Encontro de Jovens Presbiterianos
Conservadores
1ª IPC de São Paulo
Sexta-feira, 28 de julho de 2017
Pr. Plínio Fernandes
O tema que me foi dado é: “Depressão – o quarto escura da alma’”.
É um problema que,
segundo alguns, ocasionalmente afeta pelo menos uma em cada quatro pessoas no
mundo atual.
E por “depressão”, para
usar uma definição técnica, queremos dizer “um estado emocional de melancolia e
tristeza, que vai desde um desânimo e abatimento leve a sentimentos de extremo
desconsolo e desespero”[1].
Passar por momentos de tristeza
e abatimento é algo comum a todos os seres humanos, e normal, uma vez que
vivemos num mundo decaído e cheio de situações adversas.
Mas quando não
conseguimos lidar com estes sentimentos, e ele se prolongam por tempo
demasiado, a ponto de afetar os nossos relacionamentos, a ponto de afetar a
nossa produtividade como seres humanos, então nós podemos suspeitar que um
quadro de depressão está se instalando.
A depressão pode
apresentar vários sintomas, como falta de ânimo, falta de energia, falta de
interesse pelas atividades cotidianas, alteração dos hábitos relacionados com o
sono, como insônia, ou o desejo exagerado de dormir, a incapacidade de tomar
decisões, a incapacidade de concentração, incapacidade sexual, desespero,
culpa, vontade de morrer, e até pensamentos suicidas.
A palavra depressão,
neste sentido em que estamos empregando aqui, não era usada na antiguidade. Mas
o problema em si era bem conhecido.
Hipócrates, o “pai da
medicina”, já havia diagnosticado a depressão, e dado a ela o nome de “melancolia”[2], e
ele notou que algumas pessoas também já têm uma predisposição natural para isto.
Agora, ainda que a Bíblia
não use, nem a palavra “melancolia”, nem a palavra “depressão” neste sentido,
este sentimento prolongado de tristeza, desânimo e desalento que têm acometido
tantas pessoas nos dias de hoje, é um tema abordado em alguns dos salmos [3], no
livro de Jó, em várias porções de Jeremias, e muitos outros textos.
Nos textos bíblicos, é
reconhecido que o abatimento emocional pode ser causado por problemas
relacionados ao nosso corpo[4].
Em termos e
circunstâncias contemporâneos: enfermidades, alterações hormonais, medicamentos
e coisas parecidas podem afetar o nosso humor. Ou o nosso humor também pode
afetar o nosso organismo.
A depressão também pode
ser relacionada com nossos desejos. Provérbios 13:12 diz que “a esperança
adiada faz adoecer o coração, mas o desejo que se cumpre é árvore de vida”.
Quando você espera muito tempo a realização dos seus desejos, e eles demoram a
acontecer, ou não acontecem, o seu coração pode ficar doente.
As contrariedades da
vida, como a perda de entes queridos, a perda de bens materiais, a traição de
uma pessoa amada, a perda de um emprego, normalmente são coisas que causam
grande tristeza, mas se não lidarmos com estas coisas corretamente, isto pode
provocar depressão.
O crente também pode
ficar deprimido, é claro, quando abriga pecados não confessados em seu coração.
No salmo 32, Davi diz
que enquanto não confessou a Deus o seu pecado, o seu vigor se tornou em
sequidão de estio, e todo o seu ser adoeceu.
Agora um aspecto muito
importante: é que, ainda que a origem de uma depressão emocional nem sempre
seja um pecado não confessado, ela pode resultar em pecados.
Na Bíblia, a depressão
às vezes se apresenta associada com o ressentimento, com a amargura, a falta de
perdão, a inveja, a ira.
A ira é muito perigosa:
uma pessoa irada pode “chutar o pau da barraca” e fazer um monte de coisas
erradas: brigar, vingar-se, ser desonesta, infiel, mentir, pois ela chega à
conclusão de que não vale a pena ser honesta. E invariavelmente o pecado da
apatia.
Às vezes até amargura
contra Deus, como no caso de Noemi.
O crente também pode
sentir-se deprimido quando cercado de oposição, quando se sente sozinho em sua
luta contra o mal, e até por opressão do Diabo[5].
E depressão pode até
mesmo acontecer depois de uma grande bênção. Ou diante de um novo desafio de
crescimento e responsabilidades.
Assim, a Bíblia nos
mostra que o desânimo, a tristeza, o abatimento emocional não são uma
exclusividade daqueles que não conhecem a Deus, e nem são um problema apenas de
nossos tempos, mas que assombra o coração dos homens desde que o pecado entrou
no mundo.
Mas se nós atentarmos
bem para os muitos exemplos que temos, veremos o seguinte: a depressão, em
última instância, acontece quando não estamos conseguindo enxergar a vida do
ponto de vista de Deus, isto é, quando não estamos lidando com os problemas da
vida, de uma perspectiva bíblica.
Porque se você enxerga
e lida com os problemas da perspectiva de Deus, você pode até estar sofrendo,
mas não fica deprimido.
Agora, que coisa
maravilhosa: o Deus que se revela na Bíblia, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Deus que é o Pai de todos os crentes, é o Deus que, sem nos condenar,
corrige nossos pensamentos, cura nossos corações, é o Deus que está com os
abatidos de espírito, é o Deus que consola os aflitos, que fortalece, que renova
e restaura os que nele esperam [6].
Preciso dizer também
que na Bíblia não existe uma “receita pronta” para tratar da depressão, que
cada caso é um caso, e que quando uma pessoa está deprimida o seu caso deve ser
tratado à luz de tudo o que está acontecendo com ela.
Então nós vamos falar
de princípios gerais, que devem ser aplicados conforme a necessidade.
Neste sentido, o texto
que temos diante de nós é um dos muitos, nos quais o Espírito Santo nos apresenta
alguns recursos para lidar com a depressão, ou melhor, como Deus ajuda seus
filhos, para que eles enfrentem as crises de desânimo, se elas acontecerem.
É um texto que já me
ajudou muito, especialmente quando, em 2007, eu mesmo passei por uma crise
muito grande.
Vamos ler 1º Reis
capítulo 19.
Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia
feito e como matara todos os profetas à espada. 2 Então, Jezabel mandou um
mensageiro a Elias a dizer-lhe: Façam-me os deuses como lhes aprouver se amanhã
a estas horas não fizer eu à tua vida como fizeste a cada um deles. 3 Temendo, pois, Elias,
levantou-se, e, para salvar sua vida, se foi, e chegou a Berseba, que pertence
a Judá; e ali deixou o seu moço. 4 Ele mesmo, porém, se foi ao
deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu
para si a morte e disse: Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não
sou melhor do que meus pais. 5 Deitou-se e dormiu debaixo do
zimbro; eis que um anjo o tocou e lhe disse: Levanta-te e come. 6 Olhou ele e viu, junto
à cabeceira, um pão cozido sobre pedras em brasa e uma botija de água. Comeu,
bebeu e tornou a dormir. 7 Voltou segunda vez o anjo do
SENHOR, tocou-o e lhe disse: Levanta-te e come, porque o caminho te será
sobremodo longo. 8 Levantou-se, pois, comeu e bebeu;
e, com a força daquela comida, caminhou quarenta dias e quarenta noites até
Horebe, o monte de Deus. 9 Ali, entrou numa caverna, onde
passou a noite; e eis que lhe veio a palavra do SENHOR e lhe disse: Que fazes
aqui, Elias? 10 Ele respondeu: Tenho sido zeloso
pelo SENHOR, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua
aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu
fiquei só, e procuram tirar-me a vida. 11 Disse-lhe Deus: Sai e põe-te
neste monte perante o SENHOR. Eis que passava o SENHOR; e um grande e forte
vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do SENHOR, porém o SENHOR
não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o SENHOR não estava no
terremoto; 12 depois
do terremoto, um fogo, mas o SENHOR não estava no fogo; e, depois do fogo, um
cicio tranquilo e suave. 13 Ouvindo-o Elias, envolveu o
rosto no seu manto e, saindo, pôs-se à entrada da caverna. Eis que lhe veio uma
voz e lhe disse: Que fazes aqui, Elias? 14 Ele respondeu: Tenho sido em
extremo zeloso pelo SENHOR, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel
deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à
espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida. 15 Disse-lhe o SENHOR:
Vai, volta ao teu caminho para o deserto de Damasco e, em chegando lá, unge a
Hazael rei sobre a Síria. 16 A Jeú, filho de Ninsi, ungirás
rei sobre Israel e também Eliseu, filho de Safate, de Abel-Meolá, ungirás
profeta em teu lugar. 17 Quem escapar à espada de Hazael,
Jeú o matará; quem escapar à espada de Jeú, Eliseu o matará. 18 Também conservei em
Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o
não beijou. 19 Partiu, pois, Elias dali e achou
a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante
dele; ele estava com a duodécima. Elias passou por ele e lançou o seu manto
sobre ele. 20 Então, deixou este os bois,
correu após Elias e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe e, então, te
seguirei. Elias respondeu-lhe: Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo. 21 Voltou Eliseu de
seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos
bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então, se dispôs, e seguiu
a Elias, e o servia.
O reino de Israel
estava vivendo dias de grande escuridão espiritual, principalmente porque o rei
Acabe, além de ser um homem muito iníquo, que governava injustamente,
satisfazendo aos seus próprios caprichos e abandonando as leis de Deus, havia
também se casado com uma princesa sidônia chamada Jezabel, uma mulher ainda
mais perversa do que ele.
Jezabel era adoradora
de um falso deus chamado Baal, e para levar o povo de Israel a adorar o seu
ídolo, ela havia feito principalmente duas coisas: uma delas foi ordenar a
matança dos profetas do Senhor, e a outra foi sustentar pelo menos quatrocentos
e cinquenta profetas de Baal.
A nação, então, estava
cada vez mais mergulhada na idolatria, e consequentemente nos mais terríveis
modos de pecado: violência, imoralidade, desonestidade e tudo o mais.
Então Deus levantou
mais um profeta, Elias, cuja história começa aqui no cap. 17 de 1º Reis.
Por meio de Elias, Deus
anunciou que iria “fechar as janelas do céu” para que não chovesse, até que o
povo se arrependesse de seus pecados e se convertesse [7].
Vale a pena lembrar que
esta era também uma advertência da lei de Moisés em Deuteronômio 28, e nas
palavras de Deus ao rei Salomão em 2º Crônicas cap. 7 [8].
Assim, de acordo com as
palavras de Elias, a terra ficou sem receber as águas da chuva. Uma seca que
durou três anos e seis meses [9].
Os alimentos ficaram
escassos. A fome e a sede eram grandes. O rei Acabe tinha um ódio imenso de
Elias, pois ele achava que a estiagem era culpa dele, mas não sabia onde o
profeta estava.
Depois de três anos e
meio o Senhor deu ao seu mensageiro uma nova palavra.
Deus iria fazer chover
novamente, mas antes disto, os profetas de Baal deveriam ser desmascarados e os
israelitas deveriam se converter ao Senhor.
Então, conforme o cap.
18, segundo as instruções de Deus, Elias reuniu os profetas de Baal e uma
grande multidão no monte Carmelo.
Ali ele orou para que o
Senhor se manifestasse, Deus o atendeu, caiu fogo do céu, e o povo se
converteu. Os falsos profetas foram mortos, conforme a lei de Moisés ordenava.
E Deus enviou chuvas.
Assim, nós terminamos o
cap. 18 aqui de 1º Reis lendo sobre um Elias vitorioso, vigoroso, triunfante
sobre todo o mal.
Mas no cap. 19, a
Escritura nos fala que depois destas coisas Elias passou por um período
prolongado, mais de quarenta dias, de um profundo desalento espiritual.
Desde já aprendemos:
mesmo depois de uma grande bênção, de uma grande vitória, um filho de Deus pode
passar pelo vale do abatimento espiritual.
Nesta história de Elias
podemos observar várias manifestações de depressão, e também a maneira como
Deus providenciou a recuperação do seu filho.
Então consideremos...
1. A crise de desânimo
pela qual o profeta Elias estava passando
Vejamos suas emoções,
seus sentimentos e seus pensamentos negativos.
No v. 3, lemos que ele
estava temendo pela sua própria vida.
Isto porque, conforme
os vs. 1 e 2, quando a rainha Jezabel ficou sabendo o que Elias fizera, ela
jurou que iria matar o profeta até o dia seguinte.
Então Elias ficou com
medo e fugiu daquele lugar.
No v. 4 lemos que
depois de caminhar um dia pelo deserto, assentou-se debaixo de uma árvore, e
pediu para si a morte.
Talvez por causa da
consciência de sua fraqueza. Elias percebeu que não era um super-homem, e
sentiu vontade de morrer, e até pediu isto a Deus.
Nos vs. 5 e 6, lemos
sobre um Elias desmotivado, que só queria dormir.
Você já se sentiu
assim? Tão cansado fisicamente, emocionalmente, que só tem vontade de dormir,
dormir, dormir, e não acordar mais?
Então um anjo de Deus o
acorda e alimenta, por duas vezes, pois sabe que Elias terá uma longa caminhada
pela frente.
E depois disto Elias
sai andando, andando, andando. Ele caminha quarenta dias. Até que chega na
região do Horebe, ou Sinai, e entra numa caverna, e passa a noite ali.
Você já sentiu vontade
de fazer estas coisas? De sair andando, andando, andando, sem ter que voltar?
Já sentiu vontade de entrar numa caverna e ficar ali sozinho?
Agora, os irmãos
percebem o contraste entre o Elias do capítulo 18 e o Elias do cap. 19?
No cap. 18, temos um
Elias ousado, corajoso; no cap. 19, amedrontado.
No cap. 18, um homem decidido;
no cap. 19, um homem deprimido.
No cap. 18, dinâmico;
no cap. 19, desanimado.
No cap. 18, confiante;
no 19, cônscio de suas fraquezas.
No 18, vitorioso; no
19, fugindo.
E irmãos, não é isto o
que acontece conosco muitas vezes?
Existem dias em nossa
vida que o nosso cântico preferido é “Não
olho as circunstâncias”.
Mas existem dias em que
o hino que estamos cantando é “Eu sou
fraco e sem vigor”.
Nos vs. 10 e 14, Elias
lamenta diante de Deus, falando de seu sentimento de solidão.
E não é que ele
estivesse realmente sozinho em sua luta contra o mal, pois o Senhor lhe disse que
mesmo em meio a toda aquela apostasia, Deus havia reservado para si sete mil
pessoas cujos joelhos não havia se dobrado diante de Baal [10].
Além disto, depois que
os profetas de Baal foram derrotados, toda a imensa multidão que havia
presenciado isto se prostrou e reconheceu que só o Senhor é Deus. Havia sido
uma grande vitória!
Mas é que quando
estamos deprimidos, podemos nos sentir sozinhos, mesmo em meio a uma multidão.
Elias estava se
sentindo assim: amedrontado, desanimado, solitário, querendo morrer.
Como é que isto pode
acontecer na vida de um homem tão consagrado, tão temente a Deus?
A resposta não é
difícil: no v. 4 ele diz ao Senhor:
– “Eu não sou melhor que os meus
pais”.
Quer dizer, Elias era
um ser humano como todos os outros.
Elias era um homem
semelhante a nós.
Tg 5:17
Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos
mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra,
e, por três anos e seis meses, não choveu.
Tiago está nos
ensinando e encorajando a orar, e toma como exemplo para nós o profeta Elias.
Então ele diz: Elias
era homem semelhante a nós.
É por isto que Elias
disse, com toda a razão, que ele não era melhor que os seus pais.
E podemos dizer: não
era melhor que nós.
Amados, que coisa
grandiosa, consoladora, maravilhosa: Deus não escolhe super-homens.
Ele escolhe as pessoas
fracas deste mundo, as que não aparentam grande coisa. Ele se compraz em amar e
usar pessoas como você e eu.
Aliás, neste mesmo
capítulo, Tiago nos diz que devemos ter também a outro homem como modelo para
nossa vida.
Diz, no v. 11, que
devemos ser imitadores da perseverança de Jó.
Mas há um detalhe da
vida de Jó que eu gostaria de citar:
Jó 3:20-26 – Aqui ele
está desabafando, do mais profundo de sua tristeza
Por que se concede luz ao miserável e vida aos
amargurados de ânimo, 21 que
esperam a morte, e ela não vem? Eles cavam em procura dela mais do que tesouros
ocultos. 22 Eles se regozijariam por um
túmulo e exultariam se achassem a sepultura. 23 Por que se concede luz ao homem,
cujo caminho é oculto, e a quem Deus cercou de todos os lados? 24 Por que em vez do meu
pão me vêm gemidos, e os meus lamentos se derramam como água? 25 Aquilo que temo me
sobrevém, e o que receio me acontece. 26 Não
tenho descanso, nem sossego, nem repouso, e já me vem grande perturbação.
Assim como Elias, Jó
expressa o seu desejo de morrer, tão grande era a sua tristeza.
Mas agora vejamos como Jó
é descrito por Elifaz, um homem que o conhecia bem:
Jó 4:3-5
Eis que tens ensinado a muitos e tens fortalecido
mãos fracas. 4 As tuas palavras têm sustentado
aos que tropeçavam, e os joelhos vacilantes tens fortificado. 5 Mas agora, em chegando
a tua vez, tu te enfadas; sendo tu atingido, te perturbas.
Jó não era reconhecido
como um homem reto somente por aquele que sonda os corações.
As pessoas que o
conheciam tinham-no como um homem que Deus usava para confortar e abençoar aos
outros.
Mas quando chegou o dia
da sua tribulação, nem mesmo este homem de Deus deixou de sofrer muito, e
sentir-se profundamente deprimido.
Mas voltemos a Elias, e vejamos...
2. O conforto que lhe
foi dado por Deus
Antes de tudo, veja isto: quando Elias ficou com
medo, quando dormiu debaixo do zimbro, quando andou quarenta dias até o Horebe,
quando se escondeu na caverna, em todo o tempo, em todo o lugar, o Senhor Deus
estava com ele.
Porque é como ele tem dito: – “Nunca de deixarei; jamais te abandonarei”.
2.1. O Senhor cuidou do bem estar físico de Elias.
Cuidou do seu corpo.
Os vs. 5 a 7 nos dizem
que Deus enviou um anjo para que alimentasse Elias.
Há alguns anos em li na
revista “Seleções” sobre o procedimento adotado por certo hospital quando eles
atendiam pacientes que haviam tentado o suicídio.
A primeira coisa que
eles faziam era alimentar o paciente com um delicioso e nutritivo filé de
carne.
Porque o cansaço e a
falta de uma boa alimentação são grandes contribuintes para a depressão.
Elias estava dormindo,
quando um anjo o acordou e disse: –“Levante-se
e coma”.
Então ele acordou, e
havia um pão quentinho, e água. Ele comeu, bebeu, e tornou a dormir.
Depois o anjo o acordou
de novo e lhe ordenou que comesse. O anjo sabia que Elias ainda tinha muito que
caminhar.
Muitas vezes, irmãos, o
descanso do corpo, o alimentar-se bem, faz um “bem enorme para a alma”.
Eu me lembro da
primeira vez que percebi isto em mim mesmo. Estava em Manaus, onde trabalhava
como missionário.
E durante algumas
semanas estava passando por um período de profundo desânimo, impaciência,
improdutividade, embora estivesse trabalhando bastante.
Parecia que eu orava e
Deus não atendia. Confessava a Deus tudo o que me viesse à mente, mas
continuava triste.
Então, certo dia, no
final do domingo, eu estava tão abatido que simplesmente fui para a cama dormi,
uma noite, um dia inteiro, e mais uma noite inteira em seguida. Eu estava
realmente muito esgotado.
Então aconteceu algo
que eu não imaginava. Na terça-feira acordei muito bem, renovado
emocionalmente, revigorado fisicamente, e percebi: era simples cansaço.
Deus ordenou que
trabalhemos seis dias, mas o sétimo é dia de descanso, e quando o desobedecemos
nisto, o corpo e a alma sofrem.
Para evitar a
depressão, ou para superar a depressão, precisamos cuidar bem do nosso corpo.
2.2. O Senhor falou com Elias, e corrigiu a
perspectiva que ele estava tendo da vida.
Em 1ª Ts 5:14, o
Espírito Santo diz que devemos consolar os desanimados. E é isto que ele mesmo
faz. E que fez com Elias.
Não foi uma voz
barulhenta, no meio de um terremoto, nem no meio de um vento tempestuoso, nem
por relâmpagos e trovões, não foi uma repreensão, mas num sussurro suave e
tranquilo, bem apropriado à condição espiritual do profeta.
E esta, irmãos, é a
maior fonte de consolo e encorajamento para todos os filhos de Deus: quando o
seu Pai celestial fala com eles.
Aliás, o apóstolo Paulo
nos diz que Deus nos deu a Bíblia, a sua Palavra escrita, também para isto:
Rm 15:14
Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o
nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das
Escrituras, tenhamos esperança.
As Escrituras nos
consolam, nos fazem pacientes nas tribulações, nos dão esperança. Porque elas
são as palavras de Deus dadas a nós.
Então Deus falou a
Elias, suavemente:
Primeiro, vs. 9 e 13,
ele pergunta:
– “Que fazes aqui, Elias”?, como quem diz: – “Porque você está aqui? O que está
havendo?...”.
E depois de ouvir o
lamento do profeta, o Senhor torna a falar-lhe, encorajando-o, e mostrando-lhe
que as coisas não eram como ele realmente pensava: ele não estava realmente
sozinho, pois Deus tinha os seus escolhidos.
E além disto, Deus não
o deixaria só, mas lhe daria um companheiro de caminhada.
Então o Senhor o
orientou, conforme vemos nos vs. 15 e 16:
– “Volta, vá para Damasco, unge
Hazael como rei sobre a Síria, unge a Jeú como rei sobre Israel (porque assim
seria depois de Acabe), e unge a Elizeu como profeta. Ele dará continuidade à
sua obra depois de você...”.
Outra maneira de dizer:
– “Elias, levanta e vai fazer a obra de um profeta;
levanta e vai trabalhar”.
Num artigo que li
alguns anos atrás, certo pastor escreveu que quando, por exemplo, uma dona de
casa vinha a ele e perguntava sobre como vencer a depressão, entre outras
coisas ele prescrevia algumas tarefas, e a primeira delas:
– “Quando a senhora chegar em casa, a primeira coisa que
irá fazer é passar aquele monte de roupa acumulada no cesto”.
Então geralmente as
senhoras perguntavam:
– “Como o senhor sabe disto”?
Ao que ele respondia:
– “E que quando estamos deprimidos uma das coisas que
acontecem é que deixamos de cumprir os nossos afazeres, desde os mais simples.
E isto aumenta a tristeza ainda mais. Um dos jeitos mais simples de começar a
vencer a depressão é começando a cumprir nossas tarefas, mesmo que a princípio
não estejamos animados. Isto por si só, já começa a nos ajudar”.
Então, quando Deus lhe
disse, – “Vai trabalhar”, Elias
levantou e foi.
2.3. Em meio a tudo isto, Deus também ouviu o
lamento de Elias
– “Que fazes aqui, Elias”?
–“É que, Senhor, eu tenho sido zeloso para contigo, mas
os filhos de Israel quebraram a tua aliança, derrubaram os teus altares,
mataram teus profeta, estou sozinho, e ainda querem me matar também...”
Me faz pensar, por
exemplo, no salmo 5, onde depois de se queixar perante Deus, que se sentia
cercado de inimigos, Davi diz assim:
De manhã, Senhor, ouves a minha voz; de manhã te apresento a minha oração,
e fico esperando...
E depois, numa
declaração de fé, proclama:
O Senhor ouviu a voz do meu lamento... o Senhor ouviu a minha súplica, o
Senhor acolhe a minha oração[11]
Note a palavra
“lamento”. Lamentar diante de Deus, fazer para ele uma “lista das nossas
tribulações”, derramar perante ele o nosso coração, como um filho que fala com
o pai, ou um amigo.
E esperar
confiantemente que “o Senhor fale”, como falou com Elias.
Isto aconteceu em 1992:
eu estava cursando o que seria o meu último ano em nosso seminário. Eu já havia
feito algumas matérias em outro seminário presbiteriano, que pude eliminar
então do currículo do nosso.
Então deveria fazer
apenas dois anos no seminário conservador, fazendo, além do currículo normal de
terceiro e quarto anos, alguns trabalhos que seriam equivalentes a certas
matérias diferentes do seminário anterior.
Pois bem, o que o
diretor do seminário e eu havíamos combinado era isto. Então, eu estudava
durante a semana, e a Terezinha ficava em São Paulo, com a Rutinha e a Sarinha,
que era tinha dois aninhos.
Mas um dia, um colega
meu, professor do seminário, foi encarregado de me dar uma notícia: a
congregação de professores havia chegado à conclusão de que eu não conseguiria
fazer todos os trabalhos que precisava ainda. Que eu me preparasse, pois
provavelmente precisaria ficar mais um ano no seminário.
Irmãos, aquilo me deu
uma tristeza tão grande! O pior é que os professores do seminário tinham razão.
Era muita coisa.
Então eu pensei: a
Terezinha está batalhando sozinha, está se sacrificando tanto! Eu não posso
fazer isto com ela.
Eu disse ao meu colega:
– “Irmão. Talvez vocês tenham razão. Mas, se não for para
eu terminar este ano, não acho que seja a vontade de Deus que eu continue. Não
posso fazer isto com minha família”.
E pensei comigo mesmo:
– “Amanhã, depois que pregar, vou dizer para a igreja
onde trabalho que não vou continuar o seminário. E depois, na segunda-feira,
vou até lá para comunicar ao diretor”.
Nós estávamos voltando
de uma reunião no litoral. E enquanto subíamos a serra, eu orei, dizendo ao
Senhor de minha decisão e pedi orientação para como falar à igreja, além do que
pregar:
–“Senhor, o que tu desejas que eu pregue amanhã?”. E o texto que me veio à mente foi:
– “Se te mostras fraco no dia da angústia,a tua força é pequena” (Pv
24:10).
Como a versão bíblica
que eu usava na época era a Corrigida, eu havia decorado assim:
– “Se te mostras frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena”.
Com isto, irmãos, eu
senti Deus me dizer:
– “Plínio, larga a mão de ser frouxo”.
Então eu me animei; preguei
sobre este texto, e estudei, estudei, estudei. Passei noites e finais de semana
estudando e trabalhando na igreja.
E no final do ano a
congregação de professores me chamou; e pela graça de Deus me disse que eu
havia conseguido concluir.
2.4. E por último, lemos aqui que o Senhor deu ao
profeta solitário um discípulo, um companheiro de caminhada que continuaria a
obra de Elias, depois que este partisse.
Então Elias ungiu a
Eliseu, que daí por diante o servia, e aprendia com ele.
Eu sempre advogo a
ideia de que cada uma das nossas igrejas deveria ter pelo menos dois pastores,
como Moisés, que tinha Josué, como Paulo, que tinha Timóteo, e Tito, e tantos
outros.
Elias e Eliseu passaram
a andar juntos até o dia em que o Senhor, literalmente, arrebatou Elias para o
céu, diante dos olhos de Eliseu.
Não é bom andar
sozinho, pois...
Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. 10 Porque se caírem, um
levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá
quem o levante. 11
Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se
aquentará? 12
Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três
dobras não se rebenta com facilidade[12].
Eu conclui meu curso de
bacharel e, 1992, mas foi em 2008 que tive a oportunidade de fazer o curso de
validação do meu diploma, mas também foi quando me vi em meio a uma terrível
depressão.
Continuava orando,
continuava estudando muito a Bíblia e pregando, continuava confessando meus
pecados, mas sofrendo muito. Embora sem ânimo, continuava a fazer estas coisas
porque sabia que era isto mesmo o que devia fazer, se quisesse superar. Eu
dizia:
– “Passando pelo vale de lágrimas, faz dele um manancial”.
Mas percebi a gravidade
do que estava acontecendo comigo quando, certo dia, passando por um viaduto,
pensei em “jogar o carro” na estrada em baixo.
Então eu disse a mim
mesmo:
– Isto não é normal. Estou doente e preciso de ajuda.
Eu precisava entregar
meu TCC, mas me sentia completamente desanimado quanto a isto, e também
desanimado quanto ao estágio que precisava fazer. Deveria fazer meu estágio
visitando enfermos em hospitais.
Agora imagine um homem
deprimido visitando pacientes terminais.
Então eu via três
opções: “trancar” a matricula, desistir do curso, ou prosseguir. Eu conclui que
se escolhesse uma das duas primeiras, em alguns meses estaria arrependido.
Assim, além de não
deixar de orar e meditar na Palavra, eu fiz mais três coisas:
A primeira foi contar meu
problema à igreja em que trabalhava: eles eram irmãos muito compreensivos,
gente de Deus, gente usada por Deus, que em vez de condenar ajudava.
A segunda foi procurar
um médico psiquiatra, expor a minha situação e começar o tratamento. Era um
psiquiatra cristão que eu conheci na faculdade.
E a terceira foi
procurar um amigo que também estava no trabalho de visita aos enfermos. Ele me
disse:
– “Então nós vamos fazer juntos as visitas hospitalares”.
E irmãos, que maravilha
Deus fez naquela situação. Pois cada uma daquelas vezes que eu ia ao hospital,
e ficava a ouvir as pessoas ali, e pela graça do Senhor, orava com elas, e
ministrava a Palavra do amor de Deus, eu me sentia renovado, fortalecido, revigorado.
Uma das coisas que mais
fazem bem para nossas almas é quando, mesmo passando por dificuldades, temos a
oportunidade de abençoar a e ajudar outras pessoas.
E amados, é mentira do
diabo esta história de que uma pessoa que está deprimida se torna uma inútil. É
claro que existem limitações, mas muitas vezes é quando alguém se torna mais
útil, um vaso quebrantado nas mãos do Senhor.
Os irmãos sabem que eu
tenho um blog na internet, onde coloco algumas das mensagens que prego. Volta e
meia alguém me escreve agradecendo, por ter sido edificado com as mensagens.
Uma coisa interessante:
é que algumas das mensagens pelas quais as pessoas mais agradecem são as que
preguei naqueles tempos difíceis.
Levou algum tempo até
que eu me recuperasse, mas pela graça de Deus eu pude continuar, e sou muito
grato por aquele irmão que o Senhor colocou para me ajudar.
Conclusão
1. Em Elias nós vemos que, mesmo uma pessoa que
anda com Deus, por mais consagrada e dedicada que possa ser, continua a ser
humana.
Os “Jezabéis e os
Acabes” da vida, as perseguições, as percepções de nossas próprias fraquezas e
limitações físicas, espirituais e emocionais, os nossos pecados, podem nos
desalentar.
Ninguém está isento de desânimo,
de cansaço e depressão.
Pode acontecer o medo,
a solidão; podem os pensamentos ficar turvados pela tristeza, pode-se perder a
noção exata das coisas, pode-se até desejar a morte.
Porque somos seres
humanos; temos nossos limites, temos nossos temores.
2. Mas vemos também os recursos que o Senhor deu a
Elias:
Os cuidados com o seu
corpo.
A sua Palavra.
A oração.
O amigo chegado.
São recursos que Deus também concede a todos nós.
Aplicação
Diante disto, eu quero
fazer duas propostas a você:
3.1 – Coloque-se nas mãos de Deus, para ser um
instrumento de graça na vida de pessoas deprimidas.
Uma pessoa que ouve,
que não condena, que encoraje, que corrija ternamente, que ministre perdão e
compreensão, em nome do Senhor.
Nunca seja um Acabe, ou
uma Jezabel, na vida de ninguém. Seja um instrumento da Palavra de Deus.
3.2 – Se a depressão bater à porta do seu coração,
não se deixe dominar; reaja.
Confie que Deus está
com você, ore, medite na Palavra.
Descanse, alimente-se
direito. Se for necessário, procure ajuda médica. Ela também é instrumento de
Deus para o nosso bem estar.
Não assuma trabalhos
demais, que fiquem além de suas forças; e ao mesmo tempo, cuide das pequenas
coisas do seu dia a dia.
Obedeça a Deus nas
pequenas coisas. As pequenas coisas apenas parecem pequenas; mas são elas que
fazem a nossa vida transcorrer no caminho certo.
Conte com seus irmãos
na igreja: são amigos que o Senhor nos deu para que levemos as cargas uns dos
outros. Não deixe de participar da igreja. É o povo de Deus, é a nossa família,
que o Pai celestial também providenciou para nos auxiliar.
Tenha um amigo mais
chegado entre os crentes. Até Jesus tinha os doze mais chegados. E entre os
doze, os três mais chegados ainda, prá quem ele dizia:
Só uma palavra de
cautela aqui: tenha um amigo do mesmo sexo que você.
Deus deu Eliseu para
Elias.
Deus deu Rute para
Noemi.
Quando uma pessoa está
deprimida, está carente emocionalmente. E se ela encontra alguém que a ouve,
que a compreende, há que se tomar muito cuidado para se evitar um envolvimento
emocional que provoque tentações.
Resumindo, irmãos: nós
lidamos com a depressão simplesmente submetendo nossa vida à Palavra de Deus,
vivendo uma vida equilibrada, de acordo com a Palavra de Deus, lançando mão da
providência que Deus concede aos que confiam em Jesus.
Eu gostaria de encerrar
lendo o Salmo 30:5
Porque não passa de um momento a sua ira; o seu
favor dura a vida inteira. Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem
pela manhã.
O nosso Deus Consolador
enxuga as nossas lágrimas. Mesmo que sejam por causa de sua ira, de nossos
pecados.
Seja qual for a razão,
o choro não dura prá sempre. Depois do choro, vem a alegria, alegria do Senhor
que é nossa força. E o vale de lágrimas se transforma em fonte de bênção.
[1] Como superar a depressão. São Paulo:
Cristo para as nações. S.D, pág. 7
[2] Id. pág.
5
[3] Ex.: Sls
86, 89, 42, 43, etc.
[4] Ne 2:1,
2.
[5] A
história de Jó nos apresenta um homem abatido, por causa das artimanhas de
Satanás contra sua alma.
[6] Is
57:15-19; 2ª Co 7:6
[7] 1º Rs
17:1; vale a pena lembrar Dt 28:
[8] Dt 28:
23, 24; 2º Cr 7:12-14
[9] Tg 5:17
[10] v. 18
[11] vs. 3,
8 e 9
[12] Ec
4:9-12
[13] Mt
26:38
Pastor Plínio querido, sempre me ensinando como andar nos caminhos do Senhor. Mesmo nas mais dolorosas dores ,Deus pode nos usar e está conosco. Obrigada
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