Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 16 de outubro de 2011
Pr. Plínio Fernandes
Meus amados, vamos ler Daniel
capítulo 5:
1 O rei Belsazar deu um grande
banquete a mil dos seus grandes e bebeu vinho na presença dos mil. 2
Enquanto Belsazar bebia e apreciava o vinho, mandou trazer os utensílios de
ouro e de prata que Nabucodonosor, seu pai, tirara do templo, que estava em
Jerusalém, para que neles bebessem o rei e os seus grandes, as suas mulheres e
concubinas. 3 Então, trouxeram os utensílios de ouro, que foram
tirados do templo da Casa de Deus que estava em Jerusalém, e beberam neles o
rei, os seus grandes e as suas mulheres e concubinas.4 Beberam o
vinho e deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de
madeira e de pedra.
5 No mesmo
instante, apareceram uns dedos de mão de homem e escreviam, defronte do
candeeiro, na caiadura da parede do palácio real; e o rei via os dedos que
estavam escrevendo. 6 Então, se mudou o semblante do rei, e os seus
pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus
joelhos batiam um no outro. 7 O rei ordenou, em voz alta, que se
introduzissem os encantadores, os caldeus e os feiticeiros; falou o rei e disse
aos sábios da Babilônia: Qualquer que ler esta escritura e me declarar a sua
interpretação será vestido de púrpura, trará uma cadeia de ouro ao pescoço e
será o terceiro no meu reino.
8 Então, entraram todos os sábios do
rei; mas não puderam ler a escritura, nem fazer saber ao rei a sua
interpretação. 9 Com isto, se perturbou muito o rei Belsazar, e
mudou-se-lhe o semblante; e os seus grandes estavam sobressaltados.
10 A rainha-mãe, por causa do que
havia acontecido ao rei e aos seus grandes, entrou na casa do banquete e disse:
Ó rei, vive eternamente! Não te turbem os teus pensamentos, nem se mude o teu
semblante. 11 Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses
santos; nos dias de teu pai, se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria
como a sabedoria dos deuses; teu pai, o rei Nabucodonosor, sim, teu pai, ó rei,
o constituiu chefe dos magos, dos encantadores, dos caldeus e dos feiticeiros,
12 porquanto espírito excelente, conhecimento e inteligência,
interpretação de sonhos, declaração de enigmas e solução de casos difíceis se
acharam neste Daniel, a quem o rei pusera o nome de Beltessazar; chame-se,
pois, a Daniel, e ele dará a interpretação.
13 Então, Daniel foi introduzido à
presença do rei. Falou o rei e disse a Daniel: És tu aquele Daniel, dos cativos
de Judá, que o rei, meu pai, trouxe de Judá? 14 Tenho ouvido dizer a
teu respeito que o espírito dos deuses está em ti, e que em ti se acham luz,
inteligência e excelente sabedoria. 15 Acabam de ser introduzidos à
minha presença os sábios e os encantadores, para lerem esta escritura e me
fazerem saber a sua interpretação; mas não puderam dar a interpretação destas
palavras. 16 Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar
interpretações e solucionar casos difíceis; agora, se puderes ler esta
escritura e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás
cadeia de ouro ao pescoço e serás o terceiro no meu reino.
17 Então, respondeu Daniel e disse na
presença do rei: Os teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a
outrem; todavia, lerei ao rei a escritura e lhe farei saber a interpretação.
18 Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor, teu pai, o reino e
grandeza, glória e majestade. 19 Por causa da grandeza que lhe deu,
povos, nações e homens de todas as línguas tremiam e temiam diante dele; matava
a quem queria e a quem queria deixava com vida; a quem queria exaltava e a quem
queria abatia. 20 Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu
espírito se tornou soberbo e arrogante, foi derribado do seu trono real, e
passou dele a sua glória. 21 Foi expulso dentre os filhos dos
homens, o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi
com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do
céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem
domínio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele.
22 Tu,
Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que sabias tudo
isto. 23 E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos
os utensílios da casa dele perante ti, e tu, e os teus grandes, e as tuas
mulheres, e as tuas concubinas bebestes vinho neles; além disso, deste louvores
aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que
não vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos
os teus caminhos, a ele não glorificaste. 24 Então, da parte dele
foi enviada aquela mão que traçou esta escritura. 25 Esta, pois, é a
escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM. 26 Esta é a
interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele. 27
TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta. 28 PERES:
Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas.
29 Então, mandou Belsazar que
vestissem Daniel de púrpura, e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e
proclamassem que passaria a ser o terceiro no governo do seu reino. 30
Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus. 31 E
Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do reino.
O ano agora é 539 A. C. Entre os fatos
narrados no início do livro, e os do presente capítulo, já se passaram 66 anos,
e o profeta Daniel conta agora cerca de 80 anos de idade. Nabucodonosor já
faleceu há 17 anos, e o reino da Babilônia é governado por dois homens:
Nabonido e Belsazar.
Nabonido é o rei, filho de
Nabucodonosor; e Belsazar, nós não sabemos se é irmão ou filho de Nobonido – quando
a que Bíblia diz que ele é filho de Nabucodonosor, isto pode ser apenas a
maneira oriental de se referir ao fato de que Belsazar descendia de Nabucodonosor,
como, por exemplo, muitas vezes fala sobre os reis de Judá como sendo filhos de
Davi.[1] Mas
nos últimos dez anos Nabonido tem estado em campanhas militares na Arábia; e
Belsazar, o segundo no reino, é quem efetivamente governa.[2]
Só que a essa altura, enquanto
Nabonido está na Arábia, a região sudoeste do reino, e o devasso Belsazar no
trono, além das fronteiras orientais um novo poder, bem maior que o babilônico,
está se aproximando para guerrear e conquistar: o império Medo-Persa.
Pouco antes desta conquista o rei
Nabonido foi à Babilônia para as festas de ano novo, mas vendo que os exércitos
medo-persas estavam chegando, fugiu e deixou Belsazar sozinho. No dia seguinte
Belsazar morreu e Babilônia foi conquistada.
Mas neste intervalo, entre a fuga
de Nabonido e a invasão medo-persa, que coisa incrível: talvez confiando que os
exércitos babilônicos resistiriam, Baltazar dá um banquete. Um banquete que
ficou famoso na história, não somente por causa do inusitado que aconteceu
naquele dia, mas também porque nele dois príncipes, de dois reinos
completamente diferentes foram colocados frente e frente. Dois homens, que
podemos dizer, representam a divisão existente entre todos os seres humanos:
Daniel e Belsazar.
A sala do trono de Belsazar,
cercada de três grandiosos pátios, tinha aproximadamente 900 metros quadrados.
Na parede principal havia uma vão, onde ficava o trono. E havia um único e
grande candelabro que iluminava a sala.[3] Aproximadamente
mil homens, os mais importantes do reino, e suas esposas e concubinas foram
convidados para o banquete.
Baltasar bebeu vinho. E como diz
Provérbios, o vinho é escarnecedor.[4]
Ele ri daquele que por ele é vencido. Enquanto bebia e apreciava o vinho,
Belsazar perdeu de vez todo o freio, e mandou que fossem trazidos os utensílios
sagrados, de ouro e de prata que Nabucodonosor havia retirado do templo do
Senhor em Jerusalém. Depois ele, seus grandes, suas mulheres e suas concubinas
usaram os utensílios santos em sua bebedice. Bebiam vinho e davam louvores aos deuses
feitos por mãos humanas.
Mas de repente Belsazar viu uma
coisa incrível e medonha acontecer: à luz do grande candelabro, surgiram dedos,
como de um ser humano, e começaram a escrever na parede caiada próxima do
trono. Embora fossem palavras cujas
“sílabas” podiam ser lidas, e fossem parecidas com palavras que designavam
medidas em hebraico e aramaico, isto é, “mina”, “siclo” e “metade”, eram
palavras ininteligíveis aos presentes.
Naquela meia-luz bruxuleante do
enorme candelabro, mente perturbada pelo vinho, os dedos escrevendo na parede,
as palavras misteriosas surgindo diante de seus olhos, Belsazar ficou aterrorizado.
O rosto pálido. Os joelhos tremendo. Os ombros caídos. E apavorado, gritou ordenando
que se introduzissem os seus conselheiros: os magos, os feiticeiros, os
encantadores, para que lessem o que estava escrito, e o que aquilo queria
dizer. E fez uma promessa: quem fosse capaz de ler e interpretar seria vestido
de um manto real, ganharia uma corrente de ouro e seria o terceiro do reino (já
que ele era o segundo).
Então os magos, os feiticeiros e
os encantadores entraram, e ninguém soube ler nem interpretar o que estava
escrito. Todos no banquete estavam muito assustados. Neste ínterim a rainha mãe
foi avisada do que estava acontecendo, e deixando todo o protocolo de lado,
entrou na casa do banquete e disse:
- “Ó rei, vive eternamente. Não fique perturbado. No teu reino existe
um homem que tem o espírito dos deuses santos”.
- “Nos dias de teu pai, o rei
Nabucodonosor, se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria como a sabedoria
dos deuses. Por causa disto o teu pai o constituiu como chefe dos magos, dos
encantadores, dos caldeus e dos feiticeiros, porque este homem, Daniel, tem um
espírito excelente; tem conhecimento e inteligência, capacidade de interpretar sonhos,
declaração de enigmas e solução de casos difíceis. Mande chamar Daniel, e ele
dará a interpretação”.
Então, estando Daniel na presença o rei, ele também lhe prometeu “status” e
bens materiais, se o profeta fosse capaz de interpretar a escrita. Ao que
Daniel respondeu:
- “Não precisa, pode ficar com o
teus presentes. Ou dê a outros os teus prêmios. Eu vou lhe dar a
interpretação”.
E a Palavra de Daniel foi sincera, mas penosa: ele começou recordando a
vida pregressa de Belsazar, desde o conhecimento que ele tinha da história de seu
pai, Nabucodonosor. Daniel falou sobre como Nabucodonosor, durante muito tempo,
foi um rei perverso, arrogante e cruel, até o dia em que Deus o castigou por
seus pecados. Deus havia feito com que Nabucodonosor ficasse gravemente enfermo
da mente. Assim ele deixou o convívio com os homens e foi morar entre os
animais do campo. Comia erva como os bois, as unhas e os cabelos de seu corpo
cresceram e dormia ao relento; até que um dia, erguendo os olhos ao céu,
reconheceu que somente o Deus verdadeiro é que é o Senhor de tudo e de todos.
- “Tu, Belsazar, sabias de tudo isto, mas mesmo
sabendo de tudo, não humilhaste o teu coração. E te levantaste contra o Senhor
do céu, porque mandaste que fossem trazidos os utensílios da casa de Deus até
aqui”.
- “E tu, e os teus grandes, e as tuas mulheres, e
as tuas concubinas, bebestes vinho nestes utensílios sagrados. Além disso,
deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e
de pedra, que não vêem, não ouvem, nem sabem coisa alguma”.
- “Mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos
os teus caminhos, a ele não glorificaste. Então Deus enviou aquela mão que
escreveu estas coisas”.
- “O que está escrito é: MENE, MENE, TEQUEL e
PARSIM”.
As três palavras têm sons
aproximados de outras palavras aramaicas: “MENE, de Mina”; “TEQUEL, de Siclo”,
e “PARSIM”, que é o plural de “PERES, de metade”. São palavras que descrevem
medidas de peso, como os nossos “quilograma” e “grama”. Então Daniel
interpretou:
- “MENE” – Deus contou o teu reino e deu cabo
dele.
- “TEQUEL” – Pesado foste na balança, e foste
achado em falta.
- “PERES” – Dividido foi o teu reino e dado aos
medos e aos persas.
Belsazar não fez nada
em relação a isto. Apenas ordenou que os presentes prometidos fossem dados a
Daniel. Na mesma noite Babilônia foi conquistada e Belsazar foi morto. Então
começou o período medo-persa.
Voltemos ao nosso tema:
“O povo que conhece ao seu Deus se
tornará forte e ativo. Se esforçará e fará proezas”. Em nosso estudo do
cap. 1, dissemos que a proeza do povo de Deus ali foi a santificação. Eles
decidiram não se contaminar com as coisas do mundo. E o Deus a quem serviam os
recompensou, capacitando-os com dons especiais que lhes permitiriam servi-lo em
meio àquela sociedade espiritualmente decaída. Em seguida, no capítulo 2, nós
os encontramos servindo com os dons especiais que haviam recebido de Deus, de
tal modo que beneficiaram não somente à sua época, mas também todas as gerações
futuras, como nós, nos dias de hoje. No capítulo 3, o povo que conhece ao seu
Deus honrou o nome do Senhor não se curvando diante dos deuses impostos pelo
mundo daqueles dias. Não cederam às pressões que se fizeram sobre eles para que
abandonassem a sua fé. E por último, em nosso estudo anterior, no capítulo 4,
vimos que a façanha é o testemunho de Nabucodonosor, que através de uma
experiência muito forte, veio a conhecer o Deus de Daniel como o único Deus.
Em nosso estudo de
hoje, vamos mais uma vez nos voltar para Daniel, considerando a sua força e as
suas proezas nos dias do rei Belsazar. O que podemos observar nestes dias?
1. Durante todo o tempo deste reinado, Daniel é
ignorado por Belsazar, e consequentemente esquecido
Digo ignorado porque a
argumentação do profeta deixa explícito o fato de que Belsazar sabia claramente
tudo quanto acontecera nos dias de Nabucodonosor.
Veja o v. 22, onde depois de recordar tudo quanto havia
acontecido com Nabucodonosor, isto é, a sua soberba, a sua arrogância, o
castigo que Deus lhe enviara, a sua humilhação, a sua conversão ao Senhor, Daniel
diz que o novo rei simplesmente decidiu andar pelo caminho do pecado – “Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o
teu coração, ainda que sabias tudo isto”.
Nós podemos perceber o caráter de Belsazar só pelas
atitudes tomadas quando o inimigo está às portas, a cidade em breve sendo
invadida. Nabonido foge, e Belsazar, num comportamento temerário, resolve promover
um festim. Os seus grandes, os homens que deveriam estar defendendo a cidade,
estão todos num banquete. E bebem à vontade, com suas esposas e suas
concubinas.
E embriagado, mas com lucidez suficiente para ainda fazer
o que é mal, ele se lembra que muitos anos antes Nabucodonosor, quando
conquistara Jerusalém, levara para a Babilônia centenas de copos e jarras e
outros utensílios do templo do Senhor. Então mandou que estes objetos fossem trazidos
para o banquete. E usaram aquelas coisas que pertenciam a Deus em sua festa carnal.
Ora, se Daniel e seus três companheiros já estavam na
Babilônia havia 66 anos, Belsazar deve ter crescido tomando conhecimento de
todos os acontecimentos que temos lido até aqui: a sabedoria dos servos de
Deus, as suas capacidades, a história da fornalha ardente, a loucura e a
conversão de Nabucodonosor. Mas Belsazar decidiu que seguiria o seu caminho,
adorando os falsos deuses. E sempre que precisava, como Nabucodonosor havia
feito em tempos de ignorância, chamava os seus magos.
Por outro lado, Daniel foi renegado ao esquecimento. Interessante
que a rainha mãe também tinha conhecimento de tudo quanto acontecera, mas
continuava a pensar em Daniel como um mago, e nunca antes havia aconselhado a
Belsazar no sentido de levar o profeta judeu em consideração.
Agora pensemos no profeta, durante estes dezessete anos: não
acontecem coisas, digamos, proeminentes em sua vida, que o destaquem aos olhos
da sociedade. Daniel é apenas um crente judeu que está envelhecendo, e que
tanto por causa de sua religião como por causa de sua idade, está sendo
ultrapassado.
Mas o que Daniel estava fazendo durante este tempo? A
Bíblia não nos diz, em termos de atividade profissional, o que ele fazia. Certamente
não estava mais nalguma posição do governo. Mas de uma coisa nós certamente
podemos saber. Vejamos:
Cap. 7:1
“No
primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, teve Daniel um sonho e visões ante
seus olhos, quando estava no seu leito; escreveu logo o sonho e relatou a suma
de todas as coisas”.
Cap. 8:1
“No ano terceiro do reinado do rei Belsazar, eu,
Daniel, tive uma visão depois daquela que eu tivera a princípio”.
Posteriormente nós meditaremos sobre as visões registradas nos caps. 7 e 8.
Agora, no final de sua regência, Belsazar manda chamar a Daniel para que diga o
significado da mensagem na parede. E prontamente ele explica.
O que estas coisas nos mostram? Que durante todo aquele tempo em que ele
havia caído no esquecimento do mundo, Deus não havia se esquecido dele e ele
não havia se esquecido de Deus. Ainda
que ele estivesse caído no “ostracismo”, não estava sozinho neste mundo, mas
cultivando a sua comunhão com Deus. E aqui nós vemos a proeza nestes tempos: a constância no seu andar com Deus. E
uma constância que agradava ao Senhor; uma constância que o Senhor queria ver
sempre.
Vejamos mais alguns textos:
Cap. 9:1
“No primeiro ano de Dario, filho de Assuero, da
linhagem dos medos, o qual foi constituído rei sobre o reino dos caldeus”...
E o texto segue dizendo que Daniel estava lendo a Bíblia e orando quando
teve outra visão.
Cap. 10:1
“No terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, foi
revelada uma palavra a Daniel, cujo nome é Beltessazar; a palavra era
verdadeira e envolvia grande conflito; ele entendeu a palavra e teve a
inteligência da visão”.
E até o final do livro Daniel conta sobre esta visão. No final do livro, cap.
12:13, o mensageiro do Senhor diz o que Daniel deveria fazer:
“Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim; pois
descansarás e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança”.
Veja: desde sua juventude, o que Daniel tem visto
é o mundo passar à sua volta – Jerusalém foi derrubada e a Babilônia cresce. Vem
Nabucodonosor, e vai. Depois Nabonido, Belsazar, Dario, os medo-persas. Tudo
muda. Tudo passa. Daniel tem altos e baixos em sua vida no mundo. Mas uma coisa
é constante: o seu caminhar com Deus. E o anjo diz: – “Segue por este teu caminho até o fim. Porque descansarás. E nos
últimos dias você se levantará para receber a sua herança”.
A aplicação é óbvia, não é irmãos? Recordemos as palavras de Jesus em
Mateus 24:13
“Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse
será salvo”.
Nós percebemos que os tempos passam, mas o mundo continua o mesmo: as
mudanças vão acontecendo na história à nossa volta. O pecado se multiplica; a
cada dia são “inventadas maneiras novas de se cometer os velhos pecados”. A
tecnologia também se desenvolve, maravilhosa e assustadoramente. Tiranos sobem
ao poder; tiranos são destronados. Impérios capitalistas dominando países
democráticos através do poder do dinheiro. Impérios capitalistas sucumbindo
diante dos nossos olhos. Homens importantes vem e vão.
Nós também iremos. E muitas vezes parece que nada importante acontece
conosco. Não é a maioria dos cristãos que está “sob os holofotes da mídia”. São
uns poucos; e amados, não queiram isto para vocês. Não queiram estar em
evidência. Não queiram ser personagens VIP, nem no mundo, nem na igreja. Uma coisa é importante: andar com Deus,
perseverar neste andar. Mesmo que mais ninguém se lembre de você. E foi isto o
que o anjo disse a Daniel: segue o teu caminho até o fim – pois para este
caminho não há aposentadoria. Mas um
dia...
2. Daniel é lembrado
Não foi lembrado porque era o homem que servia ao Deus vivo. Não foi
lembrado porque houve arrependimento.Foi lembrado como uma medida desesperada e
supersticiosa. A rainha mãe fez Belsazar se lembrar de Daniel, que era o chefe
dos magos nos dias de Nabucodonosor.
- “É uma excelente pessoa”, disse a rainha.
- “Inteligente, sabe interpretar sonhos e enigmas
difíceis. Ele vai ajudar”.
Então o rei manda
chamá-lo. E nós podemos perceber o toque de esnobismo por parte do rei:
- “Você que é aquele Daniel, dos cativos que meu
pai trouxe de Judá? Tenho ouvido falar que você é muito inteligente, pois os
espíritos dos deuses santos estão em você. Acabam de ser introduzidos em minha
presença os sábios e encantadores, para lerem e interpretarem o que está
escrito na parede, mas ninguém foi capaz”.
- “Mas se você fizer isto, vai ser o terceiro
homem mais importante do reino, logo depois de mim. Vou lhe presentear com
veste de púrpura e um colar de ouro”.
E ainda que Daniel
fosse um homem humilde, respondeu com firmeza que não queria os prêmios
oferecidos pelo rei, mas que atenderia ao seu pedido. E aqui a segunda proeza
que desejo destacar: prontidão para
servir a Deus.
Digo servir a Deus
porque o que está ali na parede é uma mensagem de Deus ao dissoluto rei. Se
fosse para servir aos interesses pecaminosos do rei, já sabemos que Daniel não
o faria. Por outro lado, já pensou que Daniel poderia ter recusado? Ele tinha
80 anos de idade.
Me fez lembrar do Sr.
Roberto Freire. Recentemente, quando ele veio pregar em nossa igreja, estávamos
conversando. Ele me disse que dali a duas semanas iria ao Nordeste, para pregar
três dias seguidos. Então sua esposa me disse que já tem “brigado com ele”,
porque fica assumindo compromissos com os quais tem muita dificuldade de lidar,
por causa de sua idade avançada. E ele, como que “concordando com ela pela
metade”, me respondeu: – “Realmente o
corpo precisa descansar e sofre, mas o coração não quer. Então eu vou, e com
alegria”.
Fico pensando nos apóstolos
de Jesus: o idoso Pedro escrevendo suas cartas, o idoso Paulo, o idoso João.
Pedro, velho, escrevendo à igreja, exortando aos presbíteros, exortando aos
jovens, ensinando às esposas e aos maridos, encorajando os sofredores. João,
velho e preso, escrevendo o Apocalipse. Paulo, velho e preso, escrevendo as
cartas pastorais a Timóteo e Tito. Disposição de servir a Deus.
Vamos para o terceiro ponto:
3. Daniel ministra a Palavra de Deus
E a mensagem de Daniel
não é fácil de ser entregue, pois não é em primeira instância uma palavra de
salvação. É uma palavra de julgamento e condenação.
Vejam, meus
irmãos: os profetas do Senhor, via de regra, não desejam ministrar palavra de
condenação, tampouco desejam ser instrumentos de condenação. O apóstolo Paulo,
por exemplo, escrevendo aos Coríntios, disse que a autoridade que o Senhor lhe
deu como ministro de sua Palavra era neste sentido:
2ª Co 10:8
Porque, se eu me gloriar um pouco mais a respeito
da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação e não para
destruição vossa, não me envergonharei.
Nesta acepção, edificação,
foi o que fizeram Daniel e seus amigos em todo o reinado de Nabucodonosor,
mesmo antes da conversão do rei. Mas nesta mesma carta Paulo escreveu que
nalgumas ocasiões, ainda que o seu propósito fosse transmitir vida, acontecia
de transmitir morte:
2ª Co 2:14-17
14 Graças, porém, a Deus, que, em
Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo
lugar a fragrância do seu conhecimento. 15 Porque nós somos para com
Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. 16
Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida
para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas? 17 Porque
nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em
Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio
Deus.
Veja o que ele diz no
v. 17 – ele não mercadejava, isto é, não fazia da Palavra um comércio, a
pregação da Palavra não era uma fonte de lucro. Então ele falava com
sinceridade, da parte de Deus, e não como quem vende alguma coisa e para isto
precisa convencer as pessoas. Como resultado, Deus, por meio de Jesus, sempre o
conduzia em triunfo e por meio dele manifestava a fragrância do seu
conhecimento. Ele, Paulo, era o bom perfume de Cristo, tanto para a salvação de
alguns quanto para a condenação de outros.
O que Paulo está
fazendo aqui é se utilizar de uma cerimônia romana, de caráter civil e
religioso, chamada “triunfo”, para ilustrar o significado de um ministério
fiel:[5] o
“triunfo” era um desfile militar que acontecia em Roma quando um general
voltava vitorioso. Pelas ruas da cidade desfilavam o general vencedor e seus
soldados. E além deles, os prisioneiros capturados; e também os sacerdotes
romanos, queimando incenso, que iriam oferecer dádivas de gratidão aos deuses. Depois
da parada militar alguns dos prisioneiros seriam executados, e outros seriam
transformados em escravos. Assim, aquele incenso que os sacerdotes estavam
queimando, para uns, era cheiro de vida, e para outros, cheiro de morte.
Quando Paulo diz que,
por ser um pregador fiel da palavra, ele sempre era conduzido em triunfo, não
estava com isto passando uma imagem “triunfalista”, mas dizendo que, assim como
aquele incenso do triunfo era cheiro de vida para uns e cheiro de morte para
outros, ele também o era. Ele tinha recebido autoridade de Deus para edificar a
igreja. Então pregava. Quem recebia a Palavra por intermédio dele e cria,
estava salvo. Mas quem não cria, estava condenado.
E esta é também a terceira proeza que vemos aqui:
Daniel, em seu tempo, foi bom perfume de Cristo. Então testemunhou, e pregou a Palavra muitas vezes
a Nabucodonosor. E Nabucodonosor foi convertido. Mas nos dias de Belsazar, ainda
que estivesse ali, ninguém queria ouvi-lo, e quando quiseram, o tempo aceitável
já havia passado.
Assim, em relação a Belsazar,
Daniel foi cheiro de morte. Porque a Palavra na parede dizia: “MENE, MENE,
TEQUEL e PARSIM”. E a interpretação era esta:
- “Belsazar, Deus contou, contou os dias do teu
reino, e deu fim a eles”.
Há uma oração no Salmo
90 que todos nós devemos fazer: “Senhor,
ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações
sábios”.[6] Belsazar não teve um coração
sábio. Ele não contou os seus dias. Mas Deus contou.
- “Belsazar, tu foste pesado, tu foste medido, e
tu não tens peso suficiente diante de Deus, tu foste achado em falta. Então
Deus dividiu o teu reino e o deu aos medos e aos persas”.
Irmãos, porque não
aconteceram milagres antes para que Belsazar cresce, como Nabucodonosor? Porque
nenhum sinal? Eu penso que por duas razões: uma delas, é que antes desta noite
Belsazar nunca procurou por Daniel, apesar de saber tudo quanto havia
acontecido nos dias de Nabucodonosor.
A outra razão é
que quando temos o testemunho da Palavra de Deus, ela deve ser suficiente:
Jo 20:30-31
30 Na verdade, fez Jesus diante dos
discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. 31
Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
Belsazar não precisava
novos sinais, pois havia o testemunho de Nabucodonosor, não somente falado, mas
até escrito, sobre os sinais e maravilhas que Deus tinha feito. A não ser que
fosse muito negligente como herdeiro do trono, Belsazar devia ter lido as
memórias de Naucodonosor.
Assim como nós, para
crer em Jesus, temos a Bíblia que fala do que ele fez. A Bíblia não diz que
precisamos novos milagres, mas crer nos milagres dos quais ele testemunha. Se por
meio do testemunho bíblico nós nos tornarmos crentes em Jesus somos salvos.
Então Belsazar não
tinha desculpa, assim como não tem desculpa todo aquele que tem a Bíblia ao seu
alcance, e não lê; assim como também não tem desculpa todo aquele que passa
pela porta da igreja e não busca a Deus, mas prefere ir para o baile funk, ou
para o bar, ou para a churrascada; porque a igreja, pregando com fidelidade, é
bom perfume de Cristo, tanto nos que se salvam, como nos que se perdem. Naquela
mesma noite Belsazar foi morto, e o reino foi dado aos medo-persas.
Conclusão
Quais as proezas de
Daniel que vemos aqui?
Mesmo esquecido e
rejeitado pelos de fora, Daniel continuou a andar com Deus. Depois, quando
surgiu a oportunidade, Daniel estava disposto a servir a Deus. Por fim, Daniel
manifestou o conhecimento de Deus, tanto para os salvos como para os perdidos –
ele era bom perfume de Cristo.
Aplicações
Eu quero destacar dois
tipos de pessoas aqui.
De um lado, Belsazar e
seus seguidores. Eles eram gente que resolveu literalmente fazer aquilo que
havia dito o profeta Isaías: “Matar bois, degolar ovelhas, comer carne, beber
vinho, gozar as alegrias da vida, pois sua filosofia era esta: comamos e
bebamos, porque amanhã morreremos”.[7] Eles
eram a maioria: os mil maiores do reino, a elite da sociedade, e suas esposas e
concunbinas.
Quando eu estava refletindo
nas implicações para nós, o primeiro pensamento que tive foi este: dois grupos
de pessoas – primeiro, Belsazar e seus seguidores. Mas imediatamente percebi
que eu não podia falar sobre o segundo grupo: “Daniel e seus...”, pois o texto
não fala de ninguém do lado de Daniel.
E meus irmãos, é sempre
assim, inclusive nos dias de hoje: os que querem comer e beber, os que querem
seguir falsos deuses, os que querem gozar das coisas deste mundo, são a
maioria. E muitas vezes, os que andam com Deus se sentem sozinhos. Muitas vezes
dentro da sua própria casa.
E queridos, nisto eu
vejo um perigo muito grande. Esta semana eu li uma reportagem que dizia que 59%
dos jovens cristãos norte americanos deixam a igreja por falta de amizades.[8] Isto
me faz pensar que devemos vigiar quanto a isto. Como igreja devemos orar e
trabalhar para que nossos jovens cultivem amizades entre si e com outros
crentes, para que não se sintam tentados a deixar a igreja.
Mas por outro lado,
jovens queridos, desde a juventude Daniel perseverou em andar nos caminhos do
Senhor. Ele não foi com a maioria, nunca esteve entre a maioria. Sim: do outro
lado, Daniel. Sozinho, mas andando com Deus. “Antenado” com Deus, disposto a
servir. Sendo o bom perfume de Cristo.
Daniel morreu há quase
2.500 anos. De lá para cá, onde ele está morando? Será que ele está sozinho?
Será que ele está em boa companhia? Será que valeu a pena ele andar com Deus? Belsazar
também morreu há quase 2.500 anos. Uns poucos anos antes de Daniel. De lá para
cá, onde ele está morando? Será que está em boa companhia? Será que valeu ele
gozar as coisas da vida? E você, quer ser como Belsazar, ou quer ser como
Daniel?
[1] Ex.: 1º Rs 15:3, onde se
refere ao bisneto de Davi: “o seu coração não foi perfeito para com o Senhor,
como Davi, seu pai”.
[2] Veja Baldwin, págs. 24,
25, 127.
[3] Ibid., pág. 128
[4] Pv 20:1
[5] Veja C. Kruse, 2ª aos Coríntios, Intr. e Com. in Série Cultura Bíblica (São Paulo, Vida
Nova e Mundo Cristão), 1994, págs. 92, 93.
[6] Sl 9:12
[7] Is 22:13
[8] http://creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=15636,
acessado em sábado, 15 de outubro de 2011, 12:30h
Nenhum comentário:
Postar um comentário