Pr. Plínio Fernandes
Mt 1:24, 25
24 Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do
Senhor e recebeu sua mulher. 25
Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome
de Jesus.
Mateus 1:18 nos diz que Maria estava desposada com
José, quer dizer, era sua noiva prometida em casamento.
Mas conforme o cap. 1 do Evangelho de Lucas nos
informa, Maria foi passar uns tempos na casa de sua prima Isabel, que ficava
nas montanhas, e quando voltou estava grávida, de pelo menos três meses.
Diante disto, José resolveu romper o contrato de
noivado, mas secretamente, para que Maria não fosse difamada.
Mas um anjo do Senhor apareceu a José em sonho, e o
tranquilizou, dizendo que ele não fizesse isto, mas que recebesse Maria como
sua esposa, pois o bebezinho que ela estava esperando havia sido gerado pelo
Espírito Santo de Deus, e este menino seria Deus entre os homens, trazendo
salvação, o perdão dos pecados do seu povo.
Os vs. 24 e 25 nos contam que, em obediência à
palavra de Deus que lhe foi dada através do anjo, José recebeu Maria como sua
mulher.
No entanto, mesmo sendo já sua esposa, aos olhos da
lei, eles não consumaram a relação conjugal enquanto Maria não deu luz o seu
filho.
Entre outras coisas, o texto está nos dizendo que,
depois disto, o relacionamento conjugal entre José e Maria passou a ser o comum
entre os casais.
E mais tarde a Bíblia também nos mostra que deste
relacionamento houve os frutos da bênção que Deus colocou sobre a humanidade
desde o Jardim do Éden, isto é, eles tiveram filhos.
Nós não temos um texto na Bíblia que tenha como
alvo principal o falar sobre a família terrena de Jesus, especialmente seus
irmãos.
Temos textos em que eles aparecem incidentalmente,
pois faziam parte da cena como um todo.
Mas mesmo assim, creio que há lições importantes
que podemos aprender com os poucos registros sobre eles.
Então desejo ler com os irmãos os textos que citam
a família do Senhor, e depois destacar algumas breves lições para nós.
Os textos que nos falam dos irmãos de Jesus
Os filhos de José e Maria são chamados especificamente pelos nomes em dois
textos: Marcos 6:3 e Mateus 13:55, 56. Os dois textos são paralelos. Eles nos dizem que Jesus
estava na cidade de Nazaré, onde crescera.
Era um sábado. Ele entrou na sinagoga, e como era
já conhecido como um pregador da Palavra de Deus, foi-lhe dada oportunidade.
Então ele leu o profeta Isaías, e começou a dizer
que era o Cristo prometido nas profecias (Cf. Lucas 4:16 e segs.)
A reação das pessoas está descrita aqui Mc 6:3
Não é este o
carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem
aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
O sentido óbvio deste texto é no sentido de que estas
pessoas aqui mencionadas são irmãos de Jesus, filhos de Maria. O texto paralelo
em Mateus nos diz que o Senhor Jesus era filho do carpinteiro.
Agora, em João 7:5, nós lemos que, durante certo
tempo, não somente os concidadãos, mas também os próprios irmãos de Jesus
nutriam este sentimento de incredulidade em relação a ele.
Jo 7:1-5
Passadas estas coisas,
Jesus andava pela Galiléia, porque não desejava percorrer a Judéia, visto que
os judeus procuravam matá-lo. 2
Ora, a festa dos judeus, chamada de Festa dos Tabernáculos, estava
próxima. 3 Dirigiram-se,
pois, a ele os seus irmãos e lhe disseram: Deixa este lugar e vai para a
Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. 4 Porque ninguém há que procure
ser conhecido em público e, contudo, realize os seus feitos em oculto. Se fazes
estas coisas, manifesta-te ao mundo. 5
Pois nem mesmo os seus irmãos criam nele.
Os irmãos percebem o tom de provocação nas palavras
dos irmãos de Jesus.
Acho que isto em grande parte era por causa da
familiaridade: imagine que você crescesse ao lado de um irmão que, embora fosse
sempre uma pessoa de boa índole, você sempre tivesse conhecido como seu irmão,
de carne e osso, filho de seus pais.
E de repente, por volta dos trinta anos de idade,
este irmão começa a dizer que ele é o Cristo, enviado por Deus para a salvação
do mundo.
Penso que não é sem motivo que a certa altura os parentes
de Jesus chegaram a pensar que ele estava fora de si (Mc 3:21).
Mas depois, tudo aconteceu como Jesus realmente
dissera:
Ele foi a Jerusalém, foi crucificado e ressuscitou
ao terceiro dia, e subiu ao céu, diante de dezenas de pessoas, ordenando que
ficassem em Jerusalém até que a promessa do Pai, o Espírito Santo, viesse sobre
eles.
E os discípulos ficaram na cidade, como Jesus
ordenou.
E Maria, e os irmãos de Jesus, estavam entre os que
ficaram em Jerusalém, aguardando a promessa do Pai.
At 1:14
Todos estes
perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e
com os irmãos dele.
Exatamente quando se deu esta mudança a Bíblia não
diz.
Mas em 1ª Co 15:7 Paulo escreve que depois de sua
ressurreição, além dos doze, Jesus apareceu a muitos outros discípulos, e
também para Tiago.
Dificilmente Jesus deixaria de se manifestar a
Maria, a sua mãe a quem ele tanto amava, e aos seus irmãos.
Pode ser que Tiago tenha vindo a crer depois que
Jesus ressuscitou; pode ser que tenha sido antes.
Mas o fato é que os irmãos de Jesus, assim como
Maria, estavam lá, no dia do Pentecostes, quando o Espírito Santo foi enviado
do céu.
E em 1ª Co 9:5 nós lemos que, assim como os
apóstolos, eles se tornaram pregadores do Evangelho
1ª Co 9:3-5
3 A minha defesa perante os que me interpelam é esta: 4
não temos nós o direito de comer e beber?
5 E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como
fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?
E dos quatro irmãos do Senhor, Tiago, que pela
ordem em que os nomes aparecem na Bíblia, deve ser o mais velho, tornou-se uma
das pessoas mais proeminentes.
Vamos ler Gl 1:18, 19
18
Decorridos três anos, então, subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas e
permaneci com ele quinze dias; 19 e não vi outro dos apóstolos,
senão Tiago, o irmão do Senhor.
Paulo está escrevendo sobre os primeiros contatos
que teve com os crentes de Jerusalém, depois de sua conversão.
Foi nesta ocasião que se encontrou com Tiago, que
estava entre os apóstolos.
Gl 2:9
E, quando conheceram a
graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me
estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos
para os gentios, e eles, para a circuncisão
Tiago reputado, junto a Cefas (Pedro) e João,
coluna da igreja em Jerusalém.
E este reconhecimento era algo que já vinha desde
os primeiros dias:
Voltemos a Atos 12:16, 17
Entretanto, Pedro
continuava batendo; então, eles abriram, viram-no e ficaram atônitos. 17 Ele, porém, fazendo-lhes sinal
com a mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão e
acrescentou: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, retirou-se para
outro lugar
No contexto anterior nós lemos que o rei Herodes
havia mandado matar o apóstolo Tiago, irmão de João, e isto agradou o povo.
Então Herodes também mandou prender a Pedro, com o
mesmo propósito.
Mas a igreja se dedicou a orar em favor de Pedro, e
ele foi liberto, de modo miraculoso.
E quando se viu livre, uma das primeiras
preocupações de Pedro era que Tiago fosse avisado. Isto já nos dá um pequeno
vislumbre a importância de Tiago para Pedro.
A próxima referência é Atos 15, que relata a
reunião de apóstolos em presbíteros em Jerusalém, para resolver uma
controvérsia doutrinária: sobre como deveriam se comportar os gentios
convertidos a Jesus.
E a pessoa
chave na solução da controvérsia foi Tiago.
At 15:13 (e segs.)
Depois que eles
terminaram, falou Tiago, dizendo: Irmãos, atentai nas minhas palavras:...
Depois o texto segue dizendo que ele expos os fatos
à luz das escrituras, fez uma proposta no sentido de que fossem enviadas cartas
às igrejas dos gentios esclarecendo a questão, a sua proposta foi aceita e
seguida.
A última referência que temos de Tiago em Atos está
no cap. 21
At 21:17-19
17 Tendo nós chegado a Jerusalém, os irmãos nos receberam
com alegria. 18 No dia
seguinte, Paulo foi conosco encontrar-se com Tiago, e todos os presbíteros se
reuniram. 19 E, tendo-os
saudado, contou minuciosamente o que Deus fizera entre os gentios por seu
ministério.
E depois que Paulo conta sobre o desenvolvimento de
seu ministério, os irmãos, sob a liderança de Tiago, dão instruções sobre como
ele deveria se conduzir em Jerusalém, para dirimir algumas dúvidas e cessar
rumores contra ele que circulavam por ali.
De fato, Tiago era uma das colunas da igreja, como
disse Paulo.
Eu quero ler apenas mais duas referências com os
irmãos:
Tg 1:1
Tiago, servo de Deus e
do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações
No tempo em que esta carta foi escrita, muitas
pessoas estavam distorcendo a doutrina da salvação pela fé, e dizendo que
independente do nosso comportamento, basta que tenhamos fé em Jesus, e estamos
salvos.
Então esta carta foi escrita para dizer que a
verdadeira fé em Jesus nos leva a uma vida de boas obras.
Bem, a esta altura da história, só havia um Tiago
na igreja que bastava dizer o seu nome para as pessoas saberem de quem se
tratava, e era Tiago, o irmão do Senhor.
Esta é uma das várias razões pelas quais desde os
tempos mais antigos a igreja entende que foi ele que escreveu esta carta.
Mas veja como ele se apresenta: Tiago, servo de
Deus e do Senhor Jesus Cristo.
A outra referência que eu quero citar é Jd 1:1, 2
Judas, servo de Jesus
Cristo e irmão de Tiago, aos chamados, amados em Deus Pai e guardados em Jesus
Cristo, 2 a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicado.
Da mesma forma que Tiago, Judas escreveu para
combater a falsa doutrina que destrói a graça, colocando em seu lugar uma vida
sem lei para com Deus.
E Judas se apresenta como irmão de Tiago: da mesma
forma, só havia um Tiago que poderia ser conhecido apenas pelo citar do seu
nome.
E só há um lugar na Bíblia em que temos dois irmãos
com estes nomes: é aquele em que são citados os nomes dos irmãos de Jesus.
Depois disto, a Bíblia não nos fala mais sobre os
irmãos do Senhor. Eles são citados pelos historiadores como homens santos,
dedicados à pregação e à oração.
E no decurso da história posterior, seus nomes
desaparecem.
Não sabemos quem foram seus descendentes.
2. As lições que desejo destacar
1.
A santidade do trabalho, mesmo os mais simples.
Jesus era carpinteiro. José, o pai de Jesus, era
carpinteiro. Era um costume na antiguidade, o de os pais ensinarem sua
profissão aos filhos, e assim se passava de geração em geração.
Há professor de Novo Testamento muito conceituado,
o Prof. Joachim Jeremias, que diz que os carpinteiros estavam entre as
profissões desprezadas entre a elite religiosa de Israel, assim como os
pastores e outras profissões humildes.
Quando o Senhor Deus criou nossos pais no Jardim do
Éden, criou-os para trabalhar. Pois criou-os à sua imagem e semelhança, e ele é
um Deus que trabalha.
Quando trabalhamos, quer o nosso trabalho seja mais
manual, ou mais intelectual (de qualquer forma usamos nosso corpo), estamos
honrando a Deus, ao refletir a sua imagem em nosso modo de viver.
Então tenha prazer no seu trabalho, santifique o
seu trabalho, honre o seu trabalho, por mais humilde que seja.
2.
A santidade do relacionamento conjugal
José e Maria tiveram, além de Jesus, quatro filhos
homens e pelo menos duas filhas.
Quando Deus criou nossos pais no jardim do Éden,
ele os abençoou para que fossem fecundos, se multiplicassem, enchessem a terra
e a governassem, cuidando das plantas e dos animais.
Assim como o trabalho, vida conjugal é uma coisas
santa e abençoada por Deus. Fomos criados para as duas coisas, e nisto
refletimos a imagem de Deus.
Então valorize a sua vida conjugal. Desfrute a vida
conjugal. Alegre-se com o seu cônjuge, seu amigo e companheiro da tua aliança.
Se você é solteiro, não se envergonhe de desejos e
de desejar a vida conjugal. Você foi criado por Deus desta maneira. Busque um
casamento santo, como o de José e Maria.
Se você é filho, valorize a vida conjugal dos seus
pais. Não queira a atenção deles toda voltada para você. Ajude-os a cultivar o seu
santo relacionamento, permitindo-lhes tempo um para o outro.
3.
A importância dos laços familiares
No começo, nem Judas, nem Tiago, nem qualquer de
seus irmãos e irmãs, criam no Senhor Jesus; até o provocavam.
Mas nós vemos que mudaram.
No pentecostes, todos estavam lá, convertidos.
Todos se tornaram pregadores.
Tiago tornou-se uma das pessoas mais proeminentes
na igreja, homem de oração.
E dois escreveram duas importantes epístolas. Eu
acho muito interessante o estilo de Tiago falar em sua carta. Ela é muito
parecida com o “Sermão do Monte” (Mateus capítulos 5 a 7). Parece que Tiago
aprendeu com o modo de Jesus falar. Talvez ambos tenham aprendido de José, ou
Maria.
Nas duas epístolas, de Tiago e Judas, nós vemos a
unção do Espírito Santo, o conhecimento de Jesus, da Bíblia, e a humildade,
tanto diante do Senhor Jesus, como da igreja. Pois ambos se apresentam servos de Jesus, e não revindicam algum
grau de parentesco, a fim de reforçar sua autoridade. A autoridade deles vem do
fato de serem servos de Jesus, e nada mais.
Ora, amado, não despreze os laços familiares. Talvez as pessoas de sua
casa, ou de sua família, agora, não sejam ainda servos do Senhor. Mas podem vir
a ser. Como aconteceu com os irmãos do Senhor Jesus.
Mas de qualquer forma, não se canse de fazer o bem aos seus familiares, de
amá-los, de testemunhar da graça de Deus.
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