou uma imagem a menos não fazia
diferença alguma. Eles eram politeístas. Além disto, Nabucodonosor havia conquistado
todas aquelas nações. Isto implicava que os deuses dele eram mais fortes. Inclusive
para muitos judeus deportados, pois o grande pecado deles, que levou para o
cativeiro foi justamente o pecado da adoração de ídolos. Então era uma coisa
com a qual eles estavam acostumados. E naturalmente, esperava-se que todos se
curvassem.
Mas para estes três judeus as coisas não eram assim. E a
atitude deles foi tão radical que não dava nem para disfarçar. Não havia meio
de não serem notados. Quando todos se curvam, ou se prostram e adoram, três
permanecem em pé, eretos e firmes em sua posição.
Creio que, numa escala bem menor, a maioria de nós já
esteve em situação parecida, seja na escola, seja entre amigos, seja no
trabalho, ou até entre familiares. Eu me lembro de certa ocasião, eu estava no
terceiro ano primário (fundamental), e uma freira católica foi fazer uma visita
à classe em que eu estudava. Então, depois de dizer que estava ali para nos
abençoar, ela convidou aos alunos para que a acompanhassem numa prece à virgem
Maria. Nós tínhamos que começar fazendo o sinal da cruz.
Quando percebeu que eu não fiz, ela perguntou: - “Porque você não está fazendo também”? É
claro que não havia maldade nenhuma nela. Aquela querida freira não quis me
constranger. Por outro lado, eu também não queria ser mal educado com ela. Mas
também não podia fazer uma coisa que, embora eu ainda não fosse convertido, entendia
ser errado: rezar à virgem Maria. Mas o fato é que naquela época o número de protestantes
era bem menor que hoje; eu era o único na minha classe; todos então ficaram
sabendo que eu não estava fazendo o mesmo que a maioria. E quando você não faz
o que a maioria faz, as pessoas estranham.
Aliás, amados, as pessoas do mundo estranham muitas
coisas que o crente pensa e faz. Mas a atitude que os três amigos tiveram foi a
mesma que mais tarde Pedro incentivou a que tenham todos os crentes.
1ª Pe 4:1-5
1 Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo
pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado,2 para
que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões
dos homens, mas segundo a vontade de Deus.3 Porque basta o tempo
decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em
dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis
idolatrias. 4 Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais
com eles ao mesmo excesso de devassidão, 5 os quais hão de prestar
contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos.
Pedro está aqui nos exortando à santidade, e diz
que diante desta opção pela santidade muitas pessoas do mundo vão achar
estranho. Que no tempo em que os crentes viviam no pecado estavam fazendo a
vontade dos que não conhecem a Deus: sensualidades, brincadeiras censuráveis,
festas inconvenientes, idolatrias odiosas e coisas parecidas. E quando os
crentes não fazem isto, diz o apóstolo, os que são do mundo acham estranho. E
falam mal, difamam. Mas há uma coisa que eles não levam em consideração. Vejam
o versículo 5 – Eles vão ter que prestar contas diante de Deus.
Alguns anos atrás eu conheci uma senhora que me
falou de sua dificuldade para entregar a vida a Jesus. Ela me disse que, devido
à carreira profissional de seu marido, ele precisava constantemente participar
de certas festas nas quais não era conveniente um crente estar presente. E ele
precisava que ela participasse daquelas festas. Então ela tinha a consciência
de sua responsabilidade como esposa, mas tinha também consciência da
responsabilidade como crente. Eu disse que iria orar por ela, mas que ela
precisava decidir, porque diante de Deus o que estava em pauta era a alma dela,
e não a mera carreira do marido. Não demorou muito tempo, e ela se converteu a
Jesus. E o fato de ela se ausentar das festas mundanas não prejudicou em nada a
vida do marido, ao contrário do que o diabo queria que ela pensasse.
Como veremos daqui a pouco, Sadraque, Mesaque e
Abede-Nego sabiam que tinham um Deus a quem dar satisfações, e não era a pressão
dos homens que iria demovê-los de sua posição. Por isto eles se armaram deste
pensamento, conforme Pedro exorta no v. 1: -
“Se for preciso sofrer, nós sofreremos, mas deixaremos o pecado.”
Isto nos leva um passo adiante na história.
2º - Eles também não se curvaram diante da pressão do rei
Assim que perceberam que os três servos de Deus não
haviam se curvado, os servos do diabo foram delatá-los a Nabucodonosor. O rei
ficou muito bravo. Bravo? A Bíblia diz que ele ficou irado e furioso. O seu
rosto se transtornou. Já viu quando uma pessoa fica brava e o rosto muda? Isto
é pouco diante de Nabucodonosor. Mandou chamá-los.
- “É verdade, ó
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vocês não servem aos meus deuses, nem
adoram a imagem de ouro que eu levantei?”
- “Agora, então, se preparem, e quando ouvirem o som da
trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles,
prostrem-se e adorem a imagem que eu fiz; no entanto, se não fizerem o que eu
estou mandando, na mesma hora serão lançados na fornalha.”
- “E quem é o deus que poderá livrar
vocês das minhas mãos?"
Irmãos, vamos imaginar só um pouco, de modo um tanto fraco, a situação
deles, como se nós estivéssemos ali. Diante de nós o rei, irado e furioso. As
autoridades olhando prá nós. Todos nos encarando, com um olhar de reprovação. Bem
perto, ao alcance dos nossos olhos, a fornalha. Dá até para sentir o calor do
fogo. Dá até pra ouvir o crepitar das brasas de carvão. Basta o rei ordenar e
seremos jogados nela. Você já queimou um dedo? Já queimou um braço? Imagine
queimar o rosto, o peito, as pernas, o corpo inteiro. E os três sabiam que
muito provavelmente seriam jogados ali dentro e morreriam queimados.
Por que digo isto? Será que eles duvidavam do poder de Deus? Vejamos a
resposta deles (vs. 16-18):
vs. 16, 17
- “Ó Nabucodonosor,
quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a
quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e
das tuas mãos, ó rei.”
Eles não duvidavam do poder de Deus. Conheciam ao Senhor o suficiente para
saber que ele tinha mais poder que Nabucodonosor e poderia livrá-los, não só da
fornalha, mas do rei também. Conheciam a Palavra de Deus, as histórias
sagradas. Por exemplo: sabiam de Senaqueribe, o poderoso rei da Assíria, que
certa vez desafiara o rei Ezequias com palavras semelhantes: - “Que deus poderá vos livrar das minhas mãos?”,
e sabiam que o Senhor feriu a Senaqueribe, livrando assim ao reino de Judá.[11]
Mas o que eles não sabiam era quais os propósitos de Deus. Pois, irmãos, o
Senhor nosso Deus muitas vezes, podemos dizer na maioria das vezes, tem
propósitos que não revela a nós.E da mesma forma eles conheciam histórias de
servos fiéis que haviam perecido nas mãos de seus inimigos, mas que foram fiéis
até à morte. Homens como os muitos profetas que foram mortos pela rainha
Jezabel,[12] homens como Jeremias, que
foram encarcerados, que passaram pela prova de escárnios e açoites, homens como
Isaías, que segundo tradições judaicas e cristãs, foi serrado ao meio nos dias
do perverso rei Manassés.[13] Sabiam
de homens que, por sua fé, foram mortos ao fio de espada. Então não tinham uma
teologia mal estudada, que dizia que, se tivessem fé suficiente, nada lhes
aconteceria. Por isto as palavras do v. 18:
- “Se não (se o nosso Deus não
quiser nos livrar), fique sabendo, ó rei,
que ainda assim não serviremos aos teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro
que levantaste”.
Então, Nabucodonosor, de novo, se
encheu de fúria e, transtornado o aspecto do seu rosto contra eles, ordenou que
se esquentasse a fornalha sete vezes mais do que se costumava. Mandou
aos homens mais fortes, que estavam no seu exército, (pois os três eram muito
perigosos), que os amarrassem e os lançassem na fornalha. Os judeus foram
então atados com os seus mantos palacianos, suas túnicas e chapéus e suas outras
roupas e foram lançados na fornalha que estava mais quente que o normal. Já
viram aquelas cenas em filmes quando mais carvão é jogado na fogueira para
acelerar ainda mais a velocidade de um trem? O rei estava com muita pressa e a
fornalha estava tão quente que as chamas do fogo mataram os homens que os lançaram
de cima para dentro. E os três homens de Deus, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego,
caíram atados dentro da fornalha sobremodo acesa. Pois eram gente que preferia
perder a própria vida, do que se submeter à vontade dos homens.
Faz pensar em Martinho Lutero, que um dia, diante de um tribunal humano que
o ameaçou com a morte na fogueira, caso ele não se retratasse das coisas que
escreveu, respondeu às autoridades que não era certo agir contra sua própria
consciência, e assim se negou a retratar-se.
Faz pensar, por exemplo, nos muitos crentes coreanos que morreram durante a
ocupação comunista, nos anos 50.
Sobre isto, eu vou ler para os irmãos o testemunho dado por Paul Yonggi Cho:
Aconteceu durante a guerra da Coréia quando
500 ministros foram capturados e imediatamente fuzilados e duas mil igrejas
destruídas. Os comunistas eram cruéis para com os pastores. A família de certo
ministro foi capturada em Inchon, Coréia, e os líderes comunistas submeteram-nos
ao que chamavam de "Tribunal do Povo". Os acusadores diziam:
— Este homem é culpado de cometer este tipo
de pecado e por esse pecado deve ser castigado.
A única resposta que recebiam era um coro
unânime de vozes, dizendo:
— Sim, sim!
Desta vez cavaram um grande buraco, colocaram
o pastor, sua esposa e vários de seus filhos dentro dele. Então o líder falou:
— Todos estes anos o senhor tem desviado as
pessoas com a superstição da Bíblia. Se desejar agora retratar-se perante o
povo aqui reunido e arrepender-se de sua má conduta, então o senhor, sua esposa
e seus filhos serão libertados. Mas se persistir em suas superstições, toda a
sua família vai ser enterrada viva. Tome sua decisão!
Todos os seus filhos começaram a chorar,
dizendo:
— Papai, papai, pense em nós!
Imagine a situação desse homem. Se você
estivesse em seu lugar, o que teria feito? Sou pai de três filhos e chegaria
quase a preferir ser lançado ao fogo do inferno a ver meus filhos serem mortos.
Este pai estava profundamente abalado.
Levantou a mão, dizendo:
— Sim, sim, fá-lo-ei. Vou denunciar...
minha... Mas antes de poder terminar a frase a esposa tocou-lhe o lado dizendo:
— Diga NÃO!
E
dirigindo-se aos filhos, essa valente mulher disse:
— Calem-se,
filhos. Esta noite vamos jantar com o Rei dos reis e Senhor dos senhores!
Então
começou a cantar o hino “No celeste porvir”. Seus filhos e marido a
acompanharam no cântico enquanto os comunistas começaram a enterrá-los. Logo as
crianças estavam enterradas, mas até que a terra lhes chegasse ao pescoço
continuaram a cantar e o povo a olhar. Deus não os livrou, mas quase todos os
que viram essa execução tornaram-se crentes. Muitos são membros de minha igreja.[14]
Isto também nos faz
pensar em Estevão, que preferiu ser apedrejado até à morte, mas deu bom testemunho
de sua fé em Jesus. Só que enquanto morria apedrejado, os olhos de sua alma
também contemplavam o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Pois seja na
fogueira, seja no céu, o Senhor Jesus está sempre a esperar por aqueles que lhe
são fiéis.
Conclusão
A principal lição do
cap. 3 de Daniel não é o grande milagre realizado, amados. Pois Deus poderia ou
não ter realizado o milagre. A grande lição é que, com milagre ou sem milagre, não
há Deus maior, não existe soberano maior sobre nossas vidas. Diante de Deus, o
homem mais poderoso da terra não é nada, e aqueles que conhecem a Deus podem se
manter firmes, pois o povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo. Se
esforçará e fará proezas.
Eles não se dobraram
diante da pressão social. Não ficaram preocupados com o que as pessoas em volta
iriam pensar deles. Não ficaram preocupados com seus empregos. Não ficaram
preocupados com seu “status”. Eles poderiam perder muito mais do que isto.
Poderiam perder a vida de maneira cruel. Também não ficaram preocupados com a
fúria do rei, pois permaneceram na fé, como quem vê aquele que é invisível.[15] Pois
eles sabiam em quem haviam crido. Eles conheciam a Deus.
Aplicação
Será que valeu a pena
eles crerem em Deus? E quanto aos outros, que foram açoitados, serrados ao
meio, que passaram fome, que foram maltratados, enforcados, queimados, “homens
dos quais o mundo não era digno”, será que valeu a pena perderem tudo para
ganhar as suas almas?
Eu gostaria de fazer
duas aplicações gerais, amados:
Primeira: pensemos nos nossos irmãos que sofrem no mundo
inteiro, por causa do Evangelho.
Hb 13:3
Lembrai-vos dos encarcerados,
como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós
mesmos em pessoa fôsseis os maltratados.
Não me parece, dentro do
contexto de Hebreus, que ele esteja nos admoestando a lembrar dos que estão
presos por terem praticado o que é mau, mas que nos lembremos daqueles que
foram acusados do crime de serem filhos de Deus.
Nos dias de hoje, a
igreja é perseguida em muitos lugares do mundo. Não só os países muçulmanos e
no que sobrou do comunismo, mas também nos países capitalistas. Mas nestes
últimos, de maneira velada, disfarçada de leis democráticas. Através de
difamação, calúnias, restrições, propaganda ideológica e coisas semelhantes. Lembremo-nos
dos nossos irmãos. E sejamos gente de intercessão.
Segunda: comparado com os sofrimentos que nossos irmãos
passam, o nosso sofrimento é pouco.
Mas muitas vezes é
suficiente para que fraquejemos. Então sejamos fiéis no pouco. Porque somente
podem ser fiéis no muito aqueles que são fiéis no pouco. Estes três homens não
conseguiriam ter resistido no momento difícil, se não tivessem sido fiéis
alguns anos antes, quando era apenas uma questão de alimentação. Se tivessem
fraquejado naquilo, dificilmente teriam forças agora.
Então, mesmo que seja em
pequenas coisas – uma cerveja com os amigos, uma festa de caráter duvidoso, uma
piada maliciosa, uma insinuação, um negócio desonesto, ou uma ordem direta do
patrão. Se nos depararmos com alguma coisa que ponha em perigo a nossa
consciência ou o nosso testemunho diante do mundo, sejamos fiéis.
Se caso percebermos que
nalguma coisa temos sido infiéis, confessemos àquele que é fiel e justo para
nos perdoar e purificar, renovemos nossa atitude, esqueçamos as coisas que
ficam para trás e prossigamos para o nosso alvo de conhecer ao Senhor cada vez
melhor.
Honrar a Deus. Adorar
somente a Deus. Servir somente a Deus. Vale a pena.
[1] Sermão 34 de 2011 - Dn 02 19-49 - O Sonho de Nabucodonosor
[2] O Colosso de Rodes media
70 côvados (31,50m) contra os 60 desta estátua. J. G. Baldwin, Daniel, Introdução e Comentário, Série
Cultura Bíblica (São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão, 1983, pág. 106)
[3] Stuart Olyott, Ouse ser firme (São José dos Campos,
Fiel, 1996), pág. 39.
[4] http://jfcestudos2.blogspot.com/2010/08/por-que-daniel-nao-foi-jogado-na.html,
acessado em 30 de setembro de 2011 às 13:30 hs.
[5] Baldwin, pág. 108.
[6] Olyott, pág. 40.
[7] K. A. Kitchen, in Novo Dicionário da Bíblia (São Paulo,
Vida Nova, 1988), vol. I, pág. 636.
[8] Hb 13:5; Is 43:1-3.
[9] Dn 11:32b, ARA.
[10] Ibid. ARC.
[11] Is 36, 37.
[12] 1º Rs 19:10.
[13] Justino, o mártir, e
Orígenes, bem como o apócrifo A Ascensão de Isaías, cf. Donald Guthrie, Série
Cultura Bíblica, Hebreus, Introdução e
Comentário (São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão, 1984), pág. 230.
[14] Paul Yonggi Cho, A
quarta dimensão (Miami, Ed. Vida, 1983), cap. 4. Não concordo com a doutrina esposada por P. Y.
Choo. No entanto, considerando o relato de muitos crentes em situações
semelhantes, e também que o referido escritor é pastor de uma grande igreja
cristã, creio na veracidade de seu testemunho.
[15] Como Moisés; Hb 11:27.
parabéns ....
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