IPC de Pda. de Taipas
Domingo, 31 de janeiro de 2016
Pr. Plínio
Fernandes
Ora,
Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos; tendo, porém, uma serva egípcia,
por nome Agar, 2 disse Sarai
a Abrão: Eis que o SENHOR me tem impedido de dar
à luz filhos; toma, pois, a minha serva, e assim me edificarei com filhos por
meio dela. E Abrão anuiu ao conselho de Sarai. 3 Então, Sarai, mulher de Abrão,
tomou a Agar, egípcia, sua serva, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido,
depois de ter ele habitado por dez anos na terra de Canaã. 4 Ele a possuiu, e ela concebeu.
Vendo ela que havia concebido, foi sua senhora por ela desprezada. 5 Disse Sarai a Abrão: Seja sobre
ti a afronta que se me faz a mim. Eu te dei a minha serva para a possuíres;
ela, porém, vendo que concebeu, desprezou-me. Julgue o SENHOR entre mim e ti. 6 Respondeu Abrão a Sarai: A tua
serva está nas tuas mãos, procede segundo melhor te parecer. Sarai humilhou-a,
e ela fugiu de sua presença. 7
Tendo-a achado o Anjo do SENHOR junto a uma fonte de água no deserto, junto à
fonte no caminho de Sur, 8
disse-lhe: Agar, serva de Sarai, donde vens e para onde vais? Ela respondeu:
Fujo da presença de Sarai, minha senhora. 9 Então, lhe disse o Anjo do
SENHOR: Volta para a tua senhora e humilha-te sob suas mãos. 10 Disse-lhe mais o Anjo do SENHOR:
Multiplicarei sobremodo a tua descendência, de maneira que, por numerosa, não
será contada. 11 Disse-lhe
ainda o Anjo do SENHOR: Concebeste e darás à luz um filho, a quem chamarás
Ismael, porque o SENHOR te acudiu na tua aflição. 12 Ele será, entre os homens, como
um jumento selvagem; a sua mão será contra todos, e a mão de todos, contra ele;
e habitará fronteiro a todos os seus irmãos. 13 Então, ela invocou o nome do
SENHOR, que lhe falava: Tu és Deus que vê; pois disse ela: Não olhei eu neste
lugar para aquele que me vê? 14
Por isso, aquele poço se chama Beer-Laai-Roi; está entre Cades e Berede. 15 Agar deu à luz um filho a Abrão;
e Abrão, a seu filho que lhe dera Agar, chamou-lhe Ismael. 16 Era Abrão de oitenta e seis
anos, quando Agar lhe deu à luz Ismael.
A Bíblia, por ser a Palavra de
Deus, nos apresenta seus personagens, crentes ou não, como realmente são.
Ela valoriza as forças
espirituais de nossos “herós da fé”, mas também não encobre suas fraquezas.
Isto, para nós, é de imenso
valor espiritual.
Porque nos mostra que a Palavra
de Deus é fiel, inteiramente digna de confiança.
Porque nos mostra que mesmo os
mais fiéis e dedicados crentes têm pecados; mas que nem por isto deixam de ser
filhos da graça e instrumentos da bondade de Deus – para nós é encorajamento no
sentido de não desistirmos de nós mesmos.
Mas mostram também que quando os
filhos de Deus pecam, não ficam imunes às conseqüências e disciplinas do Senhor
– Deus os trata como filhos.
Aqui temos a narrativa de um
episódio triste na família de Abrão. Família de nosso pai Abrão. Família de
nosso pai na fé[1].
O homem que tinha aliança com Deus. Família da aliança.
Ele tinha cerca de oitenta e
cinco anos de idade. Dez anos antes, o Senhor lhe fizera uma promessa: Abrão
teria um filho, e de seu filho sairia uma grande nação. A posteridade de Abrão
seria numerosa como as estrelas do céu, ou como os grãos de areia na beira do
mar, e nela todas as nações da terra seriam abençoadas.
Nós sabemos que Deus estava
falando de Jesus, nosso Salvador, o filho de Abraão “segundo a carne”.
Mas naquele momento, dez anos
depois da promessa de Deus, este filho ainda não nascera.
E Sara, esposa de Abrão foi
tomada de incredulidade. Ela já contava com setenta e cinco anos. Estava velha.
Não poderia dar filhos ao esposo.
Então tomou uma atitude que
estava de acordo com os costumes do mundo de seu tempo.
Ofereceu ao esposo uma de suas
servas, para que fosse concubina dele. E o filho que porventura Abrão tivesse
com Agar, a serva egípcia de Sara, seria contado como filho de Abrão e Sara.
Abrão aceitou o sugestão de sua
esposa, e Agar, de fato, concebeu.
Acontece que então Agar
sentiu-se orgulhosa disto, e Sara, percebendo, foi tomada de inveja. Dirigiu-se
ao marido queixando-se. E Abrão, por sua vez, lavou as mãos: – “A serva é sua. Faça com ela o que você
desejar”.
Primeiro, Abrão foi insensível
quando aceitou a sugestão insensata de Sara (sugestão, de acordo com Paulo,
carnal, da incredulidade, e não da fé na promessa de Deus[2]).
E agora insensível novamente, ao permitir que sua esposa tomada pelos ciúmes
fizesse o que quisesse com Agar.
O fato é que a serva foi tão
humilhada que fugiu de casa. Grávida. Errante pelo deserto, a caminho do Egito,
sua terra natal.
E foi ali no deserto (não
sabemos a quanto tempo ela estava fugindo) que o Senhor veio ao seu encontro.
Ele a fortaleceu, reanimou,
encorajou-a a voltar para a casa de seus senhores, e disse que ele, o Senhor
estava cuidando dela, e que também cuidaria e abençoaria seu filho.
Agar aprendeu, neste momento tão
triste de sua vida, mais um nome de Deus: Ismael – o Deus que vê. Este foi o
nome que ela deu ao seu filho, pois Deus a viu no dia de sua aflição.
Este episódio que nos mostra
tanto os erros humanos nos mostra também como é grande o nosso Deus. Como ele
sabe transformar o mal em bem. Como ele toma situações de aflição, e nelas
coloca a sua bênção. Eu gostaria de destacar o que podemos aprender sobre o
nosso Deus.
1. Ele é o Deus que vê todas as coisas
v.
13 – Então, ela invocou o nome do SENHOR, que lhe falava: Tu és Deus que vê;
pois disse ela: Não olhei eu neste lugar para aquele que me vê?
Este é o grande nome do Senhor
revelado nesta história.
O Senhor viu Agar no deserto:
sozinha, aflita, cansada, sentindo-se oprimida.
Mas não é somente ali, é claro,
que o Senhor viu Agar.
Ele a estava vendo na casa de
sua senhora, Sara.
Viu que ela estava sendo
maltratada.
Viu quando ela fugiu de casa.
E qual pastor que busca uma
ovelha no deserto, o Senhor foi atrás de Agar.
E ela chegou a esta maravilhosa
descoberta: –“O Senhor me vê”.
Sim, amado. Esta é uma verdade
maravilhosa para os que amam ao Senhor. Ele nos vê.
Vê tudo em nossa vida. Não há
nada em nós, ou que aconteça conosco, que fique oculto, ou despercebido aos
olhos do Senhor.
Como disse Ezequiel
Ez
11:5 – Caiu, pois, sobre mim o Espírito do SENHOR e disse-me: Fala: Assim diz o
SENHOR: Assim tendes dito, ó casa de Israel; porque, quanto às coisas que vos
surgem à mente, eu as conheço.
Como Daniel testemunhou
alegremente
Dn
2:22 – Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com
ele mora a luz.
E como reconhecemos em adoração
Sl
139:1-4 – SENHOR, tu me sondas e me conheces. 2 Sabes quando me assento e quando
me levanto; de longe penetras os meus pensamentos. 3 Esquadrinhas o meu andar e o meu
deitar e conheces todos os meus caminhos. 4 Ainda a palavra me não chegou à
língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda.
Que coisa admirável! Quando estava
no ventre do grande peixe no mais profundo do oceano, o Senhor estava lá. Quando
Elias estava escondido no fundo de uma caverna, sozinho; o Senhor também estava
lá.
Quando você está só, isolado, ou
mesmo sentindo-se solitário em meio a uma multidão, o Senhor está lá, no teu
coração, e vendo tudo o que acontece.
Vê as situações em que você se
sente feliz, abençoado, e também vê as situações adversas: quando você se sente
rejeitado, derrotado, humilhado.
Conhece o coração daquele que o
teme, e também daquele que o despreza.
Esta não é uma verdade
consoladora para os que apartam os caminhos do Senhor, que andam por lugares
errados, fazendo coisas erradas, dizendo coisas erradas. Não é uma verdade
consoladora para os endurecidos de coração.
Para este o fato de que o Senhor
nos vê é algo aterrorizador.
Mas o conhecimento que Deus tem
de todas as coisas é uma verdade cheia de consolação para o crente[3].
Quando Jó estava sofrendo suas
perdas, sendo acusado de pecados que não cometera, sua consciência tranquila
pode dizer: – “Mas ele sabe o meu
caminho...” (Jó 23: 10).
– Vocês, meus amigos não conhecem o meu caminho; eu próprio não sei
porque estão acontecendo estas coisas, mas ele sabe”.
Quando nos cansamos de nós
mesmos, de nossas limitações e fraquezas, quando nos sentimos fracassados e
tolos, nós podemos nos lembrar de que o Senhor “... conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Salmo
103:14), e que se compadece de nós, como um Pai se compadece dos seus filhos.
Em tempos de dúvida e vacilação,
podemos lembrar desta verdade e orar:
“Sonda-me,
ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê
se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Salmo
139:23-24).
Em tempos de triste fracasso,
quando os nossos corações foram traídos por nossos atos; quando as nossas obras
negaram a nossa devoção, e o Senhor nos pergunta: – “Você me ama”?, podemos responder como Pedro: “... Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que eu te amo...”
(João 21:17).
Quanta consolação para os
humildes, para os quebrantados, para os que choram: Deus está vendo
2. Deus vem ao encontro dos oprimidos, dos quebrantados, dos humildes
O Senhor não ficou somente a
observar Agar.
Ele vem ao seu encontro. Ele a
ouve. Ele a consola. Ele fala ao seu coração.
Ele não é só o Deus que vê. É o
Deus que age.
Não em favor de todos, mas em
favor dos humildes.
É neste sentido, de que ela seja
humilde, que o Senhor a orienta.
v.
9 – Então, lhe disse o Anjo do SENHOR: Volta para a tua senhora e humilha-te
sob suas mãos.
Confesso, irmãos, que em
primeira mão, se eu encontrasse uma amiga na situação de Agar, eu não aconselharia
que ela voltasse à casa de seus senhores.
Movido de compaixão, eu diria
mais ou menos assim: – “Olha querida, você
não merece o que está passando. Que culpa você tem de ser uma escrava? E que
culpa tem de ser fértil enquanto sua senhora é estéril? Deus não quer um
sofrimento deste prá você. Então fuja. Vá para sua terra natal e seja feliz ali”.
– “Você está numa situação na qual se sente oprimido?”, diria eu, “então fuja! Saia desta casa, saia deste
trabalho! Saia deste lugar! É legítimo”.
Mas o Senhor, que ama muito
mais, e é muito mais sábio do que eu lhe dá uma orientação diferente. Ele diz: – “Volte, humilhe-se...”. Porque o
Senhor lhe dá esta ordem?
Uma das razões, nós podemos
confiar, é que cada situação de nossa vida nos é dada por Deus. Mesmo as mais
difíceis de suportar.
Não foi assim com José? Ele foi
odiado pelos irmãos, traído, vendido, escravizado, acusado falsamente, preso e
esquecido durante anos, mas em todas estas coisas não deixou de confiar que Deus
estava no controle de todas as situações.
Não foi assim que Davi entendia
todos os acontecimentos de sua vida? Mesmo sabendo que muitos inimigos o
perseguiam e desejavam sua morte, ele escreveu: – “No teu livro foram escritos cada um dos meus dias...”.
Paulo, e Silas, mesmo na prisão cantavam
ao Senhor, uma vez que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus.
Além disto, porque Deus faz de
cada situação, de cada circunstância um modo de nos abençoar, se nós andarmos
em humildade na sua presença.
Tg
4:6,10 – Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos,
mas dá graça aos humildes… Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos
exaltará.
Tiago está ecoando as palavras
de Jesus, pois nosso Senhor ensinou também que “aquele que se exalta será humilhado, mas aquele que se humilha será
exaltado”[4].
3. Deus vem ao encontro para abençoar os humildes
vs.
10, 12 – Disse-lhe mais o Anjo do SENHOR: Multiplicarei sobremodo a tua
descendência, de maneira que, por numerosa, não será contada. 11 Disse-lhe ainda o Anjo do
SENHOR: Concebeste e darás à luz um filho, a quem chamarás Ismael, porque o
SENHOR te acudiu na tua aflição. 12
Ele será, entre os homens, como um jumento selvagem; a sua mão será contra
todos, e a mão de todos, contra ele; e habitará fronteiro a todos os seus
irmãos.
– “Vai ser um homem forte. Terá descendência numerosa. Será abençoado”.
Mas veja: a mesma bênção que
seria para Agar, seria também um pesadelo para Abraão e seus descendentes; os
ismaelitas, dos quais os árabes modernos reivindicam ascendência – são um
pesadelo para os israelitas até os dias de hoje.
Isto deve ser um alerta para
nós: a incredulidade de Sara, a insensibilidade de Abraão, a humilhação e
também a humildade de Agar não ficaram gratuitas.
Jr
17:9, 10 – Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? 10 Eu, o SENHOR, esquadrinho o
coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu
proceder, segundo o fruto das suas ações.
Conclusão e aplicação
Ismael – O Deus que vê.
O Senhor que acode os aflitos,
os humildes – o Senhor que orienta.
O Senhor que abençoa os
obedientes.
Amados, esta verdade é deleite
para nossa alma: pois não há um instante em que não estamos diante dele. Por trás
e por diante, de todos os lados, estamos cercados por sua doce presença.
Protetora presença. Nele nos movemos e existimos. Com um peixe é feliz dentro d´água,
assim somos felizes em nosso existir em Deus.
Esta verdade é consolo para o
nosso coração; é encorajamento e renovação das nossas forças.
Há uma recompensa se suportarmos
com paciência as aflições, pois Deus está vendo.
Há uma recompensa se
perseverarmos com fé diante das tentações.
Há recompensa se continuarmos a
fazer a vontade de Deus, com amor a ele, à sua Palavra, à sua igreja, aos
homens criados à sua imagem e semelhança.
Há perdão para os nossos
pecados, pois ele nos conhece por dentro, e se compadece.
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