Domingo, 22 de julho de 2012
Pr. Plínio Fernandes
Amados, vamos ler Mateus 7:1-5
1 Não julgueis, para que não
sejais julgados. 2 Pois, com o critério com que julgardes, sereis
julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. 3
Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que
está no teu próprio? 4 Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o
argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? 5 Hipócrita! Tira
primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro
do olho de teu irmão.
Estamos chegando agora à última
parte do “Sermão do Monte”, este maravilhoso conjunto de ensinamentos que
Jesus, o nosso Senhor e Salvador, o Deus que se fez carne, ministrou aos seus
discípulos nos primeiros dias de seu ministério.
E neste sermão o Senhor está
apresentando o que é ser um cristão, um discípulo dele. Ele mostra, antes de
qualquer coisa, que ser cristão é justamente isto: uma questão de “ser”. Não é
tanto uma questão de “fazer”, ou de “ter”, é antes um modo de ser. E descreve
então seus discípulos como pessoas muito especiais, porque são pessoas muitos
especiais para Deus – são pessoas a quem Deus alcançou com sua graça infinita. Pessoas
a quem foram dados os dons da humildade, do arrependimento, da fé, da
misericórdia, da paz, da mansidão, da busca pela santidade, da pureza, da
alegria mesmo em meio ao sofrimento.
E depois de, nos primeiros
momentos de sua mensagem o Senhor expor aquilo que seus seguidores são em seu
ser interior, ele passa a explicar o estilo de vida, o comportamento que irá
manifestar aquilo que os discípulos são interiormente. Através de muitas
ilustrações, exemplos e mandamentos, o Senhor nos diz a maneira como devemos
viver, à altura de nossa vocação.
É dentro deste contexto, falando
com gente agraciada, abençoada, perdoada, que ele acrescenta esta injunção: “Não julgueis, para que não sejais
julgados...” Nestas duas orações, o Senhor nos ensina sobre nosso
relacionamento uns com os outros e também o nosso relacionamento com Deus.
Não é que o “não julgar” seja a
base para sermos ou não julgados por Deus. É que o “julgar” ou “não julgar” são
atitudes, ou mesmo expressões de comportamento, que revelam o tipo de pessoas
que somos – se somos realmente pessoas que vivem na graça de Deus, ou se somos
pessoas que estão afastadas de Deus; revelam o nosso relacionamento com Deus,
conforme veremos mais detalhadamente
Então hoje nós iremos meditar
nestas palavras de Jesus – “Não julgueis”.
Desejo tecer três considerações a respeito do assunto.
1. O
que significa julgar, ou julgamento
As palavras julgar, ou
julgamento, são traduções de palavras que têm um significado bem aproximado da
maneira como são usadas em nossa língua portuguesa.
Julgar pode ser traduzido,
conforme o contexto, como avaliar, discernir, examinar, compreender, peneirar,
separar. E também pode ser traduzida como julgar, acusar, falar injuriosamente,
criticar, condenar, menosprezar, desprezar.
Vejam: elas podem ser usadas
nas Escrituras com duas denotações diferentes – tanto positiva quanto
negativamente; isto é, há um sentido em que é certo, correto e desejável que
julguemos; e também há um sentido em que julgar é uma atitude completamente
errada e pecaminosa.
1.1 - Vejamos rapidamente alguns exemplos de
seu uso positivo
1ª Co 2:13-15
13 Disto também falamos, não em
palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito,
conferindo coisas espirituais com espirituais.14 Ora, o homem
natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não
pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.15 Porém
o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por
ninguém.
1ª Co 14:29
“Tratando-se de profetas,
falem apenas dois ou três, e os outros julguem”.
Note as palavras que denotam
avaliação: “conferindo”, “entendê-las”, “discernem”, “julga”.Então “julgar”, no
sentido de avaliar, conferir, discernir, fazer diferença entre o bem e o mal,
entre o certo e o errado, “usar a cabeça” é algo que se espera do crente.
O crente não é um “crédulo”,
alguém tão simples que simplesmente aceita tudo, sem critérios. O próprio
Jesus, logo em seguida à instrução de não julgar, acrescenta, no v. 6 - “Não deis aos cães o que é santo, nem
lanceis ante os as vossas pérolas...”. Depois, a partir do v. 15, nos
instrui no sentido de que devemos tomar cuidado com os falsos profetas. Sem
considerar o fato de que, desde começo do sermão, Jesus nos adverte várias
vezes que a nossa vida não deve ser como a dos escribas e fariseus, nem como a
dos gentios que não conhecem a Deus.
Todas estas instruções que
Jesus nos dá implicam o uso da faculdade do discernimento, do uso de nossa
mente de maneira crítica, analítica. Como iremos saber diante de quem devemos
ou não lançar as preciosidades da doutrina e da vida cristã, sem ter o
discernimento? Como iremos nos acautelar
dos falsos profetas, se não tivermos a capacidade de avaliar?
1.2 - Mas, naturalmente que, quando nosso
Senhor está ordenando: “Não julgueis”, ele não está usando a palavra em seu
sentido positivo
“Não julgueis”, não significa
“não avalie, não pense, não tenha discernimento”. Antes, significa: “Não assuma
a posição de juiz”.
2. Vejamos
algumas instâncias desta denotação negativa
2.1 - Julgar é errado quando se
trata de levar em conta apenas o que é aparente
Is 11:3
“Deleitar-se-á no temor do
SENHOR; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o
ouvir dos seus ouvidos”.
Esta é uma das mais belas
descrições do governo justo de nosso rei; do Messias. Não julgará segundo a
vista dos seus olhos: não julgará segundo as aparências. Nem repreenderá
segundo o ouvir de seus ouvidos, mas julgará com justiça. Isto porque nosso
Senhor tem a capacidade de ir mais longe do que é apenas aparência. Ele chega
ao coração. Veja o que ele disse a Samuel, numa ocasião em que profeta estava
inclinado a julgar o valor dos homens pela sua aparência:
1º Sm 16:7
“Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a
sua altura, porque o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem
vê o exterior, porém o SENHOR, o coração”.
Ele sabe o motivo, o porquê dos
comportamentos, a visão que a pessoa está tendo da vida, o discernimento que
lhe foi dado, de tal modo que ela age como age.
Agora a pergunta que eu faço é:
“Temos esta mesma capacidade de nosso Senhor? Temos a capacidade de sondar e
saber o que se passa no coração do nosso irmão, ou do nosso próximo?” Não
temos; ao contrário. Mas o que muitas vezes temos, irmãos, é muita presunção,
muita falta de amor, e somos então capazes de rotular logo as pessoas –
“hipócritas”, “fariseus”, “legalistas”, “libertinos”. Mas as aparências enganam.
Um pastor que eu conheço me
contou que, em certa ocasião sua esposa pediu que ele comprasse uma latinha de
cerveja, que ela queria usar numa receita de frango. Então, em obediência ao
mandamento de ir ao supermercado comprar cerveja, ele foi. Quando seu filhinho
o viu com a latinha, perguntou: “Pai, o senhor é pastor! Tomando cerveja!?” Então
ele explicou o porque. Nem sempre as coisas são como parecem aos nossos olhos, não
é? Nem sempre as coisas são como ouvimos os outros dizerem.
As aparências enganam.
2.2 - Julgar também é errado quando se trata
de difamar, ou falar injuriosamente
Tg 4:11,12
11 Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou
julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és
observador da lei, mas juiz.
12 Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar
e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas o próximo?
Tg 5:7-10
7 Sede, pois, irmãos,
pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o
precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. 8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso
coração, pois a vinda do Senhor está próxima. 9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não
serdes julgados. Eis que o juiz está às portas.
Tiago associa o pecado do
julgamento com os pecados do falar mal e da impaciência. Quando diz que falar
mal do irmão é falar mal da lei, naturalmente está se referindo à lei do Antigo
Testamento, onde, por exemplo, está escrito “Não
andarás como mexeriqueiro entre o teu povo... Eu sou o Senhor” (Lv 19:16). É
uma maneira de dizer: “A palavra de Deus
não presta para ser obedecida”.
Veja a sentença do Senhor
contra os que praticam isto:
Sl 50:20, 21
20 Sentas-te para falar contra teu irmão e difamas o filho de tua mãe. 21
Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu
te arguirei e porei tudo à tua vista.
Lembram-se do que o Senhor fez
a Miriam, por ter falado contra Moisés? Lembram-se de que ela ficou leprosa, e
que a nação inteira foi impedida em sua jornada por sete dias, mesmo depois que
Moisés orou por ela, pedindo a Deus que perdoasse? Deus não tem prazer na fala
condenatória, no falar injurioso.
2.3 - Julgar também é errado quando se trata
de “condenar”, de não ter misericórdia.
Tg 2:12,13
12 Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser
julgados pela lei da liberdade. 13 Porque o juízo é sem misericórdia
para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o
juízo.
O juízo é apresentado como
contrário à misericórdia e à liberdade. Então neste contexto julgar é não ter
misericórdia, é condenar. Também é colocar sobre alguém um jugo, uma lei que
Deus não colocou, privá-lo de sua liberdade.
Por exemplo, a atitude que os
fariseus tinham para com Jesus, e também para com os notórios pecadores, era
uma atitude de julgamento condenatório, sem misericórdia. Em João 8:1-6, na
história da mulher que foi apanhada em flagrante adultério, os judeus,
aparentemente, estavam manifestando zelo pela lei de Deus. Então lemos que eles
levaram a mulher adúltera até o Senhor Jesus. Mas o grande propósito que eles
tinham era arranjar alguma desculpa para acusarem a Jesus de alguma coisa
errada. O alvo deles era a acusação; não a vontade de Deus.
O que Jesus diz ser a vontade
de Deus:
Mt 9:10-13
10 E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores
vieram e tomaram lugares com Jesus e seus discípulos. 11 Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos
discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? 12 Mas Jesus, ouvindo, disse: Os sãos não precisam de
médico, e sim os doentes. 13 Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não
holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento.
3.
Três razões pelas quais não devemos julgar
3.1 - Quando julgamos, estamos
nos condenando a nós mesmos
Rm 2:1
“Portanto, és indesculpável, ó homem, quando
julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te
condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas”.
NVI - “... você, que julga os outros é
indesculpável, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas”.
Nós podemos ampliar o
significado deste versículo a partir do significado da palavra julgar:
Você, que julga... Você, que não tem misericórdia do seu irmão... Você,
que condena seu irmão... Você que fala mal de seu irmão... Você que não tem
paciência por causa das falhas do seu irmão, por causa das fraquezas dele, por
causa dos pecados dele, você pratica as mesmas coisas... pois você também é
pecador, de uma forma ou de outra...
3.2 - Quando julgamos, nos tornamos tropeço
para nossos irmãos
Rm 14:13
“Não nos julguemos mais uns
aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou
escândalo ao vosso irmão”.
Em todo o contexto, Paulo está
discutindo a questão de nossa liberdade em Cristo, a necessidade de amor uns
pelos outros, o deixar de lado toda a atitude de nos julgarmos uns aos outros,
o deixar o nosso irmão viver para Deus de acordo com sua fé e sua consciência. Alguns
são mais fortes na fé; outros são mais fracos; alguns impõem certas leis para
si mesmos; outros não – mas a intenção de todos é servir ao Senhor. Sendo assim
, devemos nos acolher uns aos outros, não para ficar com discussões.
Rm 14:1
“Acolhei ao que é débil na fé,
não, porém, para discutir opiniões”.
Também não podemos nos desprezar uns aos
outros.
Rm 14:10
“Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que
desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus”.
Julgamento e desprezo: um se julga superior
aos outros. Devemos não ser tropeço na vida uns dos outros.
3.3 - Quando julgamos, estamos querendo
assumir o lugar de Deus
Tg 4:11,12
11 Irmãos, não faleis mal uns
dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão fala mal da lei e
julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. 12 Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e
fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas o próximo?
Qual foi o pecado do diabo?
Querer assumir o lugar de Deus. Não existe nada mais diabólico do que querer
ser igual a Deus. Um crente, quando julga ao seu próximo, está querendo assumir
o lugar de Deus. Está se tornando diabólico. A religião nunca se torna tão
diabólica como quando deseja ser mais bíblica do que a Bíblia. Quando os homens
impõem sobre seus irmãos um jugo que Deus não colocou.
Conclusão
e aplicação
No v. 6, Jesus nos diz que “não
devemos dar as coisas santas aos cães”. Depois, a partir do v. 15, ele nos
ensina que devemos julgar os profetas, isto é, avaliar se eles realmente estão
nos ensinando da parte de Deus, ou se são mestres em quem não devemos confiar e
cujas doutrinas não podemos seguir.
Além disto, Jesus não nos diz
que, se algum irmão estiver vivendo em pecado não podemos falar com ele sobre
isto. Mais tarde, em Mateus 18, ele diz que se nosso irmão estiver persistindo
em seu pecado nós devemos arguí-lo.
Como fazer estas coisas, como
exercer o juízo, sem cairmos no pecado condenado aqui por Jesus? A resposta
está no v. 5:
Hipócrita! Tira primeiro a
trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de
teu irmão
Aqui Jesus nos dá a solução
para não cairmos no pecado da condenação, tornando-nos assim pessoas
hipócritas: que nós estejamos primeiramente tratando com os nossos próprios
pecados.
Como disse Paulo no contexto
da santa ceia, se nós tomarmos o cuidado de nos julgarmos a nós mesmos, não seremos
condenados (1ª Co 11:31, 32).
Quando nós nos julgamos a nós
mesmos estamos nos humilhando na presença do Senhor, estamos nos corrigindo e
aprendendo a graça de Deus. Ensinados pela graça, podemos ajudar a outras
pessoas, sem condenar.
Assim nos tornamos instrumentos
da graça de Deus. Promovemos o reino do céu no coração das pessoas que Deus
coloca em nossa vida.
Que benção esse estudo
ResponderExcluirQue achado precioso!,Deus continue lhe usando Pastor! Obrigado!
ResponderExcluirMuito edificante.
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