Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Resposta a Simplex Veritas

Amados, recebi, hoje, o questionamento de Simplex Veritas, acerca de minha maneira de me comportar em relação à questão dos dízimos. As perguntas foram colocadas nos comentários aqui
Foram perguntas honestas, simples e diretas, de alguém que deseja conhecer a doutrina que esposo.
Mas ali não pude responder, pois meu texto ficou muito longo.

Então estou postando a resposta aqui, no sincero desejo de edificar também a outros que porventura lerem também.

     Primeiro as perguntas, para que a resposta seja melhor entendida.


Foram 30(trinta) moedas.
Sinto constrangimento em fazer essas perguntas e de parecer um insolente, porque não me dou esse direito. Meço e peso o coração de um religioso pelo conteúdo da sã doutrina em suas respostas. Então pergunto: O sr. se apropria dos dízimos? Existe alguma prescrição nos evangelhos para que seja cobrado o dízimo? O que é o dízimo, quem o estabeleceu e porque e como deveria ser cobrado? Se o dízimo era cobrado porque as obras dos homens não eram perfeitas e se essa perfeição e salvação chegou-nos através de Cristo, não é negar o sacrifício de Jesus ao derramar seu sangue na cruz por nossos pecados, cobrar um dízimo pertencente à Lei dos hebreus, encerrada nas palavras do próprio Senhor em João, o batista?
Peço que esclareça-nos essas dúvidas.
Paz de Cristo.

       Agora minha resposta

      Olá, meu amigo. A paz de Cristo.
Sou grato por ter tomado a iniciativa de me escrever solicitando esclarecimentos sobre meu comportamento neste assunto. Não porque desejo expor-me, pois meu propósito neste blog é partilhar o Evangelho de Jesus, expor a doutrina de Cristo e edificar a igreja do Senhor.
Mas, por um lado, o ensino bíblico aos crentes é no sentido de que se acautelem dos falsos profetas (Mateus 7:15), e por outro lado, o amor ao dinheiro é uma das características dos falsos mestres, pelo fato de que muitas pessoas se utilizam da fé como um comércio, o que é veementemente condenado na Palavra de Deus (Veja, por exemplo, 2ª Pedro 2:2, 3). Neste sentido, gostaria que você lesse também a mensagem que se encontra neste link.
Então você faz muito bem em questionar este assunto, para o bem de seu crescimento na fé, e também para se prevenir contra ensinos errôneos. Mas penso também que você pode ver a doutrina que ensino em todas as minhas postagens, e delas inferir se elas são bíblicas.
Espero poder abençoá-lo, através de minhas respostas.
Eis aqui, resumidamente, minhas respostas, à luz do entendimento e prática da igreja a que pertenço (Presbiteriana Conservadora) temos sobre o assunto.
1)      Não. Nós não nós, os pastores, não nos apropriamos do dízimo entregue pelos nossos irmãos.
2)      Os dízimos foram estabelecidos por Deus.
Não sabemos quando, pois a primeira referência que temos nas Escrituras diz respeito aos dízimos dados pelo nosso pai na fé (como Paulo se refere a Abraão em Romanos 4:11). O testemunho bíblico sobre os dízimos dados por Abraão está registrado em Gênesis 14:20.
Não sabemos quando Deus estabeleceu os dízimos, mas o fato é que Abraão os entregou, e eles foram recebidos por Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo.  Isto aconteceu 400 anos antes que o Senhor desse a lei mosaica, na qual ele incorporou os dízimos e explicou as razões para que o povo do Senhor os entregasse. Numa sociedade essencialmente rural, os dízimos eram entregues ao Senhor de acordo com o calendário das colheitas ou outros tipos de produção do trabalho do povo de Deus.
A segunda referência aos dízimos na Bíblia encontra-se em Gênesis 28:28, onde Jacó (neto de Abraão) promete entregá-lo ao Senhor em reconhecimento da bênção de Deus em sua vida.
Depois disto, a próxima referência encontra-se na lei mosaica. Os dízimos tinham em vista três objetivos: o sustento do ministério levítico, inclusive o sacerdotal (Números 18:20-32), a beneficência (Deuteronômio 14:22-29), e a  manutenção da casa de Deus (Malaquias 3:10). Por isto é que o profeta Malaquias exortou o povo do Senhor a entregar os dízimos para que houvesse mantimento em sua casa. A entrega dos dízimos, segundo a argumentação de Malaquias, não seria apenas um “ato externo de obediência”, mas de amor à casa do Senhor e fé na providência de Deus. E amado irmão, os dízimos não eram um pagamento pelas obras humanas imperfeitas (Deus não está à venda, nem seus ministros), mas sim, eram o meio providenciado por Deus para o sustento da obra religiosa, como fruto de reconhecimento, fé e amor por parte do povo de Deus.
No Novo Testamento, vemos que os ministros da igreja do Senhor, assim como a igreja, têm o mesmo tipo de ministério, ainda que não sejam idênticos. Por isto os crentes também são exortados a contribuir.
Quero citar algumas referências; não irei aqui comentá-las. Apenas para que você medite por si mesmo.

Sobre o sustento dos pregadores.

1ª aos Coríntios 9:13, 14
Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento?  Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho.

1ª a Timóteo 5:17, 18
Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino.  18 Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário.

Gálatas 6:6
Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui.

Até mesmo Jesus e sesus apóstolos foram assistidos financeiramente por outras pessoas, como vemos em Lucas 8:1-3.

A ajuda aos necessitados

2ª aos Coríntios capítulos 8 e 9. O texto é por demais longo para transcrevê-lo aqui. Peço que você o leia diretamente em sua Bíblia. Mas nele o Espírito Santo dá testemunho do comportamento das igrejas apostólicas, angariando fundos em favor dos pobres. Também podemos ver o mesmo testemunho em Atos capítulos 4 e 5.

As necessidades de manutenção das igrejas.

No Novo Testamento, não temos esses edifícios de propriedade da igreja, para o povo de Deus se reunir. Naqueles tempos, as igrejas se reuniam nas casas dos crentes (e em tempos de perseguição, até mesmo nas catatumbas). Com o passar do tempo, os discípulos de Jesus cresceram em número, e começaram também a se reunir em edifícios especialmente destinados a isto, que passaram a ser chamados templos.
Bem, estas casas de adoração precisam ser mantidas (agora mesmo, enquanto escrevo, acabo de receber um “Comunique-se” da Prefeitura, estabelecendo muitas coisas que as igrejas precisam providenciar. E o Evangelho ensina: “Daí a César o que é de César”. Para isto precisamos recursos financeiros.
Bem, como você pode ver, tanto a Bíblia como a nossa experiência diária testemunham as necessidades econômicas da igreja. E o meio como Deus providenciou para estas coisas é a contribuição, em amor e fé, do povo de Deus. A entrega dos dízimos nada tem a ver (e nunca teve, nem no Antigo Testamento) com sacrifícios pelo perdão dos pecados. Mesmo no Antigo Testamento, o perdão dos pecados era concedido como resultado de arrependimento e fé no sangue precioso do Senhor Jesus (que ali era representado pelos sacrifícios feitos no santo dos santos, e que apontavam para o sacrifício que nosso Salvador fez por nós). Eu sugiro que você leia a mensagem que postei no último domingo, aqui neste link.
Os crentes em Jesus são obrigados a contribuir? É claro que não. Os crentes dos primeiros dias, assim como hoje em dia, não eram (e não são) obrigados a dar nada. Mas motivados pelo amor, e desejosos de manter os ministros, a ajuda aos pobres e às demais necessidades da igreja, foram instruídos a contribuir com liberalidade. Se alguém não puder contribuir, isto não é visto como algo merecedor da ira de Deus, pois não é assim que a Bíblia nos ensina.
Então, em minha denominação eclesiástica (assim como na maioria das outras denominações) temos o seguinte procedimento: os membros da igreja espontaneamente contribuem, conforme as seus recursos, e não segundo aquilo que não têm; a direção da igreja (e não os pastores), considerando nossas possibilidades, estabelece um orçamento, dentro do qual são especificados os vencimentos (que chamamos côngruas) para o sustento do pastor. É graças a este sustento (que não está acima da média daquilo que meus irmãos também ganham com seu trabalho), que cuido de minha família e dedico tempo integral ao meu ministério. A igreja também estabelece a quantia para as despesas de edificação e manutenção do edifício e suas dependências, as contribuições para os campos missionários, o sustento do seminário da igreja e outros órgãos da denominação. E tudo é minuciosamente contabilizado e declarado aos órgãos governamentais.
Voltando à sua pergunta inicial, a resposta é “Não. Não me aproprio dos dízimos da igreja”. Isto seria pecado. Mas a igreja, de acordo com suas possibilidades, amorosamente, sustenta o seu pastor. Pelo que sou muito grato a Deus, que em sua sabedoria e cuidado amoroso, providenciou as coisas desta maneira.
Última observação: não creio que o irmão, ao citar “trinta moedas de prata”, que foi a quantia pela qual Judas Iscariotes traiu nosso Senhor, esteja querendo dizer que os ministros devidamente sustentados através da amorosa contribuição do povo de Deus estejam fazendo o papel de Judas. Você é um homem temente a Deus, e certamente não deseja ofender seus irmãos, ministros do Evangelho.
No amor do Senhor, no sincero desejo de edificar sua fé,
Pr. Plínio

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