Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Homens que conhecem a Deus têm um espírito melhor - Dn 6


Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 23 de outubro de 2011
Pr. Plínio Fernandes
Meus amados, vamos ler Daniel capítulo 6
1Pareceu bem a Dario constituir sobre o reino a cento e vinte sátrapas, que estivessem por todo o reino; 2 e sobre eles, três presidentes, dos quais Daniel era um, aos quais estes sátrapas dessem conta, para que o rei não sofresse dano. 3 Então, o mesmo Daniel se distinguiu destes presidentes e sátrapas, porque nele havia um espírito excelente; e o rei pensava em estabelecê-lo sobre todo o reino.
4 Então, os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião para acusar a Daniel a respeito do reino; mas não puderam achá-la, nem culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa. 5 Disseram, pois, estes homens: Nunca acharemos ocasião alguma para acusar a este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus.
6 Então, estes presidentes e sátrapas foram juntos ao rei e lhe disseram: Ó rei Dario, vive eternamente! 7 Todos os presidentes do reino, os prefeitos e sátrapas, conselheiros e governadores concordaram em que o rei estabeleça um decreto e faça firme o interdito que todo homem que, por espaço de trinta dias, fizer petição a qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões. 8 Agora, pois, ó rei, sanciona o interdito e assina a escritura, para que não seja mudada, segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar.
9 Por esta causa, o rei Dario assinou a escritura e o interdito. 10 Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas do lado de Jerusalém, três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer.
 11 Então, aqueles homens foram juntos, e, tendo achado a Daniel a orar e a suplicar, diante do seu Deus, 12 se apresentaram ao rei, e, a respeito do interdito real, lhe disseram: Não assinaste um interdito que, por espaço de trinta dias, todo homem que fizesse petição a qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, fosse lançado na cova dos leões? Respondeu o rei e disse: Esta palavra é certa, segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar. 13 Então, responderam e disseram ao rei: Esse Daniel, que é dos exilados de Judá, não faz caso de ti, ó rei, nem do interdito que assinaste; antes, três vezes por dia, faz a sua oração.
14 Tendo o rei ouvido estas coisas, ficou muito penalizado e determinou consigo mesmo livrar a Daniel; e, até ao pôr do sol, se empenhou por salvá-lo. 15 Então, aqueles homens foram juntos ao rei e lhe disseram: Sabe, ó rei, que é lei dos medos e dos persas que nenhum interdito ou decreto que o rei sancione se pode mudar.
16 Então, o rei ordenou que trouxessem a Daniel e o lançassem na cova dos leões. Disse o rei a Daniel: O teu Deus, a quem tu continuamente serves, que ele te livre. 17 Foi trazida uma pedra e posta sobre a boca da cova; selou-a o rei com o seu próprio anel e com o dos seus grandes, para que nada se mudasse a respeito de Daniel.
18 Então, o rei se dirigiu para o seu palácio, passou a noite em jejum e não deixou trazer à sua presença instrumentos de música; e fugiu dele o sono. 19 Pela manhã, ao romper do dia, levantou-se o rei e foi com pressa à cova dos leões. 20 Chegando-se ele à cova, chamou por Daniel com voz triste; disse o rei a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo! Dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?
21 Então, Daniel falou ao rei: Ó rei, vive eternamente!  22 O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca aos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dele; também contra ti, ó rei, não cometi delito algum.
 23 Então, o rei se alegrou sobremaneira e mandou tirar a Daniel da cova; assim, foi tirado Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus. 24 Ordenou o rei, e foram trazidos aqueles homens que tinham acusado a Daniel, e foram lançados na cova dos leões, eles, seus filhos e suas mulheres; e ainda não tinham chegado ao fundo da cova, e já os leões se apoderaram deles, e lhes esmigalharam todos os ossos.
25 Então, o rei Dario escreveu aos povos, nações e homens de todas as línguas que habitam em toda a terra: Paz vos seja multiplicada! 26 Faço um decreto pelo qual, em todo o domínio do meu reino, os homens tremam e temam perante o Deus de Daniel, porque ele é o Deus vivo e que permanece para sempre; o seu reino não será destruído, e o seu domínio não terá fim. 27 Ele livra, e salva, e faz sinais e maravilhas no céu e na terra; foi ele quem livrou a Daniel do poder dos leões. 28 Daniel, pois, prosperou no reinado de Dario e no reinado de Ciro, o persa.
Hoje nós estamos chegando ao sexto e último capítulo da parte histórica do livro de Daniel. Pois como já dissemos anteriormente, no que diz respeito ao seu conteúdo, este livro é dividido em duas partes principais. A primeira, que compreende os capítulos 1 a 6, trata de acontecimentos da vida de quatro, dos milhares de judeus, que foram levados para o exílio na Babilônia, no fim do século VII A. C.: Daniel, Ananias, Misael e Azarias. E a segunda parte abrange os capítulos 7 a 12, consistindo numa série de quatro visões que Daniel teve nas terras da Babilônia.
Pois bem: em cumprimento à Palavra do Senhor dada por intermédio do profeta Jeremias, o reino da Babilônia havia caído, e em breve os judeus poderiam voltar à sua pátria. Humanamente falando, este retorno foi consequência de uma postura política diferente que os medo-persas tinham em relação às nações conquistadas. Pois, se de um lado, os Babilônios haviam levado muitos dos derrotados para o exílio, os medo-persas faziam o contrário: eles reenviavam os exilados para suas terras, ordenando que reconstruíssem suas cidades e assim promovessem a restauração da vida nacional, sob a direção do império.
Digo que isto é do ponto de vista humano, porque como temos visto a cada estudo, por trás de todos os acontecimentos da história, quer dos grandes grupos como as nações, quer dos indivíduos, estão em ação o propósito e a mão governadora do Senhor. Por trás dos babilônios, o Senhor é quem levou os judeus para o exílio, e agora, por intermédio dos medo-persas, o Senhor também conduziria os judeus de volta à sua terra.
O texto nos diz que o primeiro governante medo-persa se chamava Dario. Por várias razões, tanto bíblicas como extra-bíblicas, alguns estudiosos creem que o rei Dario e o rei Ciro sejam a mesma pessoa, embora à primeira vista pareçam ser duas pessoas diferentes.[1] Temos pouco tempo aqui, por isto, ainda que haja questões interessantes que gostaríamos de estudar, não vamos nos deter neste assunto. Basta nos concentrarmos na história narrada em nosso texto de hoje.
E o texto noz diz que, tal como Nabucodonosor, muitos anos antes notou que Daniel era um homem de qualidades, assim também foi com o rei Dario. Para governar melhor, Dario dividiu o seu vasto reino em 120 satrapias, ou protetorados, cada um sendo então administrado por um sátrapa. Sobre estes sátrapas constituiu três presidentes; entre eles, Daniel.
Logo que o rei percebeu as qualidades de Daniel começou, não somente a pensar, mas também a dizer que estava cogitando a possibilidade de colocá-lo como o superintendente, ou governador, sobre todos os demais.
O versículo 3 nos diz que em Daniel havia um “espírito excelente”. A palavra excelente quer dizer: que está acima dos demais, superior. Daí que a versão Reina/Valera traduz desta maneira: havia nele um “espírito superior”. Um homem de caráter superior, que excedia em qualidade moral aos seus contemporâneos. Assim, o rei começou a pensar em promovê-lo. Isto provocou a inveja dos outros presidentes e sátrapas. Eles não queriam ter Daniel como seu superior. Então, para dissuadir o rei, começaram a vigiar a vida de Daniel, procurando acusá-lo de algum delito.
Nós vemos isto acontecer constantemente: se algum político começa a ter proeminência, muitos outros começam a vasculhar sua vida a fim de lançá-lo no descrédito. Se conseguem, muitas vezes a carreira pública de um homem está arruinada. Mas não conseguiram encontrar nele alguma falha da qual pudesse ser acusado perante o rei.
Então resolveram criar uma lei especificamente para destruir a Daniel. E pelo que eles conheciam, a coisa, ou antes, a pessoa mais importante para Daniel era o seu Deus. Se eles conseguissem criar uma lei contrária aos princípios espirituais de Daniel, eles sabiam que aquele homem se manteria firme em sua religião, e nisto poderiam então acusá-lo perante o rei.
Os irmãos devem ter percebido que há várias similaridades entre esta história, da cova dos leões, e a história da fornalha ardente, no capítulo 3. Nas duas histórias, as leis são promovidas por homens corruptos, visando o seu interesse próprio, utilizando-se da vaidade dos governantes. Nas duas histórias, há uma mistura de política, interesses pessoais e religião. Nas duas, a desobediência é punida com a morte. Nas duas histórias há uma acusação contra os servos de Deus, e nas duas histórias, embora o Senhor pudesse não interferir sobrenaturalmente, ele o faz.
Mas existe pelo menos uma diferença: na história da fornalha ardente, o Diabo queria fazer com que os servos de Deus se curvassem aos deuses deste mundo, que eles praticassem uma coisa má. E aqui no cap. 6, o que o Diabo quer é que os servos de Deus deixem de servir a Deus, isto é, deixem de fazer uma coisa boa. Porque os sátrapas e presidentes vão ao rei Dario e dizem o seguinte:
– “Ó rei, vive eternamente. Estando todos nós reunidos (mentira: Daniel não estava), nos pareceu bem solicitar que o senhor faça um decreto para que, no espaço de um mês, homem algum possa fazer qualquer pedido, seja a um deus ou a qualquer homem que não seja o senhor”.
– “Se neste tempo alguém desobedecer este decreto, que seja condenado à morte, na cova dos leões”.
Ora, assim como nos dias de Nabucodonosor uma das formas de execução dos rebeldes era na fornalha ardente, no reino medo-persa era a cova dos leões. Os reis tinham o hábito de caçar leões e mantê-los em cativeiro. Dario gostou da ideia. Seria uma forma de seus súditos demonstrarem sua lealdade. E penso que nem imaginou que alguém poderia desobedecer tal lei. E assinou o decreto.
Como temos visto a cada domingo, este livro nos mostra que “o povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo. Se esforçará e fará proezas” (Dn 11:32). Mais uma vez Daniel nos mostra o que significa isto. Aqui, significa ter um espírito excelente; um caráter superior, acima da média.
Porque Daniel podia ser descrito como um homem de caráter superior?
1. Porque ele era um homem fiel
A fidelidade de Daniel pode ser vista nas duas grandes esferas de sua vida, se podemos dizer assim: na área “secular” e na área “religiosa”. De certo modo, precisamos colocar estas áreas entre aspas pois entendemos que para o cristão tudo é sagrado e espiritual. Mas ao mesmo tempo temos que reconhecer, como nos ensinou Jesus, que existem coisas que são de césar e existem coisas que são de Deus.[2] Então existe a atividade secular e a atividade religiosa.
Assim, quando os invejosos quiseram prejudicar a Daniel, a primeira coisa que fizeram foi vasculhar a sua vida profissional. E o resultado está no v. 3:
Então, os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião para acusar a Daniel a respeito do reino; mas não puderam achá-la, nem culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa.
Não havia nenhum negócio desonesto, nenhuma fraude, não havia qualquer atividade na qual Daniel pudesse ser visto como um homem injusto.
1.1 - Daniel era fiel no que dizia respeito às coisas desta vida.
Esta semana uma irmã me perguntou se Daniel era casado. À luz do que estamos falando acho interessante que ela tenha pensado nisto também. Pois alguns maus políticos, para não dizer gente de mau caráter, quando não conseguem lançar algum outro em descrédito, com base em sua vida profissional, procuram então alguma outra forma para acusá-lo, muitas vezes a partir de sua vida familiar. Parece que Daniel não era casado, uma vez que a Bíblia não diz uma palavra sequer sobre isto. Mas pelo que conhecemos deste homem em tudo quanto ela registra sobre ele, não há dúvida que, se fosse, também em suas relações familiares seria encontrado íntegro.
Dizer que Daniel era um homem fiel em suas atividades e em seus relacionamentos humanos significa dizer que ele não mentia, como fizeram os outros presidentes e sátrapas. Que ele não traía. Que ele não enganava. Que ele “não passava a perna” em ninguém para "se dar bem nos negócios". Que ele era constante na prática do bem.
O v.5 em diante nos diz que, vendo que não poderiam acusá-lo de nada, decidiram criar uma lei que Daniel não poderia obedecer, para com isto desacreditá-lo diante do rei. E conseguiram criá-la. Resumindo, de acordo com esta lei, pessoa alguma, durante um mês, podia orar ao seu Deus.
De antemão eles sabiam que Daniel não obedeceria esta lei. E aqui nós vemos o outro aspecto da fidelidade de Daniel:
1.2 – Daniel era fiel a Deus
Quando soube que o decreto estava assinado, continuou simplesmente com aquilo que fazia normalmente. Foi para sua casa, em seu quarto, como fazia todos os dias. Havia ali uma janela voltada para o lado de Jerusalém. Ele se colocava de joelhos, com o rosto e o coração voltados para aquela janela, três vezes por dia e orava. Orava agradecendo a Deus pala vida que tinha e por todas as coisas que recebia da parte do Senhor. E também orava entregando a Deus os seus cuidados, fazendo as suas súplicas. Quem sabe nesta ocasião ele não tenha colocado a situação que estava vivendo, pedindo que Deus tomasse conta de tudo pra ele, enquanto serenamente continuava em seus afazeres diários?!
Existem pelo menos duas razões pelas quais Daniel orava. Uma delas está explicita no v. 23, e daqui a pouco iremos a ela. Mas a outra razão está implícita no livro como um todo: é que Daniel conhecia a história que até então estavam registradas nas Sagradas Escrituras. Então voltemos para um texto que falava sobre dias mais antigos. Sobre o dia em que o templo do Senhor foi consagrado pelo rei Salomão.
1º Rs 8:46-50
46 Quando pecarem contra ti (pois não há homem que não peque), e tu te indignares contra eles, e os entregares às mãos do inimigo, a fim de que os leve cativos à terra inimiga, longe ou perto esteja; 47 e, na terra aonde forem levados cativos, caírem em si, e se converterem, e, na terra do seu cativeiro, te suplicarem, dizendo: Pecamos, e perversamente procedemos, e cometemos iniquidade; 48 e se converterem a ti de todo o seu coração e de toda a sua alma, na terra de seus inimigos que os levarem cativos, e orarem a ti, voltados para a sua terra, que deste a seus pais, para esta cidade que escolheste e para a casa que edifiquei ao teu nome; 49 ouve tu nos céus, lugar da tua habitação, a sua prece e a sua súplica e faze-lhes justiça, 50 perdoa o teu povo, que houver pecado contra ti, todas as suas transgressões que houverem cometido contra ti; e move tu à compaixão os que os levaram cativos para que se compadeçam deles.
Desde o v. 22, até o 53, temos o registro da oração que Salomão fez, consagrando o templo de Jerusalém ao Senhor. E nos versículos que lemos, ele está especificamente colocando diante de Deus a situação de Israel no cativeiro. Se eles fossem, por causa dos seus pecados, levados ao cativeiro, mas ali se convertessem, orassem, confessassem, se humilhassem, que o Senhor lhes perdoasse. Posteriormente, naquela mesma noite o Senhor respondeu a Salomão, conforme registrado em Crônicas:
“Ouvi a tua oração... se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra... estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos para a oração que se fizer neste lugar”. (2º Cr 7:14, 15)
Agora, é preciso dizer que a oração de Salomão também estava baseada na Palavra de Deus dada através de Moisés, em Deuteronômio capítulo 30. Mas vamos relacionar isto com o capítulo 9 de Daniel, quando ele está mais uma vez orando.
Cap. 9:4 e 5
4 Orei ao SENHOR, meu Deus, confessei e disse: ah! Senhor! Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; 5 temos pecado e cometido iniquidades, procedemos perversamente e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos...
Temos visto a integridade de Daniel. Mas isto não quer dizer que ele se considerava um homem muito espiritual, sem pecado aos olhos do Senhor. Ele conhecia os seus pecados. E também tinha uma grande consciência de que era parte de Israel, o povo do Senhor. Então ele tomava a revelação de Deus nas mãos, e com base naquilo que ela ensinava, orava.
Ele poderia ter deixado de orar um mês? De jeito nenhum. Então os inimigos de Daniel e uniram, e forma espiar pela janela da casa dele. E lá estava o idoso profeta, orando. O rei Dario, mesmo contra a sua vontade, foi obrigado a lançar o servo de Deus na cova dos leões. Mas Deus enviou seu anjo, e Daniel foi libertado da boca do leão. O rei Dario muito se alegrou. E nas palavras do v. 23 nós vemos outro aspecto da espírito superior de Daniel:
2. Daniel confiou no seu Deus
v. 23
Então, o rei se alegrou sobremaneira e mandou tirar a Daniel da cova; assim, foi tirado Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus.
Há três observações que eu gostaria de fazer aqui.
2.1 - Conforme diz o Espírito Santo, Daniel foi salvo por causa de sua fé.
A fé é a atitude de coração que honra a Deus e dá prazer ao seu coração. Mais tarde, outro escritor inspirado comenta este acontecimento na vida de Daniel:
Vejamos Hebreus 11:33
Os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões,
Este versículo é um comentário descritivo perfeito da vida de Daniel. Pela fé subjugaram reinos – lembre-se das histórias de Daniel e Nabucodonosor, Daniel e Belsazar e agora Daniel e Dario. Pela fé praticaram a justiça – pense em Daniel. Obtiveram promessas – leia os capítulos seguintes deste livro de Daniel. E aqui no cap. 6: “pela fé fecharam a boca de leões”.
2.2 - Mas, em segundo lugar, o escritor desta carta diz que nem sempre é assim que acontece com os que têm fé.
Leiamos os vs. 36-38:
36 outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.37 Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados 38 (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra. (39 Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, 40 por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados).
É necessário que nos recordemos disto: ainda que em Daniel nós leiamos sobre várias ocasiões em que o Senhor Deus agiu de forma extraordinária, este mesmo livro nos ensina que Deus, em sua soberania, às vezes opera miraculosamente, mas às vezes não o faz. Pois assim como Ananias, Azarias e Misael disseram a Nabucodonosor, “se aprouver a Deus livrar aos que lhe pertencem de forma milagrosa, ele pode fazê-lo; se não, a fé dos filhos de Deus permanece a mesma”.[3] Na profecia do capítulo 11, diz-se que muitos filhos de Deus “cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo... que até o tempo do fim serão provados, embranquecidos”.[4]
Assim como a Bíblia, a história de nossos antepassados na fé testemunha que muitos cristãos foram jogados aos leões, especialmente nos tempos de Nero César, e selaram o testemunho com o seu próprio sangue. De modo que seria uma aplicação errada dizer assim: “se eu confiar em Deus ele me livrará da cova dos leões, ou, se eu confiar em Deus, ele sempre realizará milagres”.
Mas o certo é dizer: “Com milagres ou sem milagres, Deus é o Senhor e Rei do universo, digno da minha confiança e do meu amor”.
2.3 - Mas a terceira observação que desejo fazer é quanto ao significado da palavra fé.
A versão grega do Antigo Testamento usa a mesma palavra que o Novo: “pístis”. “Pístis”, “fé”, “confiança”, “crença”, é um substantivo. “Pistéuo”, “creio”, é a forma verbal. “Pistós”, “crente”, é a forma adjetiva.
A maneira mais comum de pensarmos nesta palavra é com o significado de “confiar, crer, acreditar”. Estamos certos. Mas nela há uma implicação que nem sempre notamos, ou nem sempre destacamos em nossos dias. Parece que este outro aspecto não faz parte do entendimento evangélico de modo geral. Alguns dias atrás eu li que pessoas que pregam o que vou dizer agora são falsos profetas.[5]
Para que os irmãos entendam melhor, vamos comparar Gl 5:22 em versões diferentes:
Versão Atualizada (ARA)
Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade.
Versão Corrigida (ARC)
Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.
Os irmãos percebem: na versão atualizada, assim como a NVI, a NTLH, a palavra “pístis” é traduzida por “fidelidade”. Na versão corrigida os irmãos leram a palavra “fé”. Isto porque a palavra fé implica fidelidade. Desta forma, em nosso texto de Daniel 6 nós já havíamos encontrado esta palavra antes, no v. 4, onde lemos que “os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião para acusar a Daniel... mas não puderam achá-la,... porque ele era fiel” (Pistós). De outra forma: na Bíblia, ser crente e ser fiel a Deus são coisas inseparáveis. Ter ao Deus e Pai de Jesus Cristo como Salvador significa ter a Jesus também como nosso Senhor.
Alguns, como eu já disse, pensam que isso é heresia. O raciocínio deles é o seguinte: a Bíblia diz que quem crê em Jesus será salvo. Se uma pessoa crê em Jesus, mesmo que não viva em obediência será salva, porque a salvação é pela fé, e não pelas obras.[6]
Verdade irmãos, que a salvação não é pelas obras. É pela fé. Mas é verdade também que as obras são a evidência de que uma pessoa tem fé. Leiamos Tiago:
Cap. 2:14-17
14 Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, 16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? 17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
Tomando como ilustração da verdade as obras de amor ao próximo – e lembre-se de que o segundo grande mandamento é este: amarás ao teu próximo como a ti mesmo – Tiago nos diz que fé sem obras não é fé.
É por isto, amados, que em nosso texto básico, o v. 23 nos diz que Daniel foi livrado porque crera no seu Deus, enquanto que no v. 22, o próprio Daniel explica dizendo que foi livrado porque era inocente, não havia cometido algum delito; isto é, fora fiel tanto a Deus como ao rei.
Resumindo: ser fiel e ter fé, ser de confiança e ter confiança, “crer e observar tudo quanto ordenar”, são os dois lados da mesma moeda, dois aspectos da fé evangélica. Na Bíblia, confiar em Deus implica em ser fiel a Deus. Fidelidade é a força demonstrada por Daniel neste capítulo. Por isto o Espírito Santo diz que em Daniel havia um espírito superior.
Conclusão
Irmãos, que homem admirável foi Daniel, e não somente ele, mas também seus amigos a respeito dos quais temos estudado até aqui. Homens que conheceram a Deus desde a sua juventude, e que durante toda sua vida cresceram neste conhecimento. Por isto foram fortes e ativos. Por isto se santificaram. Não se deixaram corromper pelo mundo de pecado em que viveram.  Com disposição até de morrer se preciso fosse, colocaram-se confiantemente nas mãos de Deus, e proclamaram com seu testemunho e mensagens fiéis a glória e a soberania do Senhor, não somente sobre suas vidas, mas sobre todo o mundo.
Aplicação
Você se acha como Daniel? Eu creio que a sua resposta foi: “Eu não, pastor”.
Porque esta é a resposta apropriada para todos os homens, e em especial para todos os crentes. Porque os crentes têm, via de regra, uma consciência profunda de seus pecados, de suas fraquezas, de suas falhas. Mas se você respondeu que não é igual a Daniel, por causa da consciência de seus pecados, você já está dando o primeiro passo para ser parecido com ele. Pois conforme já vimos, Daniel era um crente consciente de seus pecados.
Outra pergunta: você quer ser parecido com ele, no sentido de conhecer a Deus, ser espiritualmente forte, disponível nas mãos de Deus, pronto para ser usado por ele? Quer ser um crente fiel? Então alegre-se, pois a Bíblia tem uma boa notícia para você. Nosso Senhor disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”.
Se você tem fome e sede de uma vida santa, esta promessa é para você. E agora voltemos para aquele texto que já consideramos brevemente hoje:
Gl 5:22
Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade.
Porque Daniel tinha este caráter santo? Era fruto do Espírito de Cristo que nele estava. Cristo está em você? Simplesmente faça como Daniel: ore, busque a Deus, consagre-se. E o fruto de uma vida que busca será este.


[1] Veja Joyce G. Baldwin, Daniel, Intr. e Comentário, Série Cultura Bíblica (São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão, 1983), págs. 26-31.
[2] Mt 22:21
[3] Veja Dn 3:17, 18
[4] Dn 11:33-35
[6] Ibid.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

▲Topo