IPC de Parada de Taipas
Domingo, 8 de novembro de 2015
Pr. Plínio Fernandes
Certo dia, passou Eliseu por Suném, onde se achava
uma mulher rica, a qual o constrangeu a comer pão. Daí, todas as vezes que
passava por lá, entrava para comer. 9 Ela disse a seu marido: Vejo que
este que passa sempre por nós é santo homem de Deus. 10 Façamos-lhe, pois, em
cima, um pequeno quarto, obra de pedreiro, e ponhamos-lhe nele uma cama, uma
mesa, uma cadeira e um candeeiro; quando ele vier à nossa casa, retirar-se-á
para ali.
As coisas narradas neste texto
são bonitas demais, e repletas de preciosas lições do Senhor para nossa vida.
Não é possível ler estes
versículos sem notar a beleza interior desta senhora sunamita, rica, mas que
com todo o seu dinheiro ainda não pudera realizar o grande desejo de seu
coração, que era ter um filho, conforme o texto que segue; desejo que foi
realizado como uma recompensa por sua atitude para com o homem de Deus.
E digo beleza interior por causa
de sua amizade, respeito, seu serviço, coisas estas completamente
despretensiosas; ela não tinha intenção de receber coisa alguma em troca.
Só havia uma razão para que ela
agisse daquele modo, razão que vemos em suas palavras ao marido, a respeito de
Eliseu: “Vejo que este que passa sempre
por nós é santo homem de Deus...”.
Entre tantos habitantes de Suném,
esta mulher parece ser uma das poucas pessoas que tinham os olhos do espírito
abertos para que pudesse discernir quem era aquele homem que passava por ali. E
via nele mais que um ser humano com necessidades de comer, beber, dormir: via
nele um santo homem de Deus.
Mas eu desejo me concentrar neste
outro personagem: este instrumento através do qual, depois da partida do
profeta Elias, o Senhor Javé escolheu para prosseguir no testemunho da história
da salvação, o seu plano de redenção de Israel e do mundo: Eliseu, que havia
sido discípulo de Elias.
Eliseu: santo homem de Deus em
seus dias.
Esta mulher rica, em sua
generosidade, providencia algumas coisas essenciais para o bem estar do
profeta: uma cama para que ele dormisse, uma mesa, uma cadeira, um candeeiro –
talvez para uma refeição à parte, mais cômoda, talvez para suas meditações e
orações.
Tal como esta mulher testemunha a
respeito do profeta, a Escritura diz a nosso respeito:
“Vós,
porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade
exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz” [1].
Vós sois nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus...
Em Eliseu nós podemos aprender
lições preciosas sobre o que consiste em ser homens de Deus. Vamos fazer
algumas observações sobre isto.
1. Para que alguém seja um homem de Deus,
ele não precisa de “muitas coisas”.
Eliseu não tinha um automóvel,
não possuía um “laptop”, não tinha um “data-show”, não usava ao menos um
flanelógrafo. Também não possuía várias versões da Bíblia ou comentários.
Não tinha ao seu alcance qualquer
destas coisas que temos hoje à nossa disposição para crescer no conhecimento da
Bíblia, ou recursos técnicos que consideramos quase que indispensáveis ao nosso
ministério e nossa vida.
Não estou dizendo, é claro, que
estas coisas, em si mesmas sejam um mal, ou que não possamos nos utilizar delas
se Deus no-las conceder.
“Porque dele, por ele e para ele são todas as coisas” [2],
inclusive todo o conhecimento científico e recursos tecnológicos que o ser
humano tem conquistado.
Mas Eliseu, assim como seu
antecessor, Elias, e cada um dos homens de Deus mencionados na Bíblia, não dispunha
de qualquer destas coisas.
Ele não tinha muito conforto
físico, mesmo para os padrões bem mais simples daqueles dias.
Mesmo dentro de seu tempo, os
homens de Deus não eram pessoas de muitos recursos.
O cap. 6 aqui deste livro nos
conta que um dia os discípulos de Eliseu, “os seminaristas” daquela época,
certa ocasião disseram ao profeta:
– “A casa de profetas na qual estamos morando se tornou pequena demais
para nós. Vamos até o Jordão, cada um de nós tome ali uma viga de madeira e
construamos uma casa maior”.
Eliseu respondeu: – “Podem ir”, e eles foram. Quando um
deles estava cortando um tronco de madeira, o machado caiu dentro do rio. Então
ele exclamou grandemente alarmado: – “Ai,
meu Senhor: era emprestado”.
Noutra ocasião (cap. 4:1) a viúva
de outro discípulo veio a Eliseu pedir ajuda, pois seu falecido esposo não lhe
deixara recursos:
“Certa mulher, das mulheres dos discípulos dos
profetas, clamou a Eliseu, dizendo: Meu marido, teu servo, morreu; e tu sabes
que ele temia ao SENHOR. É chegado o credor para levar os meus dois filhos para
lhe serem escravos”.
Não quero fazer uma “apologia ao
endividamento”, pois a Bíblia nos ensina que não devemos dever coisa alguma a
não ser o amor [3].
Mas também não quero condenar
este homem, a respeito do qual a Escritura dá testemunho de que era temente a
Deus (não sei por que razão ele ficara tão endividado).
Mas quero enfatizar que os
profetas de Deus não eram “gente de posse ou recursos materiais”. Também não
estou dizendo que possuir bens seja pecado (a mulher sunamita da história era
rica).
Mas o que faz uma pessoa ser uma
pessoa de Deus? É ter uma casa própria? Ou duas? É ter o carro do ano? É ter
dinheiro no banco?
Quanto dinheiro tinha Jesus? E
Paulo, os demais apóstolos ou os profetas? E Jesus nos ordenou trabalhar para
ajuntar tesouros neste mundo?
Mt 6:19-21 – “Não
acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem
corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros
no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam;
porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”
Mas uma coisa é clara: para
alguém ser um homem, uma mulher, uma pessoa de Deus não precisa ser um homem
cheio de recursos deste mundo. Para sermos uma igreja de Deus, “agente de Deus”,
não precisamos muitos recursos deste mundo.
2. Para eu ser um santo homem de Deus eu
preciso santidade
As palavras da mulher de Suném
impressionam: –“Vejo que este que sempre
passa por nós é santo homem de Deus”.
Vale dizer que até então não há
registro de que Eliseu houvesse realizado algum milagre naquele lugar, ou feito
alguma proclamação ou predição ou qualquer coisa parecida. Ele apenas passava
por ali de vez em quando.
Mas existe algo em Eliseu que faz
que esta mulher veja nele um santo.
Santidade é algo que pode “ser
visto”. Não por todas as pessoas: apenas aqueles a quem isto é dado.
Mas é algo que pode ser
percebido, que pode ser visto, que pode ser sentido. Santidade é um estado de
alma muito concreto.
– “Senhor, eu quero ser um santo”.
Embora ser “santo” e ser “homem
de Deus” sejam, em sentido amplo, a mesma coisa, penso ser útil, com a palavra
santo, enfatizar o separar-se do mundo, a consagração ao Senhor.
Neste sentido, não ser apenas uma
pessoa que “curte o mundo” com as demais pessoas.
Não por uma atitude farisaica, um
sentimento de superioridade espiritual em relação aos demais, mas por um desejo
de Deus, uma sede de Deus que leva um homem a buscar a Deus, e que exclui do
coração do homem a sede pelas coisas do mundo.
E que o leva a estar na presença
de Deus.
Vamos ler 2º Rs 3:14-16
“Disse Eliseu: Tão certo como vive o SENHOR dos
Exércitos, em cuja presença estou, se eu não respeitasse a presença de Josafá,
rei de Judá, não te daria atenção, nem te contemplaria. Ora, pois, trazei-me um
tangedor. Quando o tangedor tocava, veio o poder de Deus sobre Eliseu.”
Eliseu estava na presença do
Senhor como um modo de vida. Tinha um
comprometimento radical com o Senhor, que o levava a ser destemido e descomprometido
com qualquer pessoa que não amasse ao Senhor, mesmo que fosse o rei de Israel.
No v. 12 aqui nós temos o
comentário de Josafá, rei de Judá, o reino do sul, a respeito de Eliseu:
–“Está com ele a palavra do Senhor”.
Pois não há santidade, não há separação,
sem a Palavra do Senhor.
Foi por isto que o Senhor Jesus,
quando estava orando ao Pai por todos aqueles que haveriam de crer nele, pediu
a Deus: – “Santifica-os na verdade: a tua
palavra é a verdade [4]”.
Sim: para que alguém seja um
homem de Deus, o que ele precisa é estar com Deus, com sua Palavra, em sua
presença.
3. E Eliseu era santo homem de Deus porque
pertencia ao Senhor
A primeira vez que vemos menção
de seu nome na Bíblia está em 2º Rs 19, quando ele é escolhido pelo Senhor para
ser discípulo sucessor de Elias quando este último partisse.
O Senhor disse a Elias:
v. 16 – “A Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei sobre Israel e também Eliseu, filho de
Safate, de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar.”
– “Eliseu”, prossegue o Senhor, “será
instrumento meu, até mesmo de vingança contra os inimigos de Israel”.
Então o profeta Elias foi até
Eliseu, e o encontrou lavrando as terras de sua família, com doze juntas de bois adiante dele; ele estava com
a duodécima.
Elias passou por ele e lançou o seu manto sobre ele.
Então, deixou este os bois, correu após Elias e disse: – “Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe e,
então, te seguirei”.
Elias respondeu-lhe: – “Vai e volta;
pois já sabes o que fiz contigo”.
Assim, Eliseu tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos
bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram.
Então, se dispôs, deixou tudo, saiu de sua casa e daquele dia em diante
passou a seguir e a servir ao profeta Elias.
O cap. 2 aqui de 2º Reis relata o
que aconteceu no dia em que Elias
foi levado por Deus.
É uma história interessantíssima.
A Bíblia nos conta de dois homens que não morreram: tiveram tanta intimidade
com Deus que quando chegou a hora deles, o Senhor simplesmente os tomou para
si.
O primeiro foi um homem chamado
Enoque [5].
E o segundo foi Elias. Tanto
Elias quanto os discípulos todos sabiam o que iria acontecer naquele dia. Elias
tentou se livrar da presença de Eliseu, mas ele não “desgrudou” de Elias
naquele dia.
Pouco antes de Elias ser levado
por Deus os dois pararam às margens do Jordão. Elias enrolou o seu manto, feriu
as águas e elas se dividiram em dois lados, e eles passaram a seco.
Então Elias disse a Eliseu: – “Pede-me o que queres que eu faça, antes que
seja tomado de ti”.
Eliseu respondeu: – “Peço-te que me toque por herança porção
dobrada do teu espírito” [6].
Elias lhe disse: – “Pediste uma cousa muito difícil. Mas, se me
vires quando eu for tomado, assim se te fará”.
Aí é que Eliseu se apegou mais
ainda a Elias.
Continuaram eles andando e
conversando, quando um carro de fogo, com cavalos de fogo separou os dois, e
Elias foi elevado ao céu num redemoinho, e Eliseu nunca mais o viu.
O manto de Elias estava caído no
chão. Eliseu o tomou, voltou ao Jordão, e feriu as águas dizendo: “Onde está o Senhor, o Deus de Elias”?
As águas se dividiram ao meio, e
Eliseu passou por elas.
Ali começou uma nova fase na
profecia de Israel.
– “O que você deseja?”, perguntara Elias.
– “Quero ter porção dobrada deste mesmo espírito que atua em ti”, Eliseu
respondera.
A NVI traduz assim: – “Quero ser o principal herdeiro deste teu
espírito profético”.
Nós podemos perceber claramente:
Eliseu, como Salomão, não pede riquezas, nem reconhecimento, mas a presença do
Espírito de Deus em sua vida.
Ele havia deixado tudo para
seguir ao chamado do Senhor. E queria ser, de fato, um homem cheio do Espírito
do Senhor. E buscou isto de todo o seu coração, de todas as suas forças, em
todo o tempo.
Buscou e alcançou.
Lembre-se da Palavra de Jesus:
Lc 11:13 – “Ora, se
vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o
Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”
Conclusão e aplicação
O que é
preciso para ser um “santo homem de Deus”?
Um homem de Deus não precisa
muito: ele não precisa muitos recursos deste mundo. Não é o ter um bom dinheiro
que faz um homem de Deus.
Para ser um homem, uma mulher de
Deus o que é preciso...
É santidade: é estar com Deus, é
ter sua Palavra no coração, na mente e nos lábios.
É pertencer a
Deus: colocá-lo em primeiro lugar
Então se cumpre a palavra que
diz: – “Vejo que este é um santo homem de
Deus”.
Você quer isto, não é?
Não está longe, pois nele
existimos e nos movemos [7].
Ele está bem próximo, no coração.
Separe tempo para Deus.
Consagre tempo ao Senhor.
Consagre tudo ao Senhor.
Ore, medite, olhe para ele com os
olhos da alma.
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