Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 23 de outubro de 2011
Pr. Plínio Fernandes
Meus
amados, vamos ler Daniel capítulo 6
1Pareceu
bem a Dario constituir sobre o reino a cento e vinte sátrapas, que estivessem
por todo o reino; 2 e sobre eles, três presidentes, dos quais Daniel
era um, aos quais estes sátrapas dessem conta, para que o rei não sofresse
dano. 3 Então, o mesmo Daniel se distinguiu destes presidentes e
sátrapas, porque nele havia um espírito excelente; e o rei pensava em
estabelecê-lo sobre todo o reino.
4 Então,
os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião para acusar a Daniel a respeito
do reino; mas não puderam achá-la, nem culpa alguma; porque ele era fiel, e não
se achava nele nenhum erro nem culpa. 5 Disseram, pois, estes
homens: Nunca acharemos ocasião alguma para acusar a este Daniel, se não a
procurarmos contra ele na lei do seu Deus.
6 Então,
estes presidentes e sátrapas foram juntos ao rei e lhe disseram: Ó rei Dario,
vive eternamente! 7 Todos os presidentes do reino, os prefeitos e
sátrapas, conselheiros e governadores concordaram em que o rei estabeleça um
decreto e faça firme o interdito que todo homem que, por espaço de trinta dias,
fizer petição a qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, seja
lançado na cova dos leões. 8 Agora, pois, ó rei, sanciona o
interdito e assina a escritura, para que não seja mudada, segundo a lei dos
medos e dos persas, que se não pode revogar.
9 Por esta
causa, o rei Dario assinou a escritura e o interdito. 10 Daniel,
pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa e, em
cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas do lado de Jerusalém, três
vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus,
como costumava fazer.
11 Então, aqueles homens foram juntos,
e, tendo achado a Daniel a orar e a suplicar, diante do seu Deus, 12
se apresentaram ao rei, e, a respeito do interdito real, lhe disseram: Não
assinaste um interdito que, por espaço de trinta dias, todo homem que fizesse
petição a qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, fosse lançado na
cova dos leões? Respondeu o rei e disse: Esta palavra é certa, segundo a lei
dos medos e dos persas, que se não pode revogar. 13 Então, responderam
e disseram ao rei: Esse Daniel, que é dos exilados de Judá, não faz caso de ti,
ó rei, nem do interdito que assinaste; antes, três vezes por dia, faz a sua
oração.
14 Tendo o
rei ouvido estas coisas, ficou muito penalizado e determinou consigo mesmo
livrar a Daniel; e, até ao pôr do sol, se empenhou por salvá-lo. 15
Então, aqueles homens foram juntos ao rei e lhe disseram: Sabe, ó rei, que é
lei dos medos e dos persas que nenhum interdito ou decreto que o rei sancione
se pode mudar.
16 Então, o
rei ordenou que trouxessem a Daniel e o lançassem na cova dos leões. Disse o
rei a Daniel: O teu Deus, a quem tu continuamente serves, que ele te livre.
17 Foi trazida uma pedra e posta sobre a boca da cova; selou-a o rei com
o seu próprio anel e com o dos seus grandes, para que nada se mudasse a
respeito de Daniel.
18 Então, o
rei se dirigiu para o seu palácio, passou a noite em jejum e não deixou trazer
à sua presença instrumentos de música; e fugiu dele o sono. 19 Pela
manhã, ao romper do dia, levantou-se o rei e foi com pressa à cova dos leões.
20 Chegando-se ele à cova, chamou por Daniel com voz triste; disse o rei
a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo! Dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem
tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?
21 Então,
Daniel falou ao rei: Ó rei, vive eternamente! 22 O meu Deus enviou o seu anjo e fechou
a boca aos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim
inocência diante dele; também contra ti, ó rei, não cometi delito algum.
23 Então, o rei se alegrou
sobremaneira e mandou tirar a Daniel da cova; assim, foi tirado Daniel da cova,
e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus. 24 Ordenou o
rei, e foram trazidos aqueles homens que tinham acusado a Daniel, e foram
lançados na cova dos leões, eles, seus filhos e suas mulheres; e ainda não
tinham chegado ao fundo da cova, e já os leões se apoderaram deles, e lhes
esmigalharam todos os ossos.
25 Então, o
rei Dario escreveu aos povos, nações e homens de todas as línguas que habitam
em toda a terra: Paz vos seja multiplicada! 26 Faço um decreto pelo
qual, em todo o domínio do meu reino, os homens tremam e temam perante o Deus
de Daniel, porque ele é o Deus vivo e que permanece para sempre; o seu reino
não será destruído, e o seu domínio não terá fim. 27 Ele livra, e
salva, e faz sinais e maravilhas no céu e na terra; foi ele quem livrou a
Daniel do poder dos leões. 28 Daniel, pois, prosperou no reinado de
Dario e no reinado de Ciro, o persa.
Hoje nós estamos chegando ao sexto e último capítulo
da parte histórica do livro de Daniel. Pois como já dissemos anteriormente, no
que diz respeito ao seu conteúdo, este livro é dividido em duas partes
principais. A primeira, que compreende os capítulos 1 a 6, trata de
acontecimentos da vida de quatro, dos milhares de judeus, que foram levados
para o exílio na Babilônia, no fim do século VII A. C.: Daniel, Ananias, Misael
e Azarias. E a segunda parte abrange os capítulos 7 a 12, consistindo numa
série de quatro visões que Daniel teve nas terras da Babilônia.
Pois bem: em cumprimento à Palavra do Senhor dada
por intermédio do profeta Jeremias, o reino da Babilônia havia caído, e em
breve os judeus poderiam voltar à sua pátria. Humanamente falando, este retorno
foi consequência de uma postura política diferente que os medo-persas tinham em
relação às nações conquistadas. Pois, se de um lado, os Babilônios haviam
levado muitos dos derrotados para o exílio, os medo-persas faziam o contrário:
eles reenviavam os exilados para suas terras, ordenando que reconstruíssem suas
cidades e assim promovessem a restauração da vida nacional, sob a direção do
império.
Digo que isto é do ponto de vista humano, porque
como temos visto a cada estudo, por trás de todos os acontecimentos da
história, quer dos grandes grupos como as nações, quer dos indivíduos, estão em
ação o propósito e a mão governadora do Senhor. Por trás dos babilônios, o
Senhor é quem levou os judeus para o exílio, e agora, por intermédio dos
medo-persas, o Senhor também conduziria os judeus de volta à sua terra.
O texto nos diz que o primeiro governante medo-persa
se chamava Dario. Por várias razões, tanto bíblicas como extra-bíblicas, alguns
estudiosos creem que o rei Dario e o rei Ciro sejam a mesma pessoa, embora à
primeira vista pareçam ser duas pessoas diferentes.[1] Temos
pouco tempo aqui, por isto, ainda que haja questões interessantes que
gostaríamos de estudar, não vamos nos deter neste assunto. Basta nos
concentrarmos na história narrada em nosso texto de hoje.
E o texto noz diz que, tal como Nabucodonosor,
muitos anos antes notou que Daniel era um homem de qualidades, assim também foi
com o rei Dario. Para governar melhor, Dario dividiu o seu vasto reino em 120
satrapias, ou protetorados, cada um sendo então administrado por um sátrapa. Sobre
estes sátrapas constituiu três presidentes; entre eles, Daniel.
Logo que o rei percebeu as qualidades de Daniel
começou, não somente a pensar, mas também a dizer que estava cogitando a
possibilidade de colocá-lo como o superintendente, ou governador, sobre todos os
demais.
O versículo 3 nos diz que em Daniel havia um “espírito
excelente”. A palavra excelente quer dizer: que está acima dos demais,
superior. Daí que a versão Reina/Valera traduz desta maneira: havia nele um “espírito
superior”. Um homem de caráter superior, que excedia em qualidade moral aos
seus contemporâneos. Assim, o rei começou a pensar em promovê-lo. Isto provocou
a inveja dos outros presidentes e sátrapas. Eles não queriam ter Daniel como
seu superior. Então, para dissuadir o rei, começaram a vigiar a vida de Daniel,
procurando acusá-lo de algum delito.
Nós vemos isto acontecer constantemente: se algum
político começa a ter proeminência, muitos outros começam a vasculhar sua vida
a fim de lançá-lo no descrédito. Se conseguem, muitas vezes a carreira pública
de um homem está arruinada. Mas não conseguiram encontrar nele alguma falha da
qual pudesse ser acusado perante o rei.
Então resolveram criar uma lei especificamente para
destruir a Daniel. E pelo que eles conheciam, a coisa, ou antes, a pessoa mais
importante para Daniel era o seu Deus. Se eles conseguissem criar uma lei
contrária aos princípios espirituais de Daniel, eles sabiam que aquele homem se
manteria firme em sua religião, e nisto poderiam então acusá-lo perante o rei.
Os irmãos devem ter percebido que há várias
similaridades entre esta história, da cova dos leões, e a história da fornalha
ardente, no capítulo 3. Nas duas histórias, as leis são promovidas por homens
corruptos, visando o seu interesse próprio, utilizando-se da vaidade dos
governantes. Nas duas histórias, há uma mistura de política, interesses
pessoais e religião. Nas duas, a desobediência é punida com a morte. Nas duas
histórias há uma acusação contra os servos de Deus, e nas duas histórias,
embora o Senhor pudesse não interferir sobrenaturalmente, ele o faz.
Mas existe pelo menos uma diferença: na história da
fornalha ardente, o Diabo queria fazer com que os servos de Deus se curvassem
aos deuses deste mundo, que eles praticassem uma coisa má. E aqui no cap. 6, o
que o Diabo quer é que os servos de Deus deixem de servir a Deus, isto é,
deixem de fazer uma coisa boa. Porque os sátrapas e presidentes vão ao rei
Dario e dizem o seguinte:
– “Ó rei, vive
eternamente. Estando todos nós reunidos (mentira: Daniel não estava), nos
pareceu bem solicitar que o senhor faça um decreto para que, no espaço de um
mês, homem algum possa fazer qualquer pedido, seja a um deus ou a qualquer
homem que não seja o senhor”.
– “Se neste
tempo alguém desobedecer este decreto, que seja condenado à morte, na cova dos
leões”.
Ora, assim como nos dias de Nabucodonosor uma das
formas de execução dos rebeldes era na fornalha ardente, no reino medo-persa
era a cova dos leões. Os reis tinham o hábito de caçar leões e mantê-los em
cativeiro. Dario gostou da ideia. Seria uma forma de seus súditos demonstrarem
sua lealdade. E penso que nem imaginou que alguém poderia desobedecer tal lei.
E assinou o decreto.
Como temos visto a cada domingo, este livro nos
mostra que “o povo que conhece o seu Deus
se tornará forte e ativo. Se esforçará e fará proezas” (Dn 11:32). Mais uma
vez Daniel nos mostra o que significa isto. Aqui, significa ter um espírito
excelente; um caráter superior, acima da média.
Porque Daniel podia ser descrito como um homem de
caráter superior?
1. Porque ele era um homem fiel
A fidelidade
de Daniel pode ser vista nas duas grandes esferas de sua vida, se podemos dizer
assim: na área “secular” e na área “religiosa”. De certo modo, precisamos
colocar estas áreas entre aspas pois entendemos que para o cristão tudo é
sagrado e espiritual. Mas ao mesmo tempo temos que reconhecer, como nos ensinou
Jesus, que existem coisas que são de césar e existem coisas que são de Deus.[2]
Então existe a atividade secular e a atividade religiosa.
Assim,
quando os invejosos quiseram prejudicar a Daniel, a primeira coisa que fizeram
foi vasculhar a sua vida profissional. E o resultado está no v. 3:
Então, os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião para acusar a Daniel
a respeito do reino; mas não puderam achá-la, nem culpa alguma; porque ele era
fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa.
Não havia nenhum negócio desonesto, nenhuma fraude, não havia qualquer
atividade na qual Daniel pudesse ser visto como um homem injusto.
1.1 - Daniel era
fiel no que dizia respeito às coisas desta vida.
Esta semana uma irmã me perguntou se Daniel era casado. À luz do que
estamos falando acho interessante que ela tenha pensado nisto também. Pois
alguns maus políticos, para não dizer gente de mau caráter, quando não
conseguem lançar algum outro em descrédito, com base em sua vida profissional,
procuram então alguma outra forma para acusá-lo, muitas vezes a partir de sua
vida familiar. Parece que Daniel não era casado, uma vez que a Bíblia não diz uma palavra sequer sobre isto. Mas pelo
que conhecemos deste homem em tudo quanto ela registra sobre ele, não há dúvida
que, se fosse, também em suas relações familiares seria encontrado íntegro.
Dizer que Daniel era um homem fiel em suas atividades e em seus
relacionamentos humanos significa dizer que ele não mentia, como fizeram os
outros presidentes e sátrapas. Que ele não traía. Que ele não enganava. Que ele
“não passava a perna” em ninguém para "se dar bem nos negócios". Que
ele era constante na prática do bem.
O v.5 em diante nos diz que, vendo que não poderiam acusá-lo de
nada, decidiram criar uma lei que Daniel não poderia obedecer, para com isto
desacreditá-lo diante do rei. E conseguiram criá-la. Resumindo, de acordo com
esta lei, pessoa alguma, durante um mês, podia orar ao seu Deus.
De antemão eles sabiam
que Daniel não obedeceria esta lei. E aqui nós vemos o outro aspecto da
fidelidade de Daniel:
1.2 – Daniel era fiel a Deus
Quando soube que o
decreto estava assinado, continuou simplesmente com aquilo que fazia
normalmente. Foi para sua casa, em seu quarto, como fazia todos os dias. Havia
ali uma janela voltada para o lado de Jerusalém. Ele se colocava de joelhos,
com o rosto e o coração voltados para aquela janela, três vezes por dia e
orava. Orava agradecendo a Deus pala vida que tinha e por todas as coisas que
recebia da parte do Senhor. E também orava entregando a Deus os seus cuidados,
fazendo as suas súplicas. Quem sabe nesta ocasião ele não tenha colocado a
situação que estava vivendo, pedindo que Deus tomasse conta de tudo pra ele,
enquanto serenamente continuava em seus afazeres diários?!
Existem pelo menos duas
razões pelas quais Daniel orava. Uma delas está explicita no v. 23, e daqui a
pouco iremos a ela. Mas a outra razão está implícita no livro como um todo: é
que Daniel conhecia a história que até então estavam registradas nas Sagradas
Escrituras. Então voltemos para um texto que falava sobre dias mais antigos.
Sobre o dia em que o templo do Senhor foi consagrado pelo rei Salomão.
1º Rs 8:46-50
46 Quando pecarem contra ti (pois não
há homem que não peque), e tu te indignares contra eles, e os entregares às
mãos do inimigo, a fim de que os leve cativos à terra inimiga, longe ou perto
esteja; 47 e, na terra aonde forem levados cativos, caírem em si, e
se converterem, e, na terra do seu cativeiro, te suplicarem, dizendo: Pecamos,
e perversamente procedemos, e cometemos iniquidade; 48 e se
converterem a ti de todo o seu coração e de toda a sua alma, na terra de seus
inimigos que os levarem cativos, e orarem a ti, voltados para a sua terra, que
deste a seus pais, para esta cidade que escolheste e para a casa que edifiquei
ao teu nome; 49 ouve tu nos céus, lugar da tua habitação, a sua
prece e a sua súplica e faze-lhes justiça, 50 perdoa o teu povo, que
houver pecado contra ti, todas as suas transgressões que houverem cometido
contra ti; e move tu à compaixão os que os levaram cativos para que se
compadeçam deles.
Desde o v. 22,
até o 53, temos o registro da oração que Salomão fez, consagrando o templo de
Jerusalém ao Senhor. E nos versículos que lemos, ele está especificamente
colocando diante de Deus a situação de Israel no cativeiro. Se eles fossem, por
causa dos seus pecados, levados ao cativeiro, mas ali se convertessem, orassem,
confessassem, se humilhassem, que o Senhor lhes perdoasse. Posteriormente,
naquela mesma noite o Senhor respondeu a Salomão, conforme registrado em
Crônicas:
“Ouvi a
tua oração... se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me
buscar, e se converter dos seus maus caminhos, eu ouvirei dos céus, perdoarei
os seus pecados e sararei a sua terra... estarão abertos os meus olhos e
atentos os meus ouvidos para a oração que se fizer neste lugar”. (2º Cr 7:14, 15)
Agora, é preciso
dizer que a oração de Salomão também estava baseada na Palavra de Deus dada
através de Moisés, em Deuteronômio capítulo 30. Mas vamos relacionar isto com o
capítulo 9 de Daniel, quando ele está mais uma vez orando.
Cap. 9:4 e 5
4 Orei ao
SENHOR, meu Deus, confessei e disse: ah! Senhor! Deus grande e temível, que guardas
a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus
mandamentos; 5 temos pecado e cometido iniquidades, procedemos
perversamente e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus
juízos...
Temos visto a
integridade de Daniel. Mas isto não quer dizer que ele se considerava um homem
muito espiritual, sem pecado aos olhos do Senhor. Ele conhecia os seus pecados.
E também tinha uma grande consciência de que era parte de Israel, o povo do
Senhor. Então ele tomava a revelação de Deus nas mãos, e com base naquilo que
ela ensinava, orava.
Ele poderia ter
deixado de orar um mês? De jeito nenhum. Então os inimigos de Daniel e uniram,
e forma espiar pela janela da casa dele. E lá estava o idoso profeta, orando. O
rei Dario, mesmo contra a sua vontade, foi obrigado a lançar o servo de Deus na
cova dos leões. Mas Deus enviou seu anjo, e Daniel foi libertado da boca do
leão. O rei Dario muito se alegrou. E nas palavras do v. 23 nós vemos outro
aspecto da espírito superior de Daniel:
2. Daniel
confiou no seu Deus
v. 23
Então, o
rei se alegrou sobremaneira e mandou tirar a Daniel da cova; assim, foi tirado
Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus.
Há três observações que eu gostaria
de fazer aqui.
2.1 - Conforme
diz o Espírito Santo, Daniel foi salvo por causa de sua fé.
A fé é a atitude de coração que honra a Deus e dá prazer ao seu coração. Mais
tarde, outro escritor inspirado comenta este acontecimento na vida de Daniel:
Vejamos Hebreus 11:33
Os quais, por meio da fé, subjugaram reinos,
praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões,
Este
versículo é um comentário descritivo perfeito da vida de Daniel. Pela fé subjugaram
reinos – lembre-se das histórias de Daniel e Nabucodonosor, Daniel e Belsazar e
agora Daniel e Dario. Pela fé praticaram a justiça – pense em Daniel. Obtiveram
promessas – leia os capítulos seguintes deste livro de Daniel. E aqui no cap. 6:
“pela fé fecharam a boca de leões”.
2.2 - Mas, em
segundo lugar, o escritor desta carta diz que nem sempre é assim que acontece
com os que têm fé.
Leiamos os vs. 36-38:
36 outros, por sua vez, passaram pela prova de
escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.37 Foram
apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram
peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos,
maltratados 38 (homens dos quais o mundo não era digno), errantes
pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra. (39
Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram,
contudo, a concretização da promessa, 40 por haver Deus provido
coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem
aperfeiçoados).
É necessário que nos recordemos disto: ainda que em Daniel nós leiamos
sobre várias ocasiões em que o Senhor Deus agiu de forma extraordinária, este
mesmo livro nos ensina que Deus, em sua soberania, às vezes opera
miraculosamente, mas às vezes não o faz. Pois assim como Ananias, Azarias e
Misael disseram a Nabucodonosor, “se aprouver
a Deus livrar aos que lhe pertencem de forma milagrosa, ele pode fazê-lo; se
não, a fé dos filhos de Deus permanece a mesma”.[3] Na
profecia do capítulo 11, diz-se que muitos filhos de Deus “cairão pela espada e
pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo... que até o tempo do fim serão
provados, embranquecidos”.[4]
Assim como a Bíblia, a história de nossos antepassados na fé testemunha que
muitos cristãos foram jogados aos leões, especialmente nos tempos de Nero
César, e selaram o testemunho com o seu próprio sangue. De modo que seria uma
aplicação errada dizer assim: “se eu
confiar em Deus ele me livrará da cova dos leões, ou, se eu confiar em Deus,
ele sempre realizará milagres”.
Mas o
certo é dizer: “Com milagres ou sem
milagres, Deus é o Senhor e Rei do universo, digno da minha confiança e do meu
amor”.
2.3 - Mas a
terceira observação que desejo fazer é quanto ao significado da palavra fé.
A versão grega do Antigo Testamento usa a mesma palavra que o Novo: “pístis”. “Pístis”, “fé”, “confiança”, “crença”, é um substantivo. “Pistéuo”, “creio”, é a forma verbal. “Pistós”, “crente”, é a forma adjetiva.
A maneira mais comum de pensarmos nesta palavra é com o significado de
“confiar, crer, acreditar”. Estamos certos. Mas nela há uma implicação que nem
sempre notamos, ou nem sempre destacamos em nossos dias. Parece que este outro
aspecto não faz parte do entendimento evangélico de modo geral. Alguns dias
atrás eu li que pessoas que pregam o que vou dizer agora são falsos profetas.[5]
Para que os irmãos entendam melhor, vamos comparar Gl 5:22 em versões
diferentes:
Versão Atualizada (ARA)
Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fidelidade.
Versão Corrigida (ARC)
Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão, temperança.
Os irmãos percebem: na versão atualizada, assim como a NVI, a NTLH, a
palavra “pístis” é traduzida por
“fidelidade”. Na versão corrigida os irmãos leram a palavra “fé”. Isto porque a
palavra fé implica fidelidade. Desta forma, em nosso texto de Daniel 6 nós já
havíamos encontrado esta palavra antes, no v. 4, onde lemos que “os presidentes e os sátrapas procuravam
ocasião para acusar a Daniel... mas não puderam achá-la,... porque ele era fiel”
(Pistós). De outra forma: na Bíblia, ser crente e ser fiel a Deus são
coisas inseparáveis. Ter ao Deus e Pai de Jesus Cristo como Salvador significa
ter a Jesus também como nosso Senhor.
Alguns, como eu já disse, pensam que isso é heresia. O raciocínio deles é o
seguinte: a Bíblia diz que quem crê em Jesus será salvo. Se uma pessoa crê em
Jesus, mesmo que não viva em obediência será salva, porque a salvação é pela
fé, e não pelas obras.[6]
Verdade irmãos, que a salvação não é pelas obras. É pela fé. Mas é verdade
também que as obras são a evidência de que uma pessoa tem fé. Leiamos Tiago:
Cap. 2:14-17
14 Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser
que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?15
Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano, 16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz,
aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo,
qual é o proveito disso? 17 Assim, também a fé, se não tiver obras,
por si só está morta.
Tomando como ilustração da verdade as obras de amor ao próximo – e lembre-se
de que o segundo grande mandamento é este: amarás ao teu próximo como a ti
mesmo – Tiago nos diz que fé sem obras não é fé.
É por isto, amados, que em nosso texto básico, o v. 23 nos diz que Daniel
foi livrado porque crera no seu Deus, enquanto que no v. 22, o próprio Daniel
explica dizendo que foi livrado porque era inocente, não havia cometido algum
delito; isto é, fora fiel tanto a Deus como ao rei.
Resumindo: ser fiel e ter fé, ser de confiança e ter confiança, “crer e
observar tudo quanto ordenar”, são os dois lados da mesma moeda, dois aspectos
da fé evangélica. Na Bíblia, confiar em Deus implica em ser fiel a Deus. Fidelidade
é a força demonstrada por Daniel neste capítulo. Por isto o Espírito Santo diz
que em Daniel havia um espírito superior.
Conclusão
Irmãos, que homem admirável foi Daniel, e não somente ele, mas também seus
amigos a respeito dos quais temos estudado até aqui. Homens que conheceram a
Deus desde a sua juventude, e que durante toda sua vida cresceram neste
conhecimento. Por isto foram fortes e ativos. Por isto se santificaram. Não se
deixaram corromper pelo mundo de pecado em que viveram. Com disposição até de morrer se preciso fosse,
colocaram-se confiantemente nas mãos de Deus, e proclamaram com seu testemunho
e mensagens fiéis a glória e a soberania do Senhor, não somente sobre suas
vidas, mas sobre todo o mundo.
Aplicação
Você se acha como Daniel? Eu creio que a sua resposta foi: “Eu não, pastor”.
Porque esta é a resposta apropriada para todos os homens, e em especial
para todos os crentes. Porque os crentes têm, via de regra, uma consciência
profunda de seus pecados, de suas fraquezas, de suas falhas. Mas se você
respondeu que não é igual a Daniel, por causa da consciência de seus pecados,
você já está dando o primeiro passo para ser parecido com ele. Pois conforme já
vimos, Daniel era um crente consciente de seus pecados.
Outra pergunta: você quer ser parecido com ele, no sentido de conhecer a Deus,
ser espiritualmente forte, disponível nas mãos de Deus, pronto para ser usado
por ele? Quer ser um crente fiel? Então alegre-se, pois a Bíblia tem uma boa
notícia para você. Nosso Senhor disse: “Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”.
Se você tem fome e sede de uma vida santa, esta promessa é para você. E
agora voltemos para aquele texto que já consideramos brevemente hoje:
Gl 5:22
Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fidelidade.
Porque Daniel tinha este caráter santo? Era fruto do Espírito de Cristo que
nele estava. Cristo está em você? Simplesmente faça como Daniel: ore, busque a
Deus, consagre-se. E o fruto de uma vida que busca será este.
[1] Veja
Joyce G. Baldwin, Daniel, Intr. e
Comentário, Série Cultura Bíblica (São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão,
1983), págs. 26-31.
[2] Mt 22:21
[3] Veja Dn
3:17, 18
[4] Dn 11:33-35
[5]http://www.discernimentobiblico.net/A.W.%20TOZER%20UM%20FALSO%20PROFETA.html,acessado
em domingo, 23 de outubro de 2011, 11 h 4 min.
[6] Ibid.
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